segunda-feira, 10 de março de 2014

Hawk


“Brutal! Tu, eu, um pack de DVDs da nossa série preferida e toda a cerveja e carne crua que conseguirmos mamar!” 
(Ok... gostei desta frase...!)

Hawk é o último livro de BD de André Oliveira e Osvaldo Medina. Marcou o início do ano editorial da Kingpin Books, e parece que o editor Mário Freitas ganhou o gosto pelos livros “capa dura”!


André Oliveira é um autor em ascensão. Escreve muito bem, é fluído, e os seus trabalhos estão cada vez mais maduros! O seu sentido de vida e ironia muito próprios dão um cunho muito pessoal aos seus escritos, e Hawk é mais um exemplo disso.

Uma história de vida, difícil, a que não falta uma pontinha de humor negro no meio das fobias e loucuras do protagonista. André Oliveira entra no mundo dos “agorafóbicos” , as suas manias, os seus problemas, os seus traumas. Seria deprimente não fora o falcão com nome de Gavião (Hawk)…


Vicente é o protagonista, sofre de Agorafobia, para além de outros problemas traumatizantes para ele do foro familiar. André Oliveira explora bem esta situação colocando Vicente em situações limite para quem sofre dessa fobia, não deixando de lado todas as interacções familiares, de amizades e amorosos de lado.

O falcão é um bom achado para fazer correr toda a narrativa de um fim-de-semana da vida de Vicente. Aliás, torna-se libertador.
A interacção de Vicente com o Falcão está muito bem explorada até ao final, acabando Hawk por ser um elemento fulcral na ligação da loucura do protagonista à realidade. E para isto acontecer existe um elemento marcante para Vicente na sua juventude, que eu não vou revelar.


Osvaldo Medina é neste momento um dos desenhadores nacionais que eu mais admiro. Não tem um traço "bonito", mas é muito expressivo e sobretudo tem uma enorme agilidade de narrativa gráfica. Está a melhorar a cada livro que passa and I like it!
A opção pela página “deitada”, imagem de marca do fumetti italiano, pareceu-me boa (embora eu não goste muito) e de acordo com o tipo de narrativa escolhida. As páginas assim desenhadas propiciam-se a um determinado tipo de acção particular, que é bastante bem explorado pelo desenhador.

Para dar cor a esta história foi escolhida Inês Falcão Ferreira. Tudo feito no arame, estilo old school. Foi mesmo aguarela em cima do papel!
Mas tenho de dizer que a cor no livro deixou de me satisfazer quando vi os originais desta colorista… estão fantásticos e a impressão do livro não faz jus ao trabalho da Inês Ferreira. Podem comprovar isso no próximo Anicomics onde estes trabalhos vão estar expostos!


Alguns pontos da história do livro já falei, de maneira que não me vou alongar muito em relação ao plot.
Vicente é um rapaz perturbado, muito ligado a uma avó que infelizmente para ele não viveu para sempre. Muito escondido no seu mundo, preferindo viver debaixo de outra pele, sofre com o casamento falhado dos seus pais, sofre com uma mãe que sempre sentiu que ele não era bem-vindo, sofre com um pai muitas vezes ausente. Já adulto o seu pai ausenta-se de vez (para o estrangeiro) e deixa de lhe pagar a psicóloga. Tudo se conjuga para um suicídio.
Mas aparece Hawk.

Um livro a ler de bons autores portugueses. A Kingpin continua a apostar no bom produto nacional, e ainda bem. Assim bons interpretes desta arte sempre vão aparecendo.

Boas leituras

Hardcover
Criado por: André Oliveira e Osvaldo Medina
Editado em 2013 pela Kingpin Books
Nota: 8 em 10

14 comentários:

  1. Não gostei. Por muitas razões que não me apetece agora justificar. Tecnicamente não tenho apontamentos...não percebo coisíssima alguma de técnica.
    (refemdabd)

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  2. Pedro,

    Enquanto editor, espero de ti algo bem mais fundamentado do que um simples "não gostei".

    Abraço e obrigado.

