sexta-feira, 25 de maio de 2012

Entrevista: Eliseu "Zeu" Gouveia


Eliseu Gouveia estará presente no Festival de Beja este próximo fim de semana, e aproveitei este autor para me iniciar nas entrevistas. Fiz um texto também que irá constar no Festival de Beja como apresentação do autor. Deste texto vou aqui colocar alguns parágrafos e de seguida uma mini-entrevista. Desculpem-me os leitores se não fiz as perguntas desejadas, mas esta foi a primeira... como tal poderá não estar devidamente estruturada!

Portugal tem alguns artistas que quase passam despercebidos… Eliseu Gouveia será um deles!
Embora por cá não se fale muito deste artista, ele trabalha e é reconhecido no mercado norte-americano, para onde tem trabalhado vai para muitos anos. Não é conhecido por trabalhar para as grandes editoras, mas trabalho não lhe falta nas editoras “Indie” onde é bastante activo.
Este autor considera-se um autodidacta e não se lembra de quando começou a “rabiscar”! Mas a sua direcção profissional não foi logo a BD, é um eterno finalista de engenharia Electrotécnica! E ainda bem porque assim a BD ganhou um bom artista.
O seu percurso artístico em Portugal iniciou-se em 1984 com uma menção honrosa no Festival de BD de Amora. Passado alguns anos iniciou um ciclo de prémios começando em 1991 com um 2º prémio também neste festival. Ganhou mais dois prémios no Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, respectivamente em 1992 (Terra Vermelha) e 1994 (Estrela Proibida).

O resto deste texto estará junto à sua exposição em Beja!
;)

Nuno Amado: Olá Eliseu. Podias dar-nos uma mini-bio tua e uma lista dos teus trabalhos?

Zeu: Nasci em Fevereiro de 1971 e chamo-me Eliseu "Zeu" Gouveia. Vou tentar fazer uma lista dos meus trabalhos:
- Menção honrosa no Festival BD Amora 84
- 2º prémio no Festival BD Amora 91
- 1º Prémio no Festival BD Amadora 92 com a história “Terra Vermelha”
- 1º Prémio no Festival BD Amadora 94 com a história “Estrela Proibida”
- Autor do album Medusa31-Nec Pluribus Impar (Publicações Pedranocharco 1996), que ganhou o Prémio Amadora Juventude 1997
- Co- autor da BD didáctica Foz Côa-Viajando atraves de milénios de História (Edições Elo ,1998)
- autor da BD didáctica À Descoberta no Museyu do Café (Publicações Elo 2000)
- autor da mini-série “The Mirrormaiden” , disponivel na Fictionwise Books
- Artista de Cloudburst, escrito por Jimmy Palmiotti e Justin Gray (Image comics 2003)
- artista da mini-série Vengeance of the Mummy, escrita por Justin Gray (Moonstone Books)
- Artista da série Charlatan, escrita por Gil Lawson (General Jinjur Comics)

Entretanto, fiz mais umas coisitas, tudo no micro-universo dos indies como é de costume:

- autor da mini-série Infiniteens, publicada pela Moonstone Books
- artista de Lorelei, escrito por Steve Roman (Starwarp Concepts)
- artista de Pandora Zwieback, escrito por Steve Roman (Starwarp concepts)
- artista de Talis, escrito por Laurent Tanneau e publicado pela EditIons Ex Aequo
- ilustrador da edição Starwarp Concepts de A Princess of Mars por Edgar Rice Burroughs
- artista da série Genie, escrito por Jim Keplinger (FC9)
- artista da série Project Elohim, escrito por Rebecca Hicks (Dark Matter)

Há-de haver mais coisas mas assim de repente não me consigo lembrar.

Nuno Amado: Então, é o que é que te deu mais prazer fazer até hoje?

Zeu: Opa, pergunta complicada. Há diferentes tipos de prazer. Trabalhar na minha mini-série Infiniteens foi o máximo pois tinha rédea solta para criar à minha vontade.
Por outro lado trabalhar para o Steve Roman na Lorelei é genial, estás sempre a aprender coisas novas, e há o feedback e a troca de ideias com outra mente criativa.
Feito o balanço, acho que trabalhar com outra pessoa acaba por ser sempre mais gratificante.

Nuno Amado: Em que tipo de registo te sentes mais à vontade? Aventura, FC, Fantasia, Histórico, etc... ?

Zeu: Acho que sou no fundo um tipo voltado para a fantasia. Nesse aspecto, acabo por inserir a FC nesse reino pois embora tenha elementos tecnológicos em vez do místico, acabo por dobrar as leis da realidade, o que é o que me dá mais gozo no fim de contas.
Falando em trabalhar com pessoas criativas, Rebecca Hicks é uma escritora e pêras, só ler os scripts dela é já um prazer por si. Transformá-los em imagens, ui! Pura ambrósia!

