terça-feira, 22 de abril de 2014

A Palavra dos Outros: Crónicas do Bendisverso II - Um passado que muda todos os dias


Chegou mais uma "Crónica do Bendisverso" escrita por Paulo Costa!
E mais uma vez estou de acordo com o Paulo neste Bendisverso...
:D

Crónicas do Bendisverso II: Um passado que muda todos os dias

Já se passaram dois anos desde que a DC reiniciou completamente a sua cronologia com o evento “Flashpoint” e a subsequente série de títulos apelidados “New 52”. Cada vez que altera a sua cronologia, a DC insiste em fazer histórias espalhafatosas para poder dizer “Vejam! É tudo novo!”. A Marvel simplesmente cria uma nova continuidade e nem chama a atenção para isso, até porque acontece de forma perfeitamente acidental. A causa é uma: Brian Michael Bendis, o homem que inventa passados para os personagens quando lhe dá jeito.

As sementes do Bendiverso foram plantadas quando Bendis escrevia o Demolidor. Bendis resolveu explicar porque o vilão Homem-Sapo (Leap-Frog), um antigo inimigo do Demolidor da era pré-Frank Miller, quando a revista era ridícula. Acontece que a história da redenção do Homem-Sapo e do seu filho assumir o uniforme para tentar lançar-se com uma carreira de herói (também como Homem-Sapo, mas no original Frog-Man) era bem conhecida, tendo sido publicada numa história do Capitão América, com um seguimento numa história seguinte do Homem-Aranha. Bendis não pesquisou, não perguntou e abriu a caixa de Pandora.

Este tipo de revisão não era inédito. Quando Roy Thomas reintroduziu o Ciclone (Whizzer) no Universo Marvel, tentou explicar que ele não conhecia o Capitão América, apenas o seu substituto. No entanto, o próprio Thomas, ao escrever as histórias dos Invasores nos anos 70, contribuiu para que o Ciclone e o Capitão América original trabalhassem juntos várias vezes. O Cable, por seu lado, foi criado por Rob Liefeld como um personagem que toda a gente conhecia mas nunca tinha sido mostrado. Mas o modo como Bendis ignora a continuidade roça o irresponsável e já contaminou os seus colegas que têm chegado à Marvel nos últimos anos, nomeadamente Nick Spencer e Jonathan Hickman. O que nos leva à mudança radical que está a ser feita ao grupo de personagens mais metafísicos do universo cósmico.


Hickman já tinha tentado reconstruir o passado do SHIELD, tanto na série “SHIELD” (onde a organização existe desde a época renascentista, fundada por Leonardo da Vinci) como em “Secret Warriors” (ligando organizações antagónicas como a SHIELD, HYDRA e o Zodíaco a uma fonte comum). Transformou, também, Reed Richards num herói presente em vários universos. Mais recentemente, na actual fase que tem escrito nos Vingadores, têm morrido algumas figuras clássicas, como o Tribunal Vivo e o Vigia. E a introdução dos Builders no crossover “Infinity” parece ter sido feita para tirar de cena os Celestiais, uma vez que ambos têm funções e motivações praticamente idênticas. De certo modo, é compreensível. Às vezes, personagens com poderes de deuses deviam ser únicos, e não é tão fácil estar sempre a inventar ameaças que podem aniquilar o universo.
























Mas o modo como o passado é afectado vê-se também em histórias mais mundanas. Tivemos o caso de Bendis e Howard Chaykin a criar uma equipa de Vingadores existente em 1959 (incluindo Kraven, Namora, um Dentes-de-Sabre uniformizado pré-Arma X e, é claro, o avatar de Chaykin no Universo Marvel, Dominic Fortune), Ed Brubaker a criar uma equipa desaparecida de X-Men na mini-série “Second Genesis” e ao fazer do falecido Bucky um agente soviético vivinho-da-silva durante todo o período em que supostamente esteve morto. E, quiçá a modificação que faz menos sentido, vimos também Matt Fraction a introduzir um Nick Fury Jr. negro que toda a gente parece aceitar sem problemas e conhecer há vários anos, só para aproveitar o Ultimate Samuel L. Fury que aparece nos filmes.


No passado, os fãs discutiam se a presença dos Beatles, do presidente Jimmy Carter, das referências a séries de TV canceladas ou das calças à boca de sino fariam sentido em flashbacks. Na prática, havia uma regra não escrita que as histórias passavam-se no mês e ano em que foram publicadas, e que representavam o passado mas os detalhes menos importantes não necessitavam de ser mencionados, desde que o tema central da história fosse preservado. Mas agora até os detalhes mais importantes são ignorados, a não ser que sejam necessários para a história a contar hoje. De facto, quem precisa de um “New 52”?

Texto:
Paulo Costa

Podem ver os outros artigos do Paulo Costa, bastando para isso clicar no nome dele!
:)
E podem ver também a primeira crónica do Bendisverso no seguinte link:

Crónicas do Bendisverso I - Peter Parker merece um final feliz

Boas leituras

3 comentários:

  1. Por estas cenas patéticas e francamente incompetentes deixei de gostar de ler o mainstream DC e MARVEL. Sinto-me completamente perdido. Dei uma oportunidade à DC com o New52, mas continuei, há semelhança dos pós Crisis, a balbuciar "HUMMM?! HÃ?! WTF!! A sério?! Mas...como...?!". Com a MARVEL Bendisziana, idem. Não consigo pegar numa história, saga, e perceber o que se está a passar. Estou velho, sem dúvida. Bem haja a Image.

    PS: Se há cena que me irrita solenemente é ver o Nick L. Jackson Fury Jr.. Se o choque de o ver assim nos Ultimate já foi grande, mas papável, do ponto de vista daquilo a que se propunha o título, terem perpetuado o personagem nessa forma foi, para mim, a gota de água que fez transbordar o copo.

    ass. refemdabd

    ResponderEliminar
  2. Refem
    Ainda se encontram algumas coisas boas nas duas "grandes", mas estou como tu. Cada vez compro mais de editoras tipo Image e Dark Horse!
    ;)

    ResponderEliminar
  3. a história dos X men 'New Genesis' foi das coisas mais estupidas e forçadas que li. Mas o primeiro lugar mesmo de ter ficado de boca aberta a pensar 'nao acredito' foi quando vi o 'filho' do nick fury :S :S :S

    Ou seja, vou continuar com a minha dieta saudável de, esperar 10 anos e procurar o que vale a pena ler dos ultimos 10 anos da Marvel (e da DC também). Vou lendo o que vale a pena década a década. Já não há pachorra para tanto lixo.

    ResponderEliminar

Bongadas