terça-feira, 9 de outubro de 2012

23º Amadora BD: Exposição Central


Como acontece todos os anos desde que vou ao Amadora BD (FIBDA) existe um tema para o festival. Este ano o tema é a Autobiografia. E como sempre acontece, a Exposição Central reflecte o tema cabendo a Pedro Moura comissariar a exposição deste ano.

Segue a newsletter da organização do evento:

TEMA CENTRAL
AUTOBIOGRAFIA NA BANDA DESENHADA
23º AMADORABD 2012 — AUTOBIOGRAFIA — 26OUT 11NOV


Estaremos pois dispostos a entrar nesse jogo, a perceber o que subjaz à calma aparência da chamada realidade das coisas, a discernir o que envolve um eu e o seu ensejo auto-biográfico?
Pedro Santos Maia
Da Autobiografia. Em torno de Luigi Pirandello e Manuel Gusmão,
Julho de 2012

(…) depois de ter enviado os seus heróis para Marte ou ter empregue até ao limite os ingredientes do romance de aventuras para a infância, a banda desenhada apraz-se, nos nossos dias, a colocar em cena a vida daqueles, e mais raramente, enfim, daquelas que a produzem.
Jan Baetens

Autobiografias e bandas desenhadas
Nota do editor: título e edição original, “Autobiographies et bandes dessinées” in Belphégor, Littérature Populaire et Culture Médiatique, Vol. IV, no. 1,
2004 (disponível online; URL: http://etc.dal.ca/belphegor/vol4_no1/articles/04_01_Baeten_autobd_fr.html). Tradução portuguesa de Pedro Moura
autorizada pelo autor e pelo editor da revista, Vittorio Frigerio. Os nossos agradecimentos a ambos.


Este assunto será, devidamente, abordado no catálogo oficial do Festival e objeto de uma exposição comissariada por Pedro Moura, no Fórum Luís de Camões, o núcleo central do evento.
Na exposição serão apresentadas documentos, publicações, pranchas e ilustrações originais dos vários autores que têm trabalhado este tema e que foram gentilmente cedidas por museus, galerias de arte e colecionadores particulares.
Por isso um agradecimento especial ao Museu de Banda Desenhada de Angoulême (França), aos Achives Szukalski, Los Angeles (EUA), à Fantagraphics e a Bernard Mahé (França).


A Autobiografia, por Pedro Moura

A autobiografia é um género que no modo de expressão da banda desenhada se consolidou por volta dos anos 1960, quer nos Estados Unidos, sobretudo com os autores afectos ao movimento dos underground comix, quer em França com pequenas experiências pelo humor irrisório de Gotlib, Mandryka, Gire ou mesmo Jean Giraud.
Existem exemplos que podem ser colhidos ao longo da história da banda desenhada, e no caso português a menção de Rafael Bordalo Pinheiro não seria, como sempre, descabida. Contudo, enquanto género próprio, ou até possibilidade de criação, apenas emerge na contemporaneidade.
Autores como Justin Green, Robert Crumb, Aline Kominsky, Edmond Baudoin, Carlos Giménez, Keiji Nakazawa e Harvey Pekar são fundamentais e influentes na abertura dessa possibilidade.
Os anos 1990, mais uma vez nos três pólos principais da produção de banda desenhada global (França, Estados Unidos e Japão) marcariam uma viragem e exposição substancial: aí poderíamos destacar nomes tais como Seth, Chester Brown, David B., Julie Doucet, Jean-Christophe Menu, James Kochalka, Fabrice Neaud, Debbie Drechsler, Howard Cruse, Marjane Satrapi, Craig Thompson, Alison Bechdel, entre tantas outras possíveis referências num universo muito alargado.
Portugal, por todas as vicissitudes e especificidades da sua história particular da banda desenhada, tem uma presença no campo da autobiografia mais tímida, mas não seria errado pensar nos nomes de Fernando Relvas, Alice Geirinhas e Ana Cortesão nesse balanço. Mais recentemente, autores como Marcos Farrajota e Marco Mendes exploram esse território de um modo explícito e criativo.
Tendo em conta que a história da banda desenhada, sobretudo no século XX, foi ocupada sobretudo por géneros infanto-juvenis e associados a géneros fantasiosos, escapistas ou delimitados por regras de expectativas mercantis, a autobiografia foi um dos géneros que mais e melhor contribui para uma sua abertura e desenvolvimento cultural.

