domingo, 4 de agosto de 2013

Os Comics e os Anos 90: Crossovers entre várias Editoras [4]


Hoje Paulo Costa inaugura as suas colaborações nesta rubrica com o tema crossovers!

O post foi dividido em três partes:
Parte I: Marvel/DC (foco em Amálgama)
Parte II: Marvel e DC com outras editoras (foco em "Punisher Meets Archie")
Parte III: Outras editoras (foco em Deathmate)

Duas Editoras, um Comic

Os crossovers inter-companhia

Em 1976, a Marvel e a DC chegaram a um acordo de distribuição de trabalho, custos e lucros e criaram uma histórias juntando os seus ícones mais conhecidos, Superhomem e Homem-Aranha. Crossovers do género continuaram nos anos 80, mas foi a explosão do mercado nos anos 90 que permitiu às duas editoras colocar os seus respectivos personagens a encontrarem-se constantemente.

As duas empresas abriram as hostilidades em 1994 com dois one-shots onde os vigilantes urbanos Batman e Justiceiro, um produzido por cada editora com os seus respectivos profissionais. A primeira parte, feita pela DC, teve o problema de ter que lidar com os eventos da Queda do Morcego e apresentou Jean-Paul Valley e a sua complicada armadura na figura de Batman. A segunda parte, da Marvel, tem a única arte oficial de John Romita Jr. com personagens da editora rival. Com Bruce Wayne de volta e o estilo de Romita, foi uma história bem mais realista e permitiu um instante de confronto entre Frank Castle e o Joker.

Outros encontros sucederam-se, utilizando alguns dos heróis mais conhecidos, nomeadamente Batman ou Homem-Aranha, culminando em 1996 no sonho molhado de todos os fanboys: DC vs. Marvel, uma mini-série onde os principais heróis das duas editoras iriam enfrentar-se directamente e responder de uma vez por todas quem era o melhor. No entanto, para estragar tudo, em vez de deixar o escritor fazer o seu trabalho, as duas editoras permitiram aos leitores votar nos resultados, escolhendo os vencedores finais de cinco confrontos. A história foi completamente desprovida de qualquer tensão dramática, parecendo um confronto de luta livre profissional. Mas o crossover incluía uma surpresa brilhante que ninguém estava à espera.
























No meio do confronto, as duas editoras publicaram uma série de 12 revistas com novos personagens que juntaram as características de personagens de cada editora. Alguns eram óbvios, como o Dr. Strangefate (Dr. Estranho e o Sr. Destino), outros lógicos, como Super-Soldier (Superhomem e Capitão América), e alguns mais estranhos como Dark Claw (Batman e Wolverine) ou completamente absurdos como Assassins (uma dupla feminina, Catsai e Dare, que misturavam respectivamente a Mulher-Gato com Elektra e o Demolidor com o Exterminador).
























O sucesso da experiência dupla foi tal que foi repetido um ano depois, recuperando alguns heróis da primeira vaga como Spider-Boy (Homem-Aranha com Superboy) e JLX (Liga da Justiça e X-Men), mas criando novos, desde o óbvio Challengers of the Fantastic (Quarteto Fantástico e a sua inspiração, os Desafiadores do Desconhecido) aos bizarros Bat-Thing (Homem-Coisa e Morcego Humano) e Lobo the Duck (Lobo com o Pato Howard). Os encontros entre personagens das duas editoras, que deviam ser motivo de celebração, banalizaram-se rapidamente, e com o final dos anos 90, o número de crossovers caiu a pique, culminando já em 2004 com JLA/Avengers, que saiu 21 anos depois do esperado.


Os grandes e os outros

A passagem rápida e em massa das duas grandes editoras das bancas para o mercado directo deu às lojas especializadas uma fonte adicional de rendimento, permitindo a ests apostar nas novas editoras que surgiram durante a década de 80. Entre elas estava a Dark Horse, que construiu a sua reputação editando material licenciado nos filmes da 20th Century Fox, nomeadamente Alien e Predador.

