Num mundo miserável, para sobreviver é necessário encontrar
uma forma de dar sentido ao mundo, e manter a esperança de que a Comunidade é
possível.
O livro The Road, tem como autor o norte-americano Cormac McCarthy sendo publicado 2006. Logo nesse ano ganha o prémio James Tait Black Memorial Prize na categoria de Ficção, e no ano seguinte o célebre Pulitzer Prize, também na categoria de Ficção tendo uma aceitação do público bastante grande, tanto que em 2009 resolveram fazer o filme, o tal com Viggo Mortensen e Charlize Theron.
Voltando para a nossa novela gráfica posso dizer que é sinistra, uma mistura de desolação com um vazio assustador. É a minha imagem de
apocalipse, sempre foi assim que o pensei, puro e duro.
O autor não nos diz o que aconteceu, apenas sabemos que faz
frio e a cinza cobre os céus e a terra. Podemos pensar em duas ou três situações que
tenham provocado este Inverno permanente, desde a guerra nuclear a um embate de
asteróide, ou uma actividade vulcânica extrema e radical.
Seja como for, a biosfera morreu e o ser humano vai
morrendo. Não há comida, não há calor, não há luz, ou seja, pior que um
apocalipse zombie.
Nesta história temos o Pai, temos o Filho e tínhamos a Mãe.
E temos uma Estrada.
Os dois caminham, tal qual zombies, ao longo da estrada,
cada metro é uma lição de sobrevivência. Caminham em direcção ao Sul, pois o
Sul devia ser quente, ao contrário do Norte cada vez mais frio. Mas num Inverno
de cinzas haverá um “Sul” quente?
Não se pode parar na estrada. Parar é morrer! Evitando os
grupos humanos que evidenciam a “extinção da alma”. Aqui faço parêntesis para
sublinhar algo que lemos há pouco tempo – 1629 Vol.1 : O Boticário do Diabo –
em que seres humanos são levados até ao limite onde essa tal “extinção da alma”
acontece, levando ser humano a fazer, e
cometer, actos inconcebíveis contra o seu semelhante.
E assim temos a violência inaudita, canibalismo e o vazio total da empatia.
O que eu não gosto neste tipo de livro é a grotesca realidade que sei que aconteceria num cenário destes. Sim, porque o meu problema é que isto aconteceria, e apenas para prolongar vidas perdidas. Não há o que comer literalmente (a não ser outros humanos), não há como aquecer, não há como viver. É uma extinção anunciada, em que alguns para viver mais uns dias cometem actos completamente inumanos covardemente. Sim, porque aqui a Mãe, na minha opinião, teve a decisão mais certa. O suicídio.
Mas o Pai vai sobrevivendo mais um dia na estrada. O filho segue-o sem saber bem o porquê de tudo ser assim. Ele sabe que existia um mundo que ele nunca conheceu anteriormente. No final dá um ar que o autor quer transmitir esperança, mas na minha opinião num mundo daqueles simplesmente não há.
Larcenet faz um excelente trabalho nestas duas figuras quase
anónimas, as fisionomias são quase sempre disfarçadas por sombras, gorros,
óculos ou simplesmente trapos a servir de máscaras anti cinza.
Os seus cenários conseguem evidenciar com brutalidade a perda civilizacional, sempre num registo cinza, usando a cor para situações especiais ou em que queira sublinhar uma emoção ou uma ideia.
O seu desenho é carregado de sugestões visuais indo da
desolação planetária, ao grotesco da inumanidade. Diria que é uma obra prima visualmente
per se, tanto graficamente como emocionalmente.
O meu único reparo é o vazio de algumas sequências que se
repetem várias vezes da mesma maneira fazendo com que o leitor incorra no
pecado de folhear mais rapidamente, não apreciando devidamente todas as
vinhetas.
O LBD recomenda a leitura deste livro.
« Pensa no que metes na tua cabeça, pois ficará lá para sempre » |
A ESTRADA
Editora: Ala dos Livros
Argumento: Adaptado do romance de Cormac McCarthy
Desenho: Manu Larcenet
160 páginas. Cor
Cartonado. 250 x 315mm
Edição Março de 2024
PVP: 32,90 €
Boas leituras
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