sexta-feira, 19 de julho de 2013
Rugas
Rugas...
É...
Estou a caminhar para lá.
Este era um livro que eu não queria ler.
Por várias razões...
Passando à frente destas considerações de um tipo que começa a ter problemas para se lembrar de algumas coisas, vamos falar do livro.
Rugas é um livro de Paco Roca em que autor aborda um tema por vezes taboo em pessoas de meia idade. Aborda um dos meus medos maiores para quem se aproxima da velhice: Alzheimer.
Palavra dita sempre em voz baixa, mas sempre presente quando nos começamos a aproximar da idade em que estes sintomas se começam a notar!
Todos nós conforme nos vamos tornando mais velhos, vamos tendo algumas preocupações, sobretudo relativas à nossa velhice.
Longe vai o tempo em que os velhos eram os respeitáveis anciãos, e bem cuidados pela sociedade.
Esta nossa sociedade apenas despeja os velhos em sítios de que ninguém quer saber. Os velhos passam a ser impecilhos para os filhos quando já não têm utilidade, e aqueles que têm sorte vão parar a um lar de qualidade se o dinheiro da reforma para isso chegar.
Este é um problema ainda pior num país como Portugal visto que daqui a 15/20 anos haverá mais velhos que novos. O que o futuro reserva para esta quantidade enorme de velhos preocupa-me. A sério, pois é precisamente nessa altura que eu terei 70 anos (se lá chegar).
Portanto já perceberam as minhas reticências a ler este excelente livro de Paco Roca.
Começando pela capa. É das capas mais bem feitas que eu conheço.
A imagética desta capa é irrepreensível! Acho que é uma das representações mais bonitas que vi na minha vida para essa doença, o Alzheimer. E garanto que isso é muito difícil de fazer, mesmo metaforicamente...
A narrativa gráfica de Roca é irrepreensível, o início é brutal. Eu consigo-me ver a fazer aquilo a um filho que não tem paciência para o velho pai. É muita raiva. Os filhos esquecem-se muito facilmente de que alguém já lhes limpou o cu muitas vezes quando eram pequenos, e também se esquecem que um dia serão eles os velhos...
Roca vai incluindo flashbacks na sua narrativa com memorias das personagens, e ao mesmo tempo traz-nos por vezes brutalmente dessas mesmas agradáveis memórias para o presente:
O lar.
Outras vezes mescla realidade com alucinações tão bem que o leitor pensa que a pessoa está mesmo ali, nova! Dou o exemplo da primeira aparição da Dona Rosário. Muito bom!
Mas a velhice não é só dor. Roca traz-nos a bonita história de amor entre Dolores e Modesto, este tem Alzheimer... mas a sua mulher nunca o abandona, mesmo quando ele vai para o piso de cima do lar; onde são acantonados aqueles que já não conseguem tomar conta de si. Aliás, é através de Modesto que Emílio, o protagonista, percebe que também tem essa doença devido às medicações serem idênticas.
Mas este livro não aborda este tema de uma forma negra... essa negridão é mesmo minha! A velhice, e as doenças inerentes a essa fase da vida, são aqui tratadas de uma forma muito aberta e por vezes com laivos cómicos.
Mas são os laços humanos que importam aqui. E a história de Emílio e Miguel é muito bonita. A forma de como um cínico como Miguel se vai transformando na mesma medida que o estado mental de Emílio se deteriora é muito bonita. Aliás, o final do livro é lindíssimo. Mesmo.
Quando falo de final... bem, o livro para mim tem dois finais, e os dois são lindíssimos.
O Leituras de BD recomenda vivamente este livro.
A Bertrand está de parabéns por nos trazer obras de qualidade não habituais no nosso mercado!
Boas leituras
TPB
Criado por: Paco Roca
Editado em 2013 pela Bertrand
Nota: 10 em 10
Bem, devo dizer que não sou muito puxado ao sentimentalismo, mas esta obra é qual quer coisa...
ResponderEliminarFoi dos livros que ao acabar de ler, o voltei a reler.
Acho que merecia uma nota superior a 10, se fosse possível.
Um abraço.
Pedro Gomes
ResponderEliminarComo viste pela nota que dei, eu adorei!
Podia ter dado mais de 10, mas achei que 10 era a nota certa para este excelente livro. Para dar mais que isso teria de me ter empolgado de outra maneira.
:D
Realmente, a metáfora da capa, se pensarmos bem nela, é muito triste.
ResponderEliminarCarlos Rocha
ResponderEliminarEssa é a beleza desta capa!
Mostra uma realidade muito triste, mas de uma maneira não melodramática.
Se tu repares nenhum deles está com um ar triste.
;)
A Bertrand desta vez não publicou sobre o signo da Contraponto. Eu sei, picuinhice, mas não consigo deixar de ser assim...
ResponderEliminarRicardo Baptista
ResponderEliminarObrigado pela correção! Já está alterado.
;)
Boas,
ResponderEliminaré um livro que me provoca sentimentos semelhante ao "El Arte de Volar" do Antonio Altarriba.
Eu adorei o livro, pedi de prenda de aniversário dos 40 anos :-), ,já sabendo que ia ler sobre um assunto que não é agradável e que inclusive me assusta - o meu avô morreu de Alzheimer - mas escrita e desenhada de uma forma sensível sem ser lamecha e por vezes até cómica.
Muito bom.
Luis
Luis
ResponderEliminarEu também amei o livro, e uma das razões porque isso aconteceu é pela razão que apontas: não é lamechas.
;)
Um optimo lancamento.
ResponderEliminarFabiano
ResponderEliminarÉ mesmo um bom livro de HQ!
Forte, bem escrito e com uma excelente narrativa gráfica.
O tema é incómodo, e só por isso já vale a pena!
;)
Alzheimer é horrível...
:(
Optimus
ResponderEliminarSim, um lançamento muito bom, aliás, o grupo Bertrand tem publicado coisas bem interessantes!
;)