Graças à boa relação com os editores Diana Schutz e Bob Schreck, a Dark Horse fez vários crossovers com a DC durante os anos 90, geralmente colocando Batman ou Superhomem contra os Xenomorfos do filme Alien ou contra um Predador. Mas a relação foi mais além e o Batman também teve oportunidade de conhecer Hellboy e Grendel. Aliás, este último foi a origem da relação, pois Grendel surgiu pela mão da editora Comico, onde Schutz e Schreck tinham trabalhado antes desta ir além à falência e de ambos se mudarem para a Dark Horse. Sem contar com a Marvel, a Dark Horse era a editora preferida da DC para editar crossovers, quase nunca saindo deste esquema, com raras excepções, como os crossovers com Spawn e Judge Dredd. Mesmo a WildStorm só interagiu com a DC depois que a Warner adquiriu a empresa de Jim Lee.

A Marvel, por seu lado, nunca trabalhou com a Dark Horse, mas não tinha problemas em manter boas relações com os artistas fugitivos que formaram a Image. Do lado de Jim Lee, Backlash, Deathblow, WildC.A.T.s e Gen13 tiveram direito a crossovers com personagens da Marvel, enquanto Rob Liefeld permitiu que a X-Force enfrentasse os Youngblood e que Cable lutasse lado a lado com Prophet. Durante a sua breve rebeldia com a Image, Marc Silvestri concebeu um crossover em oito partes com a Marvel chamado Devil’s Reign. Este teve uma escolha de personagens algo estranha (Wolverine e Elektra ao lado do Motoqueiro Fantasma e do Surfista Prateado, com Mefisto como vilão) e afectou realmente o universo Top Cow, pois Termal, líder da Cyberforce morreu depois de corrompido por Mefisto. Um contrato com a editora de jogos de vídeo Acclaim, que tinha adquirido a Valiant Comics, também levou a um invulgar encontro em duas partes do Homem de Ferro com o personagem X-O Manowar.















































Mas o crossover mais estranho de todos foi feito entre a Marvel a editora Archie Comics, que apesar de ter super-heróis no seu passado, ficou conhecida pelas inócuas aventuras do eterno adolescente Archie Andrews e dos seus companheiros que viviam na inócua cidade fictícia de Riverdale, que pareceu ter ficado parada em 1956. Nada melhor para trazê-lo para o mundo real do que colocar Archie face a face com o símbolo da violência ultra-realista que tinha contaminado os comics de super-heróis na década de 90, o Justiceiro. A história, publicada em 1994, era um simples caso de identidades trocadas, mas para a época foi também uma boa crítica tanto ao nível de violência que era comum, como ao estilo de arte que favorecia o uso de pin-ups mas era péssimo para a continuidade da história. Apesar do contraste da arte de John Buscema (nas sequências do Justiceiro) e de Stan Goldberg (nas sequências do Archie), a história não é afectada e é muito mais clara que qualquer coisa desenhada na época por Jim Lee ou por Todd McFarlane.


Caos criativo

As editoras mais pequenas e independentes também fizeram os seus próprios crossovers. Geralmente, assumiam a forma de one-shots, como os dois encontros entre Shi, de Billy Tucci, e Cyblade, da Cyberforce de Marc Silvestri, cada um publicado pelos respectivos proprietários. Existiram encontros pontuais, como Painkiller Jane vs. The Darkness, e ainda Nexus meets Madman, uma colaboração de Mike Baron e Mike Allred, facilitada pois a Dark Horse publicava ambos os títulos, que tinham começado em editoras diferentes (First Comics e Tundra, respectivamente). Existiram também alguns mais invulgares, que tiveram lugar dentro dos títulos normais de um dos personagens, casos pontuais que se passaram dentro da revista de Savage Dragon, que teve como convidados tanto o Hellboy como as Tartarugas Ninja, ou uma inusitada participação de Cerebus num número de Spawn.