Quer dizer, a paulatina mas assegurada consolidação da banda desenhada como uma arte ou modo de expressão passível de ser empregue para quaisquer fins, narrativos, artísticos, estilísticos, políticos ou filosóficos, que sejam desejados pelos autores, encontrou nesse género em particular uma das vias de expansão. É aí que encontramos um contributo decisivo para o aparecimento de editoras alternativas dedicadas à produção não apenas de revistas mas de livros (a canadiana Drawn & Quarterly e a francesa L'Association poderão servir de exemplos maiores), e que influenciariam igualmente editoras mais tradicionais, assim como é graças a esses novos autores e essas obras que a banda desenhada ganha um espaço mais digno e crítico na recepção crítica cultural, levando mesmo à sua inclusão em prémios literários prestigiados, bolsas de desenvolvimento artístico, residências, convites aos autores para participarem em encontros transdisciplinares, já para não falar do enorme ímpeto que deram aos estudos académicos de banda desenhada.
A mostra que o AmadoraBD agora leva a cabo tentará fazer um retrato do desenvolvimento deste género, dar conta da sua diversidade interna, revisitar alguns dos seus nomes principais e revelar alguns dos novos artistas. Sendo um dos principais campos da banda desenhada contemporânea, o Festival apresenta assim, a um só tempo, um balanço do que se passou e um relançar das questões para o futuro.


Tenho de dar a minha opinião. Embora não conhecendo a exposição fisicamente, seria mais agradável pelo menos nas notas de imprensa, que estas fossem um poucos mais apelativas para o grande público. De certeza que haveriam imagens mais concensuais para o "povo" que estas. Até dentro de alguns dos livros apresentados, como Persepolis.

Boas leituras

31 comentários:

  1. Parabéns ao Pedro pela exposição..
    Tem uns nomes bem porreirinhos:)

    ResponderEliminar
  2. Acho o texto do Pedro Moura bem explicito e apelativo mas pessoalmente também incluía imagens do Robert Crumb e do Harvey Pekar.

    ResponderEliminar
  3. André,
    Se calhar os originais do Pekar e do Crumb são mais complicados de arranjar:(
    Mas temos autores muito bons:
    Seth, Chester Brown, David B., Julie Doucet, Jean-Christophe Menu, James Kochalka, Fabrice Neaud, Debbie Drechsler, Howard Cruse, Marjane Satrapi, Craig Thompson, Alison Bechdel.
    Talvez falte o Joe Sacco e o Joe Matt e mais outros autores bastantes bons que produziram boa bd autobiográfica..
    Mas a escolha do Pedro está muito boa:)

    ResponderEliminar
  4. Bacchus
    Dos 13 autores que referiste só conheço 2, o Craig Thompson e a Marjane Satrapi.
    :P

    André Azevedo
    Bem que esses podiam estar incluidos! Gosto muito do Crumb.
    :)

    ResponderEliminar
  5. Nuno,
    Eu dentro desta temática gosto de todos e são todos da primeira linha da banda desenhada actual.
    Muitos deles fizeram com que muita gente visse a BD doutra forma como: O Seth (que inclusive fez o novo design dos Peanuts) , O Baudoin (que é uma pessoa excelente)e que mostrou que a BD é mais do que meras histórias misturadas com desenhos, o David B que demonstrou novas formas de fazer BD.. Assim como a Doucet e o Chester Brown..
    Todos eles são válidos e todos eles foram importantérrimos para "retirar" leitores que viam a BD como uma coisa para putos somente.
    O Crumb foi um dos pioneiros nesta área..
    A Satrapi e o Thompson foram os que tiveram mais sucesso (no caso da Satrapi até penso que o que a safou foi o filme), mas posso-te garantir que qualquer destes senhores são muito respeitados no mercado mundial da banda desenhada.

    ResponderEliminar
  6. E conviria não esquecer o genial Moebius, que tem copiosa intervenção nessa área numa obra intitulada "Inside Moebius. Jean Giraud Moebius" (que eu saiba, composta por seis tomos) em que Moebius, na imagem física que se tornou conhecida nos tempos mais recentes, contracena com Jean Giraud, ou seja, com ele mesmo na sua fase mais jovem.
    Não sendo propriamente uma autobiografia, dela está muito próxima.
    Quanto a Robert Crumb, não se consegue saber bem onde começa o autor e tem início a personagem, e vice-versa.

    ResponderEliminar
  7. Olá Geraldes,
    Sim, o Moebius é incontornável:) Não é propriamente uma autobiografia, mas está muito próximo:)
    Com o Crumb nunca se sabe onde começa e acaba o personagem, nisso tem razão:)
    E o Harvey Pekar?
    Foi um autor que fez com que uma bd se tornasse num filme fabuloso "American Splendor" com excelentes actores;)

