terça-feira, 20 de agosto de 2024

Brigantus Vol.1- Banido

 


- Lá, estará uma jovem de olhos claros à minha espera. Ela aquecer-me-á o coração com o seu sorriso.

 Mais um livro de Hermann, mais uma série de Hermann, e novamente escrito pelo seu filho Yves H.

Não vale a pena falar de Hermann, de como ele influenciou o meu gosto pela BD desde pequeno, com a série Jugurtha (o que eu adorava essa série), e depois de outras como Comanche, Bernard Prince ou Jeremiah que eu tenho no coração.

Muitos outros livros ele desenhou e pintou, uns melhores que outros, mas houve características que se foram ganhando e outras perdendo. A sua capacidade para grandes cenários com excelentes ambiências foi-se tornando mais rica com a idade, na minha opinião, em contrapartida a figura humana foi ficando mais feia, sendo que neste livro as faces das personagens por vezes roçam o grotesco. Esta também é a minha opinião.

Neste Brigantus, publicado em Portugal pela Arte de Autor, e analisando a sua arte, acho que é isso que acontece. Os cenários enevoados e pantanosos estão maravilhosos, mas alguns legionários romanos e habitantes Pictos poderiam fazer parte da minha colecção de personagens de pesadelos. Para dar um pouco de cor a estes soturnos cenários escoceses usa o sangue, e a cor dos uniformes romanos para contrastar com os mortiços  cinzentos.

E dito isto, não tenho nada a apontar à sequência gráfica aplicada à narrativa. É fluida e bem executada por um mestre extraordinariamente experiente neste mister.

Quem se lembra da última personagem (masculina ou feminina) bonita que Hermann desenhou? 😏  Não é que seja obrigatório haver “gente gira” a salpicar toda e qualquer história, mas é muita gente feia junta nos últimos livros Hermann.

Pronto, ele queria mostrar fealdade humana nesta série, em que pela primeira vez Hermann e Yves H. se cruzam com o mundo Romano, digamos que conseguiu… tanto na fealdade física, como a fealdade da alma.

Quanto à história propriamente dita é apenas uma apresentação simples do legionário Brigantus, denominado pelos seus “companheiros” como O Picto. Neste aspecto está mesmo um pouco básico.

Yves H. nunca escreveu histórias de renome ou excelência que me lembre, na minha opinião é competente e acompanha o seu pai Hermann já há muito tempo, o que lhe dá visibilidade no mundo da BD. Neste Brigantus faz apenas uma apresentação, uma bastante violenta por sinal, da principal personagem, a única que é minimamente trabalhada é Brigantus, sendo as outras meramente coadjuvantes para esse efeito.

O cenário geral é a tentativa de Roma conquistar toda a ilha Britânica, o que nunca conseguiu, e neste caso a Centúria de Brigantus estava a caminho dos fortes romanos mais a norte, já na Caledónia (Escócia), para os reforçar.



Mas não é fácil… existe o tempo adverso, a paisagem pantanosa, com a sua névoa típica e existem…  os Pictos que são uns chatos! 😋

Há muito a fazer pela história ainda, e o Leituras de BD espera que o segundo volume seja mais trabalhado por Yves H., porque na realidade um cartão de visita de 54 páginas sabe a pouco como apresentação.

 

Autores: Hermann & Yves H.
Edição: Cartonada
Número de páginas: 56 a cores
Impressão: a cores
Data de Edição: Março 2024
ISBN: 978-989-9094-43-7
 PVP: 18,50€
Editora: Arte de Autor

 

Desde já as minhas desculpas pela qualidade das digitalizações. Infelizmente não consegui fazer melhor, não fazem justiça às páginas de onde saíram.


Boas leituras

terça-feira, 16 de julho de 2024

Bizarrices: Bueno Excellente

 


Vamos voltar às bizarrices!

Agora com o “super-herói” Bueno Excellente  😏

Não podemos falar deste jeitoso sem falarmos da Section 8 (New Earth). Esta é uma equipa criada por Garth Ennis e John McCrea para o universo da DC. E não há ninguém que se aproveite aqui! Estão a ver o Esquadrão Suicida? Pois, estes Section 8 são um refugo do refugo desse refugo! O Esquadrão Suicida comparado com eles, são uns galantes heróis. Já agora, Section 8 é a designação militar para “mentalmente inapto para o serviço”.

A primeira aparição desta equipa de luxo com base em Gotham City, foi na revista Hitman #18 (1997). A equipa era formada pelos maravilhosos:

  • Sixpack
  • Bueno Excellente
  • The Defenestrator
  • Dogwelder
  • Friendly Fire
  • Jean de Baton-Baton
  • Flemgem
  • Shakes

São todos do melhor material para fazer parte aqui da secção das Bizarrices do LBD!

O nosso amigo Bueno tem como facetas de personalidade uma forte tendência para a perversão e sadismo. Fisicamente gordo e oleoso, um mimo com aquele bigodinho!

Não voa, não faz laser com os olhos, não tem super força....Como poderes, bem…  assusta e intimida as pessoas com ameaças e actos de agressão sexual, nomeadamente violação. Mas tudo para o bem!
Agora dizem, “Que poder idiota”. Certo, mas o que é mais certo é que do grupo todo, os únicos sobreviventes do embate com os The Many Angled Ones, foram o Sixpack e ele próprio.

