Quero fazer aqui uma homenagem a um dos maiores desenhadores/ilustradores/pintores portugueses.
E vou servir-me de uma edição que a nível nacional nunca deve ter tido paralelo. Camões – Sua Vida Aventurosa teve direito a uma colecção de cromos (que eu fiz há quatro décadas…), um livro de Banda Desenhada a Preto & Branco (numa edição especial do Mundo de Aventuras) e a um livro super luxuoso com caixa, papel brilhante de altíssima gramagem com as ilustrações mais emblemáticas (e coloridas) da colecção de cromos. Isto foi inédito, e que eu saiba único em Portugal.
Estávamos em 1972!
Uma das razões pela qual eu estou a fazer este post, é porque os blogues mais conhecidos pela sua nostalgia e recuperação de autores antigos praticamente não os vejo falar de DEUS. Falam sempre dos mesmo históricos e “mestres”, sempre os mesmos…
E aqui DEUS é Carlos Alberto.
As belas mulheres de Camões retratadas por Carlos Alberto dos Santos |
Este sim foi um fora de série, este sim esteve bem à frente de todos os “históricos”. Tão à frente que a maior parte dos seus trabalhos estão em colecções privadas no estrangeiro, muito pouco conhecido em Portugal… somo bons a reconhecer os nossos melhores… Não, este senhor não vai a Tertúlias, festivais e encontros (está muito velhinho…), mas porque não vai não tem de ser ignorado.
Carlos Alberto dos Santos é especial por uma razão muito simples. Consegue aliar uma enorme qualidade de desenho, a um enorme conhecimento de pintura. Os cromos que ele fez para a APR (Agência Portuguesa de Revistas) são autênticas pinturas! Estáticas, sim. Afinal era uma colecção de cromos!
Mas quando passamos para o livro de Banda Desenhada ele demonstra dinamismo, capacidade de narrativa gráfica, boa construção da página e até, vejam lá, numa vinheta parece ter as linhas de velocidade do Manga! Claro, ténue, mas o dinamismo que ele coloca nas suas páginas não tem igual para a época.
E porque não falar do domínio do Preto & Branco?
Muito bom. Os seus “claro-escuro” estão muito bem colocados de maneira a darem profundidade, tanto gráfica como emocional.
Esta técnica tem alguns excelentes apontamentos em algumas vinhetas, e com aquela qualidade só as vi em grandes mestres estrangeiros.
E tem outro pormenor interessante para a época… Carlos Alberto dos Santos usava argumentistas! No caso deste livro foi Oliveira Cosme. Ou seja, saiu daquele registo da época de que o desenhador é o argumentista, o que é de louvar!
Porque não dizer… já na Zakarella (criação deste desenhador), não era ele que escrevia os contos! Era o prolífico Roussado Pinto, sob o pseudónimo “Ross Pynn”. Carlos Alberto apenas desenhava e pintava, era aí que residia a sua excelência. Resistiu perfeitamente a ser o argumentista das suas histórias.
As imagens apresentadas neste post pertencem aos dois livros publicados Camões – Sua Vida Aventurosa. As Preto & Branco pertencem ao livro de Banda desenhada, as coloridas ao mini-Absolute editado pela APR com o mesmo nome. Neste livro de luxo podem encontrar um texto/história de Oliveira Cosme e as ilustrações de Carlos Alberto algumas feitas para a colecção de cromos, mas aqui em ponto grande!
Esta série de publicações saiu para a comemoração do 4º Centenário da obra máxima de poesia, “Os Lusíadas” de Luís Vaz de Camões.
Aliás, a colecção de cromos fascinou-me para a vida do poeta. Ficou impressa na minha memória de uma forma indelével.
Infelizmente a caderneta perdeu-se, mas com o tempo consegui em alfarrabistas aquilo para o qual eu não tinha dinheiro em criança: estes dois magníficos livros.
A história do considerado maior poeta da Língua Portuguesa é apresentada desde a sua adolescência, até à publicação do grande livro da poesia portuguesa, Os Lusíadas (1572). Claro, até também à sua morte que aconteceu pouco depois da publicação do livro.
Oliveira Cosme e Carlos Alberto trazem um Camões bem caracterizado na sua alcunha, o “Trinca-Fortes”, mostrando o poeta sensível, mas também o seu carácter belicoso muito bem desenvolvido. Estas duas facetas provocaram muitas invejas e inimigos…
Inimigos estes que fizeram a vida do poeta num inferno. Desterrado para as colonias, ele foi guerreiro, pedinte, sacrificado e herói. Mas sempre poeta!
O argumento de Oliveira Cosme na sua essência não é mau. O problema é mesmo o registo do português usado, e a sua “entoação”, por vezes bastante arcaico e sem necessidade disso… que raio, já estávamos nos anos 70!
Da parte gráfica… já disse tudo o que tinha dizer.
NUNCA se esqueçam deste MESTRE da Banda Desenhada e ilustração em Portugal.
Foi DEUS!
A imagem de topo é composta pela contracapa e capa do livro de BD, e imagem aqui por baixo é da caixa (slipcase) do livro ilustrado (ambos os lados da caixa).
A imagem final... é o retrato do fim da vida de Camões... extraordinariamente bem captado por Carlos "Deus" Alberto dos Santos.
Boas leituras
Revista/Slipcased Hardcover/Colecção de Cromos
Criado por: Oliveira Cosme e Carlos Alberto dos Santos
Publicado em 1972 pela APR
Nota: 10 em 10 no conjunto das três publicações (estou a contar com a colecção de cromos).
Realmente, sem palavras. Já tinha visto (e adorado) alguns trabalhos deste autor mas nunca tinha visto páginas de Bd do mesmo. A página do Adamastor está excelente (mais do que as outras). Concordo também que esta arte está bem acima do que normalmente se faz por cá (e se fez quase sempre). Gostaria de conseguir encontrar também esta publicação de que falas pois pelas páginas que mostras parece-me que será a primeira Bd 'histórica' portuguesa que me daria algum prazer ler.
ResponderEliminarUma pena que não se fale mais deste autor.
Concordo com tudo o que foi dito! Aguarda-se uma digna e justa homenagem ao grande Mestre Carlos Alberto Santos (e já agora uma bonita edição biográfica com os seus melhores trabalhos)! A edição mais recente - e já lá vão uns bons anos! - de "A vida aventurosa de Luís de Camões" foi adaptada do texto de Oliveira Cosme por Francisco Linhares, quando trabalhava nas Edições ASA, a cor ficou a cargo de Carlos Alberto Santos/Isabel Silva e as legendas eram de João Neves.
ResponderEliminarFico muito contente de saber que o Carlos Alberto ainda é vivo! Gostava muito de conhecê-lo. Já era mais que tempo de lhe ser feita uma homenagem à altura.
ResponderEliminarTemos memória muito curta e muito pouco apreço pelos grandes que temos tido.
