sábado, 16 de julho de 2022

Family Tree


Foi publicado em português numa edição de luxo  no final de 2021, a editora que publicou a obra foi a G.Floy.

Pelo que vi temos em mão uma edição melhor que a original da Image, isto porque essa editora norte-americana publicou a história de Jeff Lemire em três volumes mais pequenos e de capa mole.

Como referi atrás, a história é de Jeff Lemire, que tem sido um autor publicado em Portugal pela G.Floy, com excelentes títulos como Descender ou Gideon Falls; o desenho é de Phil Hester (Swamp Thing e Green Arrow) e Eric Gapstur (JLA) e as cores por Ryan Cody.

Não percebo a classificação de "Horror Comics" para este livro, li este rótulo mais que uma vez, e sinceramente está longe disso, é basicamente fantasia com bastante acção. Quando muito um Grim & Gritty

Não basta meter sangue, uns membros decepados e pessoas simplesmente a transformarem-se em árvores para ser terror, ou horror. Tem de atingir a psique do leitor com muita força a ideia de horror do que se quer transmitir. A ideia da transformação em árvore até poderia ter sido boa para um livro de horror/terror, mas...
Claramente isso não acontece em Family Tree....

Vou dar primeiro a minha opinião sobre a parte artística. Não é o meu género preferido, mas num grim & gritty fica sempre a matar. Não há traços a mais, não há traços a menos! Parece um desenho simples mas fiquemos pelo parecer, porque aquela arte é tudo menos simples. Super consistente do principio ao fim, as personagens claramente diferentes uma das outras e perfeitamente identificáveis em todas as vinhetas. 

As sequências gráficas estão perfeitas, a acção fácil de seguir, mas quando é necessário parar para um momento mais forte, esse momento é feito de maneira a imprimir força à imagem. A cor está perfeita para o ambiente que se pretende, tudo muito na banda das sombras, muitos castanhos, e em contraponto a restante palete de cores é suave para contrastar com a "escuridão" de muitas páginas. Um excelente trabalho gráfico.

A história deixei-a para o fim porque tenho sentimentos contraditórios em relação à sua construção e narrativa.
Por um lado gostei de ler o livro, um foco enorme no amor de mãe, sacrifícios familiares, dor emocional, defesa da família. Ou seja, emocionalmente funciona bem muito bem na minha opinião. A mãe é uma personagem muito forte, já o filho é um pouco o cliché do rebelde porque nãotenhopaieagorofumodrogasnasescolaeportomal para depois se transformar numa pessoa fiável e protectora da família. Ok, cliché mas dá para fechar os olhos. 

Agora... ok, é ficção. Ponto. Mas apesar disso tem de haver alguma coerência. Há pessoas que se transformam em árvores, mas nunca conseguiram que uma dessas pessoas árvores criasse raízes, com excepção para a protagonista do livro, a Meg? Existe uma organização que pelas idades das personagens envolvidas tem há volta de 50 anos. São os "maus". E desde essa altura que eles exterminam as pessoas-árvores. Sendo certo que se essas entidades árvores colocarem raízes transformam os Humanos em árvores através de esporos na atmosfera. Então, só existem essas entidades árvore desde o pai da antagonista maior, que era um homem-árvore também, porquê?

E os membros de essa organização armada aparecem como? Alguém no livro perguntou e eles respondem que é um "chamamento"?? Áhhh porra... muito ruim, tipo, It's a kind of magic?
Então e a mãe e o irmão, o Josh? Porque não se transformaram? E aquela que vai ser a mulher do Josh, mais o pai dela também não se transformaram em árvore porquê?

São "porquês" demais numa história, para que esta dentro do seu ambiente ficcional se mantivesse coerente! Estou mal habituado pelo Jeff lemire, é o que é :D

O final é forte nesta obra de revolta ecológica, que apesar deste meus rants gostei de ler o livro, os painéis saltam ávidos de leitura, e o leitor tem pressa de voltar a página. Isso provoca uma boa sensação ao leitor. Aconselho depois uma segunda leitura para perceberem os meus rants.

Fiquem com a sinopse:

Quando a pequena Meg começa a transformar-se numa árvore, a sua mãe solteira, o irmão problemático e o avô supostamente louco embarcam numa bizarra e comovente viagem pela américa, numa busca desesperada por uma forma de travar a transformação antes que ela perca de vez a sua humanidade.

