quarta-feira, 31 de julho de 2013

Diário Rasgado



Marco Mendes é autor de Banda Desenhada e ilustração, para além disso é também um dos fundadores do projecto editorial “A Mula”. Penso que este seu Diário Rasgado foi a sua entrada num mercado mais alargado e com uma distribuição razoável, até aqui apenas tinha publicado em formato fanzine ou parecido.

O Diário Rasgado é uma colectânea de módulos em formato italiano desenhados de 2007 a 2012, e foi lançado o ano passado pelo Mundo Fantasma. Como livro, está muito bom. A capa foi muito bem escolhida, é dura e o papel de muita qualidade. Uma boa edição sem dúvida! Uma mais-valia esta cuidadosa edição.


O primeiro impacto não foi o melhor, mas isso já era expectável porque não é o tipo de desenho com que eu vá logo de início, e o desenho é logo para onde normalmente os meus olhos se viram. Mas decidi que o livro merecia uma leitura mais atenta da minha parte, ainda por cima porque descobri que havia mais “lá para a frente” páginas de grande qualidade.

Marco Mendes apresenta aos leitores uma possível autobiografia . São retalhos de vida que ele expõe, muitas vezes cruamente, com uma “linguagem” perfeitamente anti-coloquial e sem se esconder atrás de nenhuma cortina.
Por vezes o discurso é deprimente, outras vezes possui um humor cortante próprio de quem está descontente com a vida que possui no momento.


Sendo que esta é uma obra ficcional com actores reais, por vezes temos mosaicos da vida perfeitamente exagerados, e também por vezes as situações são esticadas para os limites da realidade embora mostradas como perfeitamente passíveis de terem existido. Eu sei porque já as tive na realidade…

É claro que o discurso pouco polido está de acordo com o desenho deste autor. De qualquer modo nota-se uma melhoria do traço ao longo do livro e garantidamente mais para o final existem grandes páginas.Basta olhar para as datas em que as páginas foram feitas.
O que é uma pena. Preferia que ele tivesse ao longo do livro aquele traço agreste do princípio, ou então o mais trabalhado com que ele acaba o livro.


Esta gradação de traço provoca desequilíbrios gráficos no livro, há quem goste, pessoalmente não gosto. De qualquer modo isto é perfeitamente normal num livro que tem desenhos com cinco anos de diferença.

Em relação ao formato italiano do livro (decidi escrever agora isto porque estou a lutar com ele no meu colo), bolas… eu não gosto deste formato “deitado”.
Mas isto sou eu…é mesmo uma coisa muito pessoal, há quem goste muito!

Gostei do livro, mas teve hype a mais dentro do “mercado” de BD português e isso estragou um pouco a minha leitura. Tem grandes páginas, outras nem por isso, e esse factor desequilíbrio acaba por penalizar o livro na minha opinião.

Boas leituras

Hardcover
Criado por: Marco Mendes
Editado em 2012 pela Mundo Fantasma
Nota: 7,5 em 10

13 comentários:

  1. Mas é um diário gráfico Nuno, faz todo o sentido que se note mudança ao longo do livro :)

    Abraço

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  2. El estilo del arte es muy curioso, bastante peculiar. Se ve que es algo distinto.

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  3. Loot
    Não fiz crítica ao livro quando o li pela primeira vez porque o hype era grande e eu fiquei decepcionado quando depois de ler o livro descobri que afinal as história eram ficção, apenas os nomes das pessoas eram reais.
    Isto leva-me a pensar se o termo "Diário" será aplicável na sua plenitude.
    Existem diários ficcionais, mas por norma as personagens não são reais, ou seja o que o Marco Mendes fez foi usar uma série de pequenas histórias, ou módulos, do quotidiano em que as personagens são os seus amigos e ele próprio. Ora como estes fragmentos do quotidiano têm registos gráficos muito diferentes, eu considero que é uma obra desequilibrada.
    Para mais, eu questiono-me do porquê. Não tinha material suficiente para um livro e foi buscar coisas antigas?
    É que para mim só faz sentido aquela arte mais sketchy que ela usa nas páginas mais antigas se na realidade fosse um diário que reflectisse uma parte da sua vida real. Não sendo assim, este livro é apenas uma amálgama de fragmentos em que alguns dos painéis são excelentes graficamente, e outros não olho para eles duas vezes.
    A pergunta que me ficou disto foi:
    - Será que o Marco Mendes algum dia fumou um charro, ou apenas gostava de o fazer?
    LOL
    Sorry, tinha de brincar com isto...
    :P

