sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Ilustração: Batman vs Superman


Não, não é nenhuma crítica ao filme, ou algo do género :) São apenas imagens um pouco menos vistas,

ou simplesmente visões artísticas de uma dualidade que sempre existiu na DC. O demónio versus o anjo. O Homem versus o Übermensch. O cinzento versus a claridade.

A DC está pejada desta rivalidade, houve grande lutas entre estes dois, normalmente com uma justificação em pano de fundo porque os heróis estão do mesmo lado, certo? 

(Ou não?)













Espero que tenha agradado :)


Boas leituras 



O Pacto da Letargia

 



E para aumentar o bom serviço à BD europeia temos a Ala dos Livros. Desde que surgiu que publicou algumas obras de monta como o Comanche Integral, Morte Viva ou uma que me encantou mesmo: o oitavo volume dos Passageiros do Vento.

Mas hoje temos Miguelanxo Prado. É um autor que me provoca emoções mistas pois por vezes gosto do tipo de história que serve de base ao livro mas da abordagem nem por isso, outras é exactamente ao contrário. E este Pacto da Letargia não é excepção.

Existe algo neste livro que deveria estar estabelecido e não me parece estar. Ainda não percebi se é um livro fechado ou se tem continuação. É apresentado como livro único, mas também já li que é o primeiro de uma trilogia. Isto carece confirmação, até porque influencia a minha opinião sobre este Pacto.

Esta fábula é ambientada na cultura Celta com uma boa componente onírica sobre a qual Prado espalha um arte maravilhosa, sobretudo nas paisagens naturais, As personagens são marcadas por traços o que lhes dá algo de tridimensional. Assim as expressões e o mapa facial colhem mais-valias destas texturas, sobretudo as personagens mais velhas, em que as rugas e as expressões ficam mais marcadas.

Quando pegamos no livro olhamos invariavelmente em primeiro lugar para a capa. E esta capa é maravilhosa! Ela oferece-nos a potência deste tipo de histórias carregadas de misticismo e magia, só que não é bem assim. A capa não antecipa bem o que temos no interior. A narrativa baseia-se numa história clássica de detectives, com um fundo místico é certo. De qualquer modo não tenho nada contra isso, a narrativa corre veloz em diversos sentidos estando sempre presento em pano de fundo o epítome do Homem destruidor do próprio planeta.

Não posso dizer que não gostei da história, porque gostei, mas soube-me a pouco. Tudo fica aflorado e não detalhado e o final ressente-se com isto. Este livro com esta história daria pelo menos para mais um volume, podia aprofundar-se algumas personagens que o mereciam e acabaram por ficara um pouco planas, e pedia-se um pouco mais de magia :)

Poucas vezes falo do lettering, da fonte de letra escolhida ou da balonagem. Porquê? Porque quando é bem feita o leitor quase não dá por ela, a não ser que ande especificamente à procura dela. No caso do Prado os balões translúcidos já dificultam a vida ao leitor, mas desta vez o tipo e tamanho de letra usado, sobretudo na linguagem "mágica", dificultam ainda mais a leitura do livro. Eu infelizmente ando a perder visão e isto não foi nada confortável de ler...


Passando às coisas boas. Que arte magnífica se espalha pelas páginas deste livro. Como referi logo no início, em cenários naturais Prado dá-nos visões maravilhosas de composição e cor, para mim é o melhor do livro.

Gostaria que houvesse uma qualquer continuação, o livro merece isso.

Boas leituras


terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Spaghetti Bros: Livro 1

 



Neste momento temos a "sorte" de ter excelentes editoras a publicar livros tanto na vertente europeia, como norte-americana. Na parte da BD europeia a Arte de Autor, editora deste livro, é uma das que eleva a BD a um excelente nível em Portugal. Temos magníficas obras a serem editadas em Portugal com bastante regularidade e muita qualidade, tanto no título como no livro enquanto objecto.

Agora, nada como falar de uma das melhores surpresas para mim de 2020: Spaghetti Bros

Podia estar aqui a falar dos dois criadores desta obra, Trillo e Mandrafina, mas sinceramente mais vale irem ao post de lançamento desta obra (clicar neste link), visto que a Arte de Autor mandou excelente bios destes dois argentinos. Carlos Trillo escreveu, Domingo Mandrafina teve a arte do preto & branco a seu cargo.

São dois autores que sempre foram seduzidos pela problemática social, e que conseguem num leque de livros diferentes abordá-la sempre de um ângulo diferente, portanto a alcunha de maçadores não lhes cabe.

