quinta-feira, 30 de junho de 2022

Batman/Catwoman #12
Casamentos, fofocas e desabafos


Bom, parece que à morcegos e morcegos... ou morcegas neste caso.

Não que eu tenha nada contra casamentos em comics de super-heróis, não tenho, mas lembro-me de uma série que acabou por ser cancelada devido à proibição de casamento na DC em 2013 (lol).
A série era excelente, uma das minhas preferidas neste século: Batwoman. Podem clicar neste link para lerem o excelente post (cof cof) que fiz em 2013 sobre este assunto.
Já agora, não confundam a BD com a série de TV (que é intragável).

Já agora, na parte da fofoca, nunca percebi se o Superman está casado ou não, alguém sabe dizer? E já agora, um casamento antigo que foi descanonizado pela DC de 2013 entre o Aquaman e a Mera, já é válido ou não?  Isto dos relacionamentos nos comics é muito complicado, e no que toca ao morcego... afinal, o tipo divorciou-se da filha do Demónio, a Tália al Gul? Ou é viúvo dela? Pelo menos tem um filho dela morto ressuscitado... e com aquela proibição de 2013 de casamentos na DC pelo editor da altura Dan Didio, o casamento entre o Flash Barry Allen e a Iris também foi descanonizado?
ahahahah  :D problemas existenciais de quem não segue há uns tempos estas faenas....

Aparte estas cenas aquilo que se começou a desenhar (literalmente) há quatro anos na revista Batman #50 parece que se vai consumar na revista Batwoman/Catwoman #12. O morcego e a gata vão o nó (finalmente).

É o final da run de Tom King neste título. Finalmente a relação Bat/Cat depois de muitas décadas entra num entendimento mais sério, e como eles dizem a eles próprios, eles são wounded animals that managed to crawl to each other.

Casamento simples com Clark Kent e Lois lane como padrinhos e sem festa, ou público, como convém a animais nocturnos.



Agora a pergunta é, isto é cânone? 
E se for cânone podem chamar o JH Williams III para continuar a Batwoman?  É que odiei aquilo ficar a meio por causa de um casamento :D



Boas leituras

terça-feira, 28 de junho de 2022

Spaghetti Bros: Livro 2

 

Arte de Autor lançou este ano o terceiro volume desta excelente série de Trillo e Mandrafina, e como é uma série que o LBD gosta mesmo faz sentido que se fale do segundo volume que saiu o ano passado. Posteriormente falarei do recente volume 3, hoje é o volume 2 que compila os tomos de 5 a 8 da série.

Se quiserem saber mais sobre os autores de Spaghetti Bros mais vale irem ao post de lançamento desta obra (clicar neste link) que a editora  Arte de Autor forneceu na nota de imprensa uma detalhada bio destes dois argentinos.
E para saberem o que eu escrevi sobre o excelente primeiro volume é só clicar aqui.

Enquanto que o primeiro volume foi um entrelaçado de pequenas histórias que foram formando um painel de vida dos 5 irmãos, este segundo volume é mais consistente narrativamente falando, isto apesar de também ele ser composto por algumas histórias. Mas agora já podemos vislumbrar mais da macro narrativa que deverá envolver os quatro volumes desta série.

Tenho de fazer a nota que as últimas pequenas histórias foram menos conseguidas, mas o todo não perdeu a coerência e isso é o mais importante.
A arte de Mandrafina continua num patamar bastante alto, é um preto & branco de excelência! A narrativa gráfica é perfeita, de fácil leitura e sem palha para atrapalhar. Dá apenas para arregalar os olhos e voltar a página para apreciar novo preto & branco perfeito. Mestre!

Trillo apresentou-nos a tal família no livro anterior, a família Centobucchi, e quem segue esta família garantidamente não fica entediado... um mafioso, um Padre, um polícia, uma actriz, e uma assassina a soldo! Para aumentar a temperatura, tudo isto nos anos 30 em plena Depressão.

Trillo, possuidor de um humor muito negro, leva-nos por caminhos bem escuros, com assassinatos, violações, espancamentos, sexo e enganos. Se não fosse o humor que polvilha esta narrativa isto seria muito mais perturbante do que já é. 
Mas a maneira como toda a sequência está formada é algo atraente de se ler. Os dramas familiares desta família, cheios de cinismo, estão bem construídos de modo a que toda aquela incómoda podridão onde eles caminham fique mais leve, e é aqui que entra aquele humor, umas vezes mordaz, outras negro e quase sempre cínico. É o retrato de uma sociedade em que foi muito complicada de se viver.

