terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A Palavra dos Outros: O Regresso do Rei - Jack Kirby por Paulo Costa

Paulo Costa, grande apreciador dos clássicos norte-americanos fala-nos hoje de um dos autores mais emblemáticos dos Comics. Criou um dos maiores vilões do Universo DC, Darkseid, adaptou 2001: Odisseia no Espaço à Banda Desenhada e trabalhou tanto na Marvel como na DC em grandes títulos.
Dou a palavra a Paulo Costa.
O regresso do Rei

Adoro Jack Kirby. Acredito que a primeira vez que a arte dele foram layouts (George Tuska fez o resto do trabalho a lápis) numa história dos anos 60, usada como filler num número do Capitão América da Editora Abril, mas a primeira vez que notei o brilhantismo de Kirby foi quando os Eternos começaram a ser publicados na revista Superaventuras Marvel. Os Eternos não tinham nada a ver com o que era publicado na altura nas revistas brasileiras, onde Mike Zeck, John Byrne e Frank Miller eram as referências. Kirby estava numa fase em que o seu design de cenas estava destilado ao máximo, ao mesmo tempo que o seu desejo de escrever o próprio material revelava um interesse em misticismo com roupagens científicas, uma moda durante a década de 70.
Jack Kirby, considerado por muitos como o Rei dos Comics, tinha saído da Marvel em 1970, devido a diferendos com direitos de reprodução editorial, e foi para a DC onde criou vários títulos e personagens, incluindo Darkseid, Orion, Kamandi, OMAC e o demónio Etrigan. No entanto, ao contrário do esperado, as vendas estiveram longe de ser um sucesso, o que muitos atribuíram à falta dos diálogos de Stan Lee, outros ao apertado controlo editorial da DC, mas que na verdade tinha como origem as guerras das distribuidoras de bancas e o surgimento do mercado directo de revistas. Em 1975, Kirby estava farto da DC (vale a pena ressalvar que, apesar de ser muito procurado, Kirby tinha a tendência de saltitar entre editoras quando se irritava com algum editor)
, e concordou em regressar à Marvel, desta vez com controlo total sobre as histórias, mas ainda sem reter os direitos de autor das suas criações.
Antes de criar o seu próprio material, Kirby regressou ao Capitão América, mas escrevendo o título pela primeira vez, começando pelo #193, publicado em Janeiro de 1976. A Editora Abril escolheu saltar completamente esta parte. As histórias tinham um sabor diferente dos anos anteriores, com ambientes e personagens surreais, deixando de lado tanto o tema de espionagem como a exploração das mudanças sociais que na altura afectavam a América, mas ao fim de algum tempo tornam-se cansativas.
Em Julho, foi publicado o título que Kirby realmente queria escrever, The Eternals, com uma história claramente inspirada no livro de pseudociência Eram os Deuses Astronautas, de Erich Von Daeniken. As personagens titulares, os Eternos, bem como os seus adversários, os Deviantes, eram na verdade humanos transformados geneticamente por deuses espaciais, tendo sido confundidos com deuses e demónios na antiguidade. Notava-se mais nos Eternos que no Capitão América que Kirby nunca foi bom em diálogos. É que enquanto o Capitão tinha uma voz definida, as novas criações de Kirby, quando lidas como material novo, pareciam demasiado mecânicas a falar.
Entretanto, depois de fazer a adaptação do filme 2001: Uma Odisseia no Espaço, Kirby começou a trabalhar numa revista com conceitos baseados no livro de Arthur C. Clarke, a partir de Dezembro. As primeiras histórias do título eram antológicas, com um fio condutor mas sem consequências de uma para outra. Foi apenas a partir do nº 8 que Kirby apresentava uma personagem digna de registo, Mr. Machine, que em breve seria renomeado Machine Man, ou o Homem-Máquina.
Entretanto, surgiu um novo título com argumento e arte de Jack Kirby, Black Panther, em Janeiro de 1977. Nesta altura, o artista produzia cerca de 60 páginas por mês de material novo. Kirby tinha criado o Pantera Negra como uma personagem secundária no Quarteto Fantástico, mas as primeiras histórias solo, publicadas na revista Jungle Action, eram da autoria de Don McGregor. Ao contrário das histórias de exploração político-social de McGregor, Kirby apostou numa série de ficção científica surreal. A Wakanda de Jack, onde tubos Kirby e máquinas gigantes existem lado a lado com coqueiros, era um sítio que nunca poderia existir no mundo real, tal como a Supertown dos Novos Deuses ou o Habitat, a cidade subterrânea por baixo do Projecto Cadmus.

