sábado, 16 de julho de 2022

Family Tree


Foi publicado em português numa edição de luxo  no final de 2021, a editora que publicou a obra foi a G.Floy.

Pelo que vi temos em mão uma edição melhor que a original da Image, isto porque essa editora norte-americana publicou a história de Jeff Lemire em três volumes mais pequenos e de capa mole.

Como referi atrás, a história é de Jeff Lemire, que tem sido um autor publicado em Portugal pela G.Floy, com excelentes títulos como Descender ou Gideon Falls; o desenho é de Phil Hester (Swamp Thing e Green Arrow) e Eric Gapstur (JLA) e as cores por Ryan Cody.

Não percebo a classificação de "Horror Comics" para este livro, li este rótulo mais que uma vez, e sinceramente está longe disso, é basicamente fantasia com bastante acção. Quando muito um Grim & Gritty

Não basta meter sangue, uns membros decepados e pessoas simplesmente a transformarem-se em árvores para ser terror, ou horror. Tem de atingir a psique do leitor com muita força a ideia de horror do que se quer transmitir. A ideia da transformação em árvore até poderia ter sido boa para um livro de horror/terror, mas...
Claramente isso não acontece em Family Tree....

Vou dar primeiro a minha opinião sobre a parte artística. Não é o meu género preferido, mas num grim & gritty fica sempre a matar. Não há traços a mais, não há traços a menos! Parece um desenho simples mas fiquemos pelo parecer, porque aquela arte é tudo menos simples. Super consistente do principio ao fim, as personagens claramente diferentes uma das outras e perfeitamente identificáveis em todas as vinhetas. 

As sequências gráficas estão perfeitas, a acção fácil de seguir, mas quando é necessário parar para um momento mais forte, esse momento é feito de maneira a imprimir força à imagem. A cor está perfeita para o ambiente que se pretende, tudo muito na banda das sombras, muitos castanhos, e em contraponto a restante palete de cores é suave para contrastar com a "escuridão" de muitas páginas. Um excelente trabalho gráfico.

A história deixei-a para o fim porque tenho sentimentos contraditórios em relação à sua construção e narrativa.
Por um lado gostei de ler o livro, um foco enorme no amor de mãe, sacrifícios familiares, dor emocional, defesa da família. Ou seja, emocionalmente funciona bem muito bem na minha opinião. A mãe é uma personagem muito forte, já o filho é um pouco o cliché do rebelde porque nãotenhopaieagorofumodrogasnasescolaeportomal para depois se transformar numa pessoa fiável e protectora da família. Ok, cliché mas dá para fechar os olhos. 

Agora... ok, é ficção. Ponto. Mas apesar disso tem de haver alguma coerência. Há pessoas que se transformam em árvores, mas nunca conseguiram que uma dessas pessoas árvores criasse raízes, com excepção para a protagonista do livro, a Meg? Existe uma organização que pelas idades das personagens envolvidas tem há volta de 50 anos. São os "maus". E desde essa altura que eles exterminam as pessoas-árvores. Sendo certo que se essas entidades árvores colocarem raízes transformam os Humanos em árvores através de esporos na atmosfera. Então, só existem essas entidades árvore desde o pai da antagonista maior, que era um homem-árvore também, porquê?

E os membros de essa organização armada aparecem como? Alguém no livro perguntou e eles respondem que é um "chamamento"?? Áhhh porra... muito ruim, tipo, It's a kind of magic?
Então e a mãe e o irmão, o Josh? Porque não se transformaram? E aquela que vai ser a mulher do Josh, mais o pai dela também não se transformaram em árvore porquê?

São "porquês" demais numa história, para que esta dentro do seu ambiente ficcional se mantivesse coerente! Estou mal habituado pelo Jeff lemire, é o que é :D

O final é forte nesta obra de revolta ecológica, que apesar deste meus rants gostei de ler o livro, os painéis saltam ávidos de leitura, e o leitor tem pressa de voltar a página. Isso provoca uma boa sensação ao leitor. Aconselho depois uma segunda leitura para perceberem os meus rants.