Outra coisa que tornou este livro muito atractivo foi a inclusão do filho de Carmela como agente condutor da maior parte da narrativa. Trillo apesar de usar o mínimo de texto é muito minucioso no desenvolvimento das suas personagens, e este rapaz não escapou a isto. Óptima personagem para intrincar a história, passeando pelas partes mais sujas, e o olhar dele perante tudo isso traz as dúvidas morais à tona num rapaz a crescer naquela família disfuncional. Faço certo? Faço o que devo? Faço o melhor? Ou faço o contrário disso tudo? :D

Um livro perturbador pela facilidade com que se entra na brutalidade e se salta para uma gargalhada. A ler e reler :)

Boas leituras



sexta-feira, 24 de junho de 2022

The Fourth Power - Integral



O LBD volta a visitar a Ficção-Científica e a revisitar este mundo criado por Juan Jimenez. A primeira análise é de Março de 2009, e focava sobre o primeiro volume de 1989, publicado em português pela ASA em 2002: O Quarto Poder

Se clicarem no link desse primeiro livro publicado em português terão uma primeira boa análise (eu penso que é) a este mundo. Foram publicados mais três livros que completam esta obra de Juan Jimenez, mas nunca em português. Assim, resolvi completar em inglês com um único volume que compila toda a obra. É disso que falamos neste post.

As quatro partes desta obra são (em inglês com o ano de publicação original em França):

  • The Fourth Power - 1989
  • Murders on Antiplona - 2004
  • Green Hell - 2006
  • Island D-7 - 2008

Juan Jimenez infelizmente já não se encontra entre nós, faleceu em 2020 devido a complicações provocadas pelo Covid-19, mas deixou-nos um acervo brutal ao nível artístico sobre o qual eu me irei debruçar brevemente, mas na rubrica certa: Autores
Por isso não irei falar muito da sua vida e obra, acho que merece algo mais profundo da minha parte visto que eu sou fã da sua arte.

Se leram a minha crítica ao primeiro volume que saiu em português, verificarão que eu digo que a narrativa melhora nos três livros subsequentes... só que nem por isso :D
Como disse no anterior post, a série era só para ser um one-shot, mas Jimenez viu que finalizou um pouco no ar e que teria potencial para mais algumas aventuras dentro daquele mundo de terráqueos vs Krommiuns. 

A história foge para Antiplona, um planetóide artificial, onde o ser de energia pura das quatro super mentes femininas se refugia dentro de uma outra mulher: Gal. Esta parte tem três plots distintos que se irão unir no fim, com alguns twists e algum sangue. Murders on Antiplona é essencialmente acção e coboiada espacial.

Gal e a QB4 continuam em fuga, agora no espaço e acabam por se esconder num pequeno planeta sanguinário, Green Hell, cheio de armadilhas vegetais e outras cenas não identificáveis. Para mim é o arco mais confuso de história

O quarto andamento, Island D-7, torna a narrativa para o planeta onde tudo começou. Alguns nós são desatados e onde o conflito armamentista volta ao de cima, em conjunto com muita acção, claro está. 

Resumindo, uma história pura de acção ambientado em FC impossível (para mim a melhor de todas), passada em vários pontos do Universo, com muitas naves espaciais, veículos terrestres extraordinários, paisagens brutais e bastante acção. A história é simples, mas nas mãos de um verdadeiro argumentista poderia dar algo de muito melhor. A narrativa gráfica atrapalha-se muitas vezes nos delírios visuais de Jimenez tornando a história confusa, onde Green Hell é o grande exemplo disto.

A arte de Jimenez é o forte deste livro, ou não fosse ele o desenhador de A Casta dos Metabarões. Muitas vezes estas aguarelas de Jimenez dão para fazer literalmente cair o queixo do leitor! A narrativa está confusa? Não interessa, deixa-me absorver estas páginas! Esta space-opera é deliciosa para os nossos olhos.

