sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Crónicas Temáticas: Reflexões e Refracções - Mickey Mouse por Paulo Costa


O Paulo Costa propôs a criação de uma nova rubrica para um estilo diferente de crónica.
E eu aceitei!
:)
Estas Crónicas continuarão a ser incluidas na tag "A Palavra dos Outros", mas esta parte não será incluída no título, para não ficar muito extenso e chato...
Este projecto de crónicas do Paulo é bastante original: pegar num universo de BD e especular sobre alguma coisa que nunca tenha sido mostrada claramente. A ideia é olhar para estes universos de um ângulo diferente.

A primeira será sobre o Rato Mickey:

Reflexões e refracções I - Mickey

Quem é o Mickey? O rato humanóide mais famoso do mundo é também uma figura sobre a qual se conhece pouco. Nas suas histórias, interessa menos quem ele é mas sim o que ele faz. Mas por que motivo será ele tão difícil de se conhecer? Para quem não tem nada de sinistro ou negativo na sua aparência, é preciso espreitar por baixo da pele para poder especular sobre as suas origens. Já fiz isso num blog pessoal com um estilo de escrita menos sério. Agora posso expandir essas ideias.

Dentro do universo Disney, as origens familiares dos Patos são bastante conhecidas. Não só Carl Barks, que foi o autor de muitas das histórias do Pato Donald e do Tio Patinhas, criou uma árvore genealógica, como as origens familiares do clã McPato foram a origem de muitas epopeias em que o ricaço mas sempre aventureiro Patinhas levou os sobrinhos Donald, Huguinho, Zezinho e Luisinho. E se à primeira vista (e para a maior parte de qualquer leitor novo) o paradeiro dos pais destes três últimos parece ser um mistério, este é respondido logo na primeira história onde eles aparecem. Quando Don Rosa escreveu e desenhou “A Saga do Tio Patinhas”, o resto da história familiar dos Patos ficou respondido. E o Peninha não faz parte da família.

Quanto ao Mickey, a sua história é bem mais misteriosa. Não me lembro de alguma vez ter lido qualquer história que indique as origens familiares do Rato, e foi preciso pesquisar no Inducks e na D-Zone para confirmar uma tia, uma prima e uma irmã (chamada Amelia) que é a mãe dos sobrinhos Chiquinho e Francisquinho, e que tem aparecido em algumas histórias recentes. Ao contrário do Donald, Mickey não parece ter um emprego certo mas aparenta ser abastado, com uma casa e um carro melhores que o Pato. Não parece ter problemas em desembolsar dinheiro e parece movimentar-se bem em círculos de famosos, incluindo figuras da arte, do espectáculo e da ciência.

O Mickey é visto frequentemente em actividade policial, mas não aparenta ser agente de nenhuma força de autoridade. Nunca está fardado, não usa arma, nem tem parceiro no combate ao crime, excepto com o chefe da polícia, o Coronel Cintra. Os seus confrontos com criminosos como João Bafo de Onça (Pete, no original) ou o Mancha Negra e a sua familiaridade com procedimentos policiais parecem indicar que presta serviços de consultoria, mais provavelmente como criminólogo.

Em relação à sua vida familiar, de acordo com o perfil na D-Zone, o comportamento e as actividades profissionais da sua tia e da sua prima parecem confirmar as origens abastadas da família de Mickey. Tendo em conta a sua ligação à polícia e a sua actividade paralela ocasional como detective privado, acredito que, tradicionalmente, a sua família trabalha em advocacia, razão pela qual o Mickey respeita tanto a lei.


Texto: Paulo Costa

Espero que esta crónica "diferente" vos tenha agradado! A próxima será sobre Asterix!

Boas leituras

24 comentários:

  1. E a Minnie?? Tb não faz a ponta dum corno, só sabe andar às compras com a Clarabela, que é uma vaca.
    ]:-D

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  2. Não pensei na Minnie. Possivelmente é uma debutante da alta roda com uma apetência por andar nas revistas cor-de-rosa, como a Cinha Jardim.

    A minha maior preocupação agora é tentar explicar a amizade do Mickey com um pobretanas semi-simplório como o Pateta, quanto o rato é um gajo com mobilidade social.

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  3. Paulo Costa
    LOL
    :D
    A Minnie Jardim!!!