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  4. Arion
    Sim, tem um estilo particular e quando se aplica faz boas páginas!
    ;)

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  5. Não conheço a vida pessoal do Marco Mendes, mas por acaso senti uma forte presença auto-biográfica no livro. Pode não ser o livro todo, mas a história com a namorada e os amigos, muito disso soou real, genuino, mesmo que tenmha sido ligeiramente alterado para construir uma cena de forma diferente. Como nos filmes inspirados na vida real mas trabalhados para fins emotivos ;)

    Eu não me lembro de ter havido nunca hype, porque nunca vi falarem muito deste livro. De qualquer das formas eu estou no grupo dos que gostou bastante. Mas 7,5 é um Bom na tua avaliação, não é má nota :P

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  6. Loot
    É natural que tenhas sentido isso. Eu também senti quando li a primeira vez! Mas depois vem o "ora bolas" que está no final que diz que as histórias apresentadas são ficção e que apenas as personagens são reais. Portanto a minha interpretação é de que isto não tem é autobiográfico, ou mesmo semi-autobiográfico!
    São apenas uma manta de retalhos de aventuras quotidianas.
    O Marco Mendes tem excelentes páginas neste livro, e a edição da Mundo Fantasma está supimpa! Por isso a minha nota. Porque a nível de histórias não está a esse nível, devido à falta de um desenvolvimento destas de modo a termos um livro sólido de argumento, e já estou a dar de borla aquelas páginas com um traço mais "rough".
    ;)

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  7. Eu vi isso mas presto-lhe pouca atenção, é normal que ele diga que é ficção no final do livro, tendo em conta a exposição.

    De qualquer das formas semi-autobiográfico não deixa de ter uma componente auto-biográfica. Como Portugal do Pedrosa que mistura realidade com ficção e tantas outras obras. Acho mesmo que há ali muita coisa genuína, mas tb não acho que perca com isso caso fosse tudo ficção.

    De resto não é um livro de histórias, mas momentos do quotidiano. E quanto ao desenho, gosto muito do traço dele, acho que ele tem grande domínio das técnicas que usa. A edição é boa, mas o papel não foi o mais adequado para captar o melhor possível os originais.

    abraço

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  8. Loot
    Para mim faz toda a diferença. E se aquilo que dizes for verdade, ou seja, ele dizer que é ficção por causa da exposição... bem aí ainda era mais grave. A isso eu chamaria de cobardia!
    Quando se faz este tipo livro, ou se abre a alma ou é melhor estar quieto.
    Por isso é melhor eu continuar a pensar que é mesmo, e apenas, ficção porque se fosse como tu dizes a minha nota baixaria muito.

    Quanto aos momentos do quotidiano. Sim foi assim que o entendi, uns melhores, uns piores, umas páginas muito boas, outras nem por isso!
    ;)

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  9. Risca isso, jamais poderia afirmar isso de alguém, não faço ideia as razões, e quando o escrevi nem pensei na exposição do autor mas dos outros que ele usa, não queria de todo induzir esse raciocínio, por isso desculpem lá isso.

    Como referi acho mesmo que é assumidamente semi-autobiográfico, ou seja, tem componentes da vida e tem ficção. Se for só ficção tem claramente inspiração da vida, como toda a ficção, por isso, não vejo grandes problemas nesta componente, acho que não interessa. Ou lês e é bom ou então não, o resto é conversa.

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  10. Já o li há um ano, mas tenho ideia que há lá uma prancha surreal, ou seja, nunca se poderia dizer que aconteceu e usar o termo biográfico.

    Mas parece-me que estamos a falar de algo com pouco interesse e a cair na especulação que é um pouco irrelevante. Fazia mais sentido falarmos da qualidade das histórias e se soam a genuinas quando foram lidas. A mim soaram, o livro cativou-me e foi uma bela surpresa, ao contrário de ti não tinha ouvido falar dele na altura, nem conhecia o autor e conheci-o pela Mundo Fantasma.

    abraço

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  11. Loot
    Sim, estávamos em entrar em especulação barata! LOL
    Bem, não acho o livro mau, apenas acho que poderia ser melhor. Tanta gente me teceu rasgados elogios que quando o li... não teve o efeito pretendido...
    Acho que sim, alguns fragmentos são muito bons, outros nem por isso.
    ;)

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  12. pco
    Olha somos dois!
    Acho que disseste perfeitamente em 4 palavras, aquilo que eu tentei dizer atrás.
    ;)

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