quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Capas: Harley Quinn #16 & #17

Harley Quinn #16

Em cima a capa de Frank Cho para a vilã mais louca do universo DC Comics e em baixo a capa de Amanda Conner para o número seguinte!


Harley Quinn #17



Boas leituras



quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

O Azul é uma cor Quente







"Azul escuro
Azul azure
Azul marinho
Azul indigo
Azul cyan
Azul mar
O azul tornou-se uma cor quente
Amo-te Emma, tu és o ser da minha vida"

(Retirado do diário de Clémentine)

Que é que se pode dizer… mais uma pérola que saiu por alturas do monolítico e mofento Amadora BD!

Esta foi mais uma obra de qualidade superior publicada em português pela editora Arte de Autor, que continua a construir o seu muito bom catálogo de BD devagar, mas com bastante predicado.

Desta vez temos mais um Romance Gráfico e à semelhança de Fun Home de Allison Bechdel, as personagens giram à volta do mundo homossexual.

O Azul é uma Cor Quente (Le Bleu est une Couleur Chaud no original) foi escrito, desenhado e pintado por Julie Maroh, ocupando-lhe 5 anos da sua vida, iniciando esta obra aos 19 anos. Foi publicado em 2010 pela Glénat, sendo posteriormente traduzido para seis Línguas (para além do francês). Conquistou vários prémios, com relevância para o Prix du Public Fnac-SNCF no Festival d'Angoulême 2011.
Como referi no início, em Portugal foi a Arte de Autor que o publicou em 2016.

Neste livro a sexualidade, amizade, identidade, família e amor, são eficazmente explorados pela autora, por vezes com bastante intensidade. Aliás este livro começa logo intensamente porque logo na primeira páginas descobrimos que uma das protagonistas está morta. Isto é uma informação básica, pois a acção desenrola-se toda a partir do diário de Clémentine, lido por Emma.

O diário de Clém inicia-se de uma forma ingénua própria de uma adolescente ainda à procura de rumo na vida, as suas amizades, o espaço escolar, os rapazes…
Sim, neste o caso, o rapaz. E logo no primeiro encontro com esse rapaz existe um momento em que Clém no meio do cinzento vislumbra uma cabeleira azul. Momento marcante da vida futura, que vai provocar confusão na cabeça da adolescente, que vai entrar nos sonhos dela de uma maneira sexualmente confusa.
É aqui que começa uma bela história de amor.

O status social manda que Clém tenha um namorado, e ela tem. Mas no fundo não é isso que quer. Debate-se como uma adolescente se pode debater na descoberta da sexualidade, a confusão é bem patente, e aumentada por um beijo de uma amiga.

Os conflitos na cabeça de Clém provocam-lhe um humor conturbado, sobretudo depois que um colega homossexual a convida para uma saída nocturna a bares gay.
E aqui pela segunda vez encontra Emma, com os seus incontornáveis cabelos azuis.

Os encontros passem de fugazes a habituais, em segredo da família e da namorada de Emma. E Clém vai crescendo, amadurecendo, sabendo cada vez mais aquilo que quer. O mundo é cinzento, com salpicos de cores esbatidas… menos uma. O Azul. O Azul passa a ser uma cor quente para Clém.

E com o amadurecimento vêm as certezas. Ela quer apenas amar Emma, e como esta diz à mãe de Clém, sela fosse um rapaz Clém ia amá-la na mesma.

O livro prolonga-se por mais 10 anos na vida destas duas mulheres, mostrando a luta para manter a relação acesa. Clém apesar de amar Emma nunca ficou completamente convencida da sua homossexualidade, sempre foi permeável à influência da sociedade, ao contrário de Emma. Isto acaba por provocar stress na sua relação.

Tudo isto sempre acaba por ficar ampliado pela rejeição dos pais, e da sociedade na sua generalidade. Extrapolando para nós leitores…
Digam-me quantos de vocês que politicamente aceitam a homossexualidade, mas no vosso meio de amigos gozam com os ditos homossexuais? Eu já o fiz. Quantos de vocês dizem que eles, homossexuais, não devem ser penalizados na sociedade, que têm os mesmo direitos, mas se um deles for um homem ou mulher de sucesso ou vos passar à frente no trabalho, vocês sentem um misto de inveja/raiva surda devido a essa situação? Quantos de vocês que para a sociedade são pessoas muito abertas, se um dos vossos filhos for homossexual acham que foi o pior castigos de que podiam ser vítimas…

…sim com o tempo eu fui melhorando, e na realidade neste momento consigo criar alguma empatia com este tipo de problemas e situações. Não é fácil para um homossexual navegar socialmente sem problemas. A autora foca este tipo de problemas de uma maneira que eu diria natural, sem o stress da luta pelos direitos etc. Não é que não sejam referidos, mas não são o cerne, estão apenas subjacentes. O cerne é mesmo o amor. Só apenas isso com todos os seus problemas.