Trillo imaginou a história de uma família disfuncional de emigrantes sicilianos, órfãos, a caírem nos EUA, presume-se por volta de 1900 porque a história está ambientado aos anos 30. Cinco irmãos, não podiam ser mais diferentes uns dos outros!

A narrativa vai correndo ao ritmo de pequenos episódios, por vezes com sequências do passado destes irmãos. Trillo coloca como início o ódio do irmão mais velho pelo irmão mais novo, que considera o assassino da Mamma, que tinha morrido durante o parto desse mesmo mais novo no barco a caminho dos EUA.

A partir daqui temos um Mafioso na verdadeira acepção, um Padre com problemas de contenção de violência (queria ser boxeur), uma dona de casa com vida dupla (precisa de adrenalina na vida) - que é a minha personagem preferida neste livro -, uma actriz que navega em podres de Hollywood e finalmente um polícia honesto quanto baste (a honestidade é uma coisa cinzenta)...

Todos estas personagens são fortes, muito bem construídas, credíveis dentro da sua dimensão e envoltos numa relação tortuosa, e por vezes cruel.

Toda a relação de amor/ódio entre eles e as suas introspecções individuais, são cartas na mão de Carlos Trillo, e são cartas que ele joga na altura certa para que o leitor seja incapaz de largar esta história com laivos de crueldade, mas polvilhada com bastante humor, por vezes negro, de modo a que tudo esteja equilibrado.


Mandrafina enfia-nos tudo isto pelos olhos dentro com um maravilhoso preto & branco. O seu controle neste técnica é muito apurado e dá a força que a narrativa pede. O seu trabalho ao nível da expressão corporal e facial é simplesmente fabuloso, e sem dúvida que, se Trillo deu uma maravilhosa dimensionalidade a estes irmãos, Mandrafina deu-lhes vida! Curiosamente, decidiu fazer correr a narrativa gráfica de um modo não normal: seis vinhetas aos pares por cada página, não todas, mas são muito poucas as que não obedecem a esta estrutura.

A minha opinião foi dada logo no 2º parágrafo deste post, só posso reafirmar que recomendo este livro repleto de cinismo e dualidades morais. Parabéns à Arte de Autor :)



Boas leituras





domingo, 21 de fevereiro de 2021

Undertaker Vol.1: O Devorador de Ouro

 


O velho Oeste costuma trazer boas histórias, sou fã de algumas séries, como Bouncer, Comanche ou Tenente Blueberry. E estranhamente são os europeus que fazem as melhores histórias desta época selvagem do continente norte-americano.

A Ala dos Livros iniciou a publicação de Undertaker no final de 2019 com este volume e prepara-se para editar o segundo da série: A Dança dos Abutres. Mas isso fica para outro post, agora tenho aqui O Devorador de Ouro nas mãos.


Esta série escrita por Xavier Dorison e desenhada por Ralph Meyer já tem cinco livros publicados em França, com um assinalável sucesso, e existem razões para isso. Recordo-me quando peguei no livro pela primeira vez... olhei para a capa e pensei: cóbóis. Coloquei-o de lado para ler noutra altura porque na realidade é-me difícil pegar em westerns devido à qualidade das séries que referenciei no primeiro parágrafo.

Passado cerca de um mês resolvi pegar nele a sério. Que grande anormal preconceituoso fui! O livro é muito bom! E a série será garantidamente boa.

E assim, Dorison conta a história de um "gato-pingado" e do seu abutre a um ritmo bem rápido, com boas transições (parece que estou a falar de futebol...), e diálogos que compõem a narrativa gráfica, sem a encher de modo a que o leitor consiga acompanhar as cenas de acção em toda a sua velocidade.

A personagem principal, o nosso coveiro, é carismática, transporta consigo uma certa dose de mistério e é imbuída de um humor que eu aprecio. As personagens que rodam à sua volta estão bem construídas, e têm alguma tridimensionalidade, o que o Nuno Amado aprecia :)

Este primeiro volume está muito bem estruturado, com a tensão e novos detalhes sobre as personagens a serem descobertos na altura certa. Está tudo muito bem feito, mas gostaria de um pouco mais de "surpresa" no enredo, é a única pecha. De resto tem tudo o que um western deve ter, saloons, armas, sheriffs, tipo rico mau, miúda gira com um passado misterioso, personagem oriental coadjuvante e o coveiro... só que desta vez o coveiro é a personagem principal, e todas as outras aparecem na hora certa da maneira certa.

