terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Spaghetti Bros: Livro 1

 



Neste momento temos a "sorte" de ter excelentes editoras a publicar livros tanto na vertente europeia, como norte-americana. Na parte da BD europeia a Arte de Autor, editora deste livro, é uma das que eleva a BD a um excelente nível em Portugal. Temos magníficas obras a serem editadas em Portugal com bastante regularidade e muita qualidade, tanto no título como no livro enquanto objecto.

Agora, nada como falar de uma das melhores surpresas para mim de 2020: Spaghetti Bros

Podia estar aqui a falar dos dois criadores desta obra, Trillo e Mandrafina, mas sinceramente mais vale irem ao post de lançamento desta obra (clicar neste link), visto que a Arte de Autor mandou excelente bios destes dois argentinos. Carlos Trillo escreveu, Domingo Mandrafina teve a arte do preto & branco a seu cargo.

São dois autores que sempre foram seduzidos pela problemática social, e que conseguem num leque de livros diferentes abordá-la sempre de um ângulo diferente, portanto a alcunha de maçadores não lhes cabe.

Trillo imaginou a história de uma família disfuncional de emigrantes sicilianos, órfãos, a caírem nos EUA, presume-se por volta de 1900 porque a história está ambientado aos anos 30. Cinco irmãos, não podiam ser mais diferentes uns dos outros!

A narrativa vai correndo ao ritmo de pequenos episódios, por vezes com sequências do passado destes irmãos. Trillo coloca como início o ódio do irmão mais velho pelo irmão mais novo, que considera o assassino da Mamma, que tinha morrido durante o parto desse mesmo mais novo no barco a caminho dos EUA.

A partir daqui temos um Mafioso na verdadeira acepção, um Padre com problemas de contenção de violência (queria ser boxeur), uma dona de casa com vida dupla (precisa de adrenalina na vida) - que é a minha personagem preferida neste livro -, uma actriz que navega em podres de Hollywood e finalmente um polícia honesto quanto baste (a honestidade é uma coisa cinzenta)...

Todos estas personagens são fortes, muito bem construídas, credíveis dentro da sua dimensão e envoltos numa relação tortuosa, e por vezes cruel.

Toda a relação de amor/ódio entre eles e as suas introspecções individuais, são cartas na mão de Carlos Trillo, e são cartas que ele joga na altura certa para que o leitor seja incapaz de largar esta história com laivos de crueldade, mas polvilhada com bastante humor, por vezes negro, de modo a que tudo esteja equilibrado.


Mandrafina enfia-nos tudo isto pelos olhos dentro com um maravilhoso preto & branco. O seu controle neste técnica é muito apurado e dá a força que a narrativa pede. O seu trabalho ao nível da expressão corporal e facial é simplesmente fabuloso, e sem dúvida que, se Trillo deu uma maravilhosa dimensionalidade a estes irmãos, Mandrafina deu-lhes vida! Curiosamente, decidiu fazer correr a narrativa gráfica de um modo não normal: seis vinhetas aos pares por cada página, não todas, mas são muito poucas as que não obedecem a esta estrutura.

A minha opinião foi dada logo no 2º parágrafo deste post, só posso reafirmar que recomendo este livro repleto de cinismo e dualidades morais. Parabéns à Arte de Autor :)



Boas leituras





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