Algumas particularidades... a namorada chama-se Guts e, como mostra a imagem, é um monte de entranhas (bizarrice sobre bizarrice).
Para além disso levou a sua perversão a uma noite com o Lanterna Verde Kyle Rayner, em que o drogou e enfim, o coitado só se lembra de uma voz que dizia “bueno  bueno…” 😂


Para além disso, os Section 8 meteram-se com o Lobo e a única maneira de se livrarem dele foi colocarem-no inconsciente e casarem-no com o nosso amigo Excellente. Noite de núpcias consumada e gravada, para chantagear o Lobo e pronto. Nunca se divorciaram, portanto desde o ano 2000 que são casados! 😂
Isto aconteceu na revista Hitman/Lobo: That Stupid Bastich.




Outra particularidade dele, e que lhe deu o nome, é que apenas diz bueno e excellente  🤷🏻

Para quem ainda é novo neste blogue, existe uma verdadeira secção de Bizarrices, e para a conhecerem (vão-se divertir de certeza) basta clicar neste link:     BIZARRICES



 

Boas leituras

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Bouncer Vol.12 - Hecatombe


Violência sem limites. Violência física, moral e emocional. Se os outros livros da série já têm estes predicados, este último tem-no em quantidades absurdas!
E lama, muita lama.

O nome adequa-se perfeitamente ao que se passa neste último livro do meu western favorito, e para a Hecatombe ser maior, até o livro tem o dobro das páginas dos outros tomos, que é para ficarmos mesmo pregados.

Jodorowsky volta à série depois de um interregno de dois livros. Tive medo que a série perdesse a loucura nesses dois livros anteriores, em que foi substituído por François Boucq, que assumiu o argumento também (o desenho já lhe pertencia).  Mas tal não aconteceu, Boucq foi “evangelizado” naquele tipo de escrita e quase nem se dá pela falta de Jodorowsky!

Esta série começou a ser publicada em Portugal pela ASA em 2002 que interrompeu em 2012. Em 2017 a editora Arte de Autor pegou nesta série publicando dois volumes duplos, e agora este Hecatombe que coloca a publicação portuguesa ao lado da francesa.
Para mais informação sobre livros mais antigos da série cliquem neste link


Assim, estão publicados em português:

  1. Diamante para o Além (ASA)
  2. A Misericórdia dos Algozes (ASA)
  3. A Justiça das Serpentes (ASA)
  4. A Vingança do Carrasco (ASA)
  5. O Fascínio das Lobas (ASA)
  6. A Viúva Negra (ASA)
  7. Coração Dividido (ASA)
  8. To Hell (Arte de Autor)
  9. And Back (Arte de Autor)
  10. O Ouro Maldito (Arte de Autor)
  11. O Espinhaço de Dragão (Arte de Autor)
  12. Hecatombe (Arte de Autor)

De notar que na edição portuguesa desta série, A Viúva Negra / Coração Dividido, To Hell / And Back e O Ouro Maldito / O Espinhaço de Dragão são álbuns duplos.

Alexandro Jodorowsky já é um argumentista muito visto por aqui, neste blogue. Ele tem a mania de se cruzar com grandes obras da BD mundial, portanto nem me vou alongar muito com ele, o seu apetite por violência, droga, deformações, religião, fetiches sexuais ou transformações do corpo humano estão presentes em quase toda a sua obra, e aqui não poderiam faltar. Se quiserem ver mais obras em que falo dele, é só clicarem no link

Boucq continuo a pensar que tem o seu melhor trabalho de vida nesta série, tem sido admirável de ler e apreciar a sua arte cinematográfica, os seus maravilhosos grandes planos, e as sequências loucas de perseguições e duelos em toda a espécie de cenários, desde neve ao deserto é simplesmente brutal. Podem apreciar em outros posts do Bouncer, aqui no LBD, a sua arte.

Passando ao livro. As sequências iniciais são deprimentes logo para abrir. Barro City está sob mau tempo há bastante tempo. Imagens nocturnas chuvosas e a lama nas “ruas” colocam logo o leitor no estado de espírito correcto para esta história. Um grande e brutal final de ciclo a fazer jus ao nome: Hecatombe.

Eu chamo a este ciclo iniciado no livro To Hell Vol.8 “A Maldição do Ouro Austríaco”, desde esse livro não houve mais paz, e a carnificina foi sempre em crescendo até este pináculo da brutalidade humana.

Jodorowsky sempre conseguiu nos seus livros fazer vir ao de cima o que de pior o ser humano consegue fazer, e com requintes de malvadez quase sempre. Para quem conhece a série Tenente Blueberry, esta a mim agora, depois de conhecer Bouncer, parece uma história de escuteiros. 😅

O Bouncer maneta do Saloon Infierno nunca foi muito poupado ao longo da série, mas desta vez supera-se no tão baixo que se pode sentir e cair, e supera-se também na arrancada final de vingança. Corpos e corpos ficam pelo caminho.
Uma história fascinante, com direito a sucessivas reviravoltas, passes de magia e um final que nos deixa o estômago pesado.

Como notas menos boas, existe um plot hole básico no argumento e por vezes Boucq perde um pouco a qualidade, a espaços (poucos), que estamos habituados nele. Também não gostei muito de uma cena no final, mas pronto, nada que faça deslustrar este massacre. 😋
Já agora...  também senti a falta das páginas duplas com que Boucq me maravilhou ao longo da série. Este livro tem 140 páginas e não possui nem uma splash page. 😕

Por mim a série acabava aqui. E acabava com a honra de ser uma das melhores séries que li

O LBD recomenda este livro, e esta série.