 Entretanto, os heróis são perseguidos por seitas sinistras e mercenários mortíferos que querem usar a transformação de Meg para os seus objetivos malignos. Quando, durante a luta, se descobre que não é apenas a menina que está deformada, mas possivelmente o mundo inteiro, os laços aparentemente fortes desta família são submetidos à sua maior prova…




Boas leituras




quinta-feira, 14 de julho de 2022

Eu, Louco



Segundo livro da Trilogia do "Eu", obra de António Altarriba  e Keko, sendo este volume publicado em português pela editora Ala dos Livros. em Setembro de 2019.

Podem ler a minha opinião sobre o primeiro volume, Eu, Assassino, neste link. Esta é a segunda faceta de "falha" Humana, a loucura, ou não...
Esta reflexão foca-se no mundo farmacêutico, mas para apreender a totalidade, e por alguma coisa é uma trilogia, convém ler o Eu, Assassino.

Para além de aparentemente se passarem no mesmo espaço, existem detalhes e toques entre estes dois relatos com várias personagens e ideias comuns entre os dois livros, e isso deixa-me com mais curiosidade para ler o terceiro, Eu, Mentiroso.

"Os homens são tão necessariamente loucos, que não estar louco seria estar louco com uma outra espécie de loucura."
- Blaise Pascal

Não considero esta reflexão de Altarriba nem melhor nem pior que a do seu anterior livro. Eu, Louco é diferente, é engenhoso e tem um twist final de alguma atracção para mim.
Na realidade estamos no chamado rabbit hole das conspirações, ou suas teorias. Não deixa de ser interessante este livro ser um pouco anterior ao Covid-19, uma doença cujas explicações de origem deixam muito a desejar.

A Indústria Farmacêutica só existe porque existem doenças. Uma empresa só gera mais lucro se houver mais pessoas a comprar. Podemos fazer o exercício de juntar estas duas premissas e dizer que se aumentarmos o número de doenças, aumentaremos o lucro desta indústria. 

É aqui que o enredo deste livro vai navegando. 


Angel Molinos, um dramaturgo fracassado com doutoramento em Psicologia trabalha para a Outrament, subsidiária da da Pfizin (a sério?? :D ) e está encarregue de descobrir e inventar novas doenças mentais, manias ou síndromas. É a melhor maneira de "provocar" doenças! Por outro lado descobre o lado negro da experiência de administração de fármacos não testado, que não são mais que cocktails químicos que os médicos vão experimentando em desgraçados loucos.

Mas Molinos, também tem a sua conta de loucuras, traumas recalcados, abusos infantis, a cada vez mais o seu sono é apenas um pesadelo.

Infelizmente para ele, cai numa teia conspirativa, vai ser manipulado ao extremo por pessoas, e porque não dizê-lo, loucas! A Ética acaba por ser a semente de loucura do protagonista.

No meio desta manipulação vamos ter contacto com a ex. mulher do assassino (Henrique) e a sua namorada, e também com os polícias, tudo personagens do volume anterior.

Keko continua sombrio, talvez menos detalhado que no volume anterior. Em vez do preto & vermelho de Eu, Assassino, vamos ter um magnífico preto & amarelo. Amarelo foi a cor escolhida para realces de loucura neste livro, assim como o vermelho o foi no livro anterior para o crime.
Excepto! 

Excepto nas páginas onde Begona tenta seduzir Molinos, ou onde ela está na sua intimidade. Ela e o quarto aparecem com uma cor tipo um verde cyan escuro. Nessa cena do quarto, as zonas íntimas de prazer de Begona são pintadas de amarelo, claro... loucura! :)

De notar pormenores de ligação deliciosos, como por exemplo no trabalho de Cristina (a ex. mulher do assassino) em que os avatares vermelhos do livro anterior são substituídos pelo amarelo, como no caso da maça da Branca de Neve. Pormenores interessantes.

Este é mais um livro de crítica social, uma crítica forte, e em que caminhamos pelas veredas de uma teoria da conspiração com fundamentação lógica muito firme.
Para a semana Eu, Mentiroso



Boas leituras

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Sensor

 


Um dos mangakas mais apreciados por mim é Junji Ito. Tenho três obras dele, Uzumaki, Tomie e Gyo, das quais considero Uzumaki inultrapassável dentro do género. 

O género é mesmo "horror", e Uzumaki foi a única obra de BD que me provocou calafrios até hoje... não sou muito sujeito a "horrores/terrores" apenas com duas dimensões, ou seja com desenhos. Neste caso o horror é induzido e entranhado na psique do leitor através de sequências gráficas representando ideias muito fortes, medos universais e horrores intrínsecos à espécie Humana. Junji Ito é mestre nesse tipo de aproveitamento. 

