quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Os Comics e os Anos 90: Alex Ross [12]


Um autor incontornável dos anos 90: Alex Ross!
Hugo Silva vai falar deste autor que criou um estilo muito próprio, deixando uma marca indelével nos comics da década de 90.

Alex Ross

Alex Ross foi um dos artistas que marcou a década de 90, participando de duas das maiores sagas dos anos 90 (e de sempre) e trazendo um novo estilo de arte para o mundo dos comics e ganhando uma legião de fãs que perdura até hoje. Foi colaborador regular da revista Wizard e da DC Comics, produzindo um sem número de litografias, posters e capas de grande qualidade e que nos deixava literalmente a salivar.

Alex Ross começou a sua carreira nos comics em 1990, numa mini série baseada em personagens do filme Terminator e publicada pela Now Comics, e é em 1993 que faz o seu primeiro trabalho de Super-Heróis, uma capa para um livro do Super-Homem que aprofundava o que tinha acontecido em 1992, na série de histórias da Morte do Super-Homem (já abordado aqui no blogue).

Aí travou conhecimento com Kurt Busiek, e os dois decidiram começar a enviar propostas para revistas com arte pintada no seu interior, sendo uma dessas propostas aprovada pela Marvel Comics e que iria dar origem a uma mini série que contaria a origem do universo de super-heróis da editora, intitulada Marvels e publicada em 1994.

Os autores mostravam como pessoas normais, nomeadamente um fotógrafo, assistiram ao boom de super-heróis no universo Marvel, desde os confrontos entre Namor e o Tocha Humana original ao aparecimento dos primeiros Mutantes passando por heróis estranhos como o Aranha ou equipas como o Quarteto.

Tudo com uma arte fantástica, parecia uma mistura de fotonovelas com quadros de um museu qualquer, que nos deixavam presos à página e a apreciar cada pormenor da arte. Lembro-me de ver a primeira revista à venda, com uma capa de “plástico” a mostrar um tocha humana em chamas, conquistou-me logo e não descansei enquanto não a comprei. O interior correspondia ao que via nas capas, e o medo que eu tinha da leitura ser maçadora com uma arte assim, esfumou-se por completo no argumento e diálogos de Busiek, com a inocência que era transmitida a cada página e que nos fazia crer que aquilo realmente se passava no começo de tudo.


Um começo em grande para o artista, o qual foi apoiado desde o primeiro dia pela revista Wizard iniciando uma colaboração regular com esta revista, dando assim a conhecer um pouco mais a sua arte e aumentando assim o número de pessoas que se apaixonavam pelo seu estilo realista ao desenhar super-heróis. Aí ele chegou a explicar todo o conceito de criação, de como tirava fotografias aos seus amigos em poses heróicas (e por vezes com fatos e tudo) para perceber melhor como as sombras e luzes devem ficar num determinado quadro.















Ou de como ele adorava deixar pequenos Easter Eggs para os fãs, de personagens conhecidas do mundo dos comics, cinema ou televisão nos quadros das histórias, e chegaram a existir edições da Wizard que esmiuçavam as sagas de Ross para apanhar todos esses pormenores que o autor fazia questão de deixar nas páginas que pintava e desenhava.

Um ano depois Busiek e Ross juntavam-se a Bret Anderson e criavam a série Astro City para a Image Comics, que passaria mais tarde para a Wildstorm. Mais uma prova da importância do autor nos anos 90, como viram já está ligado a três artigos que publicámos aqui, esteve ligado a diversos acontecimentos importantes da década e não pararia de trabalhar nos anos que se seguiriam. A revista teria algum sucesso e o universo criado pelos dois autores era bastante interessante.


Em 1996 ele desenvolve uma ideia que tinha para o universo da DC, uma história passada no futuro e que mostraria uma divisão entre os heróis da editora e se focaria nas novas e velhas gerações: Kingdom Come!
Mark Waid ajudou o artista a escrever a saga que mostrava como um Super-Homem descontente com o rumo de uma nova geração de heróis decide-se reformar vivendo isolado de um mundo que é muito mais violento do que aquilo que poderíamos imaginar.



Ross redesenhou muitos dos ícones que todos conhecemos, criando uma Liga da Justiça imponente e diferente do que esperávamos, existiram heróis dos quais não havia a certeza qual versão eles podiam ser. Qual era o Flash representado? Seria o Jay Garrick? O Barry? E o Lanterna Verde? Alan Scott ou Hal Jordan? Era um pouco deixado à escolha do leitor essa interpretação, e isso ainda fez a série ter mais sucesso. O artista foi co-criador de um dos vilões da história, o Magog que teve o seu visual baseado em duas criações de Rob Liefeld, o Cable e o Shatterstar.
