Disponivel pra down?
ResponderEliminarTive o prazer de conhecer pessoalmente este senhor há cerca de 5-6 meses. Fiquei admirado por ver que ainda trabalha.
ResponderEliminarTal como muitos leitores, adoraria ver uma reedição dos seus trabalhos.
1972?... Fantástico. Este senhor merecia ter trabalhado na Espada Selvagem de Conan ou na Creepy. Com a salutar concorrência de John Buscema e do "Exército Filipino" explorado... quer dizer, liderado por Alfredo Alcala, teria tido a oportunidade de experimentar com cinzento. E as suas pinturas nada devem ao artista de capa da época, Earl Norem.
ResponderEliminarLuis Sanches
ResponderEliminarInfelizmente teve de deixar a BD cedo demais devido a problemas de visão grave, passando a Pintura para primeiro plano. Como vê mal os seus quadros são enormes e grandiosos. Tive a sorte de ver um em acabamentos há 3 anos, simplesmente espectacular, e claro... uma encomenda do estrangeiro...
É devido a estes ostracismos em que a BD portuguesa, e porque não dizer da cultura em geral, é profícua que eu percebo perfeitamente o que se passa com a BD portuguesa actualmente, depois de ver como determinados agentes mais antigos desta área se comportam. As feridas parecem-me ser antigas... Só ouço falar de José Ruy, Garcês, Tiotónio, Jobat, José Pires e outros quejandos com um tempo de antena enorme. Ou seja, a doença já é bem antiga.
Este homem, esta ARTISTA, mete qualquer um deles no chinelo. Talvez por isso não seja bom falar dele... e depois deste garantidamente será o Mesquita (enquanto desenhador), os outros falados anteriormente, bem, foram bons na época em que desenharam. Mas excelência e endeusamento de todos esses artistas é um exagero... nesse caso Carlos Alberto tem de ser DEUS e os outros serão apóstolos!
:)
joaooneves
ResponderEliminarSim, fiz este post um pouco por raiva. Existem muitos blogues dedicados quase exclusivamente, ou com um peso muito grande, aos autores mais antigos e suas obras. Mas a única menção digna desse nome (e foi uma pequena menção) foi apenas no blogue Kuentro. De resto ninguém fala do nosso MAIOR artista de BD / Ilustração /Pintura.
O meu blogue não é talhado para este tipo de viagens a um passado mais longínquo (o que não quer dizer que não o faça de vez em quando), e só conheci este enorme artista e excelente pessoa há 3 ou 4 anos. Ora, em toda essa geração mais antiga de artistas e críticos alguém deveria fazer uma homenagem em condições e com maior conhecimento do próprio autor que eu próprio.
Se não o fazem... bem... isso leva-me a pensar outras coisas.
;)
Paulo Morgado
ResponderEliminarA memória curta é um predicado português. Em tudo. Vê-se na política também...
E sim, uma homenagem a este excelente artista já vem mais do que tarde, mas se vier é bem vinda na mesma.
E sim está vivo, muito velhinho, mas vivo. A última vez que convivi com ele foi o ano passado no lançamento do livro Provérbios com Gatos.
:)
Adriano
ResponderEliminarSe este livro está disponível para download? Duvido.
Mas pode ser que se eu conseguir um livro para estragar e fizer Scan, o coloque aqui no Leituras de BD,
;)
O País Cinzento
ResponderEliminarÉ impressionante, não é?
Uma pessoa que está quase invisual ainda trabalhar em Pintura é extraordinário. Ele disse-me que enquanto continuarem a chegar encomendas para os seus quadros, os vai fazendo. Este senhor tem 80 anos! Amazing!
:)
Paulo Costa
ResponderEliminarTeve azar de nascer neste país... um Conan feito por ele iria ser um marco nos comics.
As capas dele são na generalidade muito boas, aliás, a última capa que ele fez (que eu saiba) foi num livro de BD patrocinado pela Câmara de Moura, Salúquia: A Lenda de Moura em Banda Desenhada.
Foi em 2009 e podes ver aqui:
http://bongop-leituras-bd.blogspot.pt/2009/12/saluquia-lenda-de-moura-em-banda.html
;)
Não sabia que este Mestre era assim tão esquecido. Realmente a primeira vez que li sobre ele foi quando saiu o album da Câmara de Moura. Na altura lembro-me de ir pesquisar quem tinha feito a capa (surpreendido por não ter sido um estrangeiro, pois não sabia que havia um português a pintar assim com meios tradicionais. Nem os novos com meios digitais lhe chegam aos calcanhares).
ResponderEliminarTenho de admitir que tens razão. De lá para cá nunca o vejo referenciado em blogs ou sites a não ser aqui no teu, o que nos leva a uma questão remotamente interessante. Será que é deliberado este esquecimento? Terá havido desentendimentos no passado que levaram ao recalcamento da obra deste grande artista?
Seja como fôr, é uma pena que isto aconteça. Eu sempre achei que o Mesquita fosse o melhor. Depois de ver o trabalho de Carlos Alberto penso que a nivel de desenho estão a par (com estilos bem diferentes), no entanto é óbvio que a nivel de pintura o Carlos Alberto não tem comparação. Como disse, estou para ver alguém ligado à Bd em Portugal com a capacidade de pintura dele.
Mesmo que toda a gente falasse dele, acho que mesmo assim deverias falar dele também. Este post é mais do que merecido.
Gostava de o ter visto a desenhar o Homem-Aranha, o Tarzan, o Conan, não sei que trabalhos de BD fez internacionalmente, apenas pinturas?
ResponderEliminar-Bladder
Luis Sanches
ResponderEliminarPois... não sei! Acho muito difícil uma pessoa tão amorosa como o Carlos Alberto (que eu tive o orgulho de conhecer) andar em tricas no nosso meio da BD. A haver outra razão deste esconder de um portento como ele só pode ser o do costume.
É que ninguém fala dele!
Eu já tinha falado aquando da Zakarella. Depois li um pequeno apontamento sobre ele no Kuentro.
Mas é como te digo, só se fala em José Ruy, José Pires, Garcês, Peon, Tiotonio, Jobat... porque será?
Foram bons alguns deles, sim (não todos, alguns foram perfeitamente MEDIANOS), não lhes retiro isso nem era essa a minha intenção, mas não são nem nunca foram foras-de série! Os nossos artistas nessa classe tão rara foram o Carlos Alberto e o Mesquita. E acabou! Têm menos amigos que os outros, paciência... só que isso não dá qualidade aos outros nem a retira a estes dois. Ponto.
;)
Pedro Santos
ResponderEliminarInternacionalmente foi só pintura. As BDs de Carlos Alberto foram quase todas (se não todas) feitas no tempo da ditadura, e nesse tempo os nossos artistas eram perfeitos desconhecidos para o estrangeiro.
