Os Exércitos do Conquistador, de Jean-Claude Gal (Diosamante)e Jean-Pierre Dionnet (Exterminador 17) foi o último livro (Vol.15) da colecção
Novela Gráfica da Levoir.
Dionnet é conhecido em Portugal pelo livro que fez em conjunto com Enki Bilal, Exterminador 17. Este livro foi publicado por cá pela Meribérica em 1989, e posteriormente pela ASA em 2005.
Começou a trabalhar no mercado de BD Franco-Belga na revista
Pilote em 1971 como escritor de BD. Basicamente não o considero um bom argumentista de BD, embora tenha feito muitas histórias curtas nos anos 70 para "monstros" como Philippe Druillet, Jacques Tardi ou o nosso desenhador deste livro, Jean-Claude Gal.
Para mim a sua principal herança foi a criação da
Métal Hurlant Magazine (revista
Heavy Metal) em 1975, com Moebius, Druillet e Farkas, sendo o editor chefe até 1985.
Jean-Claude Gal é um artista daqueles... daqueles que é impossível ignorar. Cada vinheta, cada página é um encanto visual!
Foi professor de desenho durante toda a sua carreira como desenhador de BD, e começou esta actividade na revista Pilote nos anos 70 com pequenas histórias.
Esteve presente logo no primeiro número da revista
Métal Hurlant exactamente com uma das histórias curtas que compõem
Os Exércitos do Conquistador, com argumento de Dionnet. Estas histórias curtas de
Os Exércitos do Conquistador viriam a ser compiladas em 1977 num livro.
O seu primeiro trabalho de grande fôlego surgiu já nos anos 80 com o título
L'Aigle de Rome, mas foi a saga de Arn (compilada neste livro da Levoir) que lhe deu mais notoriedade. Posteriormente trabalhou com Jodorowsky no primeiro volume de Diosamante, editado pela ASA em 2003, mas que infelizmente deixou a saga aí devido ao seu precoce falecimento em 1994.
Pelo meio da sua carreira houve uma aproximação de Bill Mantlo para o trazer para o mercado dos
comics norte-americanos, mas essa hipótese foi gorada pelo tempo que Gal demorava a construir as suas ilustrações super minuciosas.
Este livro que a Levoir publicou nesta sua segunda colecção de novelas gráficas vale sobretudo pelo trabalho de Gal. Como disse atrás não considero Dionnet mediano sequer como argumentista, mas sempre se soube rodear pela nata artística da época que ia desenhando histórias suas, este foi mais um caso.
Os Exércitos do Conquistador que a Levoir nos trouxe compõe-se de várias histórias curtas sob esse nome, assentando sobre o tema da fantasia-heróica, tentando sempre um final enigmático de contornos sinistros, e inesperados para o leitor.
A
saga de Arn preenche o restante livro, que termina com a história curta de Bill Mantlo,
A Catedral, que segue o mesmo padrão das curtas de Os Exércitos do Conquistador.
A primeira parte fala-nos de episódios passados com o exército do um poderoso conquistador, e em que esses exércitos tinham a fama de serem imparáveis actuando em vagas cíclicas. São as tais histórias com tentativas de final "
à la Twilight Zone" por parte de Dionnet.
Algumas até são interessantes, mas o deslumbre vem como sempre por parte de Gal. A minúcia e o detalhe são soberbos, e estamos a falar de uma época em que não havia ajuda de computadores para o desenho. Peço que atentem bem nos detalhes de coisas tão simples como o elmo de um soldado... podem passar uma hora a absorver detalhes de uma única página!
Estas histórias têm como protagonistas simples soldados ou destacamentos do poderoso e imparável exército, formando no seu todo um quadro de um mundo imaginário preparativo para a saga de Arn que vem logo a seguir, quase parecendo que estamos no mesmo espaço, embora a saga de Arn seja posterior a estas pequenas histórias em alguns anos.
De seguida temos Arn, uma épica e fantástica história de fantasia-heróica. Este um trabalho mais longo de Gal e Dionnet. E como trabalho mais longo, logo surgem alguns
plot holes por parte de Dionnet, mas sinceramente alguém liga a isso quando olha para aquelas páginas?
Gal tem em Arn uma obra-prima emblemática de todo um tema que encanta gerações. Do soberbo detalhe já falamos atrás, mas em Arn os layouts são brutais, Grandes painéis fraturados, painéis com pequenas vinhetas a promover o movimento, páginas inteiras, páginas duplas, usando um movimento rápido mas curto nas suas pranchas para de seguida nos fazer parar numa
spread page brutal, tipo a da caverna, faz com que o leitor quase sinta as emoções de Arn e esteja ali com ele, e sim, Arn fala pouco (obrigado Dionnet), mas o desenho de Gal transmite tudo o que Arn pensa e sente sem necessidade de balões.
Bom, estou farto de me babar neste post... Arn é basicamente uma história de vingança, da criança de sangue real vendida como escrava e que quer recuperar o que é seu por direito.
O Leituras de BD recomenda muito este livro. Toda a gente deveria conhecer a arte Jean-Claude Gal, sobretudo neste modernos onde a "arte
flat" é a rainha da BD.
Já gora, este livro da Levoir preza a arte de Gal, mostrando este seu trabalho na forma original, ou seja, a preto e branco. Felizmente foi publicado assim, e não na versão posterior colorida.
Boas leituras