Até ao início de 1978, Kirby saiu do Capitão América e as revistas 2001 e The Eternals foram canceladas, esta última sem contar a história até ao fim, deixando Roy Thomas e Mark Gruenwald livres para incorporar estas ideias definitivamente no Universo Marvel. Jack Kirby não ficou desempregado, pois logo surgiram as revistas Machine Man e Devil Dinosaur. Em Machine Man, Kirby criou um robô que procurava tornar-se humano, mas que era perseguido por um exército que o considerava sua propriedade. Este é talvez o material mais interessante de Kirby desta leva de títulos, mas como envolve elementos externos ao Universo Marvel, nunca foi reimpresso. O mesmo não se pode dizer de Devil Dinosaur, talvez o pior de todos. A premissa parece retirada de um filme de culto de série B e podia ser bastante interessante feita por um escritor de melhor calibre, mas a falta de jeito de Kirby para diálogos estraga tudo.
Kirby saiu de Black Panther após o nº 12, com a história a meio (acabou por ser resolvida à pressa por Ed Hannigan), deixando Kirby só com duas revistas mensais. Em Dezembro de 1978, tudo terminaria. O Devil Dinosaur foi deixado de lado pela Marvel e a história do Machine Man continuada por Marv Wolfman alguns meses mais tarde. Jack Kirby abandonou a Marvel definitivamente, por recusar-se a assinar um novo contrato onde perdia qualquer hipótese de ganhar remuneração de direitos de autor. Kirby foi trabalhar em animação, no desenho animado do Fantastic Four, e depois em Thundarr the Barbarian e The Centurions. O único trabalho novo que fez para a editora foi a edição comemorativa do 25º aniversário do Fantastic Four, nº 236.
Onde ler:
Black Panther by Jack Kirby vol. 1 e 2
Captain America by Jack Kirby Omnibus
Devil Dinosaur by Jack Kirby
The Eternals Omnibus

Paulo M. R. Costa

Mais uma excelente colaboração (espero que tenham gostado) e os textos de Paulo Costa serão sempre apreciados por aqui.
Quem deseje fazer um texto para o Leituras de BD tem a porta aberta, desde que exiba qualidade tanto no português, como no assunto descrito no texto. É sempre preferível escreverem sobre algo que gostem, ou detestem. Assim sempre haverá alguma emoção na escrita!

Boas leituras

4 comentários:

  1. Qué grandes imágenes. Solamente he leído Eternals de Neil Gaiman, pero definitivamente algún día compraré la obra original de Kirby.

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  2. Arion
    Estou quase como tu... li Eternals do Kirby muito novo e os livros não eram meus, mas lembro-me que achei brutal!
    Neste momento apenas tenho o mesmo livro que tu, Eternals do Gaiman.
    ;)

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  3. Este é exactamente o meu tipo de BD e heróis. Se bem que nunca percebi bem o papel do Galactus, ele alimenta-se de mundos vivos e tal... sim, mas qual é a sua função para além disso? É só um buraco negro em modo humanoide?
    enxofre

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  4. Diabba
    O Galactus nem é bom, nem é mau. É assim mesmo, uma força cósmica que se alimenta de planetas! Assim como eu comi hoje o atum "À Brás" que fizeste!
    :D

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Bongadas