Argumento: Alexandro Jodorowsky
Desenho : François Boucq
Edição: Cartonada
Número de páginas: 144
Formato : 232 x 310 mm a cores
Data de Edição: Novembro de 2023
ISBN: 978-989-9094-39-0
PVP: 31.00€

 


Boas leituras

sábado, 6 de julho de 2024

A Estrada

 


Num mundo miserável, para sobreviver é necessário encontrar uma forma de dar sentido ao mundo, e manter a esperança de que a Comunidade é possível.

 Nunca li o famoso livro pós-apocalíptico que dá origem a esta novela gráfica, nem tão pouco vi o filme com o Viggo Mortensen e também não gosto de ler livros deste género, são os meus verdadeiros livros de terror.


O livro The Road, tem como autor o norte-americano Cormac McCarthy sendo publicado 2006. Logo nesse ano ganha o prémio James Tait Black Memorial Prize na categoria de Ficção, e no ano seguinte o célebre Pulitzer Prize, também na categoria de Ficção tendo uma aceitação do público bastante grande, tanto que em 2009 resolveram fazer o filme, o tal com Viggo Mortensen e Charlize Theron.

Voltando para a nossa novela gráfica posso dizer que é sinistra, uma mistura de desolação com um vazio assustador. É a minha imagem de apocalipse, sempre foi assim que o pensei, puro e duro.

O autor não nos diz o que aconteceu, apenas sabemos que faz frio e a cinza cobre os céus e a terra. Podemos pensar em duas ou três situações que tenham provocado este Inverno permanente, desde a guerra nuclear a um embate de asteróide, ou uma actividade vulcânica extrema e radical.

Seja como for, a biosfera morreu e o ser humano vai morrendo. Não há comida, não há calor, não há luz, ou seja, pior que um apocalipse zombie.

Nesta história temos o Pai, temos o Filho e tínhamos a Mãe. E temos uma Estrada.

Os dois caminham, tal qual zombies, ao longo da estrada, cada metro é uma lição de sobrevivência. Caminham em direcção ao Sul, pois o Sul devia ser quente, ao contrário do Norte cada vez mais frio. Mas num Inverno de cinzas haverá um “Sul” quente?

Não se pode parar na estrada. Parar é morrer! Evitando os grupos humanos que evidenciam a “extinção da alma”. Aqui faço parêntesis para sublinhar algo que lemos há pouco tempo – 1629 Vol.1 : O Boticário do Diabo – em que seres humanos são levados até ao limite onde essa tal “extinção da alma” acontece, levando  ser humano a fazer, e cometer, actos inconcebíveis contra o seu semelhante.
E assim temos a violência inaudita, canibalismo e o vazio total da empatia.

O que eu não gosto neste tipo de livro é a grotesca realidade que sei que aconteceria num cenário destes. Sim, porque o meu problema é que isto aconteceria, e apenas para prolongar vidas perdidas. Não há o que comer literalmente (a não ser outros humanos), não há como aquecer, não há como viver. É uma extinção anunciada, em que alguns para viver mais uns dias cometem actos completamente inumanos covardemente. Sim, porque aqui a Mãe, na minha opinião, teve a decisão mais certa. O suicídio.

Mas o Pai vai sobrevivendo mais um dia na estrada. O filho segue-o sem saber bem o porquê de tudo ser assim. Ele sabe que existia um mundo que ele nunca conheceu anteriormente. No final dá um ar que o autor quer transmitir esperança, mas na minha opinião num mundo daqueles simplesmente não há.

Larcenet faz um excelente trabalho nestas duas figuras quase anónimas, as fisionomias são quase sempre disfarçadas por sombras, gorros, óculos ou simplesmente trapos a servir de máscaras anti cinza.

Os seus cenários conseguem evidenciar com brutalidade a perda civilizacional, sempre num registo cinza, usando a cor para situações especiais ou em que queira sublinhar uma emoção ou uma ideia.

O seu desenho é carregado de sugestões visuais indo da desolação planetária, ao grotesco da inumanidade. Diria que é uma obra prima visualmente per se, tanto graficamente como emocionalmente.

O meu único reparo é o vazio de algumas sequências que se repetem várias vezes da mesma maneira fazendo com que o leitor incorra no pecado de folhear mais rapidamente, não apreciando devidamente todas as vinhetas.

O LBD recomenda a leitura deste livro.

« Pensa no que metes na tua cabeça, pois
ficará lá para sempre »

A ESTRADA

Editora: Ala dos Livros

Argumento: Adaptado do romance de Cormac McCarthy

Desenho: Manu Larcenet

160 páginas. Cor

Cartonado. 250 x 315mm

Edição Março de 2024

PVP: 32,90 €

 

Boas leituras

sexta-feira, 5 de julho de 2024

East of West - One
The Promise

 


The dream is over.

Imaginem que a História da Terra é um pouco diferente, que a sangrenta guerra civil que deu origem aos EUA não tinha sido ganha pelo norte, aliás, não tinha sido ganha por ninguém e agora temos sete nações no seu lugar, tudo ambientado num futuro estranho, com muita tecnologia, metafísica e paisagens far-west.

Imaginem também que é revelada ao mundo uma profecia. Profecia essa que adquiriu a designação de A Mensagem. Mensagem essa que profetiza nada mais nada menos que o Fim do Mundo. E para garantir que a Mensagem é cumprida existem os Escolhidos, Escolhidos estes que acreditam piamente na Mensagem a querem levar até às últimas consequências.

E quem vocês imaginam que serão os arautos deste Fim do Mundo? Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, claro está: Morte, Fome, Guerra e Conquista.
Desde que a Mensagem se tornou completa que estes quatro seres nas suas manifestações físicas tentam levar a profecia à sua conclusão.