A arte de Meyer é muito boa. Consegue interpretar perfeitamente o ritmo da história dando-lhe fluidez e por vezes grandiosidade. Nota-se perfeitamente também que este desenhador tem a influência de Blueberry na ponta da sua caneta, o que não é uma coisa má. O toque final é dado pela cor de Caroline Delabie. Perfeita.

Só a premissa inicial de um coveiro chamado para o enterro de alguém que está vivo e ser essa mesma personagem a fazer o contrato do seu próprio enterro, mostra logo algo de diferente.

Só me resta recomendar este livro da editora Ala dos Livros, com o segundo volume já aí à porta para resolver o enorme cliffhanger final deste primeiro tomo. Um excelente western!


Boas leituras



sábado, 20 de fevereiro de 2021

O Castelo dos Animais:
Volume 1 - Miss Bengalore
Volume 2 - As Margaridas do Inverno

 



"Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros"

   - in O Triunfo dos Porcos - George Orwell  

Em Junho do ano passado, 2020, a editora Arte de Autor iniciou a publicação de uma excelente série de BD ambientada no mundo de George Orwell. A série é O Castelo dos Animais.

Série escrita por Xavier Dorison, já conhecido neste blogue por outras grande séries (O Terceiro Testamento e ), com arte de Félix Delep. Este título, para além de uma homenagem aos Triunfo dos Porcos de George Orwell, deseja contar essa mesma história de um outro modo, porque existem várias maneiras de resistir à opressão, não só pela violência, mas também com resistência passiva e inteligente.



Mais do que nunca, e sobretudo nos tempos que correm, 1984 e o Triunfo dos Porcos são leituras obrigatórias para todos, então... esta série vem mesmo no timing certo. No meu ponto de vista, claro. Quando vejo todos os dias em todos os lugares do mundo as liberdades serem cerceadas a bem da segurança, um pouco mais todos os dias, sempre uma pouco mais, porque a "segurança" é o mais importante de tudo.. bem, a estrada para os Porcos mandarem ao estilo 1984 está a ser pavimentada cada vez mais depressa.

Esta obra não a considero uma adaptação directa do Triunfo dos Porcos, é mais uma visão do mesmo problema mas com uma oposição e uma luta mais ao estilo Gandhi, como é referido por uma das personagens, em lugar da violência sangrenta que não funciona contra quem é mais poderoso.

E esta série é poderosa nesse sentido, toda a opressão gera raiva, e a raiva gera rebelião. A intensidade dramática atinge pontos bastante altos sobretudo no segundo volume, pois se o primeiro Miss Bengalore projecta a estrutura da história, Margaridas do Inverno dá corpo e sobe a intensidade narrativa dando por vezes um autêntico murro no estômago do leitor.

Dorison está de parabéns com esta sua narração bem estruturada, fluída, com pormenores maravilhosos, colando muitas vezes a personalidade da personagem à personalidade animal intrínseca. Tudo sempre em crescendo levando a vários climax, cada vez mais fortes. Dorison consegue fazer-nos transmitir a violência que a resistência pacífica pode trazer, esta não é de todo uma história suave e calma, antes pelo contrário.

A representação Invernal ao nível narrativo casou perfeitamente com a arte e cor de Delep, e por aqui posso começar a falar do trabalho deste artista. Graficamente muito bom, com um traço poderoso quando é necessário, as personagens transmitem sentimentos fortes, enfim, foi uma aposta mais que ganha. A sua arte consegue ser brutal, e no primeiro volume posso assim de repente pensar nas paginas 26-27.

No primeiro volume a cor esteve a cargo de Delep com Jessica Bodard, mas no segundo volume o artista assume a cor toda, e muito bem. O Inverno e tudo o que se passa nele tem uma palete de cor irrepreensível que dá a intensidade que o desenho e a narrativa necessitam para fornecer o impacto necessário aos olhos do leitor.

Esta obra é daquelas simplesmente a ler a integrar no nosso sistema límbico cerebral. Abrir a mente absorver tudo aquilo e extrapolar para a nossa sociedade, encontrar os pontos de convergência, e não deixar entrar os Sílvios que estão aí a estender os chifres, a preparar o sistema para mais um misto de Animal Farm e 1984.


O segundo volume cimentou o rótulo de "obra poderosa" a este Castelo dos Animais. O Leituras de BD recomenda esta obra, se eu desse pontuação de tomatoes, estes seriam fresquíssimos :)

Boas leituras

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