Este artista abandonou a BD porque a sua visão tem problemas graves, por isso se virou de vez para a pintura onde tem quadros gigantescos. Eu vi um assombroso quase pronto a viajar para o estrangeiro... o quadro era maior que eu! Ele justificou esses tamanhos com a sua falta de visão, era a única maneira de continuar a ser um artista e a viver da sua arte.
:\
É com muita satisfação que me associo a esta homenagem a Carlos Alberto Santos, grande pintor e ilustrador, dos maiores do seu género, que muito honra as artes figurativas e plásticas portuguesas, mas com obra menos relevante na área da BD, não em qualidade mas em quantidade, como ele próprio sempre reconheceu.
ResponderEliminarPor outro lado, não é verdade que este Artista tenha sido votado ao ostracismo pelos blogues que dão mais destaque à BD de feição clássica, ao contrário do que sugerem alguns comentadores e o próprio Nuno Amado no seu texto.
Lembro que o Kuentro-2, entre 7 de Maio e 2 de Julho de 2012 (não foi, portanto, uma "pequena menção"), divulgou vários textos dedicados a Carlos Alberto (um deles da minha autoria) na sua rubrica "Jobat no Louletano", apresentando também na íntegra a história "A Filha do Rei de Nápoles", que foi o último trabalho de C. Alberto em BD, com argumento meu, para um álbum da ASA saído em finais dos anos 80.
Esses "posts" do Kuentro-2, profusamente ilustrados com desenhos, páginas de BD, colecções de cromos, capas de livros e revistas, realizados por Carlos Alberto ao longo de várias décadas, podem ser vistos em:
http://kuentro.blogspot.pt/search/label/JOBAT%20NO%20LOULETANO?updated-max=2012-06-18T09:57:00-07:00&max-results=20&start=43&by-date=false
Eu próprio, no meu blogue "O Gato Alfarrabista", fiz recentemente referência a algumas obras de Carlos Alberto, como pode ser visto em:
http://ogatoalfarrabista.wordpress.com/category/a-historia-de-portugal-em-bd/
E, recuando um pouco no tempo, quem consultar o blogue de Jorge Silva "Almanaque Silva", lá encontrará também algumas notas sobre trabalhos deste Artista:
http://almanaquesilva.wordpress.com/category/carlos-alberto-santos/
Para já não falar do magnífico site de João Mimoso dedicado especialmente às suas pinturas:
http://www.tabacaria.com.pt/CarlosAlberto/Index.htm
Embora aplaudindo o interesse que o texto de Nuno Amado e a sua evocação do "Camões" de Carlos Alberto despertaram em tantos internautas, não posso deixar de manifestar o meu desacordo nalguns pontos, sobretudo para que não se propague a ideia errada de que existe uma espécie de "conspiração do silêncio" noutros blogues contra este grande Artista, felizmente ainda vivo e que, apesar da idade, continua a dedicar-se com o mesmo talento inexcedível àquela que foi sempre a grande paixão da sua vida: a Pintura.
Claro que ainda está por fazer a grande homenagem que lhe é devida, com uma mostra retrospectiva da sua obra em várias vertentes, mas isso talvez devesse competir, em primeiro lugar, a alguns dos Festivais de BD que se realizam durante o ano. Sobretudo aos mais importantes...
Um cordial abraço do
Jorge Magalhães
A propósito deste assunto, o pretenso ostracismo a que tem sido votada a arte de Carlos Alberto por outros blogues de BD, trago mais uma achega em defesa da tese contrária, como já devidamente explanei, lembrando uma entrevista com o veterano pintor e ilustrador publicada em 21 de Novembro de 2012 no blogue BDBD, de Carlos Rico e Luiz Beira.
ResponderEliminarPodem vê-la em:
http://bloguedebd.blogspot.pt/2012/11/entrevistas-8-carlos-alberto.html
Outra referência ao álbum sobre Camões (embora breve) está no blogue Colecionador de BD:
http://colecionadordebd.blogspot.pt/2013/04/luis-de-camoes_27.html
E já agora não deixem de ler também os comentários, nestes e nos outros "posts" que já citei.
Saudações bedéfilas do
Jorge Magalhães
Jorge Magalhães
ResponderEliminarQuando falei em homenagem falei num artigo de fundo e a sério, como já vi por aí fazer com outros.
A entrevista de 7 perguntas? Isso é o que eu chamo uma mini-entrevista, não uma entrevista.
De resto, e fora esta entrevista que tem um texto a apoiar, é quase tudo só apontamentos. Apenas o Kuentro falou mais um pouco, mas dentro de uma rubrica gigantesca dedicada ao Jobat, e o texto do João Mimoso ainda me parece o melhor que já foi feito (já conheço esse artigo há muito tempo). Mais tenho a dizer que quase não se fala da técnica, das dificuldades, dos temas, da mestria, enfim, um artigo de fundo. O texto que serve de apoio à mini-entrevista é apenas um enumerar de obras, ou seja, um artigo quase e apenas cronológico.
Qualquer homenagem que se faça a um autor tem de ter duas coisas muito importantes: conhecimento do autor e EMOÇÃO! E isso falta nos textos todos. Um artigo sem emoção não é uma homenagem na verdadeira acepção da palavra.
Eu não acho que seja a pessoa mais indicada para fazer isso, pois não o conheço pessoalmente em profundidade, mas garantidamente este meu texto, que não é uma homenagem mas sim uma crítica ao livro Camões, tem mais emoção que todos os artigos que li sobre ele.
A minha pergunta mantém-se, onde está essa homenagem?
:\
Jorge Magalhães
ResponderEliminarE esqueci de dizer isto.
Compare o que existe sobre os autores mais antigos que enumerei com o que existe escrito sobre o Carlos Alberto.
A diferença é ABISMAL.
:|
Caro Nuno,
ResponderEliminarSem querer transformar esta conversa amena numa polémica, até porque estamos ambos do mesmo lado na profunda admiração pela obra e pelo talento de um grande Mestre como Carlos Alberto (que eu conheço seguramente há mais tempo do que você), direi que existe, de facto, uma diferença "abismal" entre a produção deste artista na área da BD – não em qualidade, mas em quantidade, repito – e a de outros autores nacionais, como E.T. Coelho, Fernando Bento, José Garcês, José Ruy, Vítor Péon e José Pires. Por isso, é natural que estes tenham mais "tempo de antena" nalguns blogues, como acontece com os partidos políticos, cuja notoriedade nos meios informativos depende sempre da dimensão do seu eleitorado.
Note que eu estou só a referir-me à BD, não negando a importância e o volume extraordinário das obras produzidas por Carlos Alberto noutras áreas artísticas, como a ilustração e a pintura.