Fiquem com a sinopse:

Quando a pequena Meg começa a transformar-se numa árvore, a sua mãe solteira, o irmão problemático e o avô supostamente louco embarcam numa bizarra e comovente viagem pela américa, numa busca desesperada por uma forma de travar a transformação antes que ela perca de vez a sua humanidade.

 Entretanto, os heróis são perseguidos por seitas sinistras e mercenários mortíferos que querem usar a transformação de Meg para os seus objetivos malignos. Quando, durante a luta, se descobre que não é apenas a menina que está deformada, mas possivelmente o mundo inteiro, os laços aparentemente fortes desta família são submetidos à sua maior prova…




Boas leituras




quinta-feira, 14 de julho de 2022

Eu, Louco



Segundo livro da Trilogia do "Eu", obra de António Altarriba  e Keko, sendo este volume publicado em português pela editora Ala dos Livros. em Setembro de 2019.

Podem ler a minha opinião sobre o primeiro volume, Eu, Assassino, neste link. Esta é a segunda faceta de "falha" Humana, a loucura, ou não...
Esta reflexão foca-se no mundo farmacêutico, mas para apreender a totalidade, e por alguma coisa é uma trilogia, convém ler o Eu, Assassino.

Para além de aparentemente se passarem no mesmo espaço, existem detalhes e toques entre estes dois relatos com várias personagens e ideias comuns entre os dois livros, e isso deixa-me com mais curiosidade para ler o terceiro, Eu, Mentiroso.

"Os homens são tão necessariamente loucos, que não estar louco seria estar louco com uma outra espécie de loucura."
- Blaise Pascal

Não considero esta reflexão de Altarriba nem melhor nem pior que a do seu anterior livro. Eu, Louco é diferente, é engenhoso e tem um twist final de alguma atracção para mim.
Na realidade estamos no chamado rabbit hole das conspirações, ou suas teorias. Não deixa de ser interessante este livro ser um pouco anterior ao Covid-19, uma doença cujas explicações de origem deixam muito a desejar.

A Indústria Farmacêutica só existe porque existem doenças. Uma empresa só gera mais lucro se houver mais pessoas a comprar. Podemos fazer o exercício de juntar estas duas premissas e dizer que se aumentarmos o número de doenças, aumentaremos o lucro desta indústria. 

É aqui que o enredo deste livro vai navegando. 


Angel Molinos, um dramaturgo fracassado com doutoramento em Psicologia trabalha para a Outrament, subsidiária da da Pfizin (a sério?? :D ) e está encarregue de descobrir e inventar novas doenças mentais, manias ou síndromas. É a melhor maneira de "provocar" doenças! Por outro lado descobre o lado negro da experiência de administração de fármacos não testado, que não são mais que cocktails químicos que os médicos vão experimentando em desgraçados loucos.

Mas Molinos, também tem a sua conta de loucuras, traumas recalcados, abusos infantis, a cada vez mais o seu sono é apenas um pesadelo.

Infelizmente para ele, cai numa teia conspirativa, vai ser manipulado ao extremo por pessoas, e porque não dizê-lo, loucas! A Ética acaba por ser a semente de loucura do protagonista.

No meio desta manipulação vamos ter contacto com a ex. mulher do assassino (Henrique) e a sua namorada, e também com os polícias, tudo personagens do volume anterior.

Keko continua sombrio, talvez menos detalhado que no volume anterior. Em vez do preto & vermelho de Eu, Assassino, vamos ter um magnífico preto & amarelo. Amarelo foi a cor escolhida para realces de loucura neste livro, assim como o vermelho o foi no livro anterior para o crime.
Excepto! 

Excepto nas páginas onde Begona tenta seduzir Molinos, ou onde ela está na sua intimidade. Ela e o quarto aparecem com uma cor tipo um verde cyan escuro. Nessa cena do quarto, as zonas íntimas de prazer de Begona são pintadas de amarelo, claro... loucura! :)

De notar pormenores de ligação deliciosos, como por exemplo no trabalho de Cristina (a ex. mulher do assassino) em que os avatares vermelhos do livro anterior são substituídos pelo amarelo, como no caso da maça da Branca de Neve. Pormenores interessantes.

