Um dos mangakas mais apreciados por mim é Junji Ito. Tenho três obras dele, Uzumaki, Tomie e Gyo, das quais considero Uzumaki inultrapassável dentro do género.
O género é mesmo "horror", e Uzumaki foi a única obra de BD que me provocou calafrios até hoje... não sou muito sujeito a "horrores/terrores" apenas com duas dimensões, ou seja com desenhos. Neste caso o horror é induzido e entranhado na psique do leitor através de sequências gráficas representando ideias muito fortes, medos universais e horrores intrínsecos à espécie Humana. Junji Ito é mestre nesse tipo de aproveitamento.
Junji Ito foi nomeado para os Eisner Awards em 2003 e 2009 com Uzumaki, e acabou por ganhar este prémio em 2019 com a adaptação para Manga do Frankenstein de Mary Shelley para a "Best Adaptation from Another Medium". Apanhou o gosto por este prémio e em 2021 ganhou mais dois Eisner Awards com dois títulos: Remina e Venus in the Blind Spot, recebendo o "Best U.S. Edition of International Material - Asia" e o "Best Writer/Artist"
Falemos de Sensor.
Esta obra até determinada altura da sua publicação em revista tinha o nome de Travelogue of the Succubus. Iniciou a sua publicação em capítulos na revista Nemuki+ de Agosto de 2018 a Agosto de 2019.
A sua publicação em livro foi feita no final de 2019, sendo a publicação em inglês feita por intermédio da Viz Media numa excelente edição, com dust cover, capa dura e um papel maravilhoso, em Agosto de 2021. Este livro foi nomeado para o Festival International de la Bande Dessinée d'Angoulême para melhor livro em 2021.
Falando na história, esta foge um pouco ao estilo de Ito, penso que ficou um pouco pesada e repetitiva com explicações completamente desnecessárias. É um conjunto de pequenos capítulos, por vezes algo complexos na quantidade de informação e que supostamente no final deveriam atar a história coerentemente. Penso que não se conseguiu a 100%.
Gostei muito do início, deixou muita água na boca com ideias que poderiam ser muito bem desenvolvidas, só que na minha opinião o autor foi-se perdendo aos poucos na narrativa. Talvez o método usado por Ito para este livro fosse arriscado nesse aspecto, ele foi fazendo os capítulos para a revista sem ter a história delineada. Penso que isso fez com que a consistência narrativa falhasse um pouco aqui e ali, na minha opinião, sobretudo no final.
Aliás, perde-se tanto que a protagonista ao longo da história vai quase deixando de ser uma personagem para ser uma ferramenta narrativa, sendo que a história é contada por um jornalista, Wataru, que vai seguindo Kyoko (a protagonista) obsessivamente sempre um passo atrás, em capítulos contidos. E por falar em capítulos, Battle of Bishagaura é excelente, é Junji Ito no seu melhor. Todo aquele frenesim com os gafanhotos suicidas foi muito bom.
Da maneira que estou a criticar a história do livro até parece que é má... mas não posso dizer que o seja, quero dizer que poderia ser mais bem estruturada e desenvolvida nos capítulos certos. Temos conceitos muito bons sobretudo do que é maligno universalmente, temos temas religiosos cristãos, o que é o Universo e quem é o seu criador, tudo isto embrulhado em ambiente paranormal. Temos Kyoko como o emblema do bem supremo, mas está encharcada de um poder terrível (e horrível) numa obra em que a desgraça e a melancolia são o rio onde ela navega. O antagonista representa o criador de tudo, o mal supremo!
Agora passo para a arte, e aqui meus amigos leitores, Junji Ito nunca defrauda! Adoro o traço limpo, bonito, com detalhe e ao mesmo tempo leve. Não sei que adjectivos posso mais usar, mas uma pessoa perde-se na quantidade de detalhe que algumas páginas têm.
Não é o melhor livro de Ito, mas para os apreciadores deste género é um must have de certeza.
Deixo aqui em baixo a sinopse deste livro, pois eu pouco falei da história propriamente dita. Isso vocês podem descobrir por vocês próprios lendo o livro :D
Mas pronto, fica a introdução da editora:
“Uma mulher caminha sozinha no sopé do Monte Sengoku. Um homem aparece, dizendo que está esperando por ela, e convida-a para uma vila próxima. Surpreendentemente, a vila é coberta por fibras de vidro vulcânicas semelhantes a cabelos, e tudo brilha em matizes dourados.
À noite, quando os aldeões se reúnem para cumprir seu costume de olhar para o céu estrelado, incontáveis objectos voadores não identificados caem sobre eles – o acto de abertura para o terror que está prestes a ocorrer!”
Aqui em baixo uma parte do interior da maravilhosa dust cover. Infelizmente é uma ilustração muito grande, dessa maneira ficam apenas com este pormenor.
Boas leituras
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