Também há uma diferença abismal entre proclamar a completa indiferença de alguns críticos e divulgadores da nossa praça por este Mestre (como se houvesse uma "conspiração do silêncio" contra ele) ou reconhecer que, afinal, também lhe têm dado algum "tempo de antena", ainda que esporadicamente e sem a profundidade, no seu entender, que merecia. E eu pergunto: conhece tudo o que já se escreveu sobre ele? Todas as homenagens que já lhe prestaram, como em finais de 2005, na Casa Roque Gameiro, por iniciativa do Festival Internacional da Amadora, com a edição de um pequeno mas precioso catálogo, organizado por Leonardo De Sá e recheado de ilustrações a preto e branco e a cores?
Já leu todos os artigos que a secção 9ª Arte, coordenada por Jobat no extinto jornal "O Louletano", lhe dedicou? Já viu o álbum "Camões" lançado pela Asa, reedição da história publicada a preto e branco na edição especial da APR por si mencionada?
Sabia que esse álbum, cujo prefácio tive a honra de escrever, partiu dos meus contactos com Francisco Linhares e Carlos Alberto, que não se conheciam mas puderam chegar, assim, a uma ponte de entendimento?
Sabia que fui eu que o convenci a voltar, pela última vez, à BD, já quando os problemas de visão começavam a afectá-lo, num álbum colectivo editado também pela Asa,
cujos argumentos escrevi, incluindo o da história desenhada por Carlos Alberto?
Sabia que o seu nome veio sempre referido, e de forma elogiosa, em todos os livros sobre a BD portuguesa publicados até hoje?
Se isso tudo não são homenagens, então o que são, o que representam para o público em geral?
Quanto ao seu artigo sobre o álbum especial dedicado a Camões e edições correlativas, já tive ocasião de o felicitar, pois é genuíno o seu entusiasmo e o seu apreço por essas obras, apesar de pertencer a uma geração mais nova do que a minha... mas como se pode medir a emoção num texto literário? Parece-me um processo meramente subjectivo. Para mim, mais importante do que a emoção é o rigor, a objectividade, e esse, sim, é perfeitamente mensurável.
Saudações bedéfilas,
Jorge Magalhães
Tentando colocar um pouco de água na fervura :)
ResponderEliminarJorge Magalhães,eu fui um dos que me deparei com a obra de Carlos Alberto pela primeira vez no artigo do BDBD e de imediato só pude fazer vénias ao artista. Desconhecia completamente que existisse ou tivesse existido tal Mestre na nossa praça. E penso que a critica do Nuno é nesse sentido. Ou seja, as gerações mais recentes, como é o caso da minha, desconhecem completamente este senhor. E a minha geração já lê Bd há 30 anos. E sempre ouvi falar dos outros históricos autores que ambos referem, mas realmente durante este tempo todo o Carlos Alberto passou sempre fora do meu radar.
Até pode ser um problema meu e da minha geração, ou tambem pode ser que este Mestre seja maioritariamente referenciado em locais que não são vocacionados para a minha geração.
Seja como fôr o facto mantém-se, foi em 2012 que tomei conhecimento deste autor. E eu até tento ser um tipo atento. Penso que a critica do Nuno é neste sentido (pelo menos é assim que a sinto e lhe dou razão).
Acho que não é contra ninguém em particular, mas contra uma falta de divulgação no geral.
Por fim, o facto do autor ter uma obra de Bd menos extensa não invalida a constante divulgação do mesmo. Eu tive (e tenho no sótão) muitas Bds dos autores mais famosos referidos e nunca nenhuma me suscitou tanto interesse como esta Bd acerca de Camões. Tenho pena de só ter conhecido esta obra agora. E aposto que não sou o unico. :)
Luís Sanches
ResponderEliminarObrigado por traduzires aquilo que eu sinto. Não estava a conseguir passar para palavras o meu pensamento sobre o assunto
:)
Jorge Magalhães
ResponderEliminarO Luís Sanches traduziu perfeitamente o que eu quis dizer.
:)
Bom, está tudo bem, estamos todos bem e concordamos que todos estamos do mesmo lado, ou seja, AO LADO do Mestre Carlos Alberto Santos! Esgrimadela daqui, esgrimadela dali, ninguém sai chamuscado nem ninguém está a medir forças, como oportunamente disse Jorge Magalhães, mas também concordo com a frase, não menos oportuna de Luís Sanches, em que há textos que são escritos e publicados mas não nos locais indicados para promover o interesse e a curiosidade de todos os interessados... Bom, mas, conversa para cá, conversa para lá, sobra a pergunta: E a homenagem?... Vem ou não vem?... Há ou não há homenagem, independentemente de todas as outras que de alguma forma já foram feitas, por Nuno Amado, por Jorge Magalhães, por Francisco Linhares, por Luís Beira, pela ASA ou por qualquer outro de nós?... Pessoalmente acredito que quem com a ilustração, a Banda Desenhada, a Pintura e a Arte em geral, partilha a sua vida, também deverá partilhar com este Homem um abraço e um obrigado! São décadas de trabalho, a criar histórias, a criar imagens, a criar personagens, muitos deles atrás de mitos e figuras complexas e inimagináveis... Trouxe encantamento, desenterrou heróis e deu novos mundos à história de Portugal. E tudo isso ele desenhou e tudo isso ele pintou com a mestria que lhe foi e continua a ser reconhecida!... Acho, pois, que Carlos Alberto Santos até deveria ter um reconhecimento oficial pelo seu significativo trabalho! Bom, mas a nossa história e o nosso desejo aqui é outro, é mais comedido, mas não menos emotivo, como referiu Nuno Amado... Por isso, acho que chegou a hora de quem organiza festivais, tal como já foi mencionado por alguém que obviamente também tem culpas no seu sucesso - Jorge Magalhães - pensar em expor este Autor português (enquanto é tempo!) para que todos o possamos conhecer; descobrir o seu trabalho e encontrar o homem humilde e generoso que é! Quanto a uma edição biográfica dos seus melhores trabalhos e das várias épocas que atravessou, talvez, com a ajuda de jornalistas da área e com uma boa editora ou então alguma entidade com peso na matéria, possivelmente ligada à Câmara da Amadora. Última nota: Estávamos em 2009 e passeava eu, na FNAC do Chiado, quando deparei com um lançamento de um livro, de capa atraente e colorida, que historiava sobre a vida de D. Nuno Álvares Pereira. A autora, a Dra. Isabel Ricardo, referiu a determinada altura que a capa e todas as ilustrações/pinturas foram cedidas graciosamente pelo autor, Carlos Alberto Santos. No final, no meio da multidão, muito discreto e apagado, a um canto, estava Carlos Alberto Santos. Falei-lhe, e pedi-lhe que também assinasse o livro... mas como ainda não tinha a assinatura da autora, ele recusou-se, dizendo que só o faria DEPOIS da Dra. o assinar primeiro. Era uma questão de ética profissional e respeito pelo autor, do qual ele nada podia fazer... É assim!... Nas pequenas atitudes se vêem os grandes Homens!...
