domingo, 19 de abril de 2015
Comprimidos Azuis
Uma história de amor poderosa.
Frederik Peeters escreveu e desenhou este romance gráfico, e autobiográfico, com uma positividade fora do comum, e foi uma pena que a Devir não tivesse deixado o subtítulo da versão em inglês “Blue Pills: A Positive Love Story”, isto embora o original também não tenha subtítulo e seja apenas “Pilules Bleues”. Penso que o subtítulo da edição em inglês identifica muito bem a obra.
Frederik Peeters nasceu em Genève, Suiça, no ano de 1974. Trabalhou como ilustrador para a imprensa Suíça, ganhando alguns prémios para “novos talentos”.
Em 1997 começou a colaborar com algumas revistas de BD, inclusivamente na Spirou.
O livro que o lançou para o sucesso foi mesmo este Comprimidos Azuis, publicado originalmente em 2001 pela editora Atrabile, ganhando pelo caminho alguns prémios.
A partir deste livro a sua carreira tornou-se visível e profícua!
Portugal nos últimos anos tem assistido à edição/publicação de muitos romances gráficos, felizmente. A Devir foi uma das editoras que deu o pontapé de saída neste género mais adulto com a sua linha “A Biblioteca de Alice” que já publicou títulos como Habibi , Blankets, Anne Frank, O Zen de Steve Jobs e mais recentemente a compilação em dois volumes da obra portuguesa A Pior Banda do Mundo.
Comprimidos Azuis insere-se neste selo da Devir sendo publicado em Portugal em Dezembro de 2012.
Uma rapariga atravessa-se por várias vezes na vida de Fred: Cati. Em alturas chave das suas vidas eles cruzam-se, falam e desaparecem. Até um dia.
Um dia Cati fica para sempre na vida de Fred. Mas com Cati vem também o filho dela e… a SIDA. Ambos, mãe e filho com essa doença perversa. Seropositivos.
E aqui começa verdadeiramente este livro. Uma história tocante de amor, em que o casal tenta superar todos os dias a sombra da doença. As páginas são muitas vezes poderosas, de um storytelling excepcional que agarra o leitor inconscientemente num preto e branco que dá ainda mais força emocional, aparentemente com um desenho descuidado para os olhos mais desatentos.
Os problemas de um casal em que mãe e filho são portadores de SIDA colocam à prova qualquer relação diariamente. Fred faz um registo, tipo diário gráfico, dos momentos principais, os mais fracturantes, das dúvidas mais viscerais que atravessam a sua mente e acaba por abrir o seu coração ao leitor.
E quando o autor de uma obra autobiográfica abre o seu coração ao leitor, e consegue passar as suas emoções e sentimentos a esse mesmo leitor, então o objectivo é inteiramente atingido passando o leitor a amar e a sofrer com o autor, neste caso não só com a força do texto mas também com um grafismo cheio de metáforas visuais.
Várias relações na vida de Fred são retratadas, todas elas muito importantes na sua vida. A relação de Fred com Cati, Fred com o filho de Cati (Lobinho) e Fred com o médico. Este é o triângulo emocional em que o autor anda em cima do fio da navalha, umas vezes imerso em dúvidas, outras em profundo amor, desespero, medo… enfim… não é fácil, mas o positivismo de Fred relativamente a esta relação consegue tudo, até a felicidade.
O livro tem como narrador o próprio autor (claro), onde ele expõe os seus pensamentos, muitas vezes impregnados de filosofia ligeira, que ao contrário de maçar o leitor, acabam por mergulhar o dito leitor no caldo de ideias de Fred. Este apresenta-nos visões e ângulos diferentes sobre problemas pouco experimentados (embora muito falados) pelo comum dos mortais. Ideias interessantes fluem narrativamente, mas penso que o capítulo do mamute era escusado. Embora perceba o porquê da sua inclusão, acaba por quebrar o ritmo de toda a narrativa na minha opinião.
Um tema ainda hoje considerado taboo em muitos sectores da sociedade, de uma doença completamente desconhecida na sua crua realidade para a esmagadora maioria das pessoas.
Comprimidos Azuis é um livro que recomendo, por todas as razões e mais algumas.
Boas leituras
Hardcover
Criado por Frederik Peeters
Editado em 2012 pela Devir
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