sexta-feira, 19 de agosto de 2011
História sem Heróis
O grande Van Hamme estava a dar os primeiros passos na sua carreira, apenas ainda tinha sido o autor dos textos de Corentin, resolve propor esta estória ao Journal de Tintin. A ideia foi aceite e o desenhador escolhido foi Dany, autor de Olivier Rameau, que resolveu fazer a experiência como artista num estilo mais realista. Daqui saiu o díptico de culto “História sem Heróis”.
Van Hamme, autor de XIII, Largo Winch, Thorgal, O Grande Poder do Chninkel, Lua de Guerra, e alguns livros de Blake & Mortimer, baseou-se um pouco no filme dos anos “60” “O Voo da Fénix” para escrever esta excelente estória. Não é fácil fazer um argumento destes para um único livro de 48 páginas sem parecer que foi feito a correr!
A narrativa corre fluida sem tempos mortos, nem atropelos, e para uma estória ficcional está bastante verosímil. Este livro deu um grande impulso na carreira de Van Hamme como escritor de Banda Desenhada! A partir daqui nunca mais parou, sendo um dos autores mais prolíficos da Banda Desenhada europeia.
Dany que tinha obtido êxito com o seu personagem Olivier Rameau (um traço mais caricatural) decide aqui exibir um estilo realista, um pouco colado ao grande William Vance (Bruno Brazil, XIII). Nos tempos mais actuais tivemos um livro dele, Transilvânia (editado pela Vitamina BD), também num estilo mais realista mas já com estilo muito próprio, e diga-se de passagem que eu gosto! Já gostava de Olivier Rameau quando saía na revista Tintim, mas gosto mais do Dany realista, infelizmente a obra dele nunca saiu muito em Portugal…
A estória roda à volta de um grupo de sobreviventes de um desastre aéreo e das relações, intrigas inter-pessoais, e vontade de sobrevivência. Dos cobardes, dos inteligentes e dos corajosos.
O avião despenha-se em plena selva amazónica sem hipóteses de um resgate exterior. O avião ia do Brasil para o Panamá transportando passageiros importantes, inclusivamente ditadores sul-americanos e conselheiros da ONU. O país de onde este ditador é oriundo é ficcional, Coruguay, e também o conselheiro da ONU vem de uma investigação neste suposto país.
O leque de personagens escolhidos é excelente: uma vedeta de cinema (norte-americano), um veterinário brasileiro, o presidente da junta militar do Coruguay e seu guarda-costas, um pianista de fama mundial, três homens de negócios norte-americanos, o filho de um riquíssimo industrial francês e sua preceptora (inglesa), uma professora do Panamá, o delegado da ONU no Coruguay, um homem de negócios de Singapura, um casal holandês de lapidadores de diamantes, e dois tripulantes do avião!
A mescla deste grupo é enorme, e assim conseguiu Van Hamme uma intriga muito interessante sobre relações humanas. As tensões são evidentes e grandes, provocadas logo por uma primeira morte, a falta de água potável e restantes víveres. A única coisa que o avião possuía em abundância era lona… Para sobreviverem a inteligência tem de imperar, mas logo à partida há personagens dentro do grupo que tratam de diminuir o número de sobreviventes para seu bem-estar futuro!
O título diz que é uma história sem heróis, mas não é correcto, pois todos eles (ou quase todos) são heróis à sua maneira!
Convido-vos a ler esta obra de culto da BD europeia, e convido também as editoras portuguesas a publicar o 2º e último volume com o título “ 20 anos Depois”.
Boas leituras
Nota: Este livro encontra-se bastantes vezes em leilão no Miau e Leilões.net
Hardcover
Criado por Van Hamme e Dany
Editado em 1980 pela Bertrand
Nota : 8,5 em 10
Já tive em tempos este álbum mas relia-o agora de bom grado. Boas memórias bedéfilas! Abraço
ResponderEliminarVerbal
ResponderEliminarFoi o que eu fiz para o post... reler este excelente livro. É como dizes, uma boa memória bedéfila!
Vou fazer uma adenda ao post, a dizer onde poderão encontrar o livro à venda.
;)
grande livro. na altura sabia zero de banda desenhada.
ResponderEliminarQue bela recordação... Uma das melhores BDs que li no Tintin, pelas razões que bem enumeras aqui.
ResponderEliminarPor outro lado, quando li "Vinte Anos Depois", fiquei muito desiludido.
Pareceu-me que foi uma sequela feita apenas com intuitos comerciais, sem outra razão de ser.
Paulo Brito
ResponderEliminarMas agora já sabes muita coisa de BD, e daí vem a tua afirmação:
"Grande livro"!
;)
Filipe Azeredo
Fiquei bastante curioso quanto a "20 Anos Depois", visto que em muitas críticas reparei que achavam ainda melhor que este! Mas desconheço completamente, nem sei como fizeram a abordagem ao passado.
Talvez um dia eu consiga ler esse livro!
:)
Verbal, no próximo encontro dou-te um.
