sexta-feira, 30 de outubro de 2009

V for Vendetta (Absolute Edition)


Primeira impressão: é um livro poderoso! Muito poderoso!
Escrito por Alan Moore e desenhado por David Lloyd, “V for Vendetta” foi editado entre 1982 e 1985 durante 26 números pela revista inglesa “Warrior”, sob a sombra do romance de George Orwell “1984”. Existem muitos pontos de toque entre estes dois livros e penso que a data de inicio, 1982, é propositada pois o tema é o mesmo: totalitarismo!

Alan Moore fez parte do grupo de escritores ingleses que revolucionou os comics norte-americanos, transformando-os em leituras bastante mais adultas do que o que estava implantado na altura. Do que eu li deste grande autor destaco “Swamp Thing”, "Promethea", “Watchmen”, “Lost Girls”, “Doctor Who” e “Batman: Piada Mortal” (editado pela Devir em português). Para além disso escreveu para títulos como “Vampirella”, “Green Lantern”, “Superman, “Marvelman”, WildC.A.T.S.”, “Spawn”, Youngblood”, “Tom Strong”, etc…. são centenas de títulos escritos por este profícuo autor oriundo da Grã-Bretanha. O também britânico David Lloyd espalhou os seus desenho por “Doctor Who”, “Hellblazer” e “Hulk”, entre outros.

Este livro, apesar de recomendado por muitos fãs, nunca me despertou muito a atenção pela pobreza da edição em TPB da Vertigo. O papel era tipo papel higiénico rasca e as cores muito pobres. Entretanto apareceu esta edição e eu decidi-me pela sua obtenção, porque pelo menos o papel é muito melhor, embora as cores não continuem famosas mas na altura em que foi desenhado e pintado também não se conseguia muito melhor! Para além disso o traço de Lloyd também não quer grandes cores, não ficariam bem naquela Grã-Bretanha escura e totalitária, aliás, esta obra no seu começo era a preto e branco.

Posto isto… fiquei impressionado! Na minha opinião bem superior a “Watchman” no seu conteúdo, esta história é muito profunda e eu terei de reler o livro mais umas duas vezes para o “absorver” na sua totalidade. As ramificações e implicações desta história de Alan Moore vão longe, e numa primeira leitura não se consegue descobrir todos os pormenores relacionados com a envolvência da obra. É preciso uma certa cultura e atenção para localizarmos muitos dos pormenores que estão espalhados pelo livro neste ambiente “Orwelliano”, começando logo com a origem da máscara usada pelo protagonista.

Esta retrata Guy Fawkes, o homem que tentou explodir o Parlamento Britânico em 5 de Novembro de 1605, com o Rei incluído, numa tentativa de acabar com o Protestantismo vigente, substituindo-o pelo Catolicismo.

Claro que o atentado foi impedido e os “golpistas” presos e queimados na fogueira (incluindo Guy Fawkes). Este dia é feriado na Grã-Bretanha desde então. Ora a primeira acção deste revolucionário anarquista, “V”, é precisamente mandar pelo ar as Casas do Parlamento no dia 5 de Novembro de 1982, conseguindo aquilo que Fawkes foi incapaz de concluir. Depois, todos os trocadilhos com frases e palavras iniciadas com a letra “V” e o número “V” romano são inúmeros, tendo o leitor de estar com atenção para não perder a preciosidade de alguns pormenores relativos a “V”.

“V” é um anarquista sobrevivente de um campo de concentração, que decide acabar com a ordem totalitária vigente criada por um governo fascista, usando este governo cinco departamentos para acorrentar a sociedade pós-guerra nuclear inglesa. Estes correspondem aos cinco sentidos humanos. A polícia secreta eram os “Dedos”, a propaganda política era feita pela “Boca”, a vigilância vídeo eram os “Olhos”, claro que a vigilância áudio era feita pelo braço governamental dos “Ouvidos”, e por fim o “Nariz” era o departamento de investigação. Tudo isto coordenado pelo "Leader" todo poderoso Adam Susan.

Todo este aparelho totalitário recriou acções de outros regimes do género, como perseguição politica, campos de concentração para homossexuais, negros, etc., etc. É claro que também não faltam as experiências feitas em humanos, e aqui, saído da cela número V sai “V”!

"V" representa a liberdade levada ao extremo, o Anarquismo, lutando contra o outro extremo (ditadura totalitária) e para não haver confusões faz a distinção à sua protegida Evey entre Anarquismo e Caos, duas situações diferentes e não sinónimas. "V" tem uma estratégia de vingança que não admite desvios, é um homem duro e que segue sem vacilar uma linha que conduzirá à queda do regime. Aqui, e perante as acções de "V", Alan Moore deixa à consideração do leitor se este homem vingativo é vilão ou herói! A linha é ténue...

É sem dúvida uma das grandes obras da Banda Desenhada que catapultou esta arte para faixas etárias mais adultas, e que em conjunto com outras obras marcou uma viragem na BD anglófona, elevando a Banda Desenhada a um estatuto superior, estatuto este que a BD francófona já tinha atingido. Também teve direito a um filme, que felizmente eu não vi e provavelmente não verei, porque tenho a quase certeza que será um filme redutor do argumento e do protagonista (quase de certeza transformado em super-herói...).
Não se esqueçam que David Lloyd vai estar presente no 20º Amadora BD nos dias 7 e 8 de Novembro.
Boas leituras!

Slipcased Hardcover
Criado por: Alan Moore e David Lloyd
Editado em 2009 por Vertigo
Nota : 12 em 10

17 comentários:

  1. Bem merecida a nota 12, desta vez concordo contigo a 112%. Lol

    V é realmente uma obra prima em BD que qualquer fã deve ler, para não falar em possuir na estante.

