A
Aida Teixeira, depois de ter colaborado na rubrica
Lugar aos Novos , veio fazer uma segunda crítica para o Leituras de BD. A primeira foi
Armazém Central, esta última sobre um díptico editado pela Booktree uns anos atrás (2002): O Imortal
O Imortal
Quais de nós, reles mortais, nunca pensou que a imortalidade era algo que gostávamos de alcançar?
Quanto aprenderíamos? Quantas pessoas interessantes conheceríamos? Se calhar a lenda dos vampiros imortais vem daí, do nosso desejo de imortalidade (ok, ok há o problema da estaca, dos alhos, e das balas de prata, mas isso são pormenores), por outro lado… que imensa solidão sofreríamos.
Se me dessem a escolher um superpoder a “imortalidade” não seria o poder eleito, definitivamente não.
Leio pouca BD, não porque me faltem livros destes na caverna, mas pronto, não sou calhada para isto, sou mais de ler a metro calhamaços com 500 páginas, e os desenhos faço-os eu na minha cabeça. O diabbo-marido aka Nuno Amado recomendou-me a leitura de “O Imortal”, e eu, mulher submissa (ou então não, então não, ]:-) hihihihihi) leio.
Ora bem, esta história passa-se no séc. XIII (e se quiserem saber como é que cheguei a esta conclusão terão de ler o livro e procurar pistas), idade média portanto, onde tudo o que fugisse à sacro-santa-igreja era certinho que fosse parar à fogueira, não sem antes levar uns apertos pouco amistosos de gente parecida com o primo Torquemada.
Tudo gira em volta de um tesouro (chamemos-lhe assim) que concedia a imortalidade, nem que para o conseguir tivesse de se matar meio mundo, e por em guerra o outro meio.
A história é engraçada, não é nada surpreendente, e tem coisas que me deixaram um bocadinho… hummm como direi? A pensar “quem escreveu isto é parvo, ou faz-se?”
Logo na prancha 2 do 1º Volume (são 2 volumes), um chinês quase parte um braço a um europeu que está com ele dizendo esta pérola “não lhe peço que pronuncie bem o meu nome, mas proíbo-o de colocar a sua mão sobre mim. Não sou um “latino”. Parei logo aqui… por a mão, latino, querem lá ver que os latinos são gajos para andar a colocar as mãos uns nos outros coisa assim tipo bichice pegada?? Terá sido isto que quem escreveu isto quis dizer?
Depois há o uso de palavras e termos que, duvido muito, mesmo muito, fossem usados na idade média “abram os olhos irmãozinhos”, “campónios”; “retocar-lhe a fachada” (em português actual é igual a “partir-lhe a fronha toda”, mas “retocar-lhe a fachada” é mais chique, é verdade, mas… pode igualmente ser usado agora. Séx XXI).
Mas, quem escreveu quis dar ar que sim, que fez investigação, e na prancha 14, também do 1º volume, na última vinheta é usada a palavra “pai” seguida de um asterisco * ( pai*) asterisco esse que faz a chamada para o rodapé, onde esclarece: “forma literária da época, particularmente insultuosa”. Estão a gozar?? Forma “literária” usada por dois “grunhos” (vá um deles não era, mas parecia, mas quem usou a expressão era grunho) ?
Na prancha 28 (1º vol), última vinheta, há uma frase inacabada, fiquei sem saber a opinião do senhor que a proferiu, disse ele: “aha! Sob o ar de velho caduco, ele parece-me ainda muito” , muito quê? Fresquinho? Viçoso? Vigilante? Inteligente? Espertalhaço? Grunffff
E a balonagem??? Mário Miguel de Freitas eu acho que eras gajo para te espumares um bocadito. Eu não percebo um corno de balonagem, mas este livro é a prova em como a balonagem consegue estragar a arte (da qual até gostei bastante), balões redondos, enormes, muito brancos (o livro não é nada de cores claras), balões e mais balões a taparem meias vinhetas, que, no original devem ser lindas, tendo em conta os pormenores.
Mas a arte é bonita – a que se consegue ver, e escapou à sanha do balonador – (no meu ponto de vista, claro), a história é aceitável (já disse que é previsível?), lê-se bem, mas não é uma obra-prima, quando muito será uma obra-sobrinha, ou até uma obra-tia-afastada, mas isto sou eu, que gosto de viajar nos livros, sentir-me dentro da época que eles pretendem retratar, e não gosto de tropeçar no “papá”, e “mamã” de um marmanjo barbado, independente, lutador, que sabe o que quer, mas que a única coisa que não sabia era que lhe iam atribuir falas bacocas.
E pronto é assim. Não é a crítica tradicional a que estão habituados, é a minha, uma pessoa que vê a BD do lado de fora
Não vou dar pontuação, daria se não tivesse aqueles balões todos a tapar os desenhos, assim não dou.
A Aida tem razão! A balonagem é horrível, e cheira-me que a tradução e respectiva adaptação do original também não é boa. Apesar da arte ser boa na sua generalidade tem alguns problemas de anatomia e estruração de movimentos. Em relação ao posicionamento temporal houve pesquisa aturada da Aida Teixeira, que é uma pessoa que liga bastante a pequenos pormenores, e devido a um Ducado de Ouro Veneziano colocou a estória no século XIII, embora a sinopse diga que é século XVI... é que estes Ducados só existiram no século XIII! De quem é o erro? Do autor Eric Puech? Do tradutor/adaptador?
Não sei... realmente os edifícios, roupas e personagens são posteriores ao século XV, mas aquele Ducado logo no início põe tudo no século XIII.
Boas leituras