Junji Ito foi nomeado para os Eisner Awards em 2003 e 2009 com Uzumaki, e acabou por ganhar este prémio em 2019 com a adaptação para Manga do Frankenstein de Mary Shelley para a "Best Adaptation from Another Medium". Apanhou o gosto por este prémio e em 2021 ganhou mais dois Eisner Awards com dois títulos: Remina e Venus in the Blind Spot, recebendo o "Best U.S. Edition of International Material - Asia" e o "Best Writer/Artist

Falemos de Sensor.
Esta obra até determinada altura da sua publicação em revista tinha o nome de Travelogue of the Succubus. Iniciou a sua publicação em capítulos na revista Nemuki+ de Agosto de 2018 a Agosto de 2019.
A sua publicação em livro foi feita no final de 2019, sendo a publicação em inglês feita por intermédio da Viz Media numa excelente edição, com dust cover, capa dura e um papel maravilhoso, em Agosto de 2021. Este livro foi nomeado para o Festival International de la Bande Dessinée d'Angoulême  para melhor livro em 2021.

Falando na história, esta foge um pouco ao estilo de Ito, penso que ficou um pouco pesada e repetitiva com explicações completamente desnecessárias. É um conjunto de pequenos capítulos, por vezes algo complexos na quantidade de informação e que supostamente no final deveriam atar a história coerentemente. Penso que não se conseguiu a 100%. 

Gostei muito do início, deixou muita água na boca com ideias que poderiam ser muito bem desenvolvidas, só que na minha opinião o autor foi-se perdendo aos poucos na narrativa. Talvez o método usado por Ito para este livro fosse arriscado nesse aspecto, ele foi fazendo os capítulos para a revista sem ter a história delineada. Penso que isso fez com que a consistência narrativa falhasse um pouco aqui e ali, na minha opinião, sobretudo no final.

Aliás, perde-se tanto que a protagonista ao longo da história vai quase deixando de ser uma personagem para ser uma ferramenta narrativa, sendo que a história é contada por um jornalista, Wataru, que vai seguindo Kyoko (a protagonista) obsessivamente sempre um passo atrás, em capítulos contidos. E por falar em capítulos, Battle of Bishagaura é excelente, é Junji Ito no seu melhor. Todo aquele frenesim com os gafanhotos suicidas foi muito bom.

Da maneira que estou a criticar a história do livro até parece que é má... mas não posso dizer que o seja, quero dizer que poderia ser mais bem estruturada e desenvolvida nos capítulos certos. Temos conceitos muito bons sobretudo do que é maligno universalmente, temos temas religiosos cristãos, o que é o Universo e quem é o seu criador, tudo isto embrulhado em ambiente paranormal. Temos Kyoko como o emblema do bem supremo, mas está encharcada de um poder terrível (e horrível) numa obra em que a desgraça e a melancolia são o rio onde ela navega. O antagonista representa o criador de tudo, o mal supremo!

Agora passo para a arte, e aqui meus amigos leitores, Junji Ito nunca defrauda! Adoro o traço limpo, bonito, com detalhe e ao mesmo tempo leve. Não sei que adjectivos posso mais usar, mas uma pessoa perde-se na quantidade de detalhe que algumas páginas têm. 

Não é o melhor livro de Ito, mas para os apreciadores deste género é um must have de certeza.
Deixo aqui em baixo a sinopse deste livro, pois eu pouco falei da história propriamente dita. Isso vocês podem descobrir por vocês próprios lendo o livro :D
Mas pronto, fica a introdução da editora:

“Uma mulher caminha sozinha no sopé do Monte Sengoku. Um homem aparece, dizendo que está esperando por ela, e convida-a para uma vila próxima. Surpreendentemente, a vila é coberta por fibras de vidro vulcânicas semelhantes a cabelos, e tudo brilha em matizes dourados.
À noite, quando os aldeões se reúnem para cumprir seu costume de olhar para o céu estrelado, incontáveis ​​objectos voadores não identificados caem sobre eles – o acto de abertura para o terror que está prestes a ocorrer!”

Aqui em baixo uma parte do interior da maravilhosa dust cover. Infelizmente é uma ilustração muito grande, dessa maneira ficam apenas com este pormenor.