Julie Maroh joga muito bem com os pontos fortes e fracos das suas protagonistas, conseguindo um excelente romance, nunca deixando a narrativa cair no marasmo. No que respeito à parte gráfica eu adorei. O desenho é muito bom, muito expressivo. As personagens estão muito bem caracterizadas sendo quase certo que Maroh de certeza foi buscar os olhos de Clém, e sobretudo de Emma, ao registo Manga aumentando-os ligeiramente para aumentar a expressão destas duas personagens.

A cor básica são tons de cinzento acastanhado tipo sépia, salpicados em algumas páginas por verdes, laranjas e azuis esbatidos, ou seja basicamente tudo muito suave e frio ao mesmo tempo, excepto uma coisa: o cabelo azul de Emma. Adorei!

A narrativa é contada pela voz de Clém, mas na realidade quem lê, lembra e sente, é Emma. Uma forma dolorosa de contar uma história que não pode acabar bem, como eu disse atrás, Clém está morta antes do livro começar…

Sim é verdade… esta BD foi adaptada a um filme. Não falei nisto de propósito. O filme chama-se “A Vida de Adèle” e ganhou um prémio no festival de Cannes. Não falei porque achei que o mau título do filme estragou a excelente capa que esta edição deveria ter, visto que segundo apurei com a editora foram obrigados a colocar na capa a menção ao filme. Afff…

O Leituras de BD recomenda vivamente este livro. Mais uma excelente edição da BD em Portugal.

Boas leituras




terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Wallpaper: Superman



“Dreams save us. Dreams Lift us up and transport us. And on my soul, I swear… until my dream of a world where dignity, honor and justice becomes the reality we all share, I’ll never stop fighting.”

                                                                                                                            - Superman Action Comics 775




Boas leituras




segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Harrow County Vol.1: Assombrações sem Fim



Houve vários livros que saíram no último Amadora BD e que deram um pouco de luz a este festival que prima pela escuridão de ideias.
Um deles foi Harrow County de Cullen Bunn (argumento) e Tyler Crook (arte), publicado em português pela G.Floy.

A G.Floy tem primado por oferecer ao público português obras de bastante interesse em formato de Banda Desenhada para leitores mais adultos, e este primeiro volume de Harrow County não desapontou.

Bunn é um escritor norte-americano que tem trabalhado bastante para a indústria de comics, tanto na vertente mainstream (Uncanny X-Men e Deadpool) como em trabalhos de autor (The Damned e The Sixth Gun), começou a escrever este primeiro capítulo de Harrow County em prosa (Countless Haints no original). Mais tarde seria reformulada para Banda Desenhada em conjunto com Crook, resultando no livro que tenho nas mãos.

Tyler Crook tem trabalhado em títulos como B.P.R.D., Witchfinder, Badblood, ou seja, essencialmente para a editora Dark Horse. A sua obra de saída depois de muitos anos a trabalhar para a indústria dos vídeo-jogos foi Petrograd editado pela Oni Press . Para já este é o artista de serviço de Harrow County.

Harrow County começou a sua publicação em 2015 como revista mensal indo já na revista #20 (Janeiro deste ano) e quatro compilações.

Eu não gosto de inserir este tipo de história no género “terror”, porque embora o ambiente deste livro se propicie a pessoas mais sensíveis a terem algumas tremuras, quem gosta mesmo de Banda Desenhada de terror apenas se sente cómoda a ler este tipo de livros. Não se pode comparar a um Uzumaki.
Assim gosto mais de chamar a este tipo de BD “Fantasia Negra”.

E dentro desta “Fantasia Negra” adorei este Harrow County! Uma história com força, que agarra o leitor, e logo no início com uma dança macabra em que aldeões trespassam, queimam e enforcam uma bruxa. Não podia começar melhor para quem gosta deste género!
O argumento é sólido, com um ritmo bem adequado a cada momento chave da história, com Bunn a tecer a teia de eventos numa pequena e isolada povoação do Sul dos EUA, e claro, não há nada como o isolamento para tornar uma história bem tensa.

Mas a parte negra precisa do seu contraponto, e este é a arte de Crook! Belíssimas aguarelas tornam a história bem equilibrada aos olhos do leitor, criam o contraste e sobretudo dão “textura” ao argumento.

Esta é a história de Emmy, a filha de um agricultor, e quase a fazer 18 anos. Emmy desde cedo que se tem debatido com sensações espectrais, pesadelos, visualizações de um passado horrível e fantástico que não conhece. Ela vai entrar nesse mundo quase sem preparação…

Não quero falar muito do argumento e personagens, visto não querer estragar nenhuma surpresa a algum leitor que decida ler o livro depois de ter lido este meu apontamento.


