ResponderEliminarJoão Neves,
ResponderEliminarEsse episódio que contas no ultimo parágrafo é tocante. E não digo isto com meia palavra.
Há tanta coisa sobre, e de Bd, que eu não compro. Mesmo muita. Mas se há livros a que dou valor são os livros sobre a arte de cada um dos artistas. Tenho do Al Williamson, do Alex Nino, Barry Windsor Smith, Michael Kaluta, e mais uns quantos. Tenho muito apreço por estes livros. Seria mesmo excelente se pudesse ter um livro bom de capa dura sobre a vida e a obra do Carlos Alberto. Era muito interessante que surgisse um projecto assim. Contando a história do autor, mas sempre (com muita frequência) complementado com as suas obras. Formato grande e bom papel para fazer justiça a uma vida dedicada à arte. Será que seria dificil conseguir boas imagens das suas melhores pinturas para incluir na tal edição? Eu é como digo, encontravam-me no primeiro lugar da fila para comprar esse livro.
Visto que está aqui tanta gente conhecedora dos meios da Bd em Portugal, como acham, ou, quem acham que poderia conseguir tal feito?
Caro Luís Sanches,
ResponderEliminarNas minhas respostas aos vários comentários que este "post" sobre o Camões de Carlos Alberto em boa hora suscitou, já dei vários links para outros "posts" que alguns blogues lhe dedicaram, incluindo o meu, O Gato Alfarrabista (passe a publicidade). Apenas com a intenção de mostrar que Carlos Alberto não está totalmente esquecido, ao contrário do que pareciam sugerir algumas afirmações aqui expostas.
No meu blogue, que só existe desde Janeiro deste ano, já lhe fiz várias referências, acompanhadas de ilustrações que ele realizou para o "Mundo de Aventuras" e para outras revistas. Pode vê-las, se tiver curiosidade, em:
http://ogatoalfarrabista.wordpress.com/tag/carlos-alberto/
Claro que a sua obra no campo da BD e da ilustração merece ainda maior destaque; neste ponto estamos todos de acordo, mas em vez de fomentar "guerras" inúteis ou acusações de certo modo infundadas, acho que devemos unir-nos e trabalhar para a mesma causa, divulgando ao máximo, dentro das possibilidades,dos gostos e das motivações de cada um, os bons autores portugueses, do passado e do presente.
Por outro lado, no que toca a Carlos Alberto, em especial, quero ainda frisar que ele é o único artista, entre todos os que foram aqui mencionados, que tem um site próprio na Net, graças a João Manuel Mimoso, com exposição de muitas das suas obras, nomeadamente pinturas e colecções de cromos.
Provavelmente o Luís Sanches nunca se apercebeu disso, assim como de outras referências que lhe têm sido feitas em blogues como o meu, o BDBD (vocacionados para a BD mais antiga)e o Kuentro. Além de outros, como já referi.
Portanto, falta de divulgação não há. Deve é haver ainda mais, tratando-se de um artista desta relevância, como fez o Leituras de BD... e nisso, digo e repito, estamos todos de acordo.
Saudações bedéfilas do
Jorge Magalhães
Acontece que sou actualmente comissário de uma exposição sobre o suposto “ostracizado” Carlos Alberto Santos, depois daquela que já organizei em 2005 na Casa Roque Gameiro, na Amadora, em três ou quatro pisos do edifício, para não dizer a sua quase totalidade. Nada mal para um autor supostamente “esquecido” ou deliberadamente “ignorado”, como descrito em muitos dos comentários anteriores!
ResponderEliminarDesta vez, trata-se de uma pequena mas espero interessante mostra sobre a sua caderneta de cromos da História de Portugal, organizada com o (amigo e) grande especialista do género, João Manuel Mimoso, comemorando o 60º aniversário da publicação da colecção. Esta exposição monográfica inaugura hoje mesmo, Quinta-feira, dia 3 de Outubro, na Biblioteca Nacional, em Lisboa, e ficará patente durante o mês inteiro, detalhes aqui:
http://www.bnportugal.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=859
Espero que os amadores compareçam, sendo que haverá também um catálogo disponível online no site na instituição. Enfim, depois não venham dizer que os autores estão esquecidos quando na realidade...
Leonardo De Sá
Jorge Magalhães
ResponderEliminarO meu grande objectivo, e pelos vistos alcançado foi potenciar discussão sobre o tema.
Não vou falar mais sobre aquilo que se considera escrito com emoção ou não. Eu consigo sempre saber se o autor de um texto está envolvido emocionalmente ou não com o assunto apresentado, acho que isso só será subjectivo para quem é emocionalmente pobre. Textos sem emoção são meros balanços de contabilista.
Também os faço bastantes vezes quando o objectivo é apenas apresentar algo que muitas vezes nem sequer tive contacto.
Fico à espera de uma boa homenagem de quem o conheça bem como pessoa, e claro, da sua obra. Aliás, até acho que o Jorge Magalhães é a pessoa certa para isso.
;)
Leonardo de Sá
ResponderEliminarPode mandar-me as bocas que quiser em relação "ignorado", "ostracizado", etc. O meu objectivo foi conseguido. Só se consegue falar de um tema aqui neste país depois de agitar águas. Eu como sou uma pessoa que diz o que pensa sem medos e receios, e já tive muitos dissabores por causa disso, assim como também arranjei alguns "amigos" dos bons estou a borrifar-me para isso.
Agora em relação à exposição, ou exposições...
Amigo Leonardo de Sá, você anda nisto há muito mais tempo que eu. O Leonardo até podia ter feito uma Mega Exposição na Casa Roque Gameiro de 10 pisos (se essa casa os tivesse) que o resultado seria o mesmo. Sabe perfeitamente que as únicas exposições realmente vistas são aquelas que são apresentadas no centro do Amadora BD, ou seja, neste caso mais actual no Fórum Luis Camões. O resto das dezenas de exposições espalhadas pela Amadora tem um público completamente residual. Isto é um facto sabido por todos.
Talvez esta sua mais pequena exposição tenha mais visitantes que a grande exposição, não sei. Pelo menos o local presta-se melhor a isso.
Mas também lhe digo...
Que raio de DIVULGAÇÂO é que foi feita a esta sua exposição que vai começar que ninguém sabe dela? Pelo menos a todos quanto perguntei ninguém sabia. Estou a falar das gentes da BD. Dos cromos não faço ideia.
Porque é que não se servem das dezenas de blogues existentes para divulgar a exposição?
Amadores? Não sei a quem se aplica essa palavra que usou. Sim, sou amador, mas com muito orgulho. O orgulho de alguém que já fez bem melhor que alguns profissionais.
:\
joaooneves
ResponderEliminarSão as esgrimadelas que fazem avançar o mundo, senão isto fica tudo no marasmo...