Mas, imaginem que um deles se apaixona…

Este é um livro de vingança por parte da Morte, uma distopia maravilhosa de Jonathan Hickman, ilustrado pelo lápis de Nick Dragotta com cores de Frank Martin e legendagem de Rus Wooten

Mal saiu a 1ª revista pela Image Comics em 2013, esta esgotou na 1ª semana. Série louvada por todos quanto a leram, premiada pela Diamond e aplaudida pela crítica especializada.
A série foi terminada em 2019, compilada em dez TPB’s e três Oversized HC’s.



O que eu posso dizer.
A leitura é alienante. Hickman vai encaixando as peças aos poucos sempre que necessário,  o ritmo acelera e cai de um modo vai deixando o leitor ansiando sempre por mais. Temos alternâncias entre passado e presente e é neste jogo que vamos descobrindo o que está por detrás das emoções que atravessam as personagens principais, e que provocam as suas acções por vezes não adivinhadas pelo leitor.
Um Hickman fantástico na escrita.
Como contraponto, por vezes perde-se em diálogos pouco verosímeis desnecessariamente. Salvo erro apontei isto mesmo no meu artigo sobre o Ultimate Spider-Man, onde esse seu pecado por vezes acontece também.


O desenho é dinâmico com uma narrativa gráfica clara e sem confusões. Dragotta tem um traço limpo e bonito que se adapta perfeitamente ao argumento. As expressões faciais são muito boas, sobretudo no caso da Morte. Não há uma única personagem descrita graficamente à toa, a sua representação, e expressão gráfica, tem sempre a ver com a personalidade de que foi imbuída por Hickman, e o lápis de Dragotta torna essa visão uma realidade.

A cor de Martin está perfeita para o ambiente criado por Hickman e Dragotta, sem grandes invenções que tornassem o bonito traço de Dragotta menos legível.
Wooten tem uma legendagem eficaz, mudando a font para um estilo mais Itálico em cenas do passado, ambientado também por uma diferença na cor de Martin que passa a ter um tom mais vintage nessas páginas. Relativamente à balonagem estes não são os meus balões preferidos de certeza, mas pronto, também não são maus. 😅

O LBD recomenda esta série, infelizmente nunca editada em Portugal.

Boas leituras

sábado, 29 de junho de 2024

As Águias de Roma - Livro VI

É uma das minhas séries preferidas da BD europeia, a primeira em que Enrico Marini se abalançou a fazer também o argumento. A ASA tem publicado todos os volumes, felizmente, desde 2011. Penso que o volume 7 sai em França em Outubro deste ano.

E sinceramente gostaria que fechasse a série, esse volume 7, mas pelos vistos está previsto o volume 8 para Outubro de 2025…. 

Marini fez um grande interregno entre o volume 5 e este volume 6, foram “só” sete anos sem notícias desta série. Nos entretantos Marini andou de volta do Batman: O Príncipe das Trevas, Noir Burlesco e O Escorpião, obras essas também editadas em português pela Levoir (Batman) e Seita/Arte de Autor no caso do Burlesco.

Em relação ao Escorpião foram publicados alguns volumes pela ASA, mas neste momento existe um hiato de publicação em português dessa série em Portugal. O último a ser publicado cá foi o Volume 6, mas a série já vai no Volume 14 em França.

Tudo isto para explicar que Marini andou “perdido” noutras séries e deixou a excelente Águias de Roma parada.

E sinceramente, se não há vontade de continuar a série que faça um volume com um final decente que satisfaça a maioria dos leitores e fãs da série, nos quais eu me incluo.

Vou começar pela arte, a parte em que Marini é mais forte.
Pois é, só que neste caso nem por isso. Depois de cinco volumes fantásticos artisticamente, na minha opinião, faz um sexto volume tosco comparado com o volume anterior, por exemplo.

A arte perdeu o detalhe, perdeu os grandes planos e sinceramente até parece outra pessoa a fazer aquelas páginas. Como disse atrás, se ao fim de sete anos não há vontade de continuar, que embrulhe um final decente e depois parta para outros projectos

Como muleta serve-se dos nus e belas mulheres para ofuscar um pouco os olhos do leitor, só que isso sinceramente nus sem necessidade e sem envolvência da necessidade ao nível do argumento só serve para adolescentes com as hormonas aos saltos.

Passando para o argumento, bom, saltamos da vergonhosa derrota Romana na Germânia contra Armínio, e depois daquele final brutal (não vou dar spoiler a quem não tenha lido), Marcus é desonrado pelo próprio Imperador Augusto e resolve afogar as mágoas em sangue, entrando livremente para combates na arena.

Depois vamos ter a trama e intriga política posteriores à morte do Imperador Augusto, com a linha narrativa do destroçado Marcus a cruzar-se com as grandes personagens Romanas em intrigas que o vão levar de novo à Germânia.

A história arrasta-se um pouco a espaços, mas pronto, não é por aí que este livro me desiludiu.
Espero, espero mesmo, que Marini se eleve novamente nesta série para o próximo livro.
Este volume 6 pagou a factura de um hiato de 7 anos. Esperemos que não volte a acontecer.

