quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
A Voz dos Deuses
De vez em quando gosto de passar por uns títulos mais antigos, e desta a vez escolhi uma obra portuguesa: A Voz dos Deuses.
É a adaptação para a Banda Desenhada, da obra com o mesmo nome, de João Aguiar feita João Amaral e Rui Carlos Cunha. Não li a obra que deu origem a este livro, portanto não irei opinar sobre qualidade da adaptação, apenas e só sobre o que foi feito por João Amaral.
João Amaral já leva uns quantos livros feitos, posso referir “O Fim da Linha”, “História de Manteigas”, “Missão Quase Impossível”, “Bernardo Santareno-Fragmentos de uma Vida Breve” e “História de Fornos de Algodres”. Devo dizer que também desconheço estes a que me referi atrás pois, e como é normal na BD portuguesa, nunca os vi à venda nas livrarias que costumo frequentar. João Amaral também trabalhou como ilustrador em “O Menino Jesus Fez-se Homem” e a “A Espada Desaparecida” (de Fernando Bento Gomes). Poderão ver trabalhos mais recentes deste desenhador no seu blog, JOÃO AMARAL , onde ele expõe trabalhos com alguma regularidade.
Relativamente a “A Voz dos Deuses”, decidi fazer referência a este livro no meu blog pelas mesmas razões que o faço para outros livros mais antigos: inexistência de informação na internet! A única menção digna deste nome que descobri era de António Couto Viana para a “Leitur@ Gulbenkian” e desculpe-me o senhor António Couto Viana, mas não concordo com a abordagem feita por ele. Concordarei nalguns aspectos, noutros nem por isso… a BD não tem que ter “desenhos bonitinhos” estilo “linha clara” como ele de certeza gostaria. Se assim fosse grandes obras da BD mundial nunca veriam a luz do dia!
O traço é “sujo” e por vezes rude e eu até acho que numa estória sobre Viriato fica bem melhor que qualquer outro, os Lusitanos eram assim! Sujos e rudes!
O desenho peca sim bastantes vezes por algumas falhas ao nível anatómico, deixando um ar quase “ingénuo”. E isso acontece bastantes vezes. Desconheço qual a técnica usada para colorir mas foi com certeza à “maneira clássica”, o que para mim tem bastante valor. Por vezes parece-me lápis de cor, outras de cera ou pastel. No fundo e sem ser brilhante (e se fechar-mos os olhos aos erros anatómicos) é uma obra que se lê muito bem. Peca também por ter bastantes vinhetas muito estáticas e quando tenta “dar” movimento, a técnica usada não foi a melhor. Mas por outro lado, existem pranchas muito bem conseguidas!
Conta-se um pouco da história de Viriato mostrando os seus problemas internos (com o resto das tribos Lusitanas) e a sua luta contra o Império Romano. Isto não é contado na 1ª pessoa, mas sim pelos olhos de um seu companheiro de armas: Tôngio. Este tinha sido adoptado por uma família Romana, mas quando esta cai em desgraça, e após várias peripécias, junta-se a um grupo de rebeldes Lusitanos. Devido à sua bravura e conhecimento da língua e costumes romanos, acaba por dar entrada no grupo de Viriato. São muitos os episódios conhecidos por todos, mas também são contados alguns pormenores que o português por norma não conhece. É uma mais-valia. O trabalho de fotografar as áreas onde se passa muita da acção para o trabalho de BD ser o mais fiel possível também é de louvar!
Como disse atrás, é um livro que se lê bem, sem ser brilhante.
Boas leituras
Hardcover
Criado por: João Amaral, Rui Carlos Cunha, Nuno Galvão e Manuela Jorge
Editado em 1994 pela ASA
Nota : 7 em 10
Apesar de conhecer o blog do João Amaral, desconhecia por completo a existência desta obra. Ainda por cima editada pela Asa. Parabéns ao João.
ResponderEliminarAbraço
Desconhecia esta obra do João Amaral, mas gosto bastante do estilo dele e sobre uma época que sempre me fascinou como foi a do Viriato, este é certamente um livro que me agradaria muito ler. :D
ResponderEliminarAh sim, concordo contigo sobre o estilo sujo de certas obras, na minha opinião acho que depende da muito da história e ambiente, assim deve ser o estilo e neste caso, sejamos francos os Lusitanos e aquela época não era nada bonito e limpo, logo a arte deve tentar reflectir isso tal como o João o fez.
Abraço. :)
Fazes bem em divulgar... Eu não conhecia e isto tem 15 anos...
ResponderEliminarAbraço e RIP Jacques Martin...
hello... hapi blogging... have a nice day! just visiting here....