:D
Acho que uma das coisas que está em causa é o significado de "Homenagem". Parece que aquilo que eu considero uma homenagem não é a mesma coisa que para outros... eu espero em 2014 fazer uma mega homenagem ao Carlos Alberto, se tudo correr bem, claro. Mas para uma homenagem tipo escrita, garantidamente não serei a pessoa mais indicada visto quase nada privei com este excelente autor.
Gostei muito deste comentário em que falas do teu contacto com o Carlos Alberto. Um Senhor!
:)
Luis Sanches
ResponderEliminarTenho a mesma opinião que tu! Tocante sem dúvida.
:O
Jorge Magalhães
ResponderEliminarAntes de mais, muito obrigado pelo link para O Gato Alfarrabista. Desconhecia o blog e também os artigos lá dedicados a Carlos Alberto. Não me canso de olhar e estudar a mestria deste senhor. Já vi que vou ter bastante com que me entreter durante umas horas :)
Em relação a referências que fazem a este autor em blogs vocacionados para Bd mais antiga, tem razão, nunca me apercebi. E até posso admitir que a culpa disso seja inteiramente minha. Mas a questão aqui penso não ser essa. Sendo Bd uma arte, o seu valor é intemporal. Como tal, este senhor deveria ser reconhecido imediatamente por bedéfilos mais novos, o que não o é. Penso que há um fosso enorme entre o conhecimento que as novas e as menos novas gerações de bedéfilos têm dos autores portugueses daquela época. E aqui, se calhar a culpa já não é tanto nossa. Não digo também que seja da outra geração, só o que acho é que não tem a ver com falta de interesse do pessoal mais novo.
Por exemplo, a exposição mencionada acima, não sei se foi difundida informação em alguns circulos a que não tenho acesso, ou publicitada nas ruas da Amadora. O que sei é que vivo a 10 minutos (de carro) do local e não tive ideia que existiria. Lá está, felizmente até sou interessado e leio os comentários de um blog que sigo regularmente. A minha questão é, se não o tivesse feito, onde estaria sujeito a poder ler informação sobre esta exposição? E nisto concordo inteiramente com o Nuno. Hoje em dia, com tantas coisas a acontecerem ao mesmo tempo, se não há um minimo de divulgação, ninguém nota que estes projectos acontecem. Claro que aparece sempre gente, mas não gente nova no meio. Não aparecem desconhecidos.
Mais uma vez vou falar pela minha geração. Não temos conhecimento deste senhor (salvo excepções, nas quais agora me incluo). Eu compreendo que (por exemplo) o Amadora BD necessite de chamar publico com o que de moderno e bom se faz nos dias de hoje, mas este senhor é dos poucos (quase unico na minha opiniao) que tivemos em Portugal, que nos enche completamente as medidas. Tal como a exposição de Mesquita o ano passado, penso que Carlos Alberto merecia algo semelhante mas 3 vezes maior(e pelo que vejo, já o merecia há muito tempo).
Acho que somos todos um pouco vitimas da quebra que a Bd em Portugal sofreu há umas décadas atrás, passando de um meio bastante movimentado para uma estagnação quase total que só recentemente começou a acordar novamente. Ficaram os mais velhos que conhecem bem tudo o que é antigo, e os novos que conhecem bem tudo o que é novo. O problema é que o conhecimento dos mais velhos não parece chegar aos novos, e vão ser os novos é que vão recordar, lembrar, homenagear, estudar (como é o caso de quem desenha), e referenciar estes autores mais antigos daqui a alguns anos. Temo que sem esta passagem de conhecimento se perca parte da nossa história da Bd.
Dito isto, estou mesmo interessado é naquela ideia que tentei promover num comentário anterior :) Não há aqui ninguém que saiba como é que hipotéticamente poderiamos criar um livro cuidado, à semelhança do que se faz lá fora com outros grandes artistas, acerca da vida e da obra de Carlos Alberto? Digam lá que isso não era muito bom :) Vamos tentar debater como tal seria possivel, visto que todos nisso concordamos. Carlos Alberto é um Mestre que o merece.
Já muito se disse, já muito se escreveu sobre Carlos Alberto Santos; os que o conhecem, os que não o conhecem... já se jogaram alguns “trunfos” assaz pertinentes sobre a vida e obra dele, nomeadamente os que com ele mais de perto lidaram - figuras reconhecidas do panorama português de Banda Desenhada, jornalistas, estudiosos - sobre eventuais culpas de ausência de uma maior informação sobre a vida dele... Pela minha parte, e serenado que está o assunto (já vamos no comentário 33), a haver “culpa” (que não há!), seria maioritariamente de quem dá a informação e nunca de quem a recebe, porque simplesmente a desconhece. O “emissor” tem que acautelar a mensagem de forma que ela chegue ao “receptor” (tem que escolher e, preferencialmente, saber onde está o seu público-alvo) e este não sabe se Carlos Alberto Santos foi ou não um bom Autor ou o que é que fez ao longo da sua vida... Aliás, nem sequer sabe quem é Carlos Alberto Santos... Mas, felizmente, o blogue e o tema “Camões”, de Nuno Amado veio ajudar a resolver o problema!...
ResponderEliminarE hoje em dia, com tantos sítios que começam a aparecer sobre Banda Desenhada (e só agora é que eu os descobri!) então aí, a possível “culpa”, já pende mais para o lado do “receptor”, que já não tem justificação para não saber o que se passa neste mundo da 9a Arte...
Enfim, passando por cima desta lengalenga, há, no entanto, que reconhecer o trabalho de uma vida de algumas pessoas que muito têm escrito sobre Banda Desenhada em Portugal, sobre os seus Autores e todo um trabalho na busca da informação correcta e que têm tentado - e muitas vezes com sucesso, felizmente! - levar toda essa preciosa informação até junto dos seus leitores, que no fundo somos todos nós!... Por isso, e pela parte que me toca, um profundo “obrigado” a todos aqueles que de alguma forma nos têm ajudado a compreender um pouco melhor este mundo fascinante da Banda Desenhada e entre eles, Jorge Magalhães, Geraldes Lino, Luís Beira, Leonardo De Sá, António Dias de Deus, José Manuel Vilela, Natália Severino, Francisco Linhares, e certamente muitos outros...
Bom, mas o assunto principal continua a ser e será sempre (enquanto não chegar a devida homenagem com a grande exposição dos seus trabalhos e o tal “livro de ouro”) Carlos Alberto Santos! Conheci-o com o nome de M. Gustavo a pintar Quadros da História de Portugal e nunca mais lhe perdi o rasto artístico. Ao longo dos anos fui a várias exposições mas nunca lhe comprei quadro nenhum, apenas pedi autógrafos para algumas reproduções dos seus trabalhos... Participei no livro “Camões” (a última edição do álbum que despoletou todos estes comentários) pela editora ASA, desenhando as legendas. E por fim, ainda pensei que podia aprender algumas coisas com ele, nomeadamente, pintar tempestades, mas a idade e a saúde já não lhe permitem ter alunos... Os anos não perdoam!... Passam indelével mas implacavelmente sobre todos nós!... Gosto do seu trabalho, admiro-o e respeito-o!
