terça-feira, 4 de junho de 2019
BUG
Sim, BUG é o último trabalho a ser publicado em português pelo artista francês nascido na sérvia, de pai bósnio e mãe eslovaca. Os horrores da guerra que assolaram Belgrado durante a sua infância ficaram-lhe bem marcados como se nota em bastantes das suas obras de BD.
Não me vou alongar sobre obras passadas de Bilal, mas gosto sempre de frisar a Trilogia Nikopol, As Falanges da Ordem Negra, e Exterminador 17, onde houve alguma lucidez na sua loucura narrativa. Depois disso tivemos a Tetralogia do Monstro (completa em português) e a Trilogia do Golpe de Sangue (em português falta o 3º volume) em que Bilal dá largas uma arte gigante, mas a narrativa é bastante difícil de seguir, parece que foi uma fase de muitos "ácidos" na sua vida artística.
De qualquer modo, nessa trilogia Golpe de Sangue o foco estava nas severas alterações climáticas, a agora com BUG, Bilal foca-se noutro problema, a dependência digital Humana.
E aborda-o bem, com coerência que foi o que faltou a algumas obras que poderiam ter sido muito boas... mas não foram.
O estilo dele está lá todo. A partir de uma determinada altura Nikopol e Jill são os seus personagens fisicamente recorrentes em quase todas as suas histórias, Bilal nunca se conseguiu livrar-se deles desde os anos 80. Portanto fisicamente o protagonista é muito parecido a Nikopol, todos os gadgets e implantes bio-mecânicos ou electrónicos estão lá, e claro, a sua maravilhosa arte e o ambiente negro também. Curiosamente, e como elementos também recorrentes a religião e a guerra nas ruas estão menorizados neste 1º livro. Porventura isto deixa tudo mais coerente e amigo do leitor... :)
Estamos em 2049, o povo Humano está altamente dependente da informação armazenada digitalmente, as pessoas por e simplesmente deixaram os "saberes" arrumados nos seus discos rígidos, clouds ou simples pendrives. Subitamente toda essa informação é sorvida para algum lugar, e a Humanidade deixa de ter acesso a tudo, deixando os cérebros preguiçosos a terem que fazer algo para resolver ou saber o que se passou.
Aparecem os desdigitalizados, jovens que nada mais faziam que estar ligados à rede e que agora estão completamente desenraizados e dispostos ao suicídio. Países a quererem que se faça uma busca por indivíduos já na 3ª idade que ainda usavam os seus cérebros para as suas tarefas do dia a dia sem necessitarem de um computador, e sem Alzheimer, claro. Sim, os computadores funcionam, assim como a comunicação social, mas foram despejados de tudo... aliás, uma das marcas de Bilal nos seus livros são os recortes de imprensa, este BUG também os tem, mas sem corrector ortográfico! :D
E o que dizer de um astronauta, Kameron, que parece ter sido infectado por algo no espaço, e debita informação como se fosse um super computador? Torna-se em alguém muito precioso, claro. Aí entra a coadjuvante feminina, Junia, que nos faltava aqui, e que ajuda este estranho Kameron na sua procura pela filha numa Terra que toda ela está à procura do próprio Kameron? E o que pensar na mancha azul na cara de Kameron?
Tudo isto num ambiente de desnorte num mundo desdigitalizado!
Digo com franqueza que não lia uma obra de Bilal com tanto interesse há muito tempo, desde Frio Equador nos anos 80, e quando temos a arte de Bilal a narrar uma boa história, temos um livro que vale a pena.
Gostei muito, e recomendo.
O segundo livro irá sair no Amadora BD, e a editora Arte de Autor de parabéns por ter tido a coragem de trazer mais um título franco-belga novo para o mercado português.
Já agora uma citação do livro:
"Um geek não envelhece, actualiza-se"
Boas leituras
O blog é ótimo, sempre gosto de ler seus textos, só gostaria que o tamanho da fonte fosse maior.
ResponderEliminarOlá Ozymandias :)
EliminarObrigado!
Relativamente ao tamanho da fonte, penso que já te tinhas queixado disso anteriormente, mas este é o tamanho normal! Ainda agora confirmei em 3 telemóveis e um tablet, o tamanho está normal e legível, até para mim que uso óculos. Vê lá as tuas definições no telemóvel ou no tablet se não estão a diminuir a font de letra
Abraço e obrigado