Estes encontros eram relativamente fáceis de agendar, mas o mesmo não se passou com Deathmate, um crossover feito à medida do mercado de especuladores, e que custou muito dinheiro aos lojistas especuladores. Deathmate foi concebido em 1993 por Jim Lee, pouco tempo depois da formação da Image Comics, e por Steve Massarsky, presidente da Valiant Comics. A ideia era que ambas as editoras iriam publicar um crossover em seis partes, e que os vários sócios da Image iriam disponibilizar os seus personagens. Como era de esperar, a Acclaim, cujos escritores e artistas vinham maioritariamente da Marvel, e que na altura tinha Bob Layton como editor (Jim Shooter já tinha sido convidado a sair, depois de uma guerra com a administração), não teve problemas em cumprir os seus prazos e em publicar material que, apesar de ter pior colorização e impressão, tinha uma aparência mais profissional. Na Image, Lee, Silvestri e Rob Liefeld trabalharam cada um para seu lado e as revistas chegaram com meses de atraso. Seguir a história da Image para a Valiant e vice-versa não fazia qualquer sentido. A história tinha como premissa algo semelhante à Crise nas Infinitas Terras. Void (Lacuna, nas edições brasileiras) une-se espiritualmente com Solar, levando à fusão dos dois universos, que vão acabar por entrar em colapso se o vilão Master Darque e os heróis Geomancer e Supreme não puderem evitar. Mas as histórias do miolo da mini-série (que não vinha numerada, tinha apenas cores para identificar os vários números) eram muito confusas, uma vez que Liefeld e Silvestri resolveram contar histórias à sua maneira, sem qualquer relação com as outras, e não houve qualquer direcção editorial.















































Ao contrário da Marvel e da DC, as editoras mais pequenas continuaram a fazer crossovers com alguma regularidade depois dos anos 90, com a entrada no novo milénio, mas o impacto destes encontros é quase nulo fora do grupo de fãs dos respectivos títulos.

Texto: Paulo Costa

Mais um post nesta interessante  rubrica!
Se quiserem consultar mais textos do Paulo Costa aqui no Leituras de BD, basta clicar no nome!

Podem consultar as outras entradas desta rubrica nos seguintes links:
Os Comics e os Anos 90: Image Comics - Youngblood
Os Comics e os Anos 90: DC Comics - A Morte do Super-Homem
Os Comics e os Anos 90: DC Comics - A Queda do Morcego

Boas leituras

22 comentários:

  1. E eu estou babando pelo crossover entre o Conan e o Groo :-)

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  2. Excelente artigo e uma boa viagem ao passado.

    Que belas recordações desta época que, apesar de tanto lixo produzido, ao mesmo tempo parece-me reconfortante.

    Recordo com especial carinho os Amalgam e o Batman-Homem Aranha do JM deMatteis e Mark Bagley. Ou o Darkseid-Galactus do Byrne. Tão bom! E, calro, o corolário, já fora da década, que foi o JLA-Avengers.

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  3. pco
    Acho que esse crossover entre o Groo e o Conan ficou sem efeito... falou-se disso há uns anos mas nunca mais vi nada sobre o assunto.
    Mas seria um bom crossover!
    :D

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  4. SAM
    Terás muitos mais artigos sobre esta década tão especial nos comics! São 3 artigos todas as semanas (3ª, 5ª e Domingo) e vai durar uns tempos!
    :)
    O Darkseid - Galactus desconhecia a existência... vou investigar! Teria boas premissas para ser épico!
    :D

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  5. Parabéns pela bela série de posts sobre os anos 90!
    Abraço!

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  6. Luan Zuchi
    Obrigado! Mas isto só é possível, e com esta cadência de posts, devido à colaboração do Paulo Costa e do Hugo Silva!
    Se não houver problemas será assim a distribuição:
    3ª Feira - Nuno Amado
    5ª Feira - Hugo Silva
    Domingo - Paulo Costa
    ;)

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  7. O Darkseid vs. Galactus, do John Byrne, vi à venda em França e na altura não comprei. Parece ser dos melhores, imagina o Galactus a querer devorar Apokolips, daí vai ser indigestão na certa. E muitos efeitos visuais Kirby.

    O Conan vs. Groo nunca existiu que eu saiba. Coisas mais estranhas, como o Punisher Meets Archie, poderão sero Superman & Bugs Bunny, Conan vs. Rune e Marshal Law/The Mask.

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  8. O Conan vs Groo era para sair este ano mas ficou na gaveta infelizmente.

    Essa década foi mesmo para crossovers, eu tenho esse de Darkseid e Galactus em Brasileiro e é uma edição porreira.

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  9. Hugo Silva
    Então tens de me emprestar, fiquei curioso com um cruzamento desses! Não sabia que existia.
    :D

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  10. Nuno, os que eu mencionei existem mesmo.

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  11. Antes de mais excelentes artigos sobre os anos 90's.

