Alexandre Linck Vargas tem nacionalidade brasileira e é professor de Cinema. Estudou Comunicação Social - Cinema e Video e tem como citação favorita: Blergh!
Apresenta hoje um texto sobre uma revista que fez história no Brasil: Chiclete Com Banana!
Nação Chiclete com Banana
Primeiramente gostaria de agradecer o convite do Nuno para escrever neste espaço. Apesar de ser uma casa do outro lado do atlântico, e mesmo possuindo seus muitos leitores brasileiros, creio que aos leitores portugueses a banda desenhada (história em quadrinho) brasileira ainda é relativamente pouco conhecida. Isso não é nenhuma surpresa, afinal para nós brasileiros as nossas próprias HQs nos são em grande parte desconhecidas.
No entanto chama minha atenção como que os frutos da já lendária revista paulistana Chiclete com Banana têm ganhado espaço no atual mercado brasileiro. Há quem defende que se trata de uma natural revalorização do quadrinho brasileiro, ainda assim desconfio porque uma produção e período específico tem ganhado maior ressonância do que outros. Neste ano saiu uma edição com todas as tiras da Rê Bordosa de Angeli, e em 2007/2008 sairam três volumes luxuosos com as histórias dos Piratas do Tietê de Laerte; tudo isso sem contar as muitas edições de bolso e a antologia da própria revista que a editora Devir não concluiu. No âmbito acadêmico, é preciso dizer, o movimento é parecido – já me deparei com muitos artigos ou monografias sobre a revista ou seus personagens.
Tendo circulado entre 1985 a 1995, Chiclete com Banana contava com quadrinistas como Laerte, Angeli, Glauco e Luiz Gê, num total de 24 edições regulares,10 especiais e derivados. Era uma época de fortes mudanças no Brasil, havia o afrouxamento e fim da ditadura militar brasileira, a tímida retomada democrática, o dragão da inflação, os muitos planos econômicos e moedas nacionais, o movimento punk, a febre new wave, o fantasma da aids, a abertura de mercado, etc.
Penso por que personagens assumidamente penetrados nesse universo hoje ganham as universidades e livrarias. Difícil apresentar uma resposta pontual, no entanto uma hipótese bastante pertinente é a de que a revista e seus personagens ganham os contornos de um momento que persiste no imaginário brasileiro. Ou seja, reler Chiclete com Banana é pensar a trindade “quem somos, de onde viemos, para onde vamos” numa versão nacionalista bem-humorada.
O que há em comum na violência e cinismo dos Piratas do Tietê, no desencanto sessentista de Wood e Stock, no niilismo oitentista de Bob Cuspe, na mulher sem glamour em Rê Bordosa, na piada gratuita nos Skrotinhos ou na sexualidade problemática em Mara Tara? Penso eu, um misto de desânimo por velhas condições e uma desconfiança pelas novas.
Não que com isso Chiclete com Banana sofra de pessimismo crônico, o otimismo está no humor, no tipo de humor que transita entre a mais absoluta gratuidade até aquele riso nervoso que nos escapa quando estamos envergonhados diante do politicamente incorreto. Graficamente ocorre um diálogo semelhante, que vai do cartunesco fofo ao imundo do traçado. Esse humor de traço impreciso é a boa-nova da Chiclete com Banana para esse período de mudanças no Brasil. As soluções definidoras podem esperar, precisamos primeiro aprender a rir de tudo isso, a chorar de rir acima de tudo, de maneira que limpe o passado com lágrimas e abra o futuro com um sorriso debochado.
Mas eis então os dias de hoje, onde uma geração que era criança ou muito jovem agora reencontra os fantasmas da revista. Talvez esse retorno ao imaginário se dê porque nós brasileiros não aprendemos direito a rir, nosso riso ainda é do tipo vago, um tanto escapista, não é um riso irônico, desconfiado, naturalmente crítico. Como esse humor não se resolveu, deixando assim de garantir um paradoxal, porém necessário, ceticismo otimista, nos resta agora o riso atrofiado que retorna como um trauma e uma terapia de uma época de mudanças que não foram bem assimiladas ainda hoje. A pergunta existencial nacionalista persiste e a Chiclete com Banana retorna ameaçadoramente engraçada para toda uma nova geração de brasileiros. Mas que porra, hein!
Texto: Alexandre Linck Vargas
Espero que vos tenha agradado e visitem o excelente blogue do Linck:
Quadrinhos na Sargeta
Foi o primeiro artigo de um leitor brasileiro, e espero que não seja o último!
:D
Boas leituras!