    Claro que tem de haver amizade com um simplório! Assim ele (Mickey) sobressai mais!
    :D

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  4. E o casal esquisito que é a vaca Clarabela com o cavalo Horácio?
    Parecendo que não soa-me a disturbios sexuais dos desenhadores e/ou argumentistas. hihihihihi
    ]:-D

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  5. Eu acho que o Horácio é mais tipo burro do que cavalo! Também... a andar com uma vaca...
    :D

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  6. Ai ai, quando nos pomos a esmiuçar até sobre as coisas aparentemente mais inocentes. Recordo-me dos ralhetes da mamã :) quando em criança levava essas e outras revistas (da Marvel) para a mesa durante o almoço. Comia e lia, lia e comia. Ou quando ia à mercearia e atravessava a estrada de nariz completamente enfiado nas divertidas histórias. Nesse tempo não me questionava sobre as relações entre patos e ratos e cães e vacas e patos outra vez. Ou como era possível virar um super-herói (ainda que trapalhão E de ceroulas) depois de engolir um amendoim COM CASCA!! Tudo era puro divertimento.
    Saudações, amigo Paulo Costa.

    ps: O meu favorito sempre foi o Pateta. :)

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  7. Nunca parei pra pensar sobre a origem da família do Mickey, bom texto!

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  8. Esse Mickey... Poucos se lembram, mas foi por causa dele que o pobre Coelho Oswaldo foi jogado ao ostracismo! E o Pateta? Qual é a dele? Que misteriosas ligações mantém com o famigerado camundongo?
    Brincadeiras à parte, excelente texto, Paulo Costa! Fiquei ansioso por mais publicações!
    Um abraço do Amigo Paulo Langer

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  9. Eu por outro lado sempre achei estranho o Mickey ter dinheiro e visivelmente não ter uma atividade oficial e nem ser camelô. Ainda bem que li seu ensaio, pois no âmago achava que ele poderia ser uma espécie mais sofisticada de traficante ou amante profissional, quando não estivesse em alguma aventura. Você conseguiu tirar essa minha desconfiança.

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  10. Carlos Rocha e Guy Santos
    --
    Se o Donald tem uma história de origem, o Mickey também merece. E se os Patos inspiraram Carl Barks, Romano Scarpa e Don Rosa a criarem histórias repletas de pormenores, o Mickey também merece. Se isso significa explorar a sordidez dos boudoirs destes animais antropomórficos, seja. Acredito que alguém já o fez em Tijuana Bibles. Por acaso, o site D-Zone dá-se ao trabalho de contabilizar as raças predominantes de animais antropomórficos.

    Paulo Langer
    --
    Acredito que o Mickey poderá conhecer a identidade do vigilante Superpateta, e que os dois poderão estar envolvidos na formação de uma estrutura paramilitar composta por vários outros vigilantes, que apareceu em alguns Disney Especiais dos anos 80.

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  11. Venerável Victor
    --
    O Mickey sempre foi mais Jessica Fletcher que Keyser Soze. Personagens como o Gastão ou o Ranulfo (rival do Mickey pelo afecto da Minnie, pouco usado nas últimas décadas) são potenciais criminosos, especialmente o Gastão. Nunca acreditei nessa treta de ser muito sortudo e ter orgulho em não trabalhar. Ele tem demasiado tempo livre e mãos ociosas são instrumentos do diabo, como se diz por aí.

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  12. eheh, pois eu se tivesse algum super poder, o que queria nao era voar nem ser super forte, queria era o poder do Gastão :) Por isso é que durante algum tempo o Longshot foi o meu personagem favorito dos X-Men.

    O Mickey parece ser uma espécie de fusão entre o James Bond e o Sherlock Holmes, mas para dizer a verdade sempre gostei mais do seu amigo Pateta. Não me canso de rir com ele :)

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  13. Consegue-se ver quem é (bem, era) o Mickey nas antigas tiras de jornal do Floyd Gottfredson (actualmente a ser republicadas nos EUA pela Fantagraphics). Com o passar dos anos, o rato tornou-se mais uma logomarca do que uma personagem propriamente dita.

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  14. Para ser sincero nunca dei muita importancia para o Mickey, mas após ler o texto percebo que o cara é bem sombrio, pois nada se sabe dele com certeza, apenas podem ser feitas algumas suposições.

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  15. Hunter, não acredito que as histórias do Gottfredson mostrem o verdadeiro Mickey e que ele tenha perdido a personalidade. Ele também não tinha grande personalidade na época, em geral as histórias dele seguiam o espírito dos filmes e ele passava a vida envolvido em comédias slapstick.

    A personalidade dele nem sequer é derivada dele próprio, e sim dos adversários, à medida que o Pete (Bafo de Onça) se vai tornando cada vez mais criminoso em vez de um simples rufião, o Mickey fica mais motivado a ver justiça feita.

