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O Pedro Mota no fórum de BD do Portal
Central Comics referiu um assunto sobre o qual eu há bastante tempo desejava fazer um post… a relação entre a Banda Desenhada consumida pelo comum dos mortais e a chamada Banda Desenhada alternativa.
Logo aqui temos uma relação maioria/minoria, e em que será saudável este espaço alternativo, porque a Banda Desenhada tem de ser acessível e apreciada por todos! Mas temos de partir da premissa de que o mercado de BD, dita comercial, é saudável senão o nicho alternativo fica sem espaço! E desenganem-se os radicalistas alternativos se pensam que esse tipo de BD tão respeitável como os outros, possa sobreviver sem aquela coisa horrível que é a Banda Desenhada consumida pelo grande público!
Eu já ouvi alarvidades (ao vivo) de radicalistas alternativos dizerem que a “merda da BD comercial devia ser banida da face da Terra”! Que a cura para o panorama nacional da BD passaria pelo desaparecimento dessa coisa horrível que é a BD comercial...
Já agora, e perante este ponto de vista radical, posso fazer o seguinte exercício… Se eu fizer desaparecer da face da Terra a BD comercial, a alternativa passa a ser comercial, pois será a única que é vendida e publicitada… entretanto alguns autores começavam a desenhar diferente da BD instituída, passariam estes a ser os alternativos! Estes apoiantes veementes da então alternativa passariam a consumir o alternativo como sendo comercial. Ora sendo comercial, o alternativo, então, seria uma merda. Confundidos? Eu também… :)
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Só posso considerar isso de uma obtusidade a toda a prova, provavelmente de alguém com pouco jeito para o desenho, pois se fizer assim uns riscos e umas caras esquisitas já é considerado alternativo, e o que é alternativo é conotado com intelectual, e o que é intelectual está acima da crítica do comum dos mortais... assim tolera-se a falta de jeito.
Já li muito bons livros de BD alternativa, assim como BD comercial que era um verdadeiro asco.
O problema não é se é comercial ou alternativo... o problema são os lobbies formados, que de alguma maneira restringem a própria BD, para dar ênfase àquela que acham que é a verdadeira, a boa, aquela que deve ser noticiada e apoiada. É lógico que quando uma minoria (porque é uma minoria) toma conta de canais privilegiados de comunicação com o grande público e apenas deixa passar a sua mensagem, e propagandeia quase a 100% apenas o dito alternativo, o grande público, ou seja as pessoas que compram, desligam-se… pois Banda Desenhada não serve para vestir nem para comer, serve para dar prazer e conhecimento! O comum dos mortais não olha duas vezes para a maioria dos livros de BD alternativa, e não vale a pena chamá-lo de ignorante, porque poderá não ser verdade. Chama-se alternativa, porque deverá ser alternativa a uma determinada forma de fazer, editar e estar da BD tradicional! Mas isto é para uma minoria…
Tem de haver espaço para o alternativo, para o Fanzine e para o experimental, mas estes espaços só existem quando aquilo que é consumido pelo grande público é absorvido, ou seja vendido! Aí uma editora pode investir/apostar num autor que fez uns quantos Fanzines promissores, ou editar uma obra alternativa, mesmo dando prejuízo! Para isso terá de se acabar com o elitismo!
Já agora, os organizadores dos poucos grandes eventos de BD no nosso país, que repensem os cartazes de propaganda a estes mesmo eventos. Não estou a apontar facas aos artistas que os fizeram, mas sim à escolha dos mesmos (cartazes). É minha opinião que esses cartazes são tudo menos comerciais, mas deveriam, mesmo, ser comerciais! Pois a publicidade serve para chamar o possível público consumidor, e não para afastá-lo! Porque o vulgar cidadão, com pouco contacto com o mundo da BD, ao ver aqueles cartazes vai dizer que aquilo é só para aquelas coisas esquisitas… a publicidade tem de ser apelativa para o grande público, e não para uns quantos fãs, nos quais eu me incluo. E sim, estou a falar dos cartazes de Beja, e sim estou a falar dos cartazes da Amadora! Não estou a falar dos eventos propriamente ditos…
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Não se esqueçam de uma coisa, a BD para ressurgir no nosso país tem de vender e aí poderão surgir os alternativos, experimentais e mais importante que tudo: autores nacionais!
O grande público é o objectivo, se o foi nos anos 80/90 também o pode ser agora, mas não é com BD alternativa que vamos lá. Se este panorama continuar, haveremos de andar a oferecer fanzines uns aos outros para o resto da vida, e comprar importados comerciais, claro…
Concluo com a esperança de não tenha sido um post muito confuso, e também, com a esperança, que quem tem o poder de publicitar e fazer reviver a Banda Desenhada o faça, independentemente dos seus gostos pessoais, maneiras de pensar e inimizades de estimação!
Como é que um meio tão pequeno como é a BD portuguesa pode provocar tanta confusão?