 


Boas leituras



terça-feira, 25 de junho de 2024

Ultimate Spider-Man #1 a #6
(2024)

 

A minha relação com o Homem-Aranha ficou muito complicada em 2007 com o arco, para mim final, One More Day. Era o meu herói preferido da Marvel, e decidi encerrar e guardar todas as boas recordações que tinha deste herói desde miúdo nesta altura. Nunca perdoei à Marvel ter feito isto com o Spider-Man. 🤷🏻

Foi uma personagem que cresceu (literalmente) comigo, mais devagar, claro, mas foi crescendo, andou no liceu, acabou o liceu, foi trabalhar, formou-se, casou… enfim, foi dos poucos heróis “normais” que foi vivendo e envelhecendo, tal como nós. Essa era a magia do Homem-Aranha para mim, mas há sempre um iluminado que acaba por ter uma ideia de bosta qualquer, e ninguém tem a coragem de dizer que não. No caso foi um tal de Quesada.

A partir daí só comprei um livro do Spider-Man, foi o Back in Black que é imediatamente posterior ao evento Civil War e termina precisamente mesmo antes do One More Day.

Já me tentaram com diversas leituras do Aranha ao longo do tempo, mas nunca quis ler novamente para não me estragar boas memórias, já nem é sequer ser uma má ou boa história, ou arco, é simplesmente outro herói vestido da mesma maneira que o “meu” Aranha.

Tudo isto para dizer que me tentaram novamente com o Aranha, desta vez com o Ultimate Spider-Man (2024). O universo Ultimate sempre me atraiu um bocado, porque era um universo alternativo que por norma tinha um take moderno sobre personagens mais clássicas, e alguns dos livros da Marvel que mais gostei eram precisamente deste universo, exemplo de topo para mim: The Ultimates Vol. 1: Super-Human e The Ultimates Vol. 2: Homeland Security.
Foram dois livros que adorei cada página.

Assim sendo, o meu amigo Hugo Silva deixou-me as primeiras quatro issues desta nova série, e como se passa num universo Ultimate decidi experimentar, mas como não gosto de fazer reviews de revistas, porque nunca podemos dizer se são boas ou não, depende sempre da envolvência da história (daí eu apenas comprar por norma as edições colectadas), resolvi ler online as duas seguintes para poder ter uma ideia melhor deste 1º arco.

Mas já que estou a escrever, vou encher aqui uns quantos chouriços com um bocado de história. Ultimate Spider-Man foi a primeira franquia do universo Ultimate da Marvel. A primeira revista saiu em Setembro de 2000 e num instante se tornou um sucesso. Mark Bagley no desenho e Brian Michael Bendis na escrita deram corpo no papel a estas novas histórias do Aranha e a aposta de Bill Gemas (editor) neste Universo tornou-se um sucesso, apesar dos cepticismos de Joe Quesada (o outro editor), o tal que eu amo por ter obrigado o arco One More Day a existir.

Ultimate Spider-Man teve existência de 2000 até 2011, sempre com o argumentista Brian Michael Bendis à frente da franquia. Os desenhadores foram três: Bagley, Immonen e Lafuente.

A Marvel decidiu no final de 2023, com a conclusão de Ultimate Invasion e a criação do novo universo Ultimate, recriar novamente o título Ultimate Spider-Man em 2024 com o argumentista Jonathan Hickman e Marco Checchetto no desenho.

Em relação a estes dois autores, e começando por Hickman, este é um argumentista que trabalhou muito na Image Comics, tem uma marca muito forte na Marvel, já passou por muitos títulos diferentes, tem coisas que gosto bastante, mas por vezes é bastante lento no desenvolvimento da história e das personagens. De resto Avengers, The New Avengers, Fantastic Four, vários títulos Ultimate, e uma passagem por títulos X-Men também, demonstram que este argumentista tem história nesta editora.

Marco Checchetto é um artista que gosto muito, há muitos anos. Comecei a conhecê-lo e apreciá-lo quando o conheci no Anicomics de 2012 (grandes memórias, certo Mário?). Era o artista em dois títulos com excelentes críticas: Daredevil – Shadowland e Punisher Vol.1 (2011). A partir daí quando via o nome de Checchetto na capa de um livro sabia que pelo menos na arte havia qualidade. Tem trabalhado bastante para a Marvel também ao longo dos anos.

Como características é possuidor de um traço muito bonito, sobretudo ao nível das expressões, a sua narrativa gráfica é exemplar, com grande clareza e fluidez. Infelizmente por vezes o argumentista não deixa este homem voar…

Passando finalmente para estas seis revistas.
Então isto começa da seguinte maneira (traduzido do prólogo da revista):

O Criador Vinte anos atrás, impediu que uma aranha radioactiva picasse o jovem Peter Parker. Ele também impediu a criação de quaisquer outros super-heróis e formou um conselho secreto para governar o mundo na sombra. Quando Tony Stark descobriu a história sombria deste universo, ele procurou desfazê-la – levando o conselho do Criador a atacar Manhattan, matando milhares de pessoas, e incriminar Stark por isso. Peter Parker viveu toda a sua vida sem saber do conselho do Criador ou da verdade por trás da aranha, mas isso está prestes a mudar...

Pronto, dados lançados para um universo novo, tipo What if. Peter é casado com a Mary Jane, tem dois filhos, e o seu tio Ben é vivo e grande amigalhaço do nosso JJ. A tia May faleceu (inacreditável seja em que universo for 🤷🏻‍️) no ataque a Manhattan.

Depois temos um leque que personagens que vão alimentar muito a trama, como o Kingpin, Bullseye, DareDevil, Gwen Stacy, Octopus, e o grande Duende Verde. Agora quem é vilão e quem é bonzinho, isso têm que ser vocês a descobrir 😅

São seis revistas com uma história forte, com boa estrutura, as personagens são muito bem trabalhadas, sempre tudo com muito pormenor para dar tridimensionalidade a todas elas.