O LBD recomenda Harrow County sem reservas.


Boas leituras



sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Hoje estou assim... como o Corto



Tem dias que uma pessoa só apetece olhar em paralelo infinito, hoje é um desses dias.
Espreguiçar, recolher, olhar por aí... e espreguiçar outra vez!









Pode ser que logo fique mais assim! :D





Boas leituras




quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Carlos Alberto dos Santos (1933 - 2016)



A abertura deste ano do Leituras de BD vai ser em modo de homenagem.
Carlos Alberto dos Santos foi um homem que aprendi a respeitar muito. Gostaria de ter estado mais vezes com ele, infelizmente foram poucas as vezes, mas ficou-me na memória o seu estúdio de pintura repleto de grandes pinturas, elmos e gládios romanos, falcatas lusitanas e muitos outros artigos históricos. Era um estúdio que cheirava a História, ou não fosse esse um dos temas preferidos deste pintor.
Neste post vou recuperar parte de um texto que já tinha escrito sobre ele.

Carlos Alberto nasceu em 1933 e começou a trabalhar em ilustração por volta de 1947. Em 1970 realizou a sua primeira exposição, com trabalhos a óleo em que os motivos históricos eram o centro dos seus trabalhos. Infelizmente quase nenhum dos seus trabalhos se encontra em Portugal, sendo a maior parte possuída por colecionadores particulares estrangeiros, tanto europeus como norte-americanos.
Para além da pintura fez Banda Desenhada e ilustrou algumas coleções de cromos!

Uma parceria importante aconteceu em Agosto de 1949, quando aos 16 anos publicou a sua primeira história em BD (História Maravilhosa de João dos Mares), no primeiro número da mítica revista portuguesa Mundo Aventuras, o que é um marco pois também foi a primeira publicação da editora Agência Portuguesa de Revistas (APR).

Trabalhou também com outras editoras da época como a Camarada e com a Editorial Dois Continentes, mas foi com a APR que teve uma ligação mais estreita. Quase todas as publicações desta revista contiveram capas, ilustrações ou bandas desenhadas deste artista.

Ainda para o Mundo de Aventuras, criou uma biografia ilustrada chamada "Camões, Sua Vida Aventurosa", publicada em 1972 no último volume da série Álbum Especial, e esta história também existe em BD!
Os seus últimos trabalhos importantes de BD e ilustração foram feitos para a Editora ASA
Mas foi na Portugal Press de, e com, Roussado Pinto (Ross Pynn) que criou um dos ícones portugueses dos anos 70: Zakarella!

A revista Zakarella assentava nas histórias de duas míticas publicações norte-americanas, a Eerie e a Creepy. As histórias em Banda Desenhada destas duas revistas, servidas por excelentes autores, povoavam o interior da revista Zakarella. Mas quem dava o nome a esta revista mítica portuguesa era mesmo a heroína criada por Carlos Alberto dos Santos com histórias ilustradas em que Ross Pynn (Roussado Pinto) fazia a parte dos textos.

Carlos Alberto dos Santos, em conversa comigo, disse que o esquema criativo era um pouco ao contrário do normal… ele, Carlos Alberto, fazia uma ilustração da Zakarella e Roussado Pinto fazia a história com base nessas mesmas ilustrações. Carlos Alberto disse que essas ilustrações eram, à data, o “libertar dos seus demónios interiores” e que hoje seria incapaz de reproduzir algo da Zakarella.




Este grande artistas, infelizmente, começou a sofrer muito da vista obrigando-o a abandonar trabalhos mais minuciosos, como por exemplo BD e pequena ilustração, sendo a pintura em grandes telas o escape para a sua irremediável falta de vista.
Mas continuou sempre ligado à arte, nunca desistindo de pintar sobre encomenda, os seus trabalhos são muitos, e superiormente admirados por todo o mundo… infelizmente em Portugal é quase um desconhecido!
Uma nota sobre como a vida dá voltas… nunca eu pensei com 8 anos de idade ao fazer a colecção de cromos “Camões” (124 guaches) que passados 40 anos iria escrever sobre este artista!

Exposições importantes de Carlos Alberto dos Santos:

  • National Society for Fine Arts, Lisbon, 1970, 1972, 1974, 1976
  • Faculty Club of the MIT, Boston, 1984
  • Casa da Saudade Library, New Bedford, 1986
  • Cambridge Public Library, Cambridge (USA), 1986











É meu credo que o Homem vive para além da morte. Vive na memória dos outros homens, e vive mais tempo quanto maior for excelência da marca que deixou em vida. Carlos Alberto continua a viver através da sua arte. Faleceu em Novembro do ano passado, mas vai ficar na minha memória enquanto eu for vivo.

Um outro post que fiz sobre uma bela obra deste autor está neste link:

Camões: Sua Vida Aventurosa









Boas leituras