Boas leituras




terça-feira, 12 de julho de 2022

Kaiju nº8 - Vol1
怪獣8号


Kaijū
(怪獣): é uma palavra japonesa que significa "besta estranha"ou "animal incomum", mas que costuma ser traduzida como "monstro". 

- In Wikipédia

Kaiju nº8 é um dos últimos sucessos do género shounen dentro do Manga.
O autor é Naoya Matsumoto, e a run original foi publicada pela Shueisha na sua revista Shounen Jump+ em Julho de 2020 . Esta editora começou a compilar os capítulos que saiam na revista em volumes tankōbon no final desse ano. A publicação em Língua Inglesa ficou a cargo da Viz Media, sendo que este volume que tenho na mão saiu em Dezembro do ano passado.

Em Março deste ano existiam 6,7 milhões de cópias dos sete volumes já publicados no Japão, dois em Inglês e quatro em francês (principais mercados). Daí eu dizer que é um dos últimos grandes sucessos Manga a ser publicado no ocidente. Em França vendeu na primeira semana mais de 20 mil cópias, sendo a melhor estreia de vendas de sempre de um Manga neste país.

Posta esta apresentação podemos falar um pouco do autor, Naoya Matsumoto, que de facto não tem mais nenhum trabalho de monta, sendo este sucesso o seu primeiro. Falarei da história mais à frente, agora podemos falar do seu desenho. 
No geral é bastante bom, tem excelentes momentos, mas por vezes cai no vulgar, daí eu ficar pelo bastante bom. Tem de ganhar um pouco mais de consistência, e se vamos falar de monstros temos de ter um pouco mais de detalhe neles, que por vezes falta. Mas na generalidade é uma arte bonita com algumas texturas bastante interessantes.

As sequências mais dinâmicas são muito boas, com algumas spread pages espectaculares, os movimentos são fáceis de ler, tornando as cenas de acção mais limpas que em algumas séries, em que é impossível de "acompanhar" os movimentos. Outra coisa boa, as personagens (até agora) são fáceis de identificar graficamente, sendo bastante diferentes umas das outras. Adorei as primeiras páginas coloridas, o kaiju está muito bom, acho que aqueles cores ficam a "matar" naquele bicho grande :D.

Quanto à narrativa. Acho que começou muito bem! Foi original na estrutura shounen, mesmo muito interessante. Esta estrutura é uma receita já muito batida que assenta muito nos grandes sucessos como por exemplo Naruto (que já se tinha baseado em Dragon Ball), em que temos o jovem herói, normalmente muito valente e voluntarioso e com uma maneira de ser diferente dos restantes (Son Goku e Naruto), temos a amiga (Bulma e Sakura), e o amigo normalmente mais introspectivo que faz o contrabalanço do herói (Vegeta e Sasuke). Depois destes vem o regimento dos coadjuvantes que são responsáveis pelas transições, momentos de humor e consistência na narrativa, ocupando os espaços vazios (Kuririn, Yamcha, Piccolo, etc, e Neji, Rock Lee, Choji, etc). São histórias cheias de acção, muitas batalhas, algum humor e com forte camaradagem entre as personagens "do bem".

Matsumoto foi original porque escolheu um protagonista "velho" de 32 anos, um fracassado na "cena heróica" e com um emprego do mais nojento que se poderia ter. Kafka Hibino, o protagonista limpa a esterqueira que fica depois da tropa de elite eliminar um monstro. Eles são enormes e alguém tem de limpar toda aquela carne, órgãos vários (intestinos em evidência)... e Kafka faz parte de uma empresa de limpeza de Kaijus mortos. Contrariando o esquema shounen, para além de "velho", ficamos a saber que ele é um desistente (tentou entrar para a tropa de elite devido a uma promessa, e desistiu). Os primeiros capítulos falam disto mesmo, dessa vida de fracasso e dos sonhos abandonados de pertencer à Defence Force, e em vez disso trabalhar na Monster Sweep Inc
Daí eu achar que é um take diferente neste género de Manga.

É-lhe apresentado nesta altura um jovem, Reno, que vai trabalhar para a empresa dele, e que está lá para perceber melhor a anatomia dos monstros, visto que que vai candidatar à Defence Force para os combater. Este jovem não compreende como Kafka pode desistir do seu sonho...

Não vou spoilar muito por aqui, mas isto pode dizer-se porque está implícito no título, depois de um ataque de um kaiju, Kafka e Reno vão parar ao hospital. Aqui Kafka vira bicho (kaiju) devido a um episódio que eu não conto. E sim, ele vai concorrer à Defense Force, apesar de ser um zero à esquerda...