A estrutura familiar do Peter Parker está muito bem construída, todos têm a idade correcta de acordo com os pressupostos da história, a personalidade de todos está muito bem impressa nas suas reacções e expressões faciais.

Penso que nas próximas seis revistas teremos surpresas maiores que aquelas que tivemos nestas que lançaram a série. De qualquer modo seria injusto se dissesse que não tinha sido um pouco surpreendido em duas ou três situações.

Hickman dá-se a um trabalho monstro de em seis revistas “engordar” seis personagens com toneladas de história, para que sejam credíveis nas suas acções, tanto no presente como futuramente. Ele construiu estas personagens com muita filigrana, ao mesmo tempo que as fazia interagir para criar boa dinâmica entre elas.

O negativo disto tudo, de toda esta construção meticulosa de personagens é a história poder tornar-se chata a espaços. Sim, porque a narrativa é mesmo bastante lenta por vezes. Tem uma cena, salvo erro na revista #4, de um encontro entre Peter, Harry, MJ e Gwen, que me fez lembrar as célebres "cabeças falantes" do Bendis  muita conversa só de cabeças, irra!
Quem queria ver muitas cenas de acção com o Aranhiço, desengane-se, não há assim tantas, afinal Peter torna-se no Aranha sem experiência, já adulto e pai de filhos.

E pronto vou finalizar com um buraco visual/narrativo completamente escusado numa história tão bem estruturada…  páh…  O Peter tem uma conversa familiar importante com toda a sua família na última revista, tipo estamos no pequeno almoço e aparentemente o Sol estava a nascer, e a mesa tem um set up de pequeno almoço: panquecas e sumo. Quando acaba a conversa passa a ser de noite e manda-os páh cama?? 😳
Não sei de quem foi a culpa desta confusão, ou foi o Hickman, ou foi o Checchetto. (Ou foram os dois?)

Já agora, nunca é demais falar na arte de Checchetto, dá uma excelente atmosfera, as cenas de acção estão muito boas e tem pormenores de expressão nas personagens de excelência. Este artista italiano só pode levar louvores aqui, e para mais, consegue fazer uma May deliciosa 🤗

Tenho de referir também que na revista #4 e #5 o artista de serviço é David Messina, que não deslustra em nada a série.
E pronto, é uma série stand alone para já, que permite a abertura a qualquer novo leitor, basta ler o prólogo e os dados da história estão lançados.

Obrigado Hugo pelo empréstimo das revistas, quem me conhece sabe que eu só compro revistas quando por algum motivo me dá uma coisinha menos boa na cabeça. Ty!

 

Boas leituras

sábado, 15 de junho de 2024

1629 Vol.1 - O Boticário do Diabo
... ou a história apavorante dos náufragos do Jakarta


 "- Para nós, o mar cheira a puta velha, e o nosso barco tresanda a uma mistura de merda e vómito."

Para início de viagem, desta viagem, isto coloca logo tudo no devido lugar.

Conheço mais ou menos bem a história do Batávia (traduzido para Jakarta) devido a uma investigação que fiz aos primórdios da Austrália anos atrás. Embora não vá falar dos eventos históricos que me chamaram à atenção na altura, para não fazer spoiler à conclusão da narrativa do final do 2º volume.

Este horrendo drama histórico é base para um excelente prefácio do próprio autor, Xavier Dorison, que traça aí uma ligação ao livro do psicólogo norte-americano Philip Zimbardo: The Lucifer Effect: Understanding How Good People Turn Evil. Ou seja, como uma pessoa boa ou perfeitamente normal é capaz das maiores atrocidades se as condições espaço-sociais se propiciarem a isso. Aconselho a leitura do prefácio, não é comprido nem chato e dá logo uma luz do que vamos estar prestes a testemunhar: a extinção da alma.

De notar também que a narrativa de Dorison é uma adaptação da história verídica dos acontecimentos descritos nesta viagem, mas foram incluídos também elementos ficcionais para melhorarem a transposição para a banda desenhada, e colar melhor a atenção do leitor ao livro, tudo isto sem deturpar a parte real da tragédia.

Depois desta primeira introdução, vou falar da minha relação com histórias de piratas ou ambientadas em aventuras marítimas do séc. XV ao séc. XVII. Nunca fui de predisposição inicial para pegar nelas, sejam literatura ou BD, ainda me lembro que levei uns tabefes ligeiros para ler a Ilha do Tesouro! Mas depois de começar, e se a história for boa, já não largo mais. É assim comigo também nos Westerns. Manias! 🤷🏻‍♂️
Comecei em BD neste tipo de registo há muitos anos (muitos) com os dois livros da Íbis da série Howard Flynn e lembro-me que gostei, embora não fosse o meu género preferido.

Desde essa altura já li muitas aventuras do género, e já bocejei muitas vezes também, portanto aquela parte do been there, done that costuma andar por aqui algumas vezes, e estava com medo que me acontecesse aqui sobretudo depois de Dorison ter escrito também o argumento do Long John Silver (editado cá pela ASA) há poucos anos. Mas não aconteceu. 🙂


 Tenho uma boa relação com a obra de Xavier Dorison. Começou há muitos anos com o O Terceiro Testamento (Witloof) que adorei, e mais recentemente com o O Castelo dos Animais (Arte de Autor) e Undertaker (Ala dos Livros). Gosto da estrutura, força e fluidez que costuma imprimir nas suas narrativas e esta adaptação não foge a esta trindade de predicados que um argumento deve ter.