No aspecto filosófico, basicamente temos o instinto de destrutivo das raças terráqueas a ser levado a guerras interplanetárias, sempre em busca da melhor arma, do melhor negócio de armamento, sempre na busca de vantagem, com intriga ou sem ela. Mafiosos no espaço dão um brilhosinho especial à segunda aventura
A capacidade de manipulação do corpo humano e a ausência de limites deontológicos, aliadas a uma inteligência acima do normal criaram o ser QB4, felizmente não beligerante por natureza embora com o poder de tudo destruir. 

Uma excelente aquisição para quem gosta de FC e para quem gosta da arte de Jimenez. Quem não quiser ler em Língua estrangeira pode sempre obter a edição portuguesa, ainda se encontra com alguma facilidade nas feiras de livros e leilões online, visto que foi feito para ser apenas um volume. 

Para quem quiser o pacote completo, têm esta compilação dos quatro volumes da saga, que podem comprar facilmente em inglês ou francês.





Boas leituras

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Berserk vai retornar este ano com novos capítulos
- Anunciado no principio do mês de Junho


No resultado do post anterior acabei por ficar a saber esta notícia!

Depois de tudo levar a crer que o volume 41 iria ser o último, eis que a editora Hakusensha, através da sua revista bimensal Young Animal ヤングアニマル (Yangu Animaru), anuncia 6 novos capítulos após a morte do criador de Berserk: Kentaro Miura.

Os capítulos publicado após a morte de Miura, mas ainda com a mão deste criador deixaram a série num momento ambivalente, visto que o imediatamente a seguir até poderia deixar a história num bom momento de término, Guts parecia ter ficado em paz, o seguinte deixa a séria num cliffhanger... . 

Isto, e muitas outras coisas, pesaram num regresso para concluir a série através do conhecimento que o melhor amigo de Miura, Kouji Mori, tinha dos plots finais da série e também (claro) com o conhecimento que os artistas do Estúdio Gaga (o estúdio de Miura) tinham também de como Miura estava a levar a série para o seu final.

A editora e o mangaka Kouji Mori prometeram um desenvolvimento completamente honesto desta conclusão, não fazendo nada que Miura não tivesse falado com o próprio Mori.

Espero que assim seja e que nada seja deturpado em favor de alguns cobres. Vou deixar uma transcrição das duas cartas (traduzidas para português) endereçadas aos milhares (ou milhões) de fãs de Berserk que a Young Animal e Kouji Mori deixaram, apresentando esta continuação para concluir a série de modo adequado, respeitado tanto o Kentaro Miura, como a obra e os fãs.


Aos nossos leitores 

Retomaremos a serialização de Berserk
Por favor, aceitem nossas desculpas pela longa espera antes que pudéssemos fazer este anúncio. Lemos o máximo de comentários possível sobre o “Dai Berserk-ten (The Great Berserk Exhibition)”, “Young Animal Memorial Issue (Young Animal 2021 No.18)” e “Berserk Volume 41”. 

Somos extremamente gratos por cada uma das vossas palavras e pelas vossas mensagens enviadas para nós através das redes sociais. Estamos realmente tocados pelo amor que todos vocês têm por Berserk e pela influência que isso teve nas vossas suas vidas. 
É realmente triste que o próprio Kentaro Miura não esteja aqui para ler os vossos comentários connosco. Antes de sua morte, Kentaro Miura conversou com seu amigo íntimo Kouji Mori sobre as histórias e episódios que ele tinha em mente para Berserk. Ele também teve conversas semelhantes com a sua equipa de estúdio e com o seu editor. Ele perguntava, todos ficariam surpresos se eu desenhasse algo assim? Que tal um personagem assim? Esse enredo seria interessante? As conversas não eram suas últimas palavras, mas faziam parte de seus dias comuns como artista de mangá. 

 Esses dias comuns continuaram por mais de um quarto de século. Nossas mentes e corações ainda estão cheios dos pensamentos que o Sr. Miura compartilhou connosco durante esse tempo. Também encontramos memorandos de ideias que ele escreveu e designs para personagens que ele desenhou e deixou para trás. 