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  3. Na minha opinião e tendo já lido muito comic e BD lendo esta obra não posso deixar de reparar nos diálogos, dignos de qualquer novela da TVI, penso que podemos escrever histórias em português num estilo pitoresco sem abusar da simplicidade, do vernáculo e do estilo rasca.

    Os desenhos estão na sua maioria bons mas eram desnecessários os exageros de expressão nas personagens e aqueles tracinhos de "vibração" e acção como se vê nestas pranchas de exemplo no blog, o "sentido de aranha" da azeiteira a gritar com o herói, o marreco com as linhas por cima das costas, o choro do herói.

    Pessoalmente limpava isto tudo de exageros, as expressões e gestos dos personagens já dão de si a ilusão de movimento.

    Também tirava o raio das linhas dos balões que apontam aos personagens, parece que vão arrancar um olho a qualquer momento, podiam ser mais curtos, tipo um v pequeno.

    Desta maneira ficava tudo mais suave e onírico sem aquele estilinho mangá que casa muito mal com a história.

    Nem sempre é boa ideia trabalhar demais uma vinheta, fica saturada.

    -Bladder

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  4. É uma opinião respeitável, da qual estou, obviamente, muito longe de concordar, quer como editor, quer como legendador. Pessoalmente, preferia ver estas críticas assim assertivas a BD dita clássica, que aqui surge tantas vezes sem que se levante uma palavra sobre os diálogos redundantes e o estilo anacrónico e bafiento. Opiniões, lá está.

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  5. Pedro
    Blindaste o teu comentário... lol
    Mas se não te apetece, pronto. Por vezes também estou assim...
    :P

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  6. Pedro Santos (Bladder)
    Posso concordar contigo em poucos pontos, mas na generalidade não concordo. Acho que o trabalho do Medina está bem expressivo e as páginas bem montadas. Aceito perfeitamente que não gostes (assim como o outro Pedro - Refem da BD), mas "estilo rasca" decididamente não concordo.
    :P

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  7. Mário Freitas
    Quando dizes "...preferia ver estas críticas assim assertivas a BD dita clássica, que aqui surge tantas vezes sem que se levante uma palavra sobre os diálogos redundantes e o estilo anacrónico e bafiento" não podes podes estender isso ao Pedro Santos (Bladder). Ele quando não gosta tanto lhe faz seja Hawk, B&M ou Capitão América. Ele já criticou aqui "clássicos" desta maneira também.
    ;)

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  8. Eu sou um bocado mais crítico quando se trata de autores nacionais, é verdade.

    Obviamente que os elementos que referi (fora as agulhas dos balões, mas isso é porque se calhar tenho fobia a agulhas) e de que não gosto não são constantes.

    Passa-se que a edição é tão bonita que eu gostava assim mais daquele bocadinho, daquele coisinho.

    Gosto do Blankets por exemplo em que eu vejo algumas semelhanças com esta obra, este Blankets bem desenhadinho e tal mas a componente religiosa constante quase me fez atirar o livro pela janela, depois finalmente vendi-o. O Habibi? melhor, este sim é perfeito.

    Não censuro o Miguel Freitas no tom dele, ele participou na obra, a minha perspectiva por mais distanciada é diferente.

    -Bladder

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  9. Pedro Santos
    Eu sei que existe essa tendência psicológica para criticar mais os autores portugueses do que os estrangeiros. Mas tempos atrás descobri que isso era muito injusto!
    Porque os desenhadores portugueses (e os outros intervenientes nos livros de BD) não têm condições sequer comparáveis profissionalmente aos que trabalham para o mercado francês (por exemplo). Não estou a dizer que se deva facilitar a crítica, estou a falar em equidade de tratamento.
    ;)

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  10. Caro Mário, por vezes exprimo-me assim de forma simples e frontal. Não o faço por maldade ou vontade de implicar com quem quer que seja. Há vezes que gosto e há outras que não gosto. Existe sempre uma razão (ou várias) para tal. Há vezes que me explico, há outras que não me apetece fazê-lo. Naquele momento, atrás, há uns dias, não me apetecia.