Não é fácil escrever uma história num enredo já muito visto, ambientado na altura do comércio marítimo e pirataria, tráfico de riquezas, motins e donzelas em perigo no mar, violência, fome e sede a bordo, enfim…  para sobressair tem de ser muito bem contado. Penso que Dorison o conseguiu. Não é nada de inovador, já foi contado muitas vezes, mas a leitura deste livro torna-se bastante interessante e o leitor não sai defraudado.

As primeiras páginas vão definir o clima. A escolha dos responsáveis do navio, duas pessoas que se odiavam e depois uma terceira desconhecida, mas que podemos pensar logo que não é flor que se cheire. Logo de seguida é-nos apresentada Lucrécia Hans que ao longo do livro é por vezes a narradora que faz a cola entre várias cenas de acção. E é uma bonita jovem aristocrata obrigada a ter de embarcar para ir ter com o seu marido a Java.

Com o passar das páginas as personagens vão sendo desenhadas e aprofundadas aos poucos, num enredo sombrio, e numa narrativa que se vai tornando sufocante e violenta em crescendo. Aquele navio foi montado para “explodir” pela Companhia Holandesa das Índias Orientais. Com uma carga enorme de ouro e jóias e uma tripulação do crème de la crème dos párias que tinham sido rejeitados por outros barcos não havia como falhar! Como condimento temos o Comandante Pelsaert, um disciplinador inflexível a quem é dado o comando do Jakarta para chegar a Java em 120 dias, ou seja, muito curto. Do Imediato, o nosso amigo Boticário, não falo, é para vocês descobrirem a ler o livro. E por tudo isto, um motim está sempre na ordem do dia! 🤷🏻‍♂️

Este livro aflora também problemas da época, como a posição social das mulheres, religião em algumas das suas vertentes (Luteranismo, Ateísmo, etc.) e o clima ditatorial que se vivia tanto dos Directores da Companhia em cima dos Oficiais, como dos Oficiais em cima dos tripulantes. O contacto e comércio com tribos africanas também é aflorado, na Serra Leoa, com alguns problemas inerentes à diferença de cultura, e visto que neste caso o Jakarta não era um navio negreiro, surgiam outro tipo de problemas.

Deixo o resto para vocês descobrirem 😎

Para ilustrar e dar vida ao argumento de Dorison foi escolhido Timothée Montaigne, um desenhador que já havia trabalhado com Dorison em Long John Silver, Castelo dos Animais e Terceiro Testamento.

E sim, Montaigne dá vida ao argumento e dá lustro a esta história. Ele adequa o seu estilo de modo a dar o tom a esta história negra. Consegue ser sufocante no estreitamento visual de algumas vinhetas, para depois explodir em enormes painéis de página dupla. Aquela sensação de claustrofobia da vida a bordo, misturada com caras de fisionomia paranóica está bem marcada em muitas páginas, sobretudo quando evocam a brutalidade a bordo.

Os detalhes que Montaigne aplica neste livro são maravilhosos, sobretudo quando estamos a falar no navio Jakarta, tanto nos interiores como exteriores deste barco, e os detalhes não atrapalham minimamente a fluidez da narrativa da sua arte. É dinâmico! Por isso uma segunda leitura é necessária, para podermos colocar os olhos nos detalhes e pormenores, parar e apreciar.

Clara Tessier deu cor à arte de Montaigne. A sua palete de cor muda drasticamente quando estamos no interior do navio, um ambiente escuro e deprimente, para os tons muito claros e luminosos (duh…  estamos no mar, néh?) no exterior, excepto tempestades… aí passamos novamente para os tons escuros e deprimentes 😅 A sua coloração da costa da Serra Leoa estava muito bonita. Gostei.

Falando do livro como objecto. Aqui não há dúvidas que estamos perante um excelente trabalho do editor/livreiro Mário Freitas e da editora Arte de Autor. Mário Freitas foi responsável pela paginação, tradução e excelente legendagem deste livro. Fez um excelente trabalho, aliás, um livro destes não mereceria outra coisa a não ser excelência, por quem edita e trabalha nele. Mas...  e a capa? Meu Deus, a capa! É linda com texturas para serem sentidas enquanto se manuseia este livro 💚

Agora falta-me saber quando vamos ter o segundo volume, visto que ainda não foi publicado em França.
O LBD recomenda a leitura deste livro.



 

1629 vol 1: O Boticário do Diabo
Autores: Xavier Dorison e Timothée Montaigne
Editora: Arte de Autor
Páginas: 136, a cores
Encadernação: capa dura
Dimensões: 235 x 310 mm
ISBN: 978-989-9094-36-9
PVP: 34,95€

 Por informação da editora Arte de Autor, o volume 2 que completa a obra vai ser publicado no final do deste ano de 2024.

Boas leituras


quarta-feira, 12 de junho de 2024

XIX Festival Internacional de BD de Beja
Opinião e Reflexões

 


Hoje vou falar desta última edição do Festival Internacional de BD de Beja, a 19ª vez que se realizou.

E quero frisar que este é um evento que está no meu coração desde a sua 4ª edição. Nunca me irei esquecer dessa primeira vez que lá estive presente (ainda me lembro que choveu bastante) e que Dave Mckean autografou o meu Absolute Sandman com um duplo desenho.



Também quero expressar que, com o tempo e as minhas colaborações com este evento, acabei por ter benefícios por isso, mas essa nunca foi a razão da minha aproximação a este festival. Mesmo sem esses benefícios desde 2020 nunca deixei de ir ao evento, apreciando todos os momentos, todas as conversas e todos os novos contactos. Sempre foi o meu evento de BD do coração e nunca o escondi em todas as opiniões sobre ele que publiquei.