Havia algo em comum com Marvels, um narrador Humano e inocente (neste caso um Reverendo) mas ao contrário da série da Marvel, esta era mais imponente, tentava mostrar os heróis maiores que a vida, como os verdadeiros mitos que são. E estes tinham muito mais destaque que na mini de Busiek, aqui eram eles os protagonistas e os que dominavam a história.


Existiram momentos imponentes, mas nenhum como o confronto entre Superman e Shazam, algo que qualquer fã gosta de ver e que na arte pintada de Ross ganha o glamour e a grandeza que merece ter. Tudo num universo dividido entre os que apoiavam o Batman, e os que apoiavam o Superman, diferentes estilos no combate ao crime mas que enfrentam como sempre um inimigo em comum.
Kingdom Come foi publicado em português, na integra, em quatro volumes pela Vitamina BD.

























Ross continuou a trabalhar com a DC, em algumas capas ocasionais e numa mini criada por ele para a Vertigo, utilizando a personagem Uncle Sam e mostrando um lado mais negro da América. Voltaria a trabalhar para a Marvel no final da década, criando a saga Terra X com Jim Krueger que faria parte de uma trilogia que se arrastaria pelos anos 2000.

Adorava a arte de Ross, e apesar de nos últimos tempos ficar um pouco maçadora, ainda continua a produzir alguns posters ou capas bastantes interessantes. E isto sem ligar a uma crítica que fazem aos seus personagens masculinos, o facto de terem sempre a virilha demasiado realista, com um volume ao qual não estávamos habituados a ver num universo de super-heróis “Ken”.

Texto:  Hugo Silva


Podem aceder a todas as publicações do Hugo Silva no Leituras de BD clicando no nome dele, e visitar o seu blogue no seguinte link:
Ainda sou do Tempo...

Podem ler os anteriores artigos desta rubrica nos seguintes links:
Os Comics e os Anos 90: Image Comics - Youngblood
Os Comics e os Anos 90: DC Comics - A Morte do Super-Homem
Os Comics e os Anos 90: DC Comics - A Queda do Morcego
Os Comics e os Anos 90: Crossovers entre várias Editoras 
Os Comics e os Anos 90: Dark Horse - Hellboy
Os Comics e os Anos 90: Marvel - Onslaught 
Os Comics e os Anos 90: DC Comics - Elseworlds: Golden Age
Os Comics e os Anos 90: Marvel - Heroes Reborn 
Os Comics e os Anos 90: Wizard Magazine
Os Comics e os Anos 90: Marvel - Os Monos da Marvel
Os Comics e os Anos 90: DC Comics - Hal Jordan: Ascensão, Queda e Redenção


Como curiosidade existem várias séries de figuras da DC Direct baseados nas suas personagens (Referentes a Kingdom Come).
Quanto a prémios... tem alguns:
- Will Eisner Award (1997)
- National Cartoonists Society Comic Book Award (1998)
- Comic Buyer's Guide's CBG Fan Award for Favorite Painter
Este último prémio foi ganho por Alex Ross em sete anos seguidos, levando à retirada desta categoria nestes prémios!
Amazing!

Boas leituras

25 comentários:

  1. Alex Ross é mesmo um grande artistas e que também a mim me deixou de queixo caído, com as obras que mencionaste. Marvels foi realmente algo muito diferente (a edição que é mencionada é a Brasileira que também tenho).

    E quem é consegui ficar indiferente a Kingdom Come? Ninguem, seja pelo argumento, seja pela arte. A batalha entre o Super-Homem e o Shazam é quase de outro mundo!!!

    Com este post deste-me vontade de ir recordar estas historias.

    ResponderEliminar
  2. Para mim Alex Ross marca o ponto de viragem nos anos 90. O seu estilo hiper-realista vai contrastar com o estilo Image do inicio da decada e veem reafirmar que é possivel fazer boas historias com bom desenho. O Kingdom Come é uma grande critica ao que se tinham tornado os comics nos anos 90, já não se combatia vilões mas uns aos outros e uma chapada directa ao Rob Lifield, Mcfarlane e outro.

    Eu tenho um numero especial da Wizard sobre ele onde se ve os estudos que ele faz sobre as poses (o reverendo do Kingdom Come é o pai do Ross).

    Quando a DC lança uma edição comemorativa da Crise nas Infinitas Terras ele refaz a cena classica da morte da Supergirl no braços do Super-homem que é fantastica.

    Sempre achei que os estilo dele se adequa mais ao universo DC do que à Marvel mas curiosamente uma das melhores imagens produzidas por ele é a capa da wizard que ja referi que tem o Super-Homem do Kingdom Come lado a lado com o Capitão America do Earth X

    Tive nas mãos uma reprodução de um quadro feito por ele sobre os vilões do Homem-Aranha mas 600€ era muito, assim como uma estatua do Super-Homem.