Quanto ao livro com o melhor da sua vida artística, Luís Sanches, assim que comecei a descobrir e a comprar todos os que podia, também comecei a achar - que por mérito próprio! - Carlos Alberto Santos, merecia o seu... Tem que haver biógrafos, jornalistas em geral, que possam escrever sobre as várias fases da vida dele e um Editor ou várias Editoras, que em conjunto, possam custear o preço de uma edição deste tipo e perspectivá-la de forma a que ela, se não der lucro, pelo menos não dê prejuízo!... Existem Editoras que podem fazer isso - assim haja vontade e pressão por parte de todos nós! Neste país parece que é tudo difícil, mas se queremos as coisas temos de lutar quase incessantemente por elas!...
João do Ó Neves
Caros Nuno Amado, Luís Sanches e João Neves,
ResponderEliminarEstou de acordo, em princípio, com muito do que explanaram nos vossos comentários. E precisamente para que o conhecimento dos mais velhos possa chegar aos mais novos, como frisou o Luís Sanches, é que criei no início deste ano, depois de muitas dúvidas e hesitações, pois nunca me tinha metido em tais aventuras, o meu blogue O Gato Alfarrabista, onde tenho falado, como alguns já devem ter visto, de vários autores da velha guarda que ainda estavam mais "esquecidos" do que Carlos Alberto.
Não duvido de que haja gente mais nova, de outras gerações, interessada em assimilar esses conhecimentos sobre a história da nossa BD, o problema é que a maioria não procura, nem sequer por mera curiosidade, blogues como o meu, o BDBD ou o Colecionador de BD, para citar só estes exemplos (porque há mais). Neste caso, como muito bem diz o João Neves – a quem aproveito para agradecer a referência e os elogios que me dirigiu, talvez lembrado dos tempos em que nos conhecemos no "velho" e saudoso "Mundo de Aventuras" –, neste caso, repito, parafraseando o João Neves, a culpa é também do "receptor", que precisa de procurar as ofertas para estar bem informado e fazer depois as suas próprias escolhas. Neste vasto mundo da blogosfera, onde a informação abunda, somos nós que temos de procurá-la, porque ela não vem automaticamente ao nosso encontro.
Por outro lado, tenho a nítida consciência de que os mais velhos, sozinhos, alinhados todos na mesma trincheira, arriscam-se a travar uma luta inglória sem o concurso e o apoio dos mais novos, desde que estes se interessem pelos mesmos temas e queiram saber mais sobre o passado da BD portuguesa.
Por isso é que, independentemente desta pequena polémica e das "estocadas" que não molestaram ninguém, reconheço o valor de "posts" como os que o Luís Amado dedicou a Carlos Alberto, mesmo discordando, por vezes, dos seus pontos de vista e não me revendo nalguns dos seus "desabafos". Mas para isso, para a livre troca de ideias e o debate acalorado entre pessoas que professam, no fundo, o mesmo amor pela 9ª Arte, é que servem estes fóruns, bastante participativos num blogue com a projecção que já tem o Leituras de BD.
Quanto à realização de um "livro de ouro" sobre Carlos Alberto – usando a feliz expressão do João Neves – julgo que ela só poderá concretizar-se, um dia, com o apoio de uma grande editora ou de uma instituição com fins culturais que possa congregar várias parcerias, de forma a conseguir o patamar financeiro necessário para uma obra dessa natureza.
Em tempos, já lá vão também muitos anos, propus a uma certa editora o projecto de uma colecção nesses moldes, dedicada a grandes vultos da BD clássica portuguesa, começando por Vítor Péon, autor com uma obra imensa mas hoje quase completamente esquecida, à parte algumas esporádicas reedições em álbuns, revistas e fanzines. O projecto teve bom acolhimento e, de início, parecia bem encaminhado, mas depois tudo estagnou quando o sector comercial, que é sempre o que tem a última palavra, começou a perspectivar os custos e os benefícios, operação que, como é sabido, demora sempre uma eternidade!
Por isso, estou francamente muito pessimista quanto à viabilidade de um tal livro, nas circunstâncias actuais, o que não quer dizer que ele não venha a ser possível dentro de mais algum tempo, se muitos fizerem força para que Carlos Alberto – e outros autores de reconhecidos méritos – possa ter, por essa via, a consagração que merece... tal como já a tiveram E.T. Coelho, José Ruy e José Garcês, com o patrocínio do CNBDI e de uma pequena editora entretanto desaparecida.
Saudações bedéfilas,
Jorge Magalhães
Tinha-me esquecido de acrescentar mais uma coisa, desta vez dirigida ao Nuno Amado e a propósito da expressão "amadores" utilizada pelo Leonardo.
ResponderEliminarNão vejo nela qualquer sentido pejorativo, antes pelo contrário, pois etimologicamente "amador" significa aquele que ama, que tem gosto, afecto e dedicação por algo. Estou certo de que foi isso o que o Leonardo quis dizer, sem exprimir qualquer noção de inferioridade em relação aos "profissionais", como o Nuno Amado precipitadamente julgou.
No fundo, amadores de BD somos todos nós, e neste caso concreto da obra multifacetada de Carlos Alberto, seja como ilustrador, pintor, banda desenhista ou autor de colecções de cromos.
Abraços,
Jorge Magalhães
João do Ó Neves
ResponderEliminarPrazer em conhecer o legendador deste livro! A sério!
Este blogue às vezes trás-me surpresas positivas!
:)
O meu grande objectivo foi trazer discussão sobre este homem que eu tanto admiro, e felizmente consegui.
Garantidamente quero ver se vou à exposição que foi falada atrás, espero que amanhã.
Obrigado pela partilha!
:)
Jorge Magalhães
ResponderEliminarOk. quanto ao "amadores". O costume é ter uma conotação negativa, pelo menos nos dias de hoje... por isso a minha reacção. Sendo assim como disse, retiro eu o disse.
:)
Quanto a este assunto, posso-lhe fazer um desafio. Aceita se quiser!
Eu tenho uma rubrica chamada "A Palavra dos Outros" onde outras pessoas que não eu escrevem artigos aqui no Leituras de BD.
Eu convidava-o a fazer um artigo digno do mestre Carlos Alberto. Gostava muito que aceitasse porque acho que é MESMO a pessoa indicada.
Se não o quiser fazer para aqui, bem faça-o na mesma e coloque no seu blogue ou noutro qualquer.
Eu sei que de Amado só tenho o nome para muita gente da BD portuguesa, mas tudo o que faço é prol da arte que eu gosto. Mas tenho o defeito de dizer o que penso (embora por vezes me cale para evitar males maiores).