Este é mais um livro de crítica social, uma crítica forte, e em que caminhamos pelas veredas de uma teoria da conspiração com fundamentação lógica muito firme.
Para a semana Eu, Mentiroso



Boas leituras

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Sensor

 


Um dos mangakas mais apreciados por mim é Junji Ito. Tenho três obras dele, Uzumaki, Tomie e Gyo, das quais considero Uzumaki inultrapassável dentro do género. 

O género é mesmo "horror", e Uzumaki foi a única obra de BD que me provocou calafrios até hoje... não sou muito sujeito a "horrores/terrores" apenas com duas dimensões, ou seja com desenhos. Neste caso o horror é induzido e entranhado na psique do leitor através de sequências gráficas representando ideias muito fortes, medos universais e horrores intrínsecos à espécie Humana. Junji Ito é mestre nesse tipo de aproveitamento. 

Junji Ito foi nomeado para os Eisner Awards em 2003 e 2009 com Uzumaki, e acabou por ganhar este prémio em 2019 com a adaptação para Manga do Frankenstein de Mary Shelley para a "Best Adaptation from Another Medium". Apanhou o gosto por este prémio e em 2021 ganhou mais dois Eisner Awards com dois títulos: Remina e Venus in the Blind Spot, recebendo o "Best U.S. Edition of International Material - Asia" e o "Best Writer/Artist

Falemos de Sensor.
Esta obra até determinada altura da sua publicação em revista tinha o nome de Travelogue of the Succubus. Iniciou a sua publicação em capítulos na revista Nemuki+ de Agosto de 2018 a Agosto de 2019.
A sua publicação em livro foi feita no final de 2019, sendo a publicação em inglês feita por intermédio da Viz Media numa excelente edição, com dust cover, capa dura e um papel maravilhoso, em Agosto de 2021. Este livro foi nomeado para o Festival International de la Bande Dessinée d'Angoulême  para melhor livro em 2021.

Falando na história, esta foge um pouco ao estilo de Ito, penso que ficou um pouco pesada e repetitiva com explicações completamente desnecessárias. É um conjunto de pequenos capítulos, por vezes algo complexos na quantidade de informação e que supostamente no final deveriam atar a história coerentemente. Penso que não se conseguiu a 100%. 

Gostei muito do início, deixou muita água na boca com ideias que poderiam ser muito bem desenvolvidas, só que na minha opinião o autor foi-se perdendo aos poucos na narrativa. Talvez o método usado por Ito para este livro fosse arriscado nesse aspecto, ele foi fazendo os capítulos para a revista sem ter a história delineada. Penso que isso fez com que a consistência narrativa falhasse um pouco aqui e ali, na minha opinião, sobretudo no final.

Aliás, perde-se tanto que a protagonista ao longo da história vai quase deixando de ser uma personagem para ser uma ferramenta narrativa, sendo que a história é contada por um jornalista, Wataru, que vai seguindo Kyoko (a protagonista) obsessivamente sempre um passo atrás, em capítulos contidos. E por falar em capítulos, Battle of Bishagaura é excelente, é Junji Ito no seu melhor. Todo aquele frenesim com os gafanhotos suicidas foi muito bom.

Da maneira que estou a criticar a história do livro até parece que é má... mas não posso dizer que o seja, quero dizer que poderia ser mais bem estruturada e desenvolvida nos capítulos certos. Temos conceitos muito bons sobretudo do que é maligno universalmente, temos temas religiosos cristãos, o que é o Universo e quem é o seu criador, tudo isto embrulhado em ambiente paranormal. Temos Kyoko como o emblema do bem supremo, mas está encharcada de um poder terrível (e horrível) numa obra em que a desgraça e a melancolia são o rio onde ela navega. O antagonista representa o criador de tudo, o mal supremo!

Agora passo para a arte, e aqui meus amigos leitores, Junji Ito nunca defrauda! Adoro o traço limpo, bonito, com detalhe e ao mesmo tempo leve. Não sei que adjectivos posso mais usar, mas uma pessoa perde-se na quantidade de detalhe que algumas páginas têm. 

