sexta-feira, 24 de abril de 2020
Os Cavaleiros de Heliópolis Vol.1: Nigredo / Albedo
Este foi um lançamento da Arte da Autor em 2019, que teve a sua conclusão com o segundo volume este mês, Abril de 2020. Farei a crítica a esse último volume para a semana.
De notar que os volumes são álbuns duplos, sendo este constituído pelos dois primeiros livros : Nigredo e Albedo.
O caminho que Alexandro Jodorowsky traçou em toda a sua carreira artística na 6ª, 7ª e 9ª Arte é completamente cheio de momentos e figuras com grandes cargas simbólicas, e sobretudo muitos excessos, sejam excessos da carne, sejam religiosos, xamânicos, de violência física, e emocional. Outra característica das suas obras é serem abertas a várias interpretações, muitas das sua obras não são de fácil absorção se o leitor/expectador quiser entrar mesmo dentro da cabeça deste chileno.
Em Os Cavaleiros de Heliópolis, Alexandro Jodorowsky faz uma viajem pelo mundo da alquimia abordando vários dos seus pilares, servindo-se para isso do mito do filho de Luís XVI.
Um dos grandes objectivos da alquimia é o elixir da longa vida, ou da vida eterna, o outro a transmutação em ouro, uma metáfora em que se acredita que tudo têm uma essência a parte mais pura do ser, ou seja, o seu ouro. Todos estes caminhos são desenvolvidos para atingir o objectivo supremo: a Pedra Filosofal. Quem quiser saber mais sobre isto vá à descoberta de Jung! :D
Esta obra está temporalmente situado entre os séculos XVIII e XIX, apanhando a febre da Revolução Francesa com a queda de Luís XVI e Maria Antonieta e posterior ascensão de Napoleão Bonaparte.
Jodorowsky começa exactamente pela iniciação de um novo membro para a confraria d'Os Cavaleiros de Heliópolis, que seria o filho do casal real atrás referido, ou seja, o hipotético e mítico Luís XVII, daí o seu nome inicial nesta obra: 17.
Os alquimistas Cavaleiros são personagens conhecidas da História Universal como Lao-Tzé, Ezequiel, Nostradamus, João ou Imothep por exemplo. Esta primeira parte conta a história que está para trás relativa ao nascimento e posterior resgate de 17. Logo nesta primeira parte vêm à tona alguns excessos de Jodorowsky, um gorila gigante, que fala, servindo os Cavaleiros, e a apresentação de 17 como hermafrodita.
Jodorowsky segue os rituais alquímicos, sendo o primeiro Nigredo que dá o nome ao primeiro livro.
Nigredo designa o primeiro estado da alquimia: a morte espiritual, significando decomposição ou putrefacção.
Este livro tem uma primeira parte de mais excessos de violência, muita intensidade e brutalidade. É a parte que conta o início da vida de 17.
Depois temos já um 17, rebaptizado como Asiamar após passar o teste do Nigredo, a cumprir a sua primeira missão, e aqui passamos para uma parte mais aventureira e rápida, com perseguições e duelos.
Seguindo para o segundo livro deste primeiro volume, temos Albedo designado pelos alquimistas como o segundo estado do Magnum opus significando a purificação.
Neste livro Albedo é-nos apresentada a personagem de Napoleão. Este estivera para ser escolhido para entrar na fraternidade dos Cavaleiros de Heliópolis, mas entrou em demência megalómana querendo a imortalidade e poder absoluto, tornando-se assim em inimigo dos Cavaleiros.
A história de Napoleão é-nos contada por um Cavaleiro que esteve junto dele até perceber que os valores Humanos de Napoleão eram quase nulos, fugindo nessa altura. Esta jornada cobre a busca de Napoleão pela imortalidade no Egipto.
Entretanto Asiamar passa a segunda etapa na sua formação conseguindo atingir o objectivo do teste Albedo, recebendo a seguir mais uma missão. Desta feita irá surgir a sua parte feminina (ele é hermafrodita, não esquecer) e o objectivo é Napoleão.
Passando à parte gráfica, Jérémy Petiqueux exibe um desenho realista e brutal nos pormenores. A ambiência histórica está muito bem feita e detalhada. As sua página quando necessário são impregnada de velocidade e acção e penso que conseguiu pôr no papel aquilo que ia na cabeça de Jodorowsky. Gostei muito mesmo. Quanto à cor, esteve a cargo de Felideus e também gostei muito. Soube usar muito bem as paletes de cor adaptando-as aos momentos e cenas que Jérémy desenhou e Jodorowsky idealizou. Ambientes vermelhos, ambientes dourados outros mais crus e frios, sempre que era desejado para fazer vibrar uma página Felideus escolheu a palete certa na minha óptica (e gosto).
O livro... bem o livro como objecto foi trabalhado pela Arte de Autor de uma maneira que eu só posso dizer que é excelente. Uma maravilha ao tacto, um tamanho grandioso e sendo duplo torna a leitura um prazer imenso. Não posso deixar de falar também da gramagem do papel. Tudo neste livro está feito para o leitor ter o tal prazer imenso na leitura. :)
O Leituras de BD recomenda este livro
Boas leituras
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