quinta-feira, 14 de junho de 2012

A Palavra dos Outros: Michel Vaillant por Paulo Costa

Michel Vaillante era dos meus heróis de eleição quando eu era mais novo. Deslocava-me à Biblioteca Municipal quase todos os dias para ler lá livros de BD (não havia dinheiro para comprar), e Michel Vaillant era quem me fazia não me importar com os 20 minutos que eu demorava da Biblioteca até casa. Infelizmente perdi contacto com a série, mas ficou sempre uma boa memória dela e por isso mesmo nunca mais voltei a reler, com medo de agora ficar desiludido.
Paulo Costa tem dois amores, automóveis e BD, e para uma série destas é o homem indicado!
Fiquem com as palavras do Paulo!

Campeão da BD

Para mim, a intersecção entre os meus dois hobbies favoritos faz-se em Michel Vaillant. Não é a única BD do mundo ligada ao automobilismo, mas é talvez a mais conhecida. Comecei a gostar de automóveis antes de me tornar fã de BD, e assim que vi Michel Vaillant pela primeira vez, não podia ignorar um mundo alternativo onde este jovem francês era campeão do mundo de F1 e de muitas outras modalidades.
Tenho quase a certeza que o primeiro livro da série que li foi “O Segredo de Steve Warson”. Não o sabia na altura, mas este livro representou uma revolução na série que se fez sentir durante os anos seguintes. Neste livro, que se passa nas 500 Milhas de Indianápolis, o Leader, velho inimigo da equipa Vaillante, envelhecido prematuramente, revela a Steve Warson, colega de equipa de Michel Vaillant, que vai parar todos os seus esquemas e que é o verdadeiro pai de Ruth Ranson, namorada do piloto americano.
Durante vários números, esta revelação vai ter consequências, como a descoberta da sua verdadeira identidade por Ruth e a saída intempestiva de Warson da equipa, que depois lhes custará um título mundial. Enquanto Michel Vaillant faz as pazes com o seu amigo numa prova de ralis, o seu irmão Jean-Pierre não o perdoa e demora algum tempo a recontratá-lo. Quanto a Ruth, regressou várias vezes para atormentar a família Vaillant, uma nova rivalidade alimentada por uma tremenda carga emocional resultante da sua ligação anterior à equipa.
Os fãs portugueses têm dois motivos para quererem ler esta série: os álbuns “Raparigas e Motores” e “O Homem de Lisboa” passam-se ambos no Rali de Portugal. Este último tem algum interesse especial por ter uma história paralela de espionagem industrial. Eu, por outro lado, tenho um apreço especial por “A Vingança de Um Piloto”. A história não é transcendental: Yves Douléac, piloto da Vaillant nas provas de endurance e carros de turismo, resolve fazer finca-pé face a algumas exigências familiares (o seu patrocinador pertence ao futuro sogro, um aristocrata que nunca viu com bons olhos a ligação de um jovem de origens humildes à sua filha, ela própria também exímia ao volante), o que quase leva à sua saída da equipa. Mas a história passa-se no antigo Mundial de Marcas, onde corriam os meus carros favoritos de todos os tempos, os fabulosos carros de Grupo 5 das marcas Porsche, Lancia, BMW e Ford, fielmente retratados por Jean Graton. O título original, “La Silhouette en Colère”, é um trocadilho que só os fãs de desporto automóvel percebem.
A grande vantagem das histórias de Graton reside na sua ligação ao mundo real. Muitos pilotos de várias décadas foram colegas e adversários de Michel Vaillant, sendo que Pierre Dieudonné, piloto belga que fez carreira nas provas de endurance, era presença recorrente nas actividades paralelas da equipa. O autor homenageou Gilles Villeneuve, que morreu nos treinos para o GP da Bélgica de 1982 antes de tornar campeão, com um título no mundo ficcional de Michel Vaillant. Jean-Denis Délétraz, na altura um jovem a caminho da F1, foi a estrela principal do álbum “F3000”. E até Jorge Ortigão, conceituado piloto dos ralis e das pistas nacionais, foi piloto oficial da Vaillant, em “O Homem de Lisboa”.
A atenção ao detalhe também passa pelos automóveis, reproduções fidelíssimas das linhas reais dos veículos e, após a introdução de patrocínios, das decorações dos mesmos. E os modelos da marca Vaillant podiam muito bem ter sido construídos sem grandes alterações. Os efeitos sonoros que Graton colocava como parte da arte também ajudavam a avivar a imaginação. Para mim, o VRRROOOAAARRR de Graton é tão emocionante como o KRAAKKKAAAADOOOOM de Walt Simonson.


O último número de Michel Vaillant, o 70º, foi publicado em 2007, 50 anos depois do primeiro. Nessa altura já a série tinha parado em Portugal, devido ao fecho da editora Meribérica. Philippe Graton, filho de Jean, já prometeu uma nova série, tentativamente conhecida como Michel Vaillant – 2ª Temporada. Entretanto, a Editora Dupuis tem reimpresso as histórias antigas em formato Intégrale, que já vai no 16º volume e chega ao 53º álbum.