    Abraço. :)

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  2. Uma obra extraordinária. Entusiasma-me na sua leitura todo o tom subversivo que dela emana, ou não estivesse subjacente a anarquia como ideologia a seguir. A história surpreende pelos vários caminhos em que induz o leitor. Gosto de ver “V” como movido por um forte sentimento de vingança pessoal, apesar de considerar que Alan Moore escreveu esta história movido por um sentimento negativo, na altura, contra o governo de Tatcher dos anos ’80. As várias analogias criadas com a letra “V” são excelentes.
    Sobre o filme, recomendo-te, porque apesar de simplificar a história, mantêm a identidade da obra (não há super-heróis) e funciona porque cria um filme que vale por si só. Na tua estranha forma de classificação literária parece-me que 12 em 10 é bem. Eu dou a nota máxima!

    Abraço

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  3. Só espero que o Lloyd me faça um sketch dia 7 :D

    V for vendetta é um marco incontornável na história da bd.
    Eu tenho o TPB mas esta edição parece estar muito boa.

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  4. A minha chegou tão esmurrada que quase que chorei!
    Tu e o Verbal foram bastante eloquentes.
    Eu não desgostei do filme, mas o livro, este sim, é que é poderoso. Sim, o V no filme é o herói hehehe!

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  5. Concordo com todas as opiniões anteriores... V for Vendetta é, para mim, o melhor trabalho de Alan Moore, muito superior que os Watchmen (que eu abomino!!). Só é pena a arte de David Lloyd não acompanhar a qualidade do argumento... Quanto ao filme, a adaptação é muito boa porque simplesmente captou o essencial da história, perfeito para a linguagem cinematográfica (sim, porque é de um filme que se trata!!).
    Concordo com a tua avaliação apenas em relação à história, quanto à arte... nota 5 no máximo.

    Um abraço.

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  6. Só vi o filme e gostei,a bd nunca li.

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  7. Do blog do Geraldes Lino:

    NOTÍCIA DE ÚLTIMA HORA:
    François Schuiten e Benoît Peeters estarão na Amadora, para receber os galardões, no próximo domingo, dia 8 de Novembro

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  8. OCP
    A 112% ????
    LoL , então o máximo não é 100%?
    :P

    Verbal
    Mesmo assim não sei se quero ver o filme... vou pensar nisso!
    :)

    Radjack
    Vais ao Amadora BD?
    :O
    O TBP tive-o na mão para comprar... mas olhava para o papel e abanava a cabeça... na... na compro!
    :)

    Refem
    A minha também chegou bem esmurrada, mas reclamei e a Amazon ofereceu-me o livro!
    :P

    Luca
    A arte só podia ser assim... suja!
    E sabes que em 1982 ainda não havia tratamento digital...
    :)

    Kitt
    Então tá na altura de leres o livro!
    :D

    DC
    Essa notícia já a tinha visto, mas só a ponho depois de confirmada por alguém da direcção do Amadora BD.
    :)

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  9. Estou a ver se encontro meio de ir para o próximo fds.
    Mas o que se paga em comboios é um roubo, tenho que ver se arranjo uma maneira mais económica.

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  10. Radjack: camioneta é mais barato principalmente se fores estudante. Welcome to the real world.

    Quanto ao V é um dos meus livros preferidos juntamente com Sandman e ... Watchmen.

    Sim eu não considero o V superior ao Watchmen. São géneros diferentes e cada uma é perfeita naquilo que tenta transmitir. É uma questão de gosto para ter uma preferência (como tudo lol)

    O V é muito político e carregado de inúmeras referências literárias, musicais etc. o V é um dos grandes personagens de BD da história. O final (em ambos os livros) é assombroso. e a cena do papel higiénico...sem palavras.

    o watchmen pega numa ideia que me interessa muito e explora conceitos cientificos muito interessantes. o Dr. mannahtan é um personagem soberbo e de uma complexidade monstruosa. E também é bastante política não tanto como o V.

    Duas obras incontornáveis da BD, escritas pelo génio de Alan Moore.
    Que mais há a dizer além de... já tneho o Absolute e isto sim é uma edição valente ao contrário do tdp.

    Abraço

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  11. Loot
    "(...) O final (em ambos os livros) é assombroso. e a cena do papel higiénico...sem palavras.(...)

    :|
    Não vi essa cena do "V" a usar papel higiénico!!!!

    :D

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  12. lol vem na edição para maiores de 18 :P

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  13. A questão das cores tem a ver com o facto da obra ter sido publicada originalmente (quando saia na revista "Warrior") a preto e branco e só quando foi completada e compilada na Vertigo é que coloriram.

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  14. Pedro Almeida
    Bem vindo ao Leituras de BD!
    O problema das cores acho que também passa pela antiguidade da obra, é difícil recuperar convenientemente obras tão antigas ao nível da cor para os standards actuais!
    :)

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  15. V é com certeza uma das obras mais pessoais de Moore. Escrito na década de 80, no meio do polêmico governo de Margaret Thatcher, ele é um libelo contra o ponto de vista conservador (os "Tories") da Primeira Ministra e tudo que se passou na Inglaterra de então. É, na minha opinião, uma das grandes obras da literatura (e não só quadrinhos) do século 20. E você tem razão, Nuno. Tem que ser lida.

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  16. Ben
    Tens toda a razão!
    Este livro está cada vez mais actual, como podemos ver todos os dias pelas notícias que entram pelas nossas casas a dentro. Só é uma pena que 90% das pessoas que usam essa máscara na rua não saibam o que significa!
    :\

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Bongadas

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