O Bob Cuspe e a Rê Bordosa eram altamente:)
ResponderEliminarAdoro o Chiclete com Banana:)
grande texto.
ResponderEliminarNem de propósito: ando a reler a Chiclete com Banana que com a revista Animal (uma das malhores revista brasileiras de sempre!!!), a Niquel Nausea e os Piratas do Tietê deram-me bastante a todos os niveis: humor, critica politica, novas bandas de música, fetiches sexuais e mesmo como fazer uma bonba caseira!!!
Bons tempos!
Por cá foi publicado regularmente só na década de 2000
ResponderEliminarBacchus e André Azevedo
ResponderEliminarSó conheço mesmo Os Piratas do Tietê. Tenho os 3 volumes da Devir. Se que o Chiclete com Banana também foi compilado, ou pelo menos pareceu-me. Gostaria que houvesse antologias Chiclete com Banana publicadas nos mesmo moldes que Os Piratas do Tietê, ou seja, em capa dura e com explicações dos autores sobre os assuntos abordados! Isso é que era! Adoro aqueles 3 volumes dos Piratas do Tietê de tão malucos que são!
:D
Mas os livros estão muito bem construidos e cuidados numa bela edição!
;)
Ainda bem que gostaram do texto do Linck. Gosto de ler o blogue dele, é muito interessante a maneira como ele leva a crítica dos livros para pontos de vista que não estamos à espera!
;)
Hugo Silva
ResponderEliminarLOL
Comentaste 2 segundos antes de mim!
ahahahahha
São apenas essas edições da Devir que cá estão editadas, certo?
No Brasil ninguém sabe se houve compilações do Chiclete com Banana?
:)
Mais um excelente texto do meu amigo Lick.
ResponderEliminarO Chiclete com Banana é uma das melhores coisas que já aconteceram na nona arte.
Chiclete é patrimônio Nacional.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarMe diverti muito com Rê Bordosa e companhia! Parabéns Linck ótima matéria!
ResponderEliminarNos anos 90 apareceram irregularmente nas bancas nacionais vários números da Chiclete com Banana da Circo. Foi nessa altura que comprei o único número original que consegui apanhar, o nº 23.
ResponderEliminarÓtimo texto, Chiclete com Banana faz parte da história do Brasil!
ResponderEliminarJoão Roberto
ResponderEliminarGosto dos textos do Linck!
:)
Alex D'ates
LOL
Se não é devia ser!
:D
Eliel Ribeiro
Tive a ler online algumas páginas da Bordosa e fartei-me de rir!
:D
André Azevedo
Mas a Devir não editou o Chiclete com Banana também???
:|
Guy Santos
Já vi que Chiclete com Banana teve mesmo grande influência no povo brasileiro!
;)
A Devir editou uma revista de 12 números e algumas colecções de personagens. Eu não comprei essas, mas devia. Sempre adorei os Skrotinhos, seguido de Bob Cuspe e Rê Bordosa.
ResponderEliminarPaulo Costa
ResponderEliminarSim, acho que foi isso que eu vi numa livraria Bulhosa...
Infelizmente só tenho Os Piratas do Tietê! Obra completa em 3 volumes! Adorei!
:)
Valeu pessoal, obrigado! :)
ResponderEliminarLinck
ResponderEliminarAqui neste cantinho serás sempre bem tratado! Volta sempre, e escreve para aqui quando te apetecer!
Obrigado!
:)
Nuno,
ResponderEliminarAinda há poucos anos andavam a vender um pack de 4 revistas com 60 páginas cada a cerca de 3 euros cada:) na bulhosa e nessas coisas:)
Mas as edições brasileiras são muito fixes, mas é raro eu vê-las:)
O chiclete com banana é bem melhor que os piratas na minha opinião:)
Mas adoro a participação especial de Pessoa nos piratas:)
Bacchus
ResponderEliminarGostava que houvesse umas compilações tipo Os Piratas do Tietê. Aí mandava vir do Brasil!
;)
Não era a minha praia este humor, por isso nunca segui isto. e esqueci-me de dar os parabéns pelo texto, bem interessante
ResponderEliminarA Devir portuguesa, como disse o Paulo Costa, editou 12 números da colecção Chiclete com Banana, no inicio dos anos 2000. Esta colecção desapareceu do mapa e nem no site da própria Devir se encontra mais informação.
ResponderEliminarA Devir brasileira, entre Junho de 2007 e Janeiro de 2010, editou 10 números da colecção Antologia Chiclete com Banana (estavam 16 planeados) e é esta que, volta e meia, aparece em packs nas lojas.
André Azevedo
ResponderEliminarVou espreitar esses packs!
Obrigado.
:)