Muito obrigado pela sua participação aqui no Leituras de BD, gostei muito!
:)
Caro Nuno Amado,
ResponderEliminarObrigado pela resposta ao meu anterior comentário, que só hoje li, e pela amigável sugestão quanto a publicar um artigo acerca de Carlos Alberto no seu blogue.
Acontece que as suas reacções e as de outros seguidores do Leituras de BD já me tinham dado essa ideia, mas como compreenderá reservo-a para o meu blogue, tencionando pô-la em prática brevemente, e em vários "posts", para que o texto fique devidamente ilustrado – pois o que interessa é divulgar ao máximo a obra artística do mestre Carlos Alberto... embora para isso fosse preciso, de facto, um livro com muitas páginas.
O mais provável, embora conte terminar esse artigo em breve, aproveitando parte do que já escrevi sobre ele, é só começar a publicá-lo em Novembro, porque a programação deste mês está toda feita e arranquei já um pouco atrasado, devido a problemas no computador com que eu e a Catherine trabalhamos.
Ainda não consegui chegar aos mesmos números, para mim impressionantes, que alguns blogues de grande audiência, incluindo o seu, conseguem registar mensalmente, publicando mais de um "post" diário. Nem me passa pela cabeça lá chegar, dado as limitações que tenho, técnicas (só me abalancei a fazer o blogue com o apoio da Catherine), de idade e outras. Mas ideias não faltam e muito brevemente porei uma delas em prática, em que Carlos Alberto estará também em foco, numa faceta pouco conhecida. Depois verá...
Mais uma vez obrigado pelo seu convite, que muito me lisonjeia, e pode crer que foi com gosto que participei neste activo "fórum" sobre um grande artista que ambos (e não estamos sós!) muito admiramos e com o qual eu sempre mantive uma relação de cordial amizade.
Abraços do
Jorge Magalhães
Jorge Magalhães
ResponderEliminarFico extremamente contente por esta discussão ter dado azo a que haja futuramente um grande artigo sobre o Carlos Alberto, feito por si, a pessoa mais indicada para o fazer no meu entender devido ao conhecimento mutuo pessoal que vocês partilham.
:)
Em relação a ser feito no seu blogue, no meu, ou em outro qualquer deixa-me feliz na mesma.
Mas posso deixar uma dica sobre como podemos potenciar a audiência desse artigo.
Visto que disse que seria feito em várias partes eu posso dar a ideia de fazer uma publicação alternada desses artigos no seu blogue e no LBD. E sempre que houvesse novo artigo haveria um post a direccionar de um para outro blogue quando o artigo tivesse no outro blogue parceiro.
Já fiz isto com blogues brasileiros e resultou muito bem!
Isso garantidamente iria aumentar as entradas de leitores no seu blogue.
Isto é apenas uma ideia para potenciar o universo de leitores que iria ler os seus artigos sobre o Carlos Alberto, mas não fico chateado se entender que será tudo feito no seu blogue... afinal é o Jorge que terá o trabalho de fazer os artigos.
:D
Quando as pessoas são de bem e estão de bem, as "esgrimadelas" fazem mesmo andar o mundo! Parabéns a todos e viva o grande Mestre Carlos Alberto Santos!
ResponderEliminarEu acho até, embora não esteja ainda muito a par do mundo dos blogues, que tudo o que "puxa para o mesmo lado" em relação à Banda Desenhada nacional, devia estar, de facto, em ligação!...
Quanto ao meu trabalho, em "Camões", foi muito acessível; o álbum tinha qualidade e não apresentava dificuldades ao nível do texto e de espaços; mais que suficientes, para lá colocar o texto... nada comparado, por exemplo, a "Marca Amarela", de E. P. Jacobs, onde cada página era um autêntico calvário, e as frases, depois de devidamente traduzidas, tinham que ser meticulosamente "apertadas" nos "balões" de forma a que no final não sobrasse texto e faltasse "balão". E isto, obviamente, sem perder a qualidade exigida pelas Editoras... Enfim, foram tempos agradáveis, onde tive a sorte de participar em várias centenas de álbuns (cheguei a ter um grupo de trabalho com 15 pessoas a trabalhar 12 horas/dia) para inúmeras Editoras - só para a Walt Disney foram mais de 1200 revistas e 1700 títulos para novas histórias, além das capas, ilustrações, passatempos, etc!... Fazer as coisas com qualidade mas só até onde é possível, porque a saúde, um dia, pode cobrar-nos os excessos...
Bem-hajam a todos e parabéns pelas partilhas!...
João Neves
ResponderEliminarFelizmente , e ao contrário do que outros tentaram fazer fazer desta discussão noutros sítios, parece que a minha mensagem foi entendida. Ao contrário de outros que apenas tentam ganhar notoriedade querendo a polémica pela polémica, a polémica aqui serviu para algo maior. Fico feliz por isso.
Eu quis provocar um pouco de polémica para tentar que se falasse do assunto, e que alguma coisa positiva resultasse disso. Para mim é muito gratificante que tudo tenha sido entendido pela positiva, e que pelos vistos algo resultasse disto tudo.
Obrigado a todos os comentadores que participaram nesta discussão.
Quantos aos outros que não participaram aqui na discussão e que apenas quiseram ganhar alguns dividendos com títulos de artigos fabricados relacionados com este com o intuito de provocar polémica pela polémica, apenas aconselho duas coisas: sejam originais e criativos e deixem os outros em paz e sossego (se forem capazes, claro).
;)
Caro Nuno Amado,
ResponderEliminarA sua sugestão quanto ao artigo merece ser pensada, mas ainda é cedo para "pôr a carroça à frente dos bois", como soe dizer-se, porque ele não está sequer encetado e eu também tenho mais coisas para fazer. Aliás, o que me deve dar mais trabalho será a pesquisa de material iconográfico, entre a vastíssima produção de Carlos Alberto, mormente no campo da ilustração, porque, para "mal dos meus pecados", tenho a casa tão cheia de tralha que muitas coisas nem sei onde param.
Claro que a parceria com o LBD faria aumentar as minhas "audiências", disso não tenho dúvidas. No meu blogue, este tipo de artigos em continuidade, ou seja, divididos em várias partes, costumam aparecer mensalmente, porque, como já tenho várias rubricas regulares (mais de uma dezena), não consigo dar-lhes vazão em períodos mais curtos – até porque na parte técnica estou muito dependente da Catherine, que tem o seu trabalho profissional (durante muitas horas do dia) e um blogue também para manter em actividade.
Como lhe disse, é uma ideia a ser devidamente ponderada. Demos tempo ao tempo...
Um abraço,
Jorge Magalhães
Jorge Magalhães
ResponderEliminarCom certeza poderemos falar melhor durante o Amadora BD.
;)