    ResponderEliminar
  8. Bacchus
    Lá porque eu não os conheço não quer dizer que não tenham sido importantes.
    :P
    Gostava mais de ver outros que também foram importantes (e que eu conheço) Como o Crumb, o Pekar e o Sacco.
    Nãofalando nisso, parece-me que as imagens para a newsletter podiam ser mais bem escolhidas. Tu gostas, o André gosta, o Geraldes gosta. Eu nem por isso. E eu estou a falar pela maioria das pessoas que vão visitar essa exposição. Se colocassem imagens bem escolhidas destes autores de maneira a que provocasse interesse na grossa maioria das pessoas, se calhar iriam visitar a exposição com outro espírito! Eu tenho o livro de onde foi retirada a imagem da Satrapi... Persepolis tem páginas muito melhores que aquela que foi apresentada. Só não coloquei outra em vez dessa porque estava no trabalho! Extrapolando posso pensar que os outros autores também tenham páginas bem melhores que aquelas que foram fornecidas.
    Essa foi a razão do da minha opinião no final do post.
    :)

    André Azevedo
    Não referi na minha resposta que o texto do Pedro Moura está muito mais legível do que é normal, e ainda bem. Acho que toda a gente entendeu bem o seu texto. Aliás, considero-o um bom texto. Só para ficar registado que eu não sou ranhoso e sei reconhecer que o discurso do Pedro aqui foi bem mais acessível a todos!
    ;)

    Geraldes Lino
    Conheço essa obra de Moebius de que falas, mas acho que não se pode chamar autobiografia, mas mais um ensaio bipolar entre o alter ego (Moebius) e Jean Giraud (nome verdadeira), visto que têm "personalidades diferentes". Pelo menos essa é a minha leitura.
    Quanto ao Crumb, dou-te toda a razão!
    ;)

    ResponderEliminar
  9. Nuno,

    O meu comentário foi só uma chamada de atenção para o facto do pedro moura também conseguir escrever para o "povo"
    Mas outro assunto: sabes se as imagens apresentadas são de pranchas que vão estar na expo ou são só ilustrativas?

    ResponderEliminar
  10. André Azevedo
    Olha... não faço a mínima ideia!
    lol
    Não vens cá abaixo?
    :)

    ResponderEliminar
  11. Ainda não sei Nuno, mas gostava muito, vou ver se dá.
    Ei pá é 1:36 mas o pessoal aqui não dorme????:)

    ResponderEliminar
  12. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  13. André e Nuno, eu também não sei se vou (mas gostaria de ir).. (ainda fazemos uma vaquinha para irmos lá André:))
    Assim "chateava" o Nuno:)
    André, 1 e 36 ainda é muito cedo para mim:) (infelizmente)

    ResponderEliminar
  14. Nuno,
    Eu não sei quais são os autores que vão estar na exposição (penso que não são mencionados detalhadamente), mas pelo que o Pedro escreveu e dos nomes que ele falou (e vendo as proveniencias dos originais dos mesmos)..
    Calculo que irão estar lá Crumb e Pekar..
    Quanto ás imagens escolhidas, os autores têm melhor é bem verdade, mas eu nãao sei se depois no catálogo ou no folhetim da Amadora não irão ccolocar outras (não sei mesmo).
    Para já gostei das noticias:)
    Quanto á imagem da Satrapi é porreira porque está a falar com Deus e acho apelativa..

    ResponderEliminar
  15. E participavamos da almoçarada. Vamos tratar disso Bacchus, e tu obviamente levas o vinho

    ResponderEliminar
  16. André Azevedo
    Então vê lá se dá!
    :D
    Eu tenho todo o direito de estaraqui a esta hora porque trabalho por turnos e acabei de sair do trabalho à meia-noite... nunca me consigo deitar mal chego a casa!
    ;)

    Bacchus
    Ora... então apareçam! No dia 27 era espectacular, pois é o Almoço do Leituras de BD, mesmo mesmo à entrada do fórum Luís de Camões! Era sair do almoço e entrar pela Exposição Central a dentro...
    :P

    ResponderEliminar
  17. Da minha parte vou ver:), mas indo levo o vinho:)
    Nuno, para além do almoço temos que ver esta exposição.. (Eu "chateio" o Pedro Moura:))

    ResponderEliminar
  18. Tê de me dizer até dia 21, porque tenho de reservar mesas...
    :)

    ResponderEliminar
  19. Tema bacana. A parte na matéria onde foram dadas as informações sobre o que vem a ser autobigrafia em BD foi muito instrutivo.

    ResponderEliminar
  20. Que coisa chata, heim? Todos os anos você vai para Amadora n festival de BD? Tristeza...Sofrimento bom!!!

    ResponderEliminar
  21. João Roberto
    Ainda bem que o texto te agradou!
    :)

    Venerável Victor
    Sim... é uma coisa chata todos os anos ser obrigado a ir ao Amadora BD.
    Tento arranjar desculpas para não ir...
    ehehehehehh
    :)

    ResponderEliminar
  22. Não sou muito apreciador de autobiografias na bd até porque normalmente os autores são bons escritores mas muito fracos desenhadores, ou seja, não se junta o útil ao agradável.