Estávamos relutantes em terminar sua história sem compartilhar isto com os seus fãs. A nossa esperança é que todos leiam o último episódio que montamos, até à última vinheta. Ao retomar a série, a nossa equipa de produção decidiu uma política básica. “O Sr. Miura disse isso.” Isto é o que a equipa de produção mantêm em mente. Como ele não deixou rascunhos, é impossível para nós criar um manuscrito exactamente da maneira que ele pretendia. No entanto, escreveremos o mangá para não nos desviarmos das próprias palavras do Sr. Miura. 

Gostaríamos de levar o Kentaro Miura que conhecemos com tanto carinho através de nossas conversas e trabalhos e transmitir isso a todos vocês de forma sincera. Acreditamos que esta política, embora imperfeita, é a melhor maneira de entregar o Berserk que o Sr. Miura imaginou para todos da forma mais fiel possível. 

A partir da próxima edição, publicaremos o primeiro de seis capítulos até o final do arco “Fantasia / Ilha dos Elfos”. Depois disso, iniciaremos um novo arco. Os créditos após a retoma serão “Obra original de Kentaro Miura, mangá do Studio Gaga, Supervisionado por Kouji Mori”, e a numeração dos encadernados continuará na mesma ordem. Olhando para trás, o primeiro volume de Berserk foi publicado em 1990 com 28.000 cópias lançadas para a primeira edição. Não foi um sucesso imediato e apenas um pequeno grupo de pessoas sabia disso. Ainda assim, atraiu fãs ávidos e conseguiu manter seu interesse porque as pessoas podiam sentir o desejo de Miura de refinar seu ofício. 

Depois de um tempo, Berserk se tornou um grande sucesso através dos esforços extraordinários do Sr. Miura, e alguma boa sorte. Hoje, o primeiro volume foi lido por 2 milhões de pessoas em todo o mundo. Acreditamos que Berserk tocou o coração de muitos fãs, e o Sr. Miura ficaria feliz em saber que seus pensamentos tiveram uma grande influência na vida e no trabalho de muitas pessoas. Esperamos que todos continuem a ter a mesma conexão com Berserk nos próximos capítulos. Também somos gratos aos muitos fãs que silenciosamente apoiaram o mangá através de seus pensamentos. Cada um de vocês será a fonte de nossa energia à medida que avançamos. 

Estamos verdadeiramente gratos a todos vocês. 

Junho de 2022. Departamento de Edição da Young Animal 




Quase 30 anos atrás, Miura ligou-me e disse: “Preciso falar contigo sobre como desenhar um rascunho”. Fui ao seu local de trabalho apenas para conversar como sempre fazemos, mas Miura parecia mais sério do que o habitual. “Preciso desenhar o Eclipse”, disse ele. Senti que seria um trabalho árduo, mas não acreditei quando fiquei preso dentro de casa dele por uma semana… Naquele exacto momento, o enredo de Berserk foi concluído, até o último capítulo. 

Estranhamente, a história de Berserk continuou exactamente como discutimos na época, quase sem mudanças. Continuei a conversar com Miura com frequência, sempre que havia um grande episódio. Fazíamos isso desde que éramos estudantes, consultando-nos uns aos outros enquanto trabalhávamos no mangá. Acho que as pessoas com boa intuição já percebem que eu conheço a história de Berserk até o fim. Ainda assim, não posso dizer que posso desenhá-la porque a conheço. Isso porque apenas o génio Kentaro Miura poderia escrever uma obra-prima como Berserk

No entanto, uma grande responsabilidade caiu sobre mim. Enquanto ele estava vivo, Miura disse: “Eu não contei a ninguém para além de ti, Mori, sobre a história toda”. E essa era a verdade. É uma responsabilidade muito grande. Eu pensei, devo falar com os fãs sobre isso através de uma entrevista? Ou devo publicar um artigo com algumas ilustrações? Mas isso não transmitiria as cenas que Miura descreveu para mim, ou as falas de Guts e Griffith… 

Justo quando eu estava a tentar decidir o que fazer, recebi uma mensagem. “A equipe está dizendo que terminará o último capítulo que foi deixado para trás, então você pode dar uma olhada?” 
As últimas páginas do capítulo estavam incompletas. Alguns nem tinham os personagens desenhadas neles. Dei uma olhada no manuscrito, sem esperar muito. O desespero pode levar as pessoas a criar milagres – Lá estava, o manuscrito completo de Berserk. “Senhor. Mori, você vai nos deixar fazer isso? Os aprendizes de Miura, dos quais Miura tanto se orgulhava enquanto estava vivo, fizeram-me a pergunta directamente. 

