segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Blame!



Alucinante. É a palavra que me vem à mente. Alucinante, no bom sentido, adjectivo que me serve para descrever o estado de espírito em que me encontro após ter lido a obra Blame!, por Tsutomu Nihei.


Talvez porque, feita quase de um só fôlego, a leitura, tem a capacidade de nos transportar para uma dimensão paralela à da realidade: a da imaginação, quase onírica, a do autor. Este é um dos livros que andava há muito para ler e que, agora, por intermédio de renovada necessidade pessoal de me esclarecer, o decidi fazer. E não me arrependo. Antes pelo contrário.

É evidente que a temática cyberpunk é um aspecto muito importante do trabalho artístico. Se não o fosse, provavelmente não me teria chamado à atenção como chamou. O tema é importante porque nos direcciona a pesquisa, assim como o gosto. No limite, à obra de arte, o tema nem deveria estar em causa «porque o artista, independentemente de tudo, para ser completo, de forma explícita ou implícita, deve conseguir falar um pouco acerca de tudo, da melhor, mais "bela", maneira possível». Esta é a minha opinião, e como qualquer opinião minha... deixo em aberto a possibilidade de se poder discordar dela.

Ora, o cyberpunk é um subgénero da ficção científica que se caracteriza pelo desenho de sociedades altamente distópicas, em que se debatem as consequências de uma qualquer revolução pós-industrial, seja ela uma revolução em que as fronteiras entre o ser-tecnológico ou o ser-paranormal e o ser-humano se esbatem. Eu posso avançar que o meu interesse no tema vem, nas suas origens, da leitura de autores de ficção científica como Philip K. Dick, pelo que vos remeto para obras como "Do Androids Dream of Electric Sheep?" (inspiração do filme Blade Runner) ou "Ubik".



"Blame!" é uma obra de arquitectura monumental, no sentido literal da asserção. De cortar a respiração. O autor descreve-nos um ambiente agorafóbico, uma cidade inserida dentro de uma estrutura «net sphere» que pode ser vista quase como que alusão a uma «esfera de dyson» mas de contornos bem mais virtuais. Para quem não sabe o que é uma esfera de dyson, passo a explicar: refere-se a um conceito científico segundo o qual, um passo evolutivo natural de qualquer espécie avançada, seria construir uma mega estrutura à volta de uma estrela para que, desse modo, pudesse tirar o máximo proveito da energia disponível no sistema. No caso de "Blame!" não é certo que essa fonte de energia seja o sol, mas isso nem sequer interessa, deixa-se à especulação.

Admito que, numa nota pessoal, como muito acontece com este género de ficção, a manga de teor cyberpunk ou fantástica, me incomode que a acção se minimize (quase e somente) ao verbo «destruir». A obra é extensa, e ao fim de várias destas cenas «de destruição», quase gratuitas, quase que rogo para que se aprofunde a psicologia das personagens; em vão. Elas são: Killy, agente secreto de um sistema anterior ao actual, sistema esse que agora é gerido por contra-medidas «safeguards»; e Cibo uma ex-cientista de uma organização denominada corporação, acompanha Killy na sua demanda, a de procurar um marcador genético «net terminal gene». As outras personagens são, mais ou menos «carne para canhão», à medida que a dupla atravessa o espaço, aqui e ali pontuado por mega-estruturas, onde habitam: seres humanos; trans-humanos; ciborgues; construtores.



Depois, é uma obra totalmente cinemática: o autor oferece-nos uma visão dinâmica «a 360º» da viagem que é do nosso personagem através do labirinto. Sempre com um olhar de admiração ao desenho de um mundo adverso, a da leitura ao imaginário, como se o leitor estivesse a jogar um jogo de computador, a ver um filme ou, na realidade, a movimentar-se como Killy, de um lado para o outro, através de um mundo de extrema beleza, inquietação e maravilhamento.

Alucinante. Deveras.


2 comentários:

  1. oldboy t
    Em inglês os preços estão um pouco altos no Amazon visto que os livros estão esgotados. Podes tentar a ver se ainda existem nas lojas portuguesas, pode acontecer que haja sobras por cá, tipo Kingpin ou BDMania. No Porto existe a Mundo Fantasma.
    Se souberes francês tens estes livros a preços muito fixes no Amazon francês.
    Se nada disto for do teu agrado, podes sempre ler online, embora não seja a mesma coisa.
    ;)

    ResponderEliminar

Bongadas