quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Lançamento Kingpin: Palmas para o Esquilo (entrevista a David Soares e a Pedro Serpa)


É já no dia 14 de Setembro que a Kingpin vai lançar o seu terceiro livro de 2013. Como foi dito anteriormente, neste ano de 2013 esta editora publicará cinco obras de Banda Desenhada realizadas por autores portugueses.

Setembro é o mês de "Palmas para o Esquilo", escrito por David Soares e desenhado por Pedro Serpa. Esta dupla já tinha trabalhado junta no livro o pEQUENO dEUS cEGO com sucesso, e espero que este seja um sucesso ainda maior!
A seguir à nota de imprensa terão uma pequena entrevista com os autores deste livro, são cinco perguntas para cada um!
























Desta vez David Soares vai entrar no mundo da loucura mostrando-nos que a fronteira entre esta e a imaginação é muito ténue, mas claro... para conhecerem melhor esta obra nada como estar presente no lançamento, que será feito no espaço da loja Kingpin Books e contará com a presença dos autores, que com certeza darão autógrafos.

Fiquem com a nota de imprensa da Kingpin:

PALMAS PARA O ESQUILO, escrito por David Soares e desenhado por Pedro Serpa, consiste numa observação sobre a distância que separa a imaginação da loucura e como a primeira pode transformar-se na segunda. Passado numa instituição para doentes mentais, Palmas Para o Esquilo recusa os lugares-comuns associados aos asilos para apresentar os loucos numa luz positiva e compassiva, numa abordagem que parte da loucura como alegoria para a condição humana. O asilo é um mundo, mas a loucura é uma antilinguagem, porque não permite a comunicação. Isolados dentro das suas próprias mentes, só a imaginação pode libertar a alma.
























Dos mesmos autores de "O Pequeno Deus Cego", vencedor em 2012 do Prémio Nacional de BD para o Melhor Argumento, atribuído pelo Amadora BD.

Kingpin Books, 52 páginas, cor.
PVP: 10,99EUR.

Entrevista a David Soares


Como te surgiu a ideia para este livro?

Surgiu de repente, praticamente toda estruturada. Ando constantemente com muitas ideias, conceitos, frases e imagens na cabeça e grande parte dos meus livros aparece de modo súbito na mente, como uma montra na qual se expõem quase todos os elementos e quase toda a cronologia da história. Já andava com vontade de escrever sobre a loucura e, felizmente, «Palmas Para o Esquilo» encerra tudo o que tinha para contar, neste momento, sobre o assunto. Estava num café, muito perto de casa, a ler, e quando comecei a imaginar a história, agarrei de imediato numa caneta para esboçar as pranchas num bloco de notas. É o que eu chamo “escrever com imagens”: as vinhetas são como frases e as pranchas são como parágrafos. Nesse instante, esbocei como a história ia começar, como iria terminar e qual o tom que devia ter. O tom é o mais importante e ou se apanha logo ou não se apanha de todo. Já abandonei histórias, porque não lhes apanhei o tom no início. O tom relaciona-se com a voz autoral, mas esta é sempre a mesma em todos os livros, enquanto que o tom muda de livro para livro. É, chamemos-lhe isso, a personalidade do livro, a voz do livro, em complemento à voz do autor. O livro tem de ter a sua própria voz e é ela que, em suma, comunica com os leitores de um modo subjectivo. Tão subjectivo que eles nem dão conta disso – em especial, se o autor souber o que está a fazer.

Podes falar um pouco do livro e já agora, que tipo de emoções pretendes que os teus leitores sintam após acabarem de ler o livro?

Gosto de pensar que é um livro emocionalmente devastador e intelectualmente exigente, mas os leitores irão, certamente, experimentar as suas próprias emoções e sentir o livro à sua maneira: se lhes provocar as emoções que enunciei, será fantástico; se provocar outras, isso também será interessante. Escrever sobre a imaginação, que é um dos temas do livro, é algo que levo muitíssimo a sério, porque a relação que tenho com a minha imaginação é muito séria. Para começar, ela é uma excelente companheira, porque nunca me deixou ficar mal; e, nesse sentido, faço os possíveis por tratá-la bem. Leio bons livros, passeio muito a pé para digerir o que li e o que vi e para entrosar essas informações em pensamentos originais; ando sempre com um bloco de notas para apontar esses pensamentos, de modo a ter um arquivo de memória. Trato a minha imaginação como se ela fosse uma rainha e o resultado pode ler-se nos meus livros. Daí que eu sei o quão preciosa a imaginação é e o quanto ela é erodida por um sem-número de agentes, digamos assim, que existem na sociedade. Acho que «Palmas Para o Esquilo» é sobre isso, também: o modo miserável como se mata a imaginação e o modo miserável como, muitas vezes, os indivíduos deixam que isso lhes aconteça. Nesse sentido, «Palmas Para o Esquilo» tem muita coisa autobiográfica, mas não é, de maneira nenhuma, uma autobiografia.


Já havias feito um livro com o desenhador Pedro Serpa, o pEQUENO dEUS cEGO. Agora outro! O que gostas mais na arte do Pedro?

Gosto da doçura do desenho do Pedro, porque isso permite-me alcançar algo que o Lucio Fulci, realizador italiano de filmes de horror, cristalizou na perfeição e que outros cineastas, até alguns norte-americanos muito conhecidos, tentaram emular: quanto mais horríveis e intensas forem as cenas, mais bonita e etérea é a fotografia do filme. Acho que em «Palmas Para o Esquilo», os desenhos do Pedro estão ainda mais bonitos e doces que em «O Pequeno Deus Cego». São perfeitos para o livro e não o imagino com os desenhos de outro artista.