    Tecnicamente ou artisticamente, se preferires, tanto o Osvaldo Medina como a Inês Falcão Ferreira não merecem qualquer apontamento da minha parte: não sei desenhar e não sei pintar ou colorir; aprecio qualquer tipo de desenho se o argumento me atrair (muito , mas mesmo muito raramente penso que um desenho salva um livro se o argumento não for para mim aceitável).

    Tecnicamente (não sei bem se será este o termo mais adequado), o André Oliveira enquanto argumentista também não merece da minha parte um apontamento negativo , pois eu também não sei criar argumentos para BD ou outros. O André Oliveira contou uma história, e até a pode ter contado muito bem para muitos leitores, mas, francamente, para mim não. É como dizem: "cantas bem, mas não me agradas!". Eu não gostei da história. Achei-a fraquinha, cheia de lugares comuns, metáforas mal amanhadas, um personagem principal com o qual não senti qualquer empatia, nem para o "gramar" nem para o não "gramar". A história do coitadinho, da sua mãe, do seu pai, os seus amigos e a namorada...o falcão e a avó!!! Pareceu-me estar a ver um ganso a ser embuchado para depois provar um mau patê(por falar em más metáforas!). Em suma, para mim, como escreveu o Pedro Santos, parecia-me uma má telenovela (há boas?!).

    Apenas lamento as minhas palavras se a história que o André contou for algo muito pessoal para ele. Se assim for, espero que ele não leia isto. Sei que não é agradável ter alguém a dizer que a nossa vida é, porventura, uma má telenovela e que os nossos sentimentos não dizem coisíssima alguma a outros, etc. Por outro lado, o André também poderá estar a borrifar-se para o que eu penso. Sinceramente, eu espero que sim, que se esteja a borrifar.

    Tudo que aqui e agora escrevi é uma opinião pessoal, que não quer convencer quem quer que seja de coisíssima alguma.

    Não gostei, "prontos"!

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  11. Claro que há boas telenovelas, a Gabriela original, o Roque Santeiro e para mim a excelente Av. Brasil que teria sido muito melhor se a Sic não a tivesse retalhado de maneira a multiplicar os episódios.

    Uma má telenovela é uma telenovela que se estica demasiado, cheia de clichés e que caga para o final.

    O "Hawk" é uma obra assim-assim e francamente não lhe vou dar mais vaor apenas porque foi feita por portugueses, podia ter sido muito melhor (para mim!) eu já li demasiadas toneladas de livros para pode evitar comparações. Se isto tivesse saído nos anos 80 talvez mas no género existe muito melhor, se com isto quero dizer que por existir muito melhor esta obra não devia ter sido feita? nada disso, valeu a tentativa.

    E depois eu também vi aquela tonelada de filmes também.

    http://www.imdb.com/title/tt0064541/?ref_=nm_flmg_dr_44

    Não peço que as obras actuais sejam 100% originais mas... se era para ser sobre um tipo inadaptado que arranja consolo num animal porque não um tigre? Epah isso era de valor, que tal um tigre abandonado pelo circo que o personagem adopta? imaginem que lhes dá a comer a malta que o chateia? Isto sim já me interessaria.

    -Bladder




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  12. @Pedro: Sim, tens razão. A "Roque Santeiro" achei-a engraçada e acho que foi a ultima que acompanhei. "O Casarão" (para mim a melhor), "Dona Xepa", "Olhai os Lírios do Campo", "Água Viva", "Dancing Days" (com o maravilhoso tema "João e Maria") e num registro mais ligeiro a "Vereda Tropical", entre outras boas novelas brasileiras, sem dúvida.
    (refemdabd)

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  13. Bem... claro que não temos de gostar por terem sido portugueses a fazer. Isso era parvo!
    O que eu disse é que não temos de ser mais papistas que o papa quando se trata de BD portuguesa. Existe essa nuance emocional de ser mais severo na apreciação de obras da "casa"!

    Mas claro, quando não se gosta, não se gosta. Eu achei o livro uma obra a ler.
    ;)

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  14. Não odiei mas aguardo pela "Director´s Cut".

    :P

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