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  16. Luis Sanches
    Acho que toda a gente gostaria de ser o Gastão...
    :D

    João Roberto
    Bem vindo ao "dark side" da Disney!
    :D

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  17. Boa crónica, e que saudades de ver as revistas Disney nas bancas-

    Belo texto Paulo e uma boa ideia

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  18. Creio que Mickey provavelmente era filho de milionários. Um desentendimento, porém, deve ter levado nosso rato/camundongo a assassiná-los e enterrar os pais no quintal.

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  19. hehe. Divertido. O Mickey Mouse é o personagem estandarte de Walt Disney, não foi o seu primeiro personagem de sucesso (era um coelho ao qual foi dado o nome Oswald), mas por uma questão de direitos editoriais e de imagem o Walt Disney não o conseguiu utilizar mais, tendo por isso passado por um limbo. Foi com o Mickey Mouse que Walt e o seu irmão Roy Disney renasceram, tornando essa empresa aquilo que é hoje, um colosso. No entanto, o "nascimento" desse personagem não foi pensado à toa, tendo um primeiro aspecto próximo de Ignatz, não entrava nos estereótipos dos roedores da altura. O Walt fez questão que o Mickey fosse uma "boa pessoa", que nele residisse sempre uma bondade inocente, boa disposição e mesmo quando aborrecido ou zangado o fosse conforme o é uma qualquer criança. O rancor, a vingança, a inveja, entre outros, digamos, defeitos, não fariam nunca parte do Mickey Mouse. O Mickey Mouse teria sempre uma áurea de inocência e qualquer tentativa de elaborar uma vida mais completa, ou verosímil, com um "background" que respondesse às questões de uma legião de fãs do famoso rato foram sempre rejeitadas pelo seu criador. Isso iria fazer perder a sua áurea muito própria.
    Nos filmes, adaptações que se celebrizaram acima das obras originais, o Walt Disney fazia questão em que o mundo fantasioso estivesse também ligado à realidade, que é não poucas vezes muito dura. Desta necessidade de dar fantasia e ao mesmo tempo uma "lição-de-vida", matam a mãe do Bambi e o Dumbo é retirado da sua mãe e também se torna órfão.
    (não vou referir as "Silly Simphonies" propositadamente).
    Mas naquilo que era o restante mundo Disney, comics incluídos, principalmente nestes últimos, o Walt Disney já assim não pensava com tanto fervor. A inocência era a pauta. Os comics Disney, num estudo sociológico Norte-Americano (do qual não me recordo do nome do autor) foi acusada de ter "alimentado" uma geração inteira de crianças Disney, isto é, uma geração de crianças que não encaravam a realidade conforme esta se apresenta: emprego, dificuldades, perseverança, estudo, etc. Claro que na minha opinião, e na de outros, este estudo do mundo dos comics da Disney, embora interessante do ponto de vista da análise comparativa e dissecante, mesmo se maniqueísta, é tanto absurdo como outros do género (corruptivo dos jovens).
    De qualquer maneira, fica isto, o Walt Disney nunca quis que o Mickey tivesse um background que o humanizasse para além da sua antropomorfia. Anuiu quanto aos Patos, porque Bark era um génio com génio, e era muito competente. Quem o seguiu também respeitou, por exemplo, Rosa, embora fosse muito difícil por vezes ser coerente com cronologias e mesmo certas ligações devido a histórias com informação contraditória.
    Tudo o resto, se era rico, se herdou, se isto ou aquilo é apenas uma tentativa de pensar demais o personagem, dar-lhe uma justificação ou um sentido que pura e simplesmente não é para ter. Apenas é assim, "Do not over think it, be more as a child, enjoy".

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  20. Nota: O "Oswald, the Lucky Rabbit" retornou à Disney em 2006.

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  21. Refem
    Uff...
    Que post! lol
    Continuo a pensar que o Mickey tem uma vida passada nada recomendável... por isso ninguém fala dela!
    É como os submarinos da marinha portuguesa...
    Espera pelo post que vai sair na mesma onda deste do Asterix!
    :P

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  22. refemdabd

    Post muito interessante. Já aprendi mais qualquer coisa hoje :)

    E também concordo que o tal estudo é injusto. Aqui há uns meses dei-me ao trabalho de ler as primeiras histórias do Donald com os sobrinhos (admito que tive de tirar da net, não se arranja em mais lado algum, pois têm mais de 50 anos), e constatei na altura que um tema sempre presente era o desemprego. E naquela altura o Pato não era o preguiçoso que é hoje, lembro-me bem de uma história das que li em que ele foi à procura de trabalho pois os sobrinhos tinham fome e ele não tinha o que lhes dar para comer :S Por isso, sim, também acho o tal estudo bastante injusto.

    Mais uma vez, grande post :)

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Bongadas