Quando idealizaste o livro, o resultado final depois de desenhado era o que tu esperavas, ou foi/é sempre uma surpresa no final?

Era o que esperava. Eu não sou um argumentista: sou um autor, o que significa que tenho um universo autoral próprio, no qual vou explorando determinados conceitos, determinadas preocupações, mas sempre sob pontos de vista diferentes. Daí que quando convido um artista para trabalhar comigo, estou a convidá-lo para entrar no meu mundo, que é um mundo definido com rigor e com muitos livros publicados, para desenhar aquilo que escrevi e planeei. Existem elementos que nunca são importantes para a sequência narrativa, nem para o desenvolvimento da história, e que remeto para o gosto pessoal dos desenhadores, mas não os convido para criarem histórias: convido-os para desenharem as minhas histórias.

Queres deixar alguma mensagem aos leitores deste blogue?

Agradeçam ao Nuno o tempo que ele devota à divulgação de livros e autores e leiam sempre com atenção merecida aquilo que ele escreve: a dedicação nunca é unilateral.

Obrigado David!


Entrevista a Pedro Serpa


Pedro, como é trabalhar com o David Soares? Ele dá-te rédea para “inventar graficamente”, ou está sempre presente na construção das pranchas?

O David, para além do guião, fornece o layout das pranchas. Sendo ele um autor experiente e com uma visão muito bem definida sigo as suas indicações e concentro-me no desenho. Aí tenho toda a liberdade, tanto no desenho como na cor.

Qual foi a tua maior dificuldade, graficamente falando, com este novo livro, se é que houve alguma?

A maior dificuldade acabou por ser a impossibilidade de desenhar o tempo necessário para evoluir e ganhar ritmo de trabalho. Para quem não sabe, trabalho a tempo inteiro numa empresa e isso ocupa praticamente todo as horas úteis do dia. E agora, com um filho recém-nascido, tornou-se muito difícil gerir o tempo livre.

Já tinhas feito um livro com o escritor David Soares, o pEQUENO dEUS cEGO. Agora outro!
O que gostas mais nos argumentos do David?

O David escreve sem medo nem pudor. É visceral, directo e ao mesmo tempo obscuro e profundo, exige reflexão.

O resultado final depois de desenhado foi o que tu esperavas, ou foi/é sempre uma surpresa no final?

Ainda não vi o livro impresso, mas como demorou um ano e meio a ser concluído, acabo por sentir já alguma nostalgia ao ver as pranchas. Estou muito satisfeito com o resultado, é o que queria fazer. Reflecte de forma coerente todo o processo.

Queres deixar alguma mensagem aos leitores deste blogue?

Quando estiverem a ler o “Palmas para o Esquilo”, pesquisem as várias referências contidas na narração. Este é um livro denso e muito rico, que vai recompensar o leitor.

Obrigado Pedro!

Podem visitar o blogue do David Soares no link em baixo:
Cadernos de Daath

E o blogue do Pedro Serpa:
Os desenhos do Serpa

Boas leituras

11 comentários:

  1. Fabiano
    Obrigado por teres apreciado esta postagem!
    A vida de artista aqui em Portugal é difícil, se não se tiver outro emprego, como o Pedro, torna-se difícil viver.
    Por norma o que o David Soares escreve é bastante interessante sim, e muito visceral sempre!
    :)

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  2. Apesar de não ser bem o meu tipo de autor, adorei a curta mas interessantissima entrevista do David Soares. É bastante interessante perceber o seu processo criativo e é também muito bom ver que ele não tem qualquer problema em partilhar connosco esse mesmo processo criativo. Tenho que espreitar esta Bd.

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  3. Luis sanches
    Tens uma boa oportunidade no próximo dia 14 na loja da Kingpin!
    :P

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  4. Estou bastante curioso, e vou tentar estar lá no lançamento... Ler algo de David Soares que fala tão directamente sobre a loucura e a imaginação deve ser do caraças!

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  5. Rui Bastos
    Também estou bem curioso em relação a este livro.
    Então dia 14 lá nos encontraremos!
    :D

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  6. Correndo o risco de ter de escolher entre o pai e o mãe, o "Palmas para o Esquilo" é talvez o meu preferido dos 3 livros do David que já editei. E a arte do Pedro Serpa começa a atingir um minimalismo sublime, aquela falsa simplicidade tão enganadora que os leigos julgam ser fácil de reproduzir. E a palete e técnica de cor dele cresceu exponencialmente em relação ao Pequeno Deus Cego.

    Finalmente, puxando um pouco a brasa à minha sardinha (afinal, há quem diga que eu passo a vida a autopromover-me e não posso desiludir tais pessoas), estou particularmente feliz com o resultado do design da capa e package global do livro e de algumas inovações que uma tiragem de 700 exemplares já permitem ;)

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  7. Certamente, Nuno ;)

    E ainda fico mais curioso com o livro depois deste comentário do Mário Freitas...

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  8. Mário Freitas
    Estás a elevar a fasquia...!
    Cuidado com os "hypes". LOL
    :P
    O design de capa é bom, sim. Simples mas bem feito, e é de saudar o aumento de tiragens para os 700 ex.
    ;)

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  9. Rui Bastos
    Então a ver se a gente se reconhece por lá!
    :D

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  10. Serei o tipo alto e espadaúdo, só que sem ser alto, com uma barba fixe e muito provavelmente uma random camisola nerd ;)

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