Nuno Amado: O que pensas da BD nacional?

Zeu: Tenho de admitir que não conheço o que se produz em Portugal no momento. Ando desligado do mundo há tanto tempo que se me falares de BD portuguesa, a minha memória viaja para a Alice ou o Corvo, que saíram há séculos.
Gostava de ler mais, mas mais importante, de saber o que andam os nossos a produzir.
Há autores e artista geniais por aí, como o Daniel Maia, etc, cujo trabalho me faz pular da cadeira.

Nuno Amado: Quando começaste a fazer Banda Desenhada? Foi alguma oportunidade de momento ou forçaste mesmo a barra?

Zeu: Eu faço BD desde os meus 10-12 anos.
Comecei a fazer rabiscos desde miúdo (na escola primária de Sesimbra, era famoso por desenhar um Tarzan fantástico (na altura dava o Tarzan na TV, o Weissmuller).
Mas BD propriamente dita, é difícil saber o momento exacto em que a comecei a fazer. Sei que sempre houve BD em casa, desde as revistas Disney às vinhetas do Flash Gordon que a Capital (o jornal vespertino) publicava. Tinha de lutar com os meus irmãos para as poder ler em paz.
Nas minhas memórias mais remotas, lembro-me de estar a tentar copiar pranchas do Superpato (mais ou menos na altura em que na RTP2 transmitiram um filme chamado Fantomas).
Portanto, há uma eternidade atrás.


Nuno Amado: E como foste parar ao mercado norte-americano?

Zeu: Isso eu devo ao poder da internet.
Algures aqui há uns 10-12 anos atrás, descobri fóruns na internet onde comecei a colocar os meus desenhos.
Comecei a atrair a atenção de alguns autores/escritores americanos e aos poucos foram surgindo propostas de colaborações.
Espera, agora não tenho a certeza se era a Capital que publicava o Flash Gordon.
Ui, esta memória...

Nuno Amado: Qual foi a tua primeira obra editada nos EUA?

Zeu: As minhas primeiras pranchas (Divination, escrita por Gamon Joshua) foram publicadas na antologia Digital Webbins Presents#10.
Uma história curta, 4 páginas.

Nuno Amado: Tens projectos em andamento sem serem secretos?
Well... mesmo os secretos podes dizer "Sim tenho, mas são secretos".

Zeu: Projects, tenho-os sempre. Pilhas e pilhas de BDs à espera de um lápis caridoso que lhes dê vida.
Coisas em andamento... Neste momento estou a desenhar
- Uma sátira do Obama.
- A edição especial anual de Pandora Zwieback para a Starwarp Concepts
- A recauchutar os meus Infniteens para a tentar impingir a outra editora
- Várias comissões particulares, space girls, jungle girls, barbarian girls... epa, será que começo a detectar um padrão aqui?

Nuno Amado: Ahahahhahah
Padrão "girls" de preferência com pouca roupa!

Zeu: "Muito" pouca roupa.

Nuno Amado: O que é que gostarias mais de fazer em BD? Ou seja... com quem gostarias ou sonhas um dia trabalhar numa BD?

Zeu: Warren Ellis.
O homem é absolutamente brilhante, aquela cabeça deve trabalhar a fusão nuclear.
Acho que o sonho de qualquer desenhador é colaborar com o Alan Moore, e já foi o meu, mas agora o homem assusta-me um pouco.
No fim de contas, acho que não sou muito esquisito, trabalho com qualquer um que me deixe desenhar as minhas raparigas à vontade.

Nuno Amado: E agora para acabar...
(Uma pergunta difícil)

Zeu: Dispara!

Nuno Amado: Se o mundo para ti acabasse amanhã, como gostarias de ser recordado?

Zeu: Não sei se ser recordado é assim tão importante, acho que não sou um tipo especialmente formidável, para ser sincero.
Mas...
Acho que seria delicioso se os meus desenhos fossem.
Se daqui a 100 anos um sobrevivente da VI Guerra Mundial redescobrisse pranchas da minha “Lady of the Horde” ou se se deliciasse a ler a minha "Silversparrow", acho que as minhas moléculas sorririam.

Nuno Amado: Obrigado pelo teu tempo e simpatia!

Pronto. Esta foi a minha entrevista a Eliseu Gouveia que assina como Zeu. Para quem vai a Beja informo que dois livros em português deste autor estão acessíveis:
Cloudburst : Dilúvio Mortal (Devir)
Medusa31-Nec Pluribus Impar
Para lerem a minha pequena crítica a Cloudburst cliquem no link!

Para verem a programação do Festival de Beja:
VIII Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja
Ao Paulo Monteiro peço desculpa por não ter feito mais divulgação mas foi-me impossível por compromissos profissionais...
:(
Estou a caminho de Beja, até Domingo à noite!Áhhh... no Festival, e por volta das 23 horas, eu e o Nuno Neves (Verbal - Notas Bedefilas)iremos falar de Blogues de BD!
:)

O Leituras de BD apoia o Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja !

Boas leituras

20 comentários:

  1. Boa estreia em entrevistas :P e em Beja não há internet? :P calão.

    Só podias ter perguntado algo do processo de trabalho com a Image e sobre o Cloudburst que é o trabalho mais "conhecido".

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  2. Confesso que não conhecia o trabalho do Eliseu Gouveia. (Estou a auto-flagelar-me de arrependimento) Gostei das páginas que colocaste aqui e vou procurar conhecer mais da obra dele.

    Parabéns pela entrevista e parabéns ao Eliseu pelo seu trabalho e por triunfar no exigente mercado norte-americano.

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  3. Hugo Silva
    Obrigado!
    :)
    Realmente essas perguntas faltaram-me... inexperiência!
    :D

    Miguel Antunes
    Vá... eu espero que mostres fotos do auto-flagelamento!
    :D
    Eliseu Gouveia já trabalha há uma década pelo menos para o mercado norte-americano. Infelizmente isso nunca foi muito noticiado.
    :\
    Ainda bem que gostaste da entrevista!
    :)

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  4. Zeu é um grande artista e cada vez mais agradeço a internet, que divulga artistas e os possibilita chegarem em mercados que antes seriam extremamente fechados para eles.

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  5. Não conhecia o trabalho do Zeu, mas deu pra ver que sua arte mostrada aqui, apresenta-o como um ótimo artista.

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  6. Não conhecia o Zeu e quanto a entrevista ficou muito bem elaborada. Parabéns meu amigo.

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  7. Outro que gostou da entrevista,só me questiono a tiragem de Cloudburst para depois de tantos anos ainda haver exemplares??

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  8. Nunca ouvi falar do cara, agora vou ter que ir atrás... ótima entrevista!

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  9. Venerável Victor e Guy Santos
    Zeu é mesmo um bom artista! Infelizmente pouco conhecido no seu próprio país...
    :|

    João Roberto
    Ainda bem que gostaste da entrevista!
    :D

    Optimus Prime
    Gostaste da entrevista??
    ehehehe
    Quanto à tiragem não sei...
    :|

    Pedro Leal
    Bom... com tanta gente a gostar da entrevista, acho que vou fazer mais algumas!
    :D

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  10. Sujeito competente. Dentro do mercado Indie é figura conhecida.

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  11. Alex D'ates
    Muito competente! Por isso, e pelos vistos, nunca está sem trabalho!
    ;)

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  12. Gostei de finalmente ler umas palavras do Zeus. É continuar sim senhor e se for possível gostava de uma entrevista ao único arte-finalista 'full-time' Português a trabalhar neste momento para a Marvel.

    Exactamente, Mister Daniel Henriques (Daniel Henriques).

    Este esforçado artistas merece ser conhecido para além das terras da Margem Sul.

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  13. Só uma última coisa: serei eu o único a achar o trabalho do Eliseu Gouveia é infinamente melhor a preto e branco do que quando o próprio lhe aplica as cores digitais?

    Em P/B é um traço tão dinâmico e original (mais solto que o do Daniel Maia, por exemplo) e com a pintura digital por cima parece que fica uma coisa plástica.

    Eu voto por um trabalho do ZEU all black and white.

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  14. Stuntman
    Ainda bem que gostaste da entrevista. Vou tentar fazer mais algumas!
    Em Beja houve delirio visual a P&B nas pranchas do Elizeu, mas também te posso dizer que estavam lá trabalhos a cores 5 estrelas!
    ;)

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  15. Curti a versatilidade na entrevista...

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  16. Tarcísio
    Obrigado!
    Assim ganho coragem para fazer mais algumas!
    :D

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  17. Stuntman,

    concordo com o que dizes em relação à arte do Eliseu Gouveia. Penso que a sua arte a preto e branco é espectacular e é daqueles casos em que a pintura digital (na minha opinião) torna as páginas mais estáticas.
    No entanto penso que isso talvez não tenha a ver com o traço dele mas sim com o estilo do colorido.

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  18. Luis Sanches
    O "Zeu" tinha pranchas coloridas em exposição no Festival de Beja magníficas (assim como a P&B).
    ;)

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  19. Nuno Amado
    Acredito que sim. Aliás, neste teu artigo, a imagem em que está uma rapariga a descer em rapel está simplesmente espectacular. Adoro a forma como as (aguarelas? guaches?) foram aplicadas ao desenho.

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  20. Luis Sanches
    Podes ver mais fotos de alguns trabalhos do Zeu em exposição no Festival de Beja.
    Estão lá grandes trabalhos!
    Excelente exposição de originais.
    ;)

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Bongadas