O director da empresa, Shimada, um mentor para mim e Miura, também disse: “Se você fizer isso, a empresa dará todo o apoio”. Eu pensei, se eu fugir agora, Miura diria: “Eu falei tanto contigo sobre isto, mas tu não o fizeste!!” Tudo bem. Vou fazê-lo até ao fim. 

Tenho uma mensagem e prometo a todos. Vou-me lembrar dos detalhes o máximo possível e contar a história. Além disso, só escreverei os episódios sobre os quais Miura falou comigo. Eu não vou criar. Não vou escrever episódios que não me lembro claramente. Só vou escrever as falas e histórias que Miura me descreveu. Claro que não será perfeito. Ainda assim, acho que quase posso contar a história que Miura queria contar. 

O talento dos aprendizes de Miura é real! São artistas brilhantes. Muitos de vocês podem não estar totalmente satisfeitos com o Berserk escrito sem Miura, mas esperamos que os pensamentos de todos estejam connosco. 

Pedimos seu apoio contínuo. 

Junho de 2022, Kouji Mori


Boas leituras

terça-feira, 14 de junho de 2022

Então? Abandonaste os Super Heróis? Agora só lês Manga?



Resposta à pergunta do título: Sim e Não

Um amigo fez-me esta pergunta e a minha resposta foi mesmo essa, sim e não.

Vou tentar desenvolver um pouco sobre este assunto, e sobre os motivos porque deixei o mainstream de comics de super-heróis e porque cada vez mais entro pelo mundo do Manga

Primeira premissa, para mim é tudo BD chamem-lhe os nomes que quiserem, comics, manga, bande dessinée, tebeos, fumetti, aquilo que quiserem. Para mim é BD.

E a BD eu divido em vários grupos: excelente, boa, interessante, méh, mauzito e "a evitar". Dentro destes grupos tem BD oriunda de todos os locais do mundo.

Dentro da BD norte-americana, comics, existe um género que eu sempre adorei: super-heróis

Quem não gosta de uma boa história heróica, em que seres com poderes que todos nós em sonhos gostaríamos de ter, têm de lutar contra antagonistas terríveis, têm vida dupla, têm problemas na sua vida "normal", que se superam perante a adversidade, com a sua inteligência e a sua força, e não só a adversidade de terem de lutar contra um antagonista formidável, como também lutar com as adversidades que a vida social, familiar ou laboral lhes colocam. Isso é a massa de que é feito um verdadeiro Herói.

Têm história, têm um passado e o leitor sabe o que os levou a ser aquilo que são no presente, em que está a ler na história que tem na mão.

Nos últimos 10 anos, com algumas excepções caminhou-se para um caminho fácil caça-níqueis, em que os arcos de história são desenhados e por vezes escritos por várias pessoas. Para eu conseguir seguir uma história tenho de comprar vários números de títulos diferentes. Ex. inventado como explicação:  para eu conseguir ler a saga Avengers vs. Asteróide of the Big Donut, eu tenho de comprar os números do título Avengers, certo? Não. Eu tenho de comprar os Avengers, o #37 do Hawkeye, o #232 do Hulk, o #17 e o #25 do Spider-Man. Depois disto tudo tenho de comprar a mini-série Avengers vs. Asteróide of the Big Donut. Dentro disto tudo sou capaz de ter boa arte, péssima arte, escrita aborrecida, boa escrita e parvoíces do Arco da Velha. Ou seja, é complicado...


E a complicação torna-se ainda maior porque existe uma coisa chamada "cronologia". Estes heróis têm décadas de história, contada por vários escritores que em alturas foi para um lado, vindo outros escritores que a levam para o outro, criando um emaranhado brutal, cuja solução é o célebre reboot! Só que nos últimos anos os reboots têm sido sucessivos nas duas editoras principais de super-heróis: a Marvel e a DC.