    ResponderEliminar
  3. Independentemente da sua paixão pela Golden Age e da cerrada sensação de revivalismo presente na sua arte, é dificil não gostar do trabalho do sr Ross.

    Kingdom Come e Justice são fantásticos, mesmo que não se goste d história, cada página é um orgasmo visual.

    As suas capas são algo de outro mundo.

    Realmente um daqueles que vai deixar marca no mundo dos comics, muito para além do tempo da sua carreira.

    ResponderEliminar
  4. Bem, quando apareceu com Marvels e Kingdom Come era sem duvida, não muito à frente, mas um estilo completamente diferente do que até aí se tinha feito. Apesar de ainda hoje gostar de ver as capas que o homem produz, a verdade é que muitos dos quadros dele pecam por uma estagnação da imagem (também associada à sua fixação de congelar um momento e torná-lo o mais real possivel). Como disse, tanto no Marvels como no Kingdom Come isto não acontece. E apesar de não o considerar tão importante e significativo para a história da Bd como muita gente, tenho de admitir que Alex Ross é sem duvida um grande artista.

    ResponderEliminar
  5. Dito isto, ainda tenho ali os 4 numeros de Marvels (o tal com a capa transparente) e continuo a guardá-los como se fossem autenticas obras de arte (que o são).

    ResponderEliminar
  6. Luis nao es só tu quando vi isso nas bancas tive que comprar logo,a arte atraiu-me.

    "Kingdom Come e Justice são fantásticos, mesmo que não se goste d história, cada página é um orgasmo visual.

    As suas capas são algo de outro mundo. "

    é por ai.

    ResponderEliminar
  7. Este autor lembra-me imenso a arte do pintor americano Norman Rockwell...

    ResponderEliminar
  8. País Cinzento:

    http://www.nrm.org/alexross/about/

    Septimus:

    Não concordo exactamente que Marvels seja o ponto de viragem no estilo dos anos 90, como apontei no meu texto sobre The Golden Age, pois esta tem história e Marvels não, é mais icónico, como se fosse um livro de colagens. Kingdom Come funciona melhor nesse aspecto porque já tem história.

    Luís Sanches:

    O Alex Ross pede aos seus amigos para servirem de modelos fotográficos, pintando depois com base na foto, daí o estilo estático dos painéis dele.

    ResponderEliminar
  9. Grande artista o alex !

    Dos comics que tenho do Alex Ross destaco kingdom come, marvels e Uncle Sam. A carreira dele parece que estagnou um pouco embora ja tenha deixado a sua marca e o seu estilo.

    Cmptos

    Blaise

    ResponderEliminar
  10. Os comentários sobre as virilhas eram comum no começo da Internet :D

    E sim a pintura realista dele veio contra balançar um pouco os Lee's e afins da altura, uma boa lufada de ar fresco.

    Eu acho que com o passar do tempo, reparamos mais nas personagens "estáticas" e vamos perdendo o gosto. Para além que alguns pin ups dele estão longe da qualidade a que nos habituou

    ResponderEliminar
  11. Obrigado a quem deu opinião!
    Eu adoro o estilo do Alex Ross. Perdeu-se um pouco este século, mas acho que conseguiu voltar a ser ele mesmo em "Kirby Genesis" em 2011! E também gostei de Justice e JSA.
    Estava a comodar-se a ser apenas "capista"...
    lol
    Ele marcou bem a década de 90!
    ;)

    ResponderEliminar
  12. Bem Nuno, eu se pudesse também fazia só capas :) Menos trabalho mas ganhas mais dinheiro e mais exposição. Niveis de stress completamente diferentes. Penso que a nivel artistico nos comics americanos deve ser a unica coisa que se faz que não se assemelha a uma fábrica com linha de montagem :S

    ResponderEliminar
  13. Luis Sanches
    Bem o stress é relativo! Depende de quantas capas foste incumbido de fazer... lol
    :D
    Mas não sabia que se ganhava mais dinheiro a fazer capas do a fazer BD propriamente dita... tens a certeza??
    :P

    ResponderEliminar
  14. Das entrevistas que já li sobre o assunto, há uma coisa sempre presente, que é o seguinte, por muito trabalhada que seja uma capa em termos de composição e acabamentos, demoras sempre muito menos do que a planear e a desenhares as vinte e poucas páginas que eles têm de fazer por mês.
    Claro que não lhes pagam o mesmo para fazer uma capa do que pagariam para fazer um interior inteiro, mas se tiveres 5 capas alinhadas (e se por um acaso tivesses 30 dias para entregá-las, que parece-me nunca acontecer) iam-te pagar mais do que se fizesses a Bd inteira. Ou seja, se colocasses as mesmas horas de trabalho em capas que colocam em páginas, serias mais bem pago.
    Em termos de stress penso que também seja diferente porque às vezes com 6 meses de antecedência ou mais já estão a finalizar a capa de determinada revista. Penso que isto comparado com os prazos a que quem desenha as revistas está sujeito, é um tipo de trabalho completamente diferente.

