quarta-feira, 12 de junho de 2024

XIX Festival Internacional de BD de Beja
Opinião e Reflexões

 


Hoje vou falar desta última edição do Festival Internacional de BD de Beja, a 19ª vez que se realizou.

E quero frisar que este é um evento que está no meu coração desde a sua 4ª edição. Nunca me irei esquecer dessa primeira vez que lá estive presente (ainda me lembro que choveu bastante) e que Dave Mckean autografou o meu Absolute Sandman com um duplo desenho.



Também quero expressar que, com o tempo e as minhas colaborações com este evento, acabei por ter benefícios por isso, mas essa nunca foi a razão da minha aproximação a este festival. Mesmo sem esses benefícios desde 2020 nunca deixei de ir ao evento, apreciando todos os momentos, todas as conversas e todos os novos contactos. Sempre foi o meu evento de BD do coração e nunca o escondi em todas as opiniões sobre ele que publiquei.

Era o único festival de BD, digno desse nome, com ambiente mágico e impregnado de energia positiva em Portugal. Foram momentos únicos com autores, editores, organizadores e amigos que ficaram retidos na minha memória!



Penso que posso dizer que acompanhei de perto a história deste evento, apenas não fui às primeiras três edições, tanto nos seus melhores anos assim como nos anos mais difíceis, por isso penso que consigo ter um olhar bastante abrangente sobre este festival de BD.

O FIBDB sempre viveu de um ambiente de sinergias e relações fortes entre os vários protagonistas deste festival: coordenação e estrutura (Paulo Monteiro, Bedeteca e Câmara), editoras, livreiros, artistas e divulgadores, e isso fez que este festival tivesse essa energia diferente, essa força que outros com mais orçamento nunca tiveram. Era um evento grande, mas ao mesmo tempo muito familiar.

Penso que este ano algo se perdeu pelo caminho, e logo num ano que deveria ser especial visto que esta edição seria em homenagem a uma grande alma alentejana deste evento, o Professor Baiôa. Parafraseando a minha mulher:
Florival Baiôa Monteiro, professor de profissão, mas ainda maior Professor na vida, na alegria, no saber, na partilha.
Este homem fez as delícias aos Domingos de manhã dos visitantes deste festival de BD, durante todos estes anos. Éramos transportados magicamente para a Beja do passado num passeio Histórico sempre bem-disposto e cheio de informação, daquela que não se aprende na escola.


Porque é minha opinião de que algo se perdeu pelo caminho? As pessoas andavam um pouco deslaçadas, não senti aquela alegria de mais um FIBDB, o Paulo Monteiro pareceu-me muito ansioso/nervoso, e importante: a ausência de uma grande força da BD portuguesa no evento.

A Arte de Autor não tinha apresentações, nem lançamentos na programação do Festival. Isto é no mínimo estranho. Sendo uma editoras com um volume grande de livros e importância de mercado em Portugal, e tendo estado sempre presente com lançamentos e apresentações, foi esquisito a sua notada ausência.
Pronto, para mim apenas me fez pensar que se calhar até estou correcto nos meus sentimentos em relação a esta 19ª edição.


E já agora, não se compreende a quebra da tradição da data do 1º fim de semana deste festival, adiando para o fim de semana seguinte a sua realização, apenas porque o Maia BD marcou o seu evento para uma data próxima. Mais uma acha para aquela fogueira de que tenho estado a falar. O Paulo Monteiro garantiu-me que para o ano volta para a data normal.

Ao nível de individualidades da BD europeia, tivemos Tardi, Miguelanxo Prado e Javier Rodriguez. Tiveram grandes apresentações na Bedeteca. Depois tivemos alguns autores menos conhecidos como os italianos Conca e Ciapponi ou o francês Alix Garin, e pronto não vou enumerar todos os autores, mas não foi um grande ano de autores também, na minha opinião.


As exposições, aparte os excelentes quadros com pranchas originais, estavam sem alma ou chama, entristece-me dizer isto, mas estavam na generalidade banais na sua envolvência, eram meros quadros pendurados. Antigamente não era assim!

Apenas a exposição de Javier Rodriguez me fez ficar um pouco mais satisfeito, talvez pela diferença temática e de traço em relação a todos as outras, e também por estar numa ala bem iluminada por luz natural indirecta na altura em que a visitei.
Estavam duas (ou três) exposições no piso “-1“ sem indicação, ou indicação com má visibilidade, da sua existência, (Mário Freitas e Lucas Pereira e “Portugal em Bruxelas” (de um colectivo de autores), a que apenas fui por indicação de um amigo que por lá passou.


A Feira do Livro estava confusa, ao contrário de outros anos. As separações de editoras em algumas mesas não eram evidentes, várias temáticas misturadas, em algumas zonas os livros tanto estavam em português, castelhano, inglês ou francês, eram salpicos multilinguísticos que baralhavam qualquer visitante. Mas pronto, quem soubesse o que queria, que era o meu caso, não se iria perder com nenhuma confusão.

Pronto, não vou bater mais. Espero que para o ano esteja tudo com mais leveza.
Festivais de BD são sempre necessários, mas como sempre disse neste meu blogue, não basta dizer que é um festival, há que fazer melhor, inovar! E quando não se consegue melhor ou inovação, tentar que seja pelo menos igual ao melhor que já fizemos, e o FIBDB já teve festivais de excelência, tanto no ambiente como no tratamento de exposições. Os autores… os autores uns anos melhores outros piores, não dá para controlar muito.

Podem ver um filme de 5 minutos que fiz no dia 8 (Sábado), já aqui a seguir:


O Festival vai estar aberto ao público com as exposições e feira do livro (e outras actividades), portanto se puderem passem por lá. Fica também o link do programa aqui em baixo:

PROGRAMA FIBDB 2024

Como nota final, quero acreditar com muita força que o Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja irá voltar a ser brilhante e cheio de boas energias como no resto da sua História. 
E sim, tem de haver inovação para dar frescura.
Inovação de ideias, conteúdos e forma. O modelo vigente chegou ao seu apex portanto há que criar algo criativo (em bom) para este festival.



Podem entender as minhas palavras sobre esta edição do evento de três maneiras, ou não me ligam nenhuma porque sou insignificante (e sou mesmo), ou podem ranger os dentes e chamar-me nomes (feios), ou finalmente podem pensar que eventualmente posso ter alguma razão em algumas coisas, e criar um mindset de mudança para o próximo FIBDB.


Boas leituras
(O LBD ainda não morreu 😅)




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