Um outro problema que afecta os fãs é a modificação da personagem, tanto ao nível da personalidade como no aspecto físico. Não estou aqui a fazer mimimi. Personagens com décadas de história foram criando muitos fãs ao longo do tempo, se a sua personagem favorita é modificada, perdem o fã. Isto é elementar. Agora fazer isto com o objectivo de ir buscar leitores a outras camadas de possíveis compradores, tudo bem, eu aceito. Mas deveriam no mínimo ter feito um estudo de viabilidade. Acho que não foram feitos. Mas a editora não é minha, nem tenho lá acções, portanto para mim é batatas.

Da minha parte foi muito simples, sim, deixei de comprar comics de super-heróis da actualidade, com excepções para dois ou três títulos que eu acho bons, e de que eu continuo fã - Green Lantern, Green Lantern: Earth One, Batman: Earth One, Wonder Woman: Earth One e Superman: Earth One. Todos os títulos Earth One são muito frescos e bons ;)

Penso que a solução para os problemas postos pela sociedade actual (estou a falar de inclusão e diversidade) estiveram sempre à frente dos olhos dos editores, mas preferiram ir pelo mais fácil, e está a ser aquilo que se vê. Vendas abaixo de fracas. Penso que apenas Batman e revistas associadas estão a vender minimamente.

Digo que esteve/está  à frente dos olhos porque o caminho era simples: construção de novos heróis com boas bases, uma história e um passado com a qual o público pode ter empatia e em que a sua luta fosse com o eterno Mal, e não andarem apenas em manifestações políticas ou sociais. Temos dois exemplos muito bons de sucesso: Batwoman, homossexual, e Ms. Marvel - não confundir com a Carol Danvers, esta é uma adolescente muçulmana paquistanesa, a Kamala

Porque tiveram sucesso? História bem construída, com imaginação, um background minimamente sólido que dá tridimensionalidade às personagens, escritas e desenhadas pelas mesmas pessoas. Quando a Batwoman passou a ser escrita e desenhada por outros e noutros termos, foi cancelada quase logo a seguir. Aprenderam? Não.


Cada editora faz aquilo que lhe apetece com o seu património, posso ficar infeliz por deixar de seguir este ou aquele título, mas a vida continua e cada leitor opta por aquilo que gosta mais. Não vou andar a erguer bandeiras contra aquilo ou aquele. Simplesmente o dinheiro é meu e eu gasto onde gosto.

De notar que eu não deixei de comprar BD norte-americana, deixei de comprar super-heróis, porque os comics são muito mais do que jeitosos de uniforme fixe a voar por aí, há todo um mundo de BD americana brutal de bom. E dessas obras eu compro quando posso.

Relativamente ao Manga, o que posso dizer... existe bom, mau, horrível, excelente e por aí! Mas tem coisas que fazem com que eu tenha feito o meu dinheiro divergir dos super-heróis para o Manga?

Tem. Muitas. O preço, a oferta, a ausência de censura, mas a principal é a consistência artística e narrativa.

O preço é imbatível, não tem comparação. A oferta é vasta (inclusão e diversidade sociais incluídas aqui). Temos Mangas para todos, mas todos os gostos mesmo, e todos eles separados para esses mesmo gostos. Temos Mangas de cozinha, de pesca, de basquete, de terror, recortes do quotidiano, para adolescentes rapazes, para adolescentes raparigas, para adultos, para homossexuais, de caça, fantasia, pornográfico, enfim, é tudo um mundo para ser descoberto.


Falando do principal, a consistência. Vamos colocar aqui uma manga famoso como exemplo, Naruto.

Foram 15 anos de publicação e 72 volumes de 200 páginas. O autor foi apenas um durante estes 15 anos, Masashi Kishimoto desenhou e escreveu toda a saga de Naruto. É certo que para muitas páginas e para adiantar trabalho houve mais desenhadores do seu estúdio que intervieram, a diferença é que têm que desenhar exactamente como o seu Mestre, portanto a arte não tem mudanças, excepto aquelas que são óbvias, ou seja, um artista vai evoluindo ao longo do anos. A arte dos primeiros volumes (1999) não tem nada a ver com os últimos (2014), mas como é óbvio essa evolução é gradual ao longo dos 72 volumes, e é uma evolução e não uma mudança. 

Quem inicia a leitura de Naruto sabe que: Não vai mudar o desenhador, não vai mudar o estilo, não vai mudar o tipo de narrativa, não vai haver reboot, não vai precisar de comprar outros livros daquela editora para ter a continuidade da história, o Naruto não vai mudar de identidade (vai crescer, mas não mudar), não vai mudar de cor e não vai mudar de género. 
A isto eu chamo "consistência".