ResponderEliminarO "20 anos depois"...hummm, já li isso, e até juro que a tenho por aqui em formato revista, será da 2ª série das Selecções da BD?
Refem
ResponderEliminarAhhh...
Tás pronto para outro encontro?
Quando?
:)
Talvez a história que li na revista Tintin, que mais me tenha marcado e que ainda hoje me recordo perfeitamente, talvez por na altura ter 16 anos...
ResponderEliminarHalotuga
ResponderEliminarEu não me lembro desta história na revista Tintim. Não sei se saiu numa altura em que eu ainda não fazia a colecção ou posterior a ter deixado de fazer... Mas na altura em que eu lia a revista, se saiu não era de certeza uma história de eleição para mim, visto que li essas revistas entre os meus 7 e 10 anos.
:)
saiu na Tintin, saiu! Muito boa!
ResponderEliminarOsvaldo
Osvaldo
ResponderEliminarEm que ano?
:)
"20 Anos Depois" saiu na 2ª Série da Revista "Selecções BD", da extinta Méribérica/Liber. Nunca li o "História Sem Heróis", mas se o tiveres, podemos fazer um empréstimo mútuo. Empresto-te o "20 Anos Depois" e tu o "História sem Heróis". Eu gostei do "20 Anos Depois". E fiquei desde sempre com vontade de ler o primeiro.
ResponderEliminarGrande Abraço
João Figueiredo
ResponderEliminarObrigado pela informação!
:)
No que toca a emprestimos de livros, eu há cerca de 20 anos que adoptei a política de não emprestar nenhum...
:P
:D
Pois. Eu também tenho alguns a "arder". Os nºs da Selecções BD em que foi publicado "20 anos depois" são dos primeiros. Posso-te indicar quais, concretamente, mas só daqui a um mês. Não os tenho comigo.
ResponderEliminarGrande Abraço.
No Tintin iniciou-se na revista nº 1 do 11º ano, em Maio de 1978. Realmente eu já tinha 16 anos e marcou-me-
ResponderEliminar1997, Vinte Anos Depois: Selecções da BD, segunda série, de Fevereiro a Maio de 1999; do número 4 ao número 7, com privilégio de capa no nº4 da revista.
ResponderEliminar:) Ainda tentei encontrar A História Sem Heróis na Tintin, mas tenho mais que fazer :P
João Figueiredo
ResponderEliminarPois, eu fiquei queimado com "alguns", assim adoptei essa regra:
só empresto livros para serem lidos em minha casa!
:P
Halotuga
O meu pai só me comprou Tintins do 4ºano até ao 8º. Tens mais dois anos que eu...
:D
Refem
Obrigado pela "info". Vou ver se essas Selecções são baratuxas, se não forem que se lixe!
:D
Todos são heróis à sua maneira e todos são também vilões à sua maneira, no fundo humanos. Julgo que é este um dos grandes trunfos de um livro que guardo como um dos melhores que li até hoje. O argumento de Van Hamme é fantástico, mas o desenho de Dany que se aventurava como dizes e bem num estilo mais realista, está fantástico. Pena é que nunca se tenha publicado em Portugal as aventuras de Arlequin (com Dany neste estilo), do qual só me lembro de ter lido um episódio que tinha o título estranho de Os Elefantes Largam as Penas ao Raiar da Aurora (se me lembro bem) na extinta revista Tintin. Por isso, fiquei muito satisfeito quando li o Transilvânia, pois gosto muito do realismo de Dany, ao contrário de alguns que só o vêem como autor de Olivier Rameau. Apesar de tudo, o Vinte Anos Depois, embora tenha uma intriga interessante não consegue o pleno como este álbum, apesar de o desenho continuar magnífico. Grande abraço.
ResponderEliminarJoão Amaral
ResponderEliminar"Todos são heróis à sua maneira e todos são também vilões à sua maneira, no fundo humanos. Julgo que é este um dos grandes trunfos de um livro que guardo como um dos melhores que li até hoje"
Acho que dizes tudo aqui!
:)
Gostava de conhecer mais trabalhos de Dany, mas o único que conheço , para além de Olivier Rameau, é mesmo o Transilvânia...
:(
Olá Bongop,
ResponderEliminarÓptima releitura!
O argumento do Van Hamme é realmente muito bom, quanto ao desenho do Dany gosto bem mais do trabalho dele no (fabuloso) Oliver Rameau...
Quanto ao 20 Anos depois, acho-o muito fraquinho a todos os níveis...
Abraço!
Pedro Cleto
ResponderEliminarE foi uma óptima releitura!
:)
Gostava muito de Olivier Rameau quando lia a revista Tintim, ainda me lembro vagamente da "bola-faz-de-conta" (penso que era assim que se chamava), mas prefiro um estilo mais realista. Gostei muito do trabalho dele em Transilvânia!
:)
Uma das minhas bandas desenhadas favoritas de todos os tempos. Infelizmente nunca consegui comprar o album e apenas a tenho nos velhos fasciculos Tintin.
ResponderEliminarLuis Peres
ResponderEliminarConsegues obter este livro razoavelmente bem no Miau e no Leilões.net!
;)