Era o único festival de BD, digno desse nome, com ambiente mágico e impregnado de energia positiva em Portugal. Foram momentos únicos com autores, editores, organizadores e amigos que ficaram retidos na minha memória!



Penso que posso dizer que acompanhei de perto a história deste evento, apenas não fui às primeiras três edições, tanto nos seus melhores anos assim como nos anos mais difíceis, por isso penso que consigo ter um olhar bastante abrangente sobre este festival de BD.

O FIBDB sempre viveu de um ambiente de sinergias e relações fortes entre os vários protagonistas deste festival: coordenação e estrutura (Paulo Monteiro, Bedeteca e Câmara), editoras, livreiros, artistas e divulgadores, e isso fez que este festival tivesse essa energia diferente, essa força que outros com mais orçamento nunca tiveram. Era um evento grande, mas ao mesmo tempo muito familiar.

Penso que este ano algo se perdeu pelo caminho, e logo num ano que deveria ser especial visto que esta edição seria em homenagem a uma grande alma alentejana deste evento, o Professor Baiôa. Parafraseando a minha mulher:
Florival Baiôa Monteiro, professor de profissão, mas ainda maior Professor na vida, na alegria, no saber, na partilha.
Este homem fez as delícias aos Domingos de manhã dos visitantes deste festival de BD, durante todos estes anos. Éramos transportados magicamente para a Beja do passado num passeio Histórico sempre bem-disposto e cheio de informação, daquela que não se aprende na escola.


Porque é minha opinião de que algo se perdeu pelo caminho? As pessoas andavam um pouco deslaçadas, não senti aquela alegria de mais um FIBDB, o Paulo Monteiro pareceu-me muito ansioso/nervoso, e importante: a ausência de uma grande força da BD portuguesa no evento.

A Arte de Autor não tinha apresentações, nem lançamentos na programação do Festival. Isto é no mínimo estranho. Sendo uma editoras com um volume grande de livros e importância de mercado em Portugal, e tendo estado sempre presente com lançamentos e apresentações, foi esquisito a sua notada ausência.
Pronto, para mim apenas me fez pensar que se calhar até estou correcto nos meus sentimentos em relação a esta 19ª edição.


E já agora, não se compreende a quebra da tradição da data do 1º fim de semana deste festival, adiando para o fim de semana seguinte a sua realização, apenas porque o Maia BD marcou o seu evento para uma data próxima. Mais uma acha para aquela fogueira de que tenho estado a falar. O Paulo Monteiro garantiu-me que para o ano volta para a data normal.

Ao nível de individualidades da BD europeia, tivemos Tardi, Miguelanxo Prado e Javier Rodriguez. Tiveram grandes apresentações na Bedeteca. Depois tivemos alguns autores menos conhecidos como os italianos Conca e Ciapponi ou o francês Alix Garin, e pronto não vou enumerar todos os autores, mas não foi um grande ano de autores também, na minha opinião.


As exposições, aparte os excelentes quadros com pranchas originais, estavam sem alma ou chama, entristece-me dizer isto, mas estavam na generalidade banais na sua envolvência, eram meros quadros pendurados. Antigamente não era assim!

Apenas a exposição de Javier Rodriguez me fez ficar um pouco mais satisfeito, talvez pela diferença temática e de traço em relação a todos as outras, e também por estar numa ala bem iluminada por luz natural indirecta na altura em que a visitei.
Estavam duas (ou três) exposições no piso “-1“ sem indicação, ou indicação com má visibilidade, da sua existência, (Mário Freitas e Lucas Pereira e “Portugal em Bruxelas” (de um colectivo de autores), a que apenas fui por indicação de um amigo que por lá passou.


A Feira do Livro estava confusa, ao contrário de outros anos. As separações de editoras em algumas mesas não eram evidentes, várias temáticas misturadas, em algumas zonas os livros tanto estavam em português, castelhano, inglês ou francês, eram salpicos multilinguísticos que baralhavam qualquer visitante. Mas pronto, quem soubesse o que queria, que era o meu caso, não se iria perder com nenhuma confusão.

Pronto, não vou bater mais. Espero que para o ano esteja tudo com mais leveza.
Festivais de BD são sempre necessários, mas como sempre disse neste meu blogue, não basta dizer que é um festival, há que fazer melhor, inovar! E quando não se consegue melhor ou inovação, tentar que seja pelo menos igual ao melhor que já fizemos, e o FIBDB já teve festivais de excelência, tanto no ambiente como no tratamento de exposições. Os autores… os autores uns anos melhores outros piores, não dá para controlar muito.

Podem ver um filme de 5 minutos que fiz no dia 8 (Sábado), já aqui a seguir:


O Festival vai estar aberto ao público com as exposições e feira do livro (e outras actividades), portanto se puderem passem por lá. Fica também o link do programa aqui em baixo:

PROGRAMA FIBDB 2024

Como nota final, quero acreditar com muita força que o Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja irá voltar a ser brilhante e cheio de boas energias como no resto da sua História. 
E sim, tem de haver inovação para dar frescura.
Inovação de ideias, conteúdos e forma. O modelo vigente chegou ao seu apex portanto há que criar algo criativo (em bom) para este festival.



Podem entender as minhas palavras sobre esta edição do evento de três maneiras, ou não me ligam nenhuma porque sou insignificante (e sou mesmo), ou podem ranger os dentes e chamar-me nomes (feios), ou finalmente podem pensar que eventualmente posso ter alguma razão em algumas coisas, e criar um mindset de mudança para o próximo FIBDB.


Boas leituras
(O LBD ainda não morreu 😅)