    Das mencionadas e que li o Maus é o meu preferido mesmo com os rabiscos feios lol.
    Outras que eu conheço: o Lemony snicket que é bastante popular «papa-se» lol e o Paracuellos do Carlos Gimenez esse é muito fixe.

    Mas a melhor das melhores não é a autobiografia mas a biografia do Gaston Lagaffe eh eh

    Blaise





    ResponderEliminar
  23. Blaise
    Também não sou muito fã de autobiografias, mas quando o autor conta a sua vida de uma maneira interessante, não só graficamente como ao nível da história normalmente resulta num bom livro. Ex: Blankets e Persepolis
    ;)

    ResponderEliminar
  24. Achei um tema bem interessante!

    ResponderEliminar
  25. Trabalhar o "eu" em qualquer produção literária, seja quadrinhos ou texto, é um grande desafio _ princpalmente considerando a exposição que acarreta.

    Parabens aos autores que compartilharam de forma tão direta e (ao mesmo tempo) fragmentos de suas vidas conosco.

    ResponderEliminar
  26. Olá, Bacchus (não sei se nos conhecemos pessoalmente...).
    O Harvey Pekar é o caso mais curioso, visto tratar-se de um argumentista, o único que tem lugar reservado neste tema. Portanto, se ele está representado na exposição (não sei, ainda não memorizei os nomes dos autores), as pranchas não são desenhadas por ele, como se sabe.
    E sim, o filme "American Splendor", baseado na vida do Pekar, foi um dos que considerei mais bem conseguido entre os que tenho visto baseados em BD.

    Nuno Amado
    Sim, de facto, a obra "Inside Moebius" não é propriamente uma autobiografia, eu tive o cuidado de o referir.
    Mas visto que conheces a (notável e extensa) obra, sabes que ao longo dela assistimos às suas conversas com Giraud (com ele mesmo, claro), às suas dificuldades em conseguir um argumento consistente - tudo isso é muito pessoal.
    Aliás, naquela espécie de entrevista que aparece no início do tomo 1, à pergunta "Podemos considerar 'Inside Moebius' como um diário íntimo?", ele responde: "(...) faço de mim mesmo uma personagem (...) Para dar-lhe vida alimento-a com elementos autobiográficos (...)"

    ResponderEliminar
  27. Guy Santos
    O tema pode ser interessante. Depende de como for tratado!
    ;)

    Alex D'ates
    É difícil fazer uma autobiografia. O autor "das duas três"... ou teve mesmo uma vida completamente fora do normal e torna-se interessante por isso, ou então o autor teve uma vida bormal mas consehue tornar a autobiografia interessante devido à escrita ser bem feita. Autobiografia gráfica ainda se torna mais dificil porque o autor tem de saber transpor muito do que se passou graficamente, ou seja, tem de saber desenhar!
    ;)

    Geraldes Lino
    O que me veio à cabeça quando li alguns dos livros (não li todos)é que se tratava de um tratado de bipolaridade! lol
    Parece mais uma "discussão" entre Moebius e Giraud, mas bastante interessante. Apenas li um livro dessa colecção.
    :)

    ResponderEliminar
  28. Nuno,
    Não sei se vou ou quando vou:(
    (incertezas da vida:)) mas se for eu chateio-te:)

    Geraldes,
    Eu conheço toda a gente (ou não fosse eu o Deus do vinho:) hehehehe)..
    Sim, concordo que o Pekar era só argumento, mas acho que está neste comunicado uma menção a ele:)
    Quanto ao Moebius/giraud gosto da temática e falarmos com nós mesmos é uma autobiografia total em muitos casos.
    Abraço

    ResponderEliminar
  29. Bacchus
    Então vai mandando notícias!
    :P

    ResponderEliminar
  30. Sendo assim, Bacchus, espero que nos encontremos no Festival.
    Fica combinado que pago eu um copo(não é fácilmente repetível ter a oportunidade de beber vinho com o Deus do dito cujo! lol!)

    ResponderEliminar
  31. Parece que já há nomes dos autores estrangeiros confirmados.
    1º fim-de-semana (dias 27 e 28 de Outubro)
    Mike Deodato Jr
    Mathieu Sapin
    ...Cyril Pedrosa
    Vincent Vanoli
    2º fim-de-semana (dias 3 e 4 de Novembro)
    Fabrice Neaud
    Justin Green
    Carol Tyler
    Antonio Altarriba
    Edmond Baudoin
    3º fim-de-semana (dias 10 e 11 de Novembro)
    ZEP
    Peter Pontiac
    Caeto
    Dominique Goblet

    ResponderEliminar

Bongadas