Não é o melhor livro de Ito, mas para os apreciadores deste género é um must have de certeza.
Deixo aqui em baixo a sinopse deste livro, pois eu pouco falei da história propriamente dita. Isso vocês podem descobrir por vocês próprios lendo o livro :D
Mas pronto, fica a introdução da editora:

“Uma mulher caminha sozinha no sopé do Monte Sengoku. Um homem aparece, dizendo que está esperando por ela, e convida-a para uma vila próxima. Surpreendentemente, a vila é coberta por fibras de vidro vulcânicas semelhantes a cabelos, e tudo brilha em matizes dourados.
À noite, quando os aldeões se reúnem para cumprir seu costume de olhar para o céu estrelado, incontáveis ​​objectos voadores não identificados caem sobre eles – o acto de abertura para o terror que está prestes a ocorrer!”

Aqui em baixo uma parte do interior da maravilhosa dust cover. Infelizmente é uma ilustração muito grande, dessa maneira ficam apenas com este pormenor.







Boas leituras




terça-feira, 12 de julho de 2022

Kaiju nº8 - Vol1
怪獣8号


Kaijū
(怪獣): é uma palavra japonesa que significa "besta estranha"ou "animal incomum", mas que costuma ser traduzida como "monstro". 

- In Wikipédia

Kaiju nº8 é um dos últimos sucessos do género shounen dentro do Manga.
O autor é Naoya Matsumoto, e a run original foi publicada pela Shueisha na sua revista Shounen Jump+ em Julho de 2020 . Esta editora começou a compilar os capítulos que saiam na revista em volumes tankōbon no final desse ano. A publicação em Língua Inglesa ficou a cargo da Viz Media, sendo que este volume que tenho na mão saiu em Dezembro do ano passado.

Em Março deste ano existiam 6,7 milhões de cópias dos sete volumes já publicados no Japão, dois em Inglês e quatro em francês (principais mercados). Daí eu dizer que é um dos últimos grandes sucessos Manga a ser publicado no ocidente. Em França vendeu na primeira semana mais de 20 mil cópias, sendo a melhor estreia de vendas de sempre de um Manga neste país.

Posta esta apresentação podemos falar um pouco do autor, Naoya Matsumoto, que de facto não tem mais nenhum trabalho de monta, sendo este sucesso o seu primeiro. Falarei da história mais à frente, agora podemos falar do seu desenho. 
No geral é bastante bom, tem excelentes momentos, mas por vezes cai no vulgar, daí eu ficar pelo bastante bom. Tem de ganhar um pouco mais de consistência, e se vamos falar de monstros temos de ter um pouco mais de detalhe neles, que por vezes falta. Mas na generalidade é uma arte bonita com algumas texturas bastante interessantes.

As sequências mais dinâmicas são muito boas, com algumas spread pages espectaculares, os movimentos são fáceis de ler, tornando as cenas de acção mais limpas que em algumas séries, em que é impossível de "acompanhar" os movimentos. Outra coisa boa, as personagens (até agora) são fáceis de identificar graficamente, sendo bastante diferentes umas das outras. Adorei as primeiras páginas coloridas, o kaiju está muito bom, acho que aqueles cores ficam a "matar" naquele bicho grande :D.

Quanto à narrativa. Acho que começou muito bem! Foi original na estrutura shounen, mesmo muito interessante. Esta estrutura é uma receita já muito batida que assenta muito nos grandes sucessos como por exemplo Naruto (que já se tinha baseado em Dragon Ball), em que temos o jovem herói, normalmente muito valente e voluntarioso e com uma maneira de ser diferente dos restantes (Son Goku e Naruto), temos a amiga (Bulma e Sakura), e o amigo normalmente mais introspectivo que faz o contrabalanço do herói (Vegeta e Sasuke). Depois destes vem o regimento dos coadjuvantes que são responsáveis pelas transições, momentos de humor e consistência na narrativa, ocupando os espaços vazios (Kuririn, Yamcha, Piccolo, etc, e Neji, Rock Lee, Choji, etc). São histórias cheias de acção, muitas batalhas, algum humor e com forte camaradagem entre as personagens "do bem".

