sexta-feira, 8 de novembro de 2013
Super Pig: O Impaciente Inglês
O universo Super Pig está em expansão, e em melhoramento contínuo. Quem leu o primeiro volume sente isso mesmo, um grande amadurecimento de ideias e a própria construção deste universo está mais meticulosa.
Pegando no primeiro parágrafo que escrevi, o primeiro volume estava um pouco desequilibrado ao nível do desenho e layouts, visto que foi uma compilação de várias revistas feitas por diferentes autores. Isto já não acontece no segundo (Roleta Nipónica), desenhado exclusivamente por Osvaldo Medina – em que ganhou com este livro na categoria “Melhor Desenho Nacional” – nem neste terceiro volume, em que o André Pereira foi responsável único pelo desenho.
Outra particularidade curiosa é a diferença de formatos ao longo do tempo. O primeiro volume era de dimensões reduzidas no que toca a altura e largura, mas o Mário Freitas editor resolveu (e bem) aumentar a dimensão do Super-Pig: Roleta Nipónica, e neste último volume temos uma publicação ainda mais alta e larga, aproximando-se do formato europeu. Será que o próximo volume irá ser ainda maior e de capa dura…?
:D
Como o argumentista Mário Freitas diz no seu prefácio, este livro seria impossível há uns anos. É resultado do seu amadurecimento como argumentista, e porque não dizê-lo, de editor.
Uma história coerente preparada com atenção aos detalhes, e digamos que não é fácil… uma história com uma personagem protagonizada por um porco antropomorfizado, roçando a Ficção-Científica e disparando várias personagens históricas através de várias camadas temporais, não é uma coisa fácil de tornar coerente e verosímil. Mário conseguiu-o através de aturada pesquisa histórica e de uma imaginação louca e fervilhante!
As passagens através do tempo estão muito boas, e a ideia de colocar aquele pequeno “filme” em rodapé acompanhando a ideia principal, completando muitas das ideias da história principal e preenchendo lacunas da vida do Super Pig, sobretudo na sua relação com o seu pai Calouste Pig, foi um excelente achado.
Se em Roleta Nipónica tivemos uma história de acção, simples e directa apesar de algumas referências culturais que algumas pessoas não terão “apanhado” logo na primeira leitura, agora temos essas referências aumentadas exponencialmente, com uma narrativa mais lenta e mais minuciosa no detalhe. Garantidamente houve muita pesquisa histórica para se fazer este argumento sem “plot holes” aparentes.
No que toca à escolha do inglês para as falas das personagens oriundas de países anglófonos, bem… também foi explicada no prefácio. Não tenho nada contra, aliás, acho que é lógico no contexto da história, mas penso que teria sido bom um apêndice no final do livro com uma tradução. Isto porque apesar de grande parte do público-alvo falar inglês, haverá sempre pessoas que não se sentirão tão à vontade na leitura desta língua, e porque não dizer, com essa tradução aumentar as margens para outro tipo público.
André Pereira tem um estilo neste livro de que eu gosto sinceramente. Garantidamente penso que uma das grandes influências gráficas neste seu estilo será Frank Quitely (e por arrasto Moebius). Mas eu disse influências, o estilo apresentado pelo André foge para o grotesco muitas vezes. O seu Pig é encorpado, detalhado e muito expressivo. Os layouts estão muito bem feitos, alguns possíveis problemas gráficos em alguns dos layouts foram muito bem resolvidos pelo desenhador, que se mostrou inventivo na apresentação de muitas das cenas.
Um desenhador a reter com certeza. Espero que se mantenha e evolua neste estilo, trabalhando mais em livros do que em fanzines. O grande público merece ver mais dele, e o circuito dos fanzines não permite essa abrangência de público.
Quanto à cor, bom… adorei! Foi das coisas que mais gostei neste livro. Uma excelente escolha na paleta de cores, muito homogénea ao longo do livro. Sóbria na maior parte do livro, o que faz explodir as cores mais vivas quando estas são necessárias para determinada cena!
Gostei muito do trabalho de cor de Bernardo Majer, sem dúvida! Mário Freitas apostou em dois artistas muito jovens e ganhou esta aposta, na minha opinião.
Quanto ao design… é muito bom.
A balonagem também está muito boa, mas a fonte usada nas partes em inglês que contam a história do artefacto está um pouco manuscrita de mais. Passo a explicar, eu uso óculos para ler, e tive de fazer um certo esforço para ler. A fonte é bonita e cai bem nestas falas, mas para mim foi um pouco difícil de ler.
Não me vou alongar na apresentação da história propriamente dita. Não quero “spoilar”, mas está em causa o passado familiar do Super Pig. Nas viagens ao passado deste livro encontramos o pai do herói ao lado de Winston Churchill, e a receber deste um misterioso artefacto. Artefacto este que vai iluminar muitos segredos do pai, e porque não dizê-lo, da história Vitoriana até quase aos nossos dias (ficção, claro…).
É um livro em que o argumentista Mário Freitas põe muito de si emocionalmente (sente-se e percebe-se perfeitamente), e cabe a vocês leitores descobrir as várias facetas e “nuances”, umas aparentes e outras escondidas, deste livro.
Gostei sinceramente, e fico à espera do 4º volume…
Para quem vai visitar o Amadora BD neste último fim-de-semana, o livro estará à venda no stand da Kingpin Books e o seu autor, desenhador e colorista presentes para dar autógrafos.
Podem ler nos seguinte links a minha opinião relativamente aos anteriores livros:
Live Hate
Roleta Nipónica
Lançamento Kingpin: Super Pig - O Impaciente Inglês (com mini-entrevista)
Boas leituras
Softcover
Criado por: Mário Freitas, André Pereira e Bernardo Majer
Editado em 2013 pela Kingpin Books
Nota: 9 em 10
Gostei da capa bem como do desenho que estão dentro de um estilo que eu gosto.
ResponderEliminarHonestamente, o mercado português de BD não é nada a minha praia, como sabes Nuno não faço nem tenho conhecimentos para fazer juízos de valor sobre a BD nacional. Sou meramente um bedéfilo e colecionador de bd anónimo lol. Logo não puxo o saco de ninguém. Basicamentea muito pouco. Tirando os diabretes, cavaleiro andante, e papagaios com tintin na capa tenho apenas o Dog Mendonça volume 1 que na minha opinião está razoável (não comprei o 2) e a saga do corvo do Luis Louro que achei alguma piada menos o terceiro volume, na minha opinião o markl como argumentista não foi muito feliz. O impaciente inglês, vou experimentar, a capa e os «»previews despertaram-me alguma curiosidade. O super pig de alguma forma também me faz lembrar o mítico porco rosso do hayao miyasaki
Cumprimentos
Blaise
Obrigado, Blaise. E depois de o leres, gostaria de saber a opinião honesta e frontal. Fico sempre com muita curiosidade de saber a reacção daquele que não é à partida o público-alvo do livro. O facto das previews te terem agradado já me deixa, por si só, bastante satisfeito. Mas quero saber o veredicto definitivo ;)
ResponderEliminarOk. Fica combinado Mario.
ResponderEliminarCumprimentos
Blaise
Blaise
ResponderEliminarEspero que gostes, mas nesse caso também te aconselho os dois anteriores, sobretudo o Roleta Nipónica!
;)
Pelo que o Blaise disse quanto a preferência, acho que o Impaciente Inglês é, de longe, o mais adequado. e está lá toda a informação necessária para se entrar no universo do Pig sem recurso a captions infindáveis à moda antiga ;)
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