    Já fui um fã acérrimo de comics, a meio dos anos 90 foram os meus anos de ouro, depois a chama foi-se apagando até não sobrar nada. Ainda comprei os Heróis Marvel que saíram recentemente no jornal que não me recordo o nome, mas nunca deixaram de sair da estante.

    Quando não foi o meu espanto ao vaguear por blogs de banda desenhada me deparo com estes artigos. Que nostalgia!

    Nunca cheguei a ter oportunidade de comprar o meu crossover de sonho dos anos 90' que era o Marvel vs DC, mas tive acesso a outros que agora já não me lembro lol

    Quando comprei a Morte do Super Homem devorei o filme e tratei-o como um filho. :D Os comics da Image faziam parte da minha colecção.

    Logo vou continuar a visitar o blog com ansiedade para ver o que vai ser escrito sobre esses fantásticos anos (para mim claro) ahah.

    Boas Leituras
    Ricardo

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  12. Nuno e Paulo, comprei na altura o original Darkseid/Galactus: The Hunger. É muito bom. E, depois, é do deus Byrne a desenhar conceitos e personagens do Deus Kirby.

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  13. Paulo Costa
    Eu não acredito... existiu um crossover Bugs Bunny & Superman???
    :O
    ahahahhahahah
    :D

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  14. alucardscorner
    Ricardo, ainda bem que gostas destes artigos (já está outro online), porque nós os 3 estamos a fazer isto, para além do gozo que nos dá, para vocês leitores!
    Espero que esta visita ao mundo dos comics dos anos 90 te volte a pegar o "bichinho" da BD...
    :D
    Espero que voltes a comentar nos próximos artigos!
    ;)

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  15. SAM
    Pois... eu vou ter de o "cravar" ao Hugo Silva, porque fiquei mesmo com "olho gordo" nesse crossover!
    :D

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  16. Essa eu li no Original de um amigo meu,mas ele já nao a tem.Mas era muito bom,tambem gostei do Superman e Silver Surfer,e Jla e Wildcats da mesma epoca.Ou Superman e FF. :D
    O maior cross Marvel/Dc foi um tiro ao lado,acho que ate ainda tenho a sequela aonde o argumento nao é tao fraco como o 1 mas tem coisas como Superman vs Venom.
    o ultimo Crossover da Marvel foi New Avengers vs Transformers.
    Tambem muito fixes eram do Batman vs Predator li 2 e gostei,Superman vs Aleins não gostei tanto.
    Apesar das 2 Grandes acabarem em grande com JLA-Avengers,as pequenas ate a pouco tempo tinham uma linha de Cross com Joes e Transformers.

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  17. Super Homem e Bugs vale a pena ler, assim como quando deu fome ao Galactus nos arredores de Apokolips. Outro que gostei bastante foi este ultimo entre a Liga e os Vingadores. Acho que foi um trabalho bem feito, tanto em história como em respeito pelos personagens e fans dos mesmos.

    Agora, concordo com quase todos os que escreveram acima, pagava para ver o Conan a encontrar-se com o Groo. Já me estou a rir só de pensar nisso :)

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  18. Luis Sanches
    Super Homem e Bugs Bunny deve ser completamente louco!
    :D
    Nunca me lembraria de fazer tal coisa!
    ahahhahaha
    Conan e Groo acho que foi abandonado. Pensou-se em fazer, aliás, existem imagens "teaser" deste hipotético crossover, mas acho que se ficou por isso... o que é uma pena... diga-se.
    :D

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  19. Optimus
    Eu vou querer ler o Galactus vs Darkseid!
    :D
    Sim, existem muitos crossovers com editoras mais pequenas sobretudo com a DC.
    Ainda ontem, e por cauasa deste post, deu-me a vontade de ler o divertido crossover Batman/Planetary!
    :D

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  20. Este tambem é bom tenho aqui o tpb;

    http://d1466nnw0ex81e.cloudfront.net/n_iv/600/598769.jpg

    http://www.mycomicshop.com/search?TID=669751

    Começa na Silver Age x-men e acaba na Dark Age,nao houve reediçoes

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  21. OPtimus
    Esse nunca li.
    Sei que é um crossver ao longo de várias épocas, mas nada mais para além disso...
    :\

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