Matsumoto foi original porque escolheu um protagonista "velho" de 32 anos, um fracassado na "cena heróica" e com um emprego do mais nojento que se poderia ter. Kafka Hibino, o protagonista limpa a esterqueira que fica depois da tropa de elite eliminar um monstro. Eles são enormes e alguém tem de limpar toda aquela carne, órgãos vários (intestinos em evidência)... e Kafka faz parte de uma empresa de limpeza de Kaijus mortos. Contrariando o esquema shounen, para além de "velho", ficamos a saber que ele é um desistente (tentou entrar para a tropa de elite devido a uma promessa, e desistiu). Os primeiros capítulos falam disto mesmo, dessa vida de fracasso e dos sonhos abandonados de pertencer à Defence Force, e em vez disso trabalhar na Monster Sweep Inc
Daí eu achar que é um take diferente neste género de Manga.

É-lhe apresentado nesta altura um jovem, Reno, que vai trabalhar para a empresa dele, e que está lá para perceber melhor a anatomia dos monstros, visto que que vai candidatar à Defence Force para os combater. Este jovem não compreende como Kafka pode desistir do seu sonho...

Não vou spoilar muito por aqui, mas isto pode dizer-se porque está implícito no título, depois de um ataque de um kaiju, Kafka e Reno vão parar ao hospital. Aqui Kafka vira bicho (kaiju) devido a um episódio que eu não conto. E sim, ele vai concorrer à Defense Force, apesar de ser um zero à esquerda...

É aqui que a história perde um pouco a originalidade dentro do shounen, visto que daqui até ao fim será acção sobre acção, típico deste género. Não falei disso, mas aos poucos a personalidade de Kafka vai sendo construída, e descoberta pelo leitor, através de back stories que por norma são uma ferramenta que os japoneses gostam de usar, e fazem-no bem por norma.

Quero ler os dois próximos para fazer um juízo mais perfeito da série, pois tem muito potencial, e no hospital houve algo que foi dito que acho que vai dar um bom twist à série no futuro. É um bom primeiro livro dentro do género.

A ver vamos se me prende definitivamente, porque para eu ficar preso a uma narrativa especificamente escrita para jovens, é preciso ter algo de especial (ou no mínimo eu gostar muito só porque sim... :D  )
Para o mês faço o segundo volume.



Boas leituras

sexta-feira, 8 de julho de 2022

Capas: Catwoman #55

 


Capa da revista Catwoman #55 por Adam Hughes.
Foi em Maio de de 2006 embora a data na capa seja de Julho.

Não é fantástica?


Boas leituras

quarta-feira, 6 de julho de 2022

Eu, Assassino


Chamam-lhe a Trilogia Egoísta, ou Trilogia do "Eu", uma série reflexiva em três relatos de "falhas" Humanas: Eu, Assassino, Eu, Louco e Eu, Mentiroso. Obra de António Altarriba  e Keko.

Foram todos publicados em português o primeiro pela Arte de Autor e os dois seguintes pela Ala dos Livros.

Hoje o LBD vai olhar para o primeiro volume Eu, Assassino publicado pela editora Arte de Autor.

"Matar não é um crime, matar é uma arte."
- Enrique Rodriguez

É assim que começa o livro, e começa com um assassinato rápido e brutal ,em plena rua durante o dia.
Esta obra é complexa. Os temas abordados, para além do óbvio (assassinatos) são tratados com mais ou menos profundidade dentro de um quotidiano negro com problemas políticos, adultérios, solidão física e emocional, traição, enfim, todas estas vertentes de um diário escuro são peças do xadrez pensado por Altarriba e pintado por Keko num excelente Preto & Vermelho.

Henrique é um professor universitário de Arte, ao mesmo tempo é também um crítico conceituado de um género de pintura, em que o sofrimento é base emocional dessa mesma obra. Em determinado momento da sua vida de solidão a dois, acaba por transpor para a vida real a arte dessas pinturas.

Não se considera um serial killer na verdadeira acepção da palavra, visto que não está imbuído de vingança ou impulsos emocionais provocados por traumas da sua vida. É completamente despido de emoção quando mata, e quando o faz é arte. Apesar de tudo, pode-se entender que algo se passa com ele emocionalmente porque não consegue relacionar-se com mulheres, acaba por se separar da mulher e não consegue nunca cativar as amantes. Todo o trabalho de estudar as vítimas, os cuidados para não ser relacionado, enfim, o seu trabalho de casa para que o seu trabalho desprovido de ganhos, sim, porque a arte é gratuita, e pinta quadros reais com muito vermelho... enfim... tudo isto não ajuda os relacionamentos, sobretudo o desapegar-se de emoções.