E descobri obras de uma qualidade brutal, tipo nas 10 melhores obras de BD de sempre eu coloco facilmente três ou quatro Mangas. Outras obras são perfeitos guilty pleasures, outras viciantes ao extremo, outras muito perturbantes....

"- Áh! Eu não gosto de Manga!" Isso é só parvo de dizer por alguém que garantidamente desconhece a BD de um dos países que mais a produz. Eu já fui assim, e evoluí. Em 2007 comprei e li os 3 volumes da edição não censurada de Ghost In The Shell. A partir daí, aos poucos fui percebendo melhor este mundo que se abriu para mim. Neste momento é 50% das minhas leituras.


Perante isto, este deslocar de euros para o Manga é apenas óbvio.

De notar que continuo a comprar e ler BD europeia e obras norte-americanas fora do mainstream de super-heróis. 

Portanto, sim, abandonei os super-heróis; e não, não leio só Manga :)



Boas leituras

segunda-feira, 13 de junho de 2022

Capas WTF: Superman #221
The Two-Ton Superman!





Já não havia uma Capa WTF neste blogue vai para muito tempo :D

Recuamos até Novembro de 1969 na revista de uma das "vítimas" desta rubrica: Superman
Neste caso em vez de Superman vamos ter um Super Fatso, que é o centro de mais uma história da carochinha da DC dentro da Silver Age of Comics e de acordo com o Comics Code.

Basicamente o Super Homem vai a um planeta, bebe um um néctar (não era da Compal) e engorda que nem um porco a comer bolotas. E pronto, história feita! Nesta altura era simples, certo? :D

Esta revista continha duas histórias, esta e outra com o título The Revolt of Super.Slave. Esta última penso que ainda era mais wtf que a que dá o título ao poste.

Nesta revista #221 o escritor foi Leo Dorfman, o desenho esteve a cargo de Curt Swan, e na cor tivemos George Roussos.

Fiquem com algumas páginas desta revista:







Se clicarem no link Capas WTF , têm diversão garantida para algum tempo :D

Boas leituras

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Solanin



Este foi o primeiro livro que li de Inio Asano, garantidamente não vai ser o último. Reli esta semana este manga slice of life, recorte do quotidiano, e isto era algo que já tinha vontade de fazer há uns tempos. Porquê? Porque embora tenha adorado o livro na altura, apercebi-me que esta obra tinha muito mais a dar-me com uma segunda leitura. E tinha! 

Originalmente publicado Shogakukan em dois volumes no Japão entre 2005 e 2006, foi produzido depois pela editora norte-america Viz Media num só volume em inglês em 2008. Esta é a minha edição. 
Asano, nascido em 1980 , é considerado por muitos como uma das grandes vozes dos jovens adultos japoneses deste século, devido à maneira como trata os temas com que impregna parte das suas obras. Ansiedades, depressões, alegrias, o mundo do trabalho, enfim, tudo o que afecta jovens entre os 20 e os 30 anos no início da sua vida adulta. 

Solanin foi um livro marcante para ele, penso que foi o seu primeiro grande hit, mas logo a seguir inicia a série Goodnight Punpun que se torna um best-seller. 5 anos depois de Solanin torna a criar mais um trabalho notável, Dead Dead Demon's Dededede Destruction
Mas o meu próximo slice of life dele vai ser a sua obra de 2009 A Girl on the Shore (vou tentar deixar um print desta ideia de livro no cérebro de alguém que me o possa oferecer de aniversário aha) 

Se este é um livro com originalidades marcantes? Não! Não é um livro com um final retumbante, não é uma aventura de tirar o fôlego, não é sci-fi, enfim, é um livro chato. Será mesmo? 

Solanin apesar de ser a preto & branco é um livro com muitas cores, um verdadeiro caleidoscópio de sentimentos e introspecções que são contados e mostrados, vividos por um conjunto de jovens que saíram da escola, e entraram naquela vida a que nós chamamos vulgarmente “vida de bosta”. Acabaram-se as loucuras adolescentes, acabaram-se os hobbies, casa para pagar, eu trabalho de dia e tu de noite, o trabalho é uma porcaria sem rosto e sem alma, enfim… a vida é chata. 
Mas podemos mudá-la se para isso houver força, amor e camaradagem! 