ResponderEliminarOlá Nuno,
ResponderEliminarGostei de ler o teu artigo sobre "A Voz dos Deuses". Nele referes um texto de Couto dos Santos, sobre o qual não me pronuncio, porque não o conheço. Mas o teu artigo é, para mim, o que um apontamento crítico deve ser: objectivo, construtivo e um elemento de divulgação. Agradeço o facto de te teres lembrado deste meu primeiro projecto que como o LBJ disse, já tem 15 anos e, actualmente, é bastante difícil de encontrar no mercado, já que a edição, tanto quanto sei, se vendeu praticamente toda em dez anos. Já me passou vagamente pela cabeça tentar uma nova edição, que seria obviamente revista e melhorada. O trabalho de côr teria, aliás, que ser todo refeito e o desenho limpo. Haja um editor interessado nisso, que eu não me importo de meter mãos à obra.
Fica agora uma curiosidade que muitos não sabem: é que o álbum foi concebido para preto e branco. Porém, como me foi dito que os álbuns a p/b não se vendiam, tive que tomar uma opção. E, decididamente, a utilização de lápis de côr foi um erro que assumo. Quem viu os originais expostos no já longínquo Festival da Amadora de 1994, sabe do que é que estou a falar. Para além disso, o grande problema que tive ao adaptar a obra do João Aguiar, foi que me deparei com um livro entusiasmante, do qual não seria difícil imaginar as cenas, mas que tinha matéria que dava, não para um, mas para dez livros de banda desenhada. E, claro está, actualmente, vejo isso claramente: o desenho reflecte algum amadorismo, o que é normal. Este foi um álbum concebido por dois jovens amadores (eu e o Rui) que tinham o sonho de conseguir um dia publicar um álbum de BD, no sempre difícil panorama em que vivem constantemente as artes em Portugal e que, fora das horas de trabalho, iam tentando dar corpo ao seu sonho, durante três anos. Mas apesar dos seus defeitos é ainda hoje uma obra que recordo com saudade, entre outras coisas, pelo apoio que me foi dado por três pessoas, para além do meu co-autor, que sempre acreditaram no projecto: São elas, o João Aguiar cujo contributo foi muito precioso, o Nuno Galvão (que me ajudou com a côr e construiu o stand que exibimos na Amadora) e o Dr. João Rodrigues, na altura o editor da ASA, responsável pela BD. O livro, nas suas qualidades, também é um bocadinho deles, nos seus defeitos, é obviamente meu.
Deixo agora apenas alguns esclarecimentos que servem de complemento ao teu texto: "O Fim da Linha" não é um livro, embora tenha 46 páginas; saiu unicamente nas já extintas "Selecções BD" e "Missão Quase Impossível" é uma história de sete páginas que fiz em parceria com o Jorge Magalhães, para o livro "Vasco Granja-Uma Vida... Mil Imagens".
Por fim, que este comentário já vai longo, deixa-me dizer-te em relação aos livros que não conheces: envia-me uma morada para um dos endereços de mail que constam no meu blogue, que eu encarregar-me-ei de te fazer chegar pelo menos alguns deles. E continua a fazer o excelente trabalho de crítica e divulgação que tens feito, nomeadamente ao trazer à luz do dia, coisas que eu próprio (que ainda sou um novato nestas coisas da net) desconhecia.
Um abraço!
Belo post!Este não tenho e nunca o li, o que lamento porque trata um tema que gosto imenso. Tenho, no entanto, o "Bernardo Santareno - Fragmentos de uma vida breve" e posso te dizer que gostei mesmo muito.
ResponderEliminarEste livro vi-o prai em 98 nas estantes do continente e sempre tive vontade de o comprar, nunca cheguei a comprar porque na altura os livros que estavam por lá expostos tinham um acabamento horrível (não é culpa do autor, claro) e estavam todos descolados, por isso não queria comprar uma coisa nova já toda lixada... Posso dizer que devoro praticamente tudo sobre a época dos lusitanos e consequentemente os romanos e este livro arranjei-o anos depois por uma pessoa do fórum do centralcomics que muito gentilmente mo cedeu. Consegui lê-lo finalmente e gostei do que vi, a história tem pano para mangas, de facto peca um pouco pelo desenho que por vezes fica um pouco confuso, mesmo em relação ao storytelling, mas, what the fuck, pelo que percebi era uma primeira obra, e toda a gente tem de começar por algum lado, não é ;) Acredito que esta obra feita hoje em dia, considerando-a como um reboot (que está na moda) ficaria bem melhor, por isso apoio 100% qualquer iniciativa do autor nesse sentido. Força nisso!
ResponderEliminarManuel Morgado
Gio
ResponderEliminarEsta foi das poucas BDs que me ficaram depois de 4 mudanças de casa!
:D
LBJ
Penso que poucas pessoas conhecem.
O que é uma pena...
:)
Hapi
Thanks
João Amaral
Obrigado pelo teu comentário e respectivas explicações. Depois mando-te um mail!
;)
Refem
Então estamos ao contrário... o Bernardo Santareno não conheço!
:D
El Mo
O acabamento do livro não é dos melhores, aliás, está na minha pilha de livros a reparar...
Tenho a certeza que se houvesse oportunidade para uma nova edição revista saíria muito melhor, mas como 1ª obra dos autores está muito bem!
:)