Texto: Paulo Costa

O VRRROOOAAARRR era uma grande imagem de marca...
:)










Paulo Costa vai assinar uma grande reportagem sobre o Michel Vaillant na edição de Julho da revista Autosport, à venda na primeira quinta-feira do próximo mês.

Vamos esperar para ver se Philippe Graton continua o trabalho do pai e ....

Boas leituras

18 comentários:

  1. Aqui à uns 35 anos, tinha um amigo que tinha todos os Michel Vaillant da Méribérica (à data). Li-os todos e fiquei fã da série. Nessa altura, acompanhava o desporto motorizado com toda a atenção (lembro-me por exemplo, de ficar acordado até às 2 da manhã -ouvindo rádio- para saber o resultado do raly de Portugal onde o Lancia 037 de Alén quase conseguiu ganhar do Audi A4 de Mikkola), e, tal como o Paulo Costa, ter uma série de BD que juntava duas coisas que eu gostava, era algo excepcional.

    Mas nessa altura não havia dinheiro para compras e acabei por perder o contacto com a série.

    Retomei-o com a edição conjunta de uns 10 albuns com o jornal Autosport. Mas a paixão já estava adormecida. Tanto a dos desportos motorizados como a da série em questão.

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  2. pco69
    Na altura em que ia lia bastante Michel Vaillant também era fã de F1 (Emerson Fitipaldi era). Assim como o Paulo e tu juntava o melhor de dois mundos!
    As estórias eram bastante interessantes para um puto como eu, e os carros de uma perfeição brutal. Se juntarmos a isso a dinâmica e velocidade inerentes a competição automóvel... bem, era um "Rush" de emoção!
    :)

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  3. Eis uma leitura que não me agrada...

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  4. Tarcísio Aquino
    Para quem não gosta de desportos motorizados, esta não é a leitura certa...
    :D

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  5. Eu gosto dos desportos retratados, mas não da BD.. :P mas excelente texto do Paulo. Já tinha saudades de ler assim coisas dele com esta paixão

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  6. Quando tinha 9 ou 10 anos tive de escolher entre um albúm do Asterix e um Michel Vaillant, "O Condenado das Galés"... adorei.
    Os meus favoritos (dos cerca de 15 albúns que tenho) são Caos na F1, A 300 à hora em Paris, Michel Vaillant contra Steve Warson. Delirava com as corridas onde apareciam alguns dos meus ídolos da F1.

    Gustavo Carreira

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  7. Hugo Silva
    Tens razão! Este foi um texto do Paulo escrito com paixão, e de outra maneira não poderia ser... BD e carros de corrida! LOL
    :)

    Gustavo Carreira
    Infelizmente nessa altura para mim só havia uma escolha! Biblioteca Municipal! Não dava para mais.
    :D
    Gostei muito de Série Negra, Rush, 24 Horas de Le Mans, e pronto seguia a série de livro para livro visto que havia sempre alguma continuação.
    ;)

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  8. Quando tive a "loucura pelas máquinas" (todos os miúdos, numa altura, tem essa pancada - penso eu...)era fã desta série com belas imagens das máquinas em acção - já quanto às histórias com mascarados, rivalidades desportivas e dramas familiares, não me cativaram...
    Uma das valias desta série: um "suplemento" histórico, bem ilustrado, sobre o desenvolvimento do desporto motorizado!...

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  9. Valiant é realmente sensacional! Lembro-me lendo algum(ns) álbum dele, nos primórdios, junto ao Fantasma e afins... nem sei se foi publicado no BR ou era algum importado... :D

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  10. ASantos
    Tens razão quando falas no "suplemento" histórico, pois Jean Graton foi desenhando os carros reais ao pormenor ao longo dos anos!
    Eu gostava das estórias! Era tipo telenovela!
    LOL
    :D

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  11. Alex D'ates
    Também gostei muito na altura em que os lia. Agora até evito ler para não estragar a magia da recordação...
    ;)

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  12. Como esse é um esporte charmoso e elegante mesmo transplantado para o universo de uma BD, fico impressionado...

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  13. Venerável Victor
    Sobretudo alguns "concept cars" desenhados por Graton! São de pasmar!
    :)

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  14. Venerável Victor, o Jean Graton é um excelente designer de automóveis. É possível ver vários dos carros Vaillante como extras nas edições Intégrale.

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  15. Demais, ótimo texto, não sabia que pilotos reais haviam dado as caras nesta bd.

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  16. Guy Santos
    Ao longo dos tempos, todos os grande campeões passaram pelas páginas desta série!
    ;)

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  17. Se não estou errado, creio que o Pedro Lamy também apareceu num album qualquer

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  18. pco69
    Olha... não tenho a certeza mas acho que entrou no livro "A Prova".
    ;)

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