Nesta história agridoce as mensagens sobre descoberta e crescimento insinuam-se na maior parte das páginas, a relação entre a liberdade e o aborrecimento (e a morte), a convivência com a memória, memória esta que leva à imortalidade de entes queridos, são assuntos muito bem tratados de uma forma mundana que quase que parecem que nem estão ali. 

A narrativa revolve à volta de uma mão cheia de jovens, Meiko, Taneda, Kato, Rip e Ai. À volta deles temos uma série de personagens que fazem correr a narrativa fluidamente. 
O pontapé de saída é dado por Meiko, que é infeliz no trabalho e resolve despedir-se. Tem dinheiro para se sustentar durante uns tempos e resolve experimentar a liberdade de fazer apenas o que lhe apetece.

Taneda é o namorado que vive com ela, têm uma relação de seis anos. A situação de Meiko acaba por fazer esticar algumas vertentes da sua relação, relação esta que influi directamente na vida dos restantes amigos. Taneda era guitarrista e vocalista numa banda com os restantes companheiros, a banda Rotti. A situação da banda é importante porque Taneda acaba por se despedir também para seguir o seu sonho de viver da música. 

Com estas premissas Asano constrói e desconstrói a vida destes rapazes, não vou contar mais nada do que se passa no enredo, porque seria impossível evitar spoilers daqui para a frente. 

Asano narra a história mais vulgar que existe, mas esta narrativa gráfica é primorosa, tem impacto no leitor e não o deixa indiferente. Seja nos pormenores humorísticos (poucos) que são deliciosos, seja nas reflexões das personagens que podíamos ser nós. 

Essa é talvez a grande força deste livro, nós conseguimos identificarmo-nos em muitas situações, e elas são-nos descritas de modo a que ficamos presos à vinheta, à página, ao livro. E não nos podemos abstrair que este livro é um retrato também, uma fotografia de uma sociedade mais restritiva que a nossa, mas onde existe luta e inconformismo. A canção Solanin tem muito disso. E no final... a banda era mesmo isso, um grito de liberdade, uma corrente de camaradagem entre eles.

A primeira parte do livro é lenta, por vezes a roçar o chato. Mas é premeditado, a vida deles era isso mesmo: aborrecida e chata. Mas tudo muda depois, sim depois voltamos ao assunto de fazer perdurar a memória de quem gostamos ou amamos. Inicialmente tivemos o velhote com Alzheimer que apesar disso escreveu durante anos para a sua mulher falecida, na segunda parte voltamos pungentemente a esse assunto. Memória e imortalidade. 

A arte de Asano é excelente, a maneira como ele flui entre vinhetas e páginas cativa a visão do leitor, fazendo-a acelerar ou parar onde este artista decide que o leitor o deve fazer. Muitas vezes quando a personagem está em reflexão, Asano opta por fazer menos vinhetas na página e deixa um espaço negro entre elas, onde coloca o pensamento da personagem em dois ou três grupos de reflexão, obrigando o leitor a ler e não passar na diagonal. 
Esta saída gráfica é bastante inteligente e eu gostei. 



A forma de representação gráfica das personagens define um certo estilo ao longo do livro, por norma a face é larga com os olhos afastados e amendoados com sobrancelhas pequenas e altas, e o nariz pequeno e largo, dando muito espaço para a boca. Esta relação que existe sobretudo entre os olhos e a boca é onde Asano promove a maior parte das expressões, e devido a este espaço olhos/nariz ser basto funciona muito bem. 

Este Manga tornou-se de culto, passado pouco tempo teve direito a filme live action de sucesso no Japão, a música Solanin foi criada pelos Asian Kung-Fu Generation (com a letra deste livro, de Inio Asano) e esteve no top 3 japonês durante uns tempos. 
De notar que no filme a música é tocada pela banda do livro, os Rotti, e cantada pela actriz Aoi Miyazaki que personifica Meiko





Ficam aqui com as duas versões desta música, o trailer do filme contém spoilers importantes por isso não é incluído neste post  😊 



Um excelente livro que aconselho a toda gente. 



 Boas leituras

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