    Costumava seguir uma página do Joshua Middleton (de que adoro a arte) e ele de vez em quando falava sobre isso (e outras coisas :)

    ResponderEliminar
  15. Além disso, a situação da exposição que lhes traz é muitas vezes esquecida. Quantas vezes já pegaste numa revista pela capa e depois largas porque a arte lá dentro não é 10% do que viste por fora. São cartões de visita que têm em lojas para toda a gente babar. E há muita desta gente que baba que depois os contrata (a peso de ouro, porque estes meninos têm todos muito pouco tempo nas mãos), mas que os contratam para fazer trabalhos à comissão para particulares. Era curioso saber quanto é que o Alex Ross levaria para, por exemplo, te pintar um quadro contigo numa qualquer cena como Lanterna Verde. Num cenário ideal, quanto pagavas? :D

    ResponderEliminar
  16. Acredito que terás razão sobre capistas, mas para essa situação tens de ter sempre capas para fazer e não só uma de vez em quando!
    ;)

    Quanto a uma pintura feito pelo Alex Ross comigo de GL... não lhe dava muito! No máximo 70 EUR!
    A vida tá muito mais difícil que há 5 anos atrás...
    :P

    ResponderEliminar
  17. Claro que sim, mas eles normalmente são contratados para fazer uma série de capas, e não só uma. Dito isto, tem tudo a ver com o gosto de cada um, ou seja, acredito que haja pessoal que prefira ser reconhecido pelo trabalho que faça nas páginas de uma revista. Eu pessoalmente, se tivesse essa possibilidade de trabalhar num personagem que não é meu e dedicar-lhe todas as horas que passo acordado, e andasse nesta vida mês após mês após mês, não sei se consideraria isso algo que gostasse de fazer durante muitos meses. Agora, se fosse fazer umas capas para este projecto, outras para outro projecto, e por aí fora, se calhar achava mais piada a esse estilo de vida. Isto nos comics americanos. Se falassemos dos Europeus ou Japoneses claro que a história seria outra.

    ResponderEliminar
  18. Pois, e em relação aos 70 euros, acho que ele só te desenhava uma bota verde :D:D:D

    ResponderEliminar
  19. Luis Sanches
    É lógico que o valor seria sempre muito superior, mas a conjuntura actual não me permite grandes veleidades... ficaria com a bota verde e já não seria mau!
    ahahhahaha
    :D
    Em Angoulême 2011 vi um original de uma capa do Thorghal (tela e pintura a óleo) à venda por quase 3000€...
    :'(

    ResponderEliminar
  20. Nuno, lembras-te quando o Bill Sienkiewicz fazia metade das capas da Marvel? E depois a arte interior era do José Delbo? Era assim mesmo.

    ResponderEliminar
  21. Paulo Costa
    Sim, havia alguns autores que faziam a maior das capas.
    A relação trabalho vs stress deve ser bastante menor a fazer capas.
    ;)

    ResponderEliminar
  22. Sou fã do Alx Ross desde o Marvels, que ainda quardo religiosamente na versão brasileira com capas de acetato :)

    ResponderEliminar
  23. CINE31
    Por acaso tenho o #1 também guardado religiosamente, mas na versão original, com "bag" e "Board"!
    :D

    ResponderEliminar
  24. Sou fã do Alex Ross desde que peguei no KC, a partir desse momento comecei a comparar tudo o que saía com o nome dele, incluindo as Wizards :)

    Se não me engano agora está a trabalhar no "Masks", mas a qualidade parece-me não ser a mesma.
    Talvez devido a serem personagens que não pertencem ao "mainstream" dos comics, o que poderá fazer com que não tenha a mesma "paixão".

    Relativamente a capas, como o Luis Sanches disse, são contratados para fazerem várias, penso que o Alex Ross fez umas quantas para a saga New Krypton

    ResponderEliminar
  25. Geek dos Comics
    Do Alex Ross, o primeiro livro que tomei contacto foi mesmo o Marvels.
    Depois fiquei apaixonado pelo Kingdom Come e não hesitei a comprar Justice e JSA!
    Depois disto apenas tenho visto capas embora saiba que foram publicados mais trabalhos dele...
    ;)

    ResponderEliminar

Bongadas