É aqui que a história perde um pouco a originalidade dentro do shounen, visto que daqui até ao fim será acção sobre acção, típico deste género. Não falei disso, mas aos poucos a personalidade de Kafka vai sendo construída, e descoberta pelo leitor, através de back stories que por norma são uma ferramenta que os japoneses gostam de usar, e fazem-no bem por norma.

Quero ler os dois próximos para fazer um juízo mais perfeito da série, pois tem muito potencial, e no hospital houve algo que foi dito que acho que vai dar um bom twist à série no futuro. É um bom primeiro livro dentro do género.

A ver vamos se me prende definitivamente, porque para eu ficar preso a uma narrativa especificamente escrita para jovens, é preciso ter algo de especial (ou no mínimo eu gostar muito só porque sim... :D  )
Para o mês faço o segundo volume.



Boas leituras

sexta-feira, 8 de julho de 2022

Capas: Catwoman #55

 


Capa da revista Catwoman #55 por Adam Hughes.
Foi em Maio de de 2006 embora a data na capa seja de Julho.

Não é fantástica?


Boas leituras

quarta-feira, 6 de julho de 2022

Eu, Assassino


Chamam-lhe a Trilogia Egoísta, ou Trilogia do "Eu", uma série reflexiva em três relatos de "falhas" Humanas: Eu, Assassino, Eu, Louco e Eu, Mentiroso. Obra de António Altarriba  e Keko.

Foram todos publicados em português o primeiro pela Arte de Autor e os dois seguintes pela Ala dos Livros.

Hoje o LBD vai olhar para o primeiro volume Eu, Assassino publicado pela editora Arte de Autor.

"Matar não é um crime, matar é uma arte."
- Enrique Rodriguez

É assim que começa o livro, e começa com um assassinato rápido e brutal ,em plena rua durante o dia.
Esta obra é complexa. Os temas abordados, para além do óbvio (assassinatos) são tratados com mais ou menos profundidade dentro de um quotidiano negro com problemas políticos, adultérios, solidão física e emocional, traição, enfim, todas estas vertentes de um diário escuro são peças do xadrez pensado por Altarriba e pintado por Keko num excelente Preto & Vermelho.

Henrique é um professor universitário de Arte, ao mesmo tempo é também um crítico conceituado de um género de pintura, em que o sofrimento é base emocional dessa mesma obra. Em determinado momento da sua vida de solidão a dois, acaba por transpor para a vida real a arte dessas pinturas.

Não se considera um serial killer na verdadeira acepção da palavra, visto que não está imbuído de vingança ou impulsos emocionais provocados por traumas da sua vida. É completamente despido de emoção quando mata, e quando o faz é arte. Apesar de tudo, pode-se entender que algo se passa com ele emocionalmente porque não consegue relacionar-se com mulheres, acaba por se separar da mulher e não consegue nunca cativar as amantes. Todo o trabalho de estudar as vítimas, os cuidados para não ser relacionado, enfim, o seu trabalho de casa para que o seu trabalho desprovido de ganhos, sim, porque a arte é gratuita, e pinta quadros reais com muito vermelho... enfim... tudo isto não ajuda os relacionamentos, sobretudo o desapegar-se de emoções.

Estando rodeado por morte, afectado pelo terrorismo basco e o clima de opressão política que paira sobre os professores universitários, que obrigados a escolher entre os dois lados, sabendo que a escolha poderia provocar a sua queda profissional, acaba por não ter os cuidados devidos e é acusado de uma morte que não provocou. Não falo mais sobre o enredo deste livro, porque senão retirava-lhe a pitada de descoberta que o leitor deve sempre ter nas suas leituras.

Eu Assassino ataca ferozmente os pseudo-intelectuais, a falsa moralidade e os impostores artísticos. É um livro perturbador, negro (e vermelho) que se lê avidamente em determinados pontos.

A arte de Keko faz lembrar muito Alberto Breccia, do qual deve ser fã. As figuras são um pouco mais gritty que as de Breccia na minha opinião.
Um excelente preto e branco, umas vezes polvilhado de vermelho, outras com autênticos baldes dessa cor. Gostei muito da sequência gráfica deste livro, penso que é um trabalho exemplar de Keko.

O livro em si é uma boa edição da Arte de Autor com um papel de alta gramagem. Imperdível para quem de BD noir a preto e branco

Para a semana terão aqui o Eu, Louco.


Boas leituras

 

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