Estando rodeado por morte, afectado pelo terrorismo basco e o clima de opressão política que paira sobre os professores universitários, que obrigados a escolher entre os dois lados, sabendo que a escolha poderia provocar a sua queda profissional, acaba por não ter os cuidados devidos e é acusado de uma morte que não provocou. Não falo mais sobre o enredo deste livro, porque senão retirava-lhe a pitada de descoberta que o leitor deve sempre ter nas suas leituras.

Eu Assassino ataca ferozmente os pseudo-intelectuais, a falsa moralidade e os impostores artísticos. É um livro perturbador, negro (e vermelho) que se lê avidamente em determinados pontos.

A arte de Keko faz lembrar muito Alberto Breccia, do qual deve ser fã. As figuras são um pouco mais gritty que as de Breccia na minha opinião.
Um excelente preto e branco, umas vezes polvilhado de vermelho, outras com autênticos baldes dessa cor. Gostei muito da sequência gráfica deste livro, penso que é um trabalho exemplar de Keko.

O livro em si é uma boa edição da Arte de Autor com um papel de alta gramagem. Imperdível para quem de BD noir a preto e branco

Para a semana terão aqui o Eu, Louco.


Boas leituras

 

quinta-feira, 30 de junho de 2022

Batman/Catwoman #12
Casamentos, fofocas e desabafos


Bom, parece que à morcegos e morcegos... ou morcegas neste caso.

Não que eu tenha nada contra casamentos em comics de super-heróis, não tenho, mas lembro-me de uma série que acabou por ser cancelada devido à proibição de casamento na DC em 2013 (lol).
A série era excelente, uma das minhas preferidas neste século: Batwoman. Podem clicar neste link para lerem o excelente post (cof cof) que fiz em 2013 sobre este assunto.
Já agora, não confundam a BD com a série de TV (que é intragável).

Já agora, na parte da fofoca, nunca percebi se o Superman está casado ou não, alguém sabe dizer? E já agora, um casamento antigo que foi descanonizado pela DC de 2013 entre o Aquaman e a Mera, já é válido ou não?  Isto dos relacionamentos nos comics é muito complicado, e no que toca ao morcego... afinal, o tipo divorciou-se da filha do Demónio, a Tália al Gul? Ou é viúvo dela? Pelo menos tem um filho dela morto ressuscitado... e com aquela proibição de 2013 de casamentos na DC pelo editor da altura Dan Didio, o casamento entre o Flash Barry Allen e a Iris também foi descanonizado?
ahahahah  :D problemas existenciais de quem não segue há uns tempos estas faenas....

Aparte estas cenas aquilo que se começou a desenhar (literalmente) há quatro anos na revista Batman #50 parece que se vai consumar na revista Batwoman/Catwoman #12. O morcego e a gata vão o nó (finalmente).

É o final da run de Tom King neste título. Finalmente a relação Bat/Cat depois de muitas décadas entra num entendimento mais sério, e como eles dizem a eles próprios, eles são wounded animals that managed to crawl to each other.

Casamento simples com Clark Kent e Lois lane como padrinhos e sem festa, ou público, como convém a animais nocturnos.



Agora a pergunta é, isto é cânone? 
E se for cânone podem chamar o JH Williams III para continuar a Batwoman?  É que odiei aquilo ficar a meio por causa de um casamento :D



Boas leituras

terça-feira, 28 de junho de 2022

Spaghetti Bros: Livro 2

 

Arte de Autor lançou este ano o terceiro volume desta excelente série de Trillo e Mandrafina, e como é uma série que o LBD gosta mesmo faz sentido que se fale do segundo volume que saiu o ano passado. Posteriormente falarei do recente volume 3, hoje é o volume 2 que compila os tomos de 5 a 8 da série.

Se quiserem saber mais sobre os autores de Spaghetti Bros mais vale irem ao post de lançamento desta obra (clicar neste link) que a editora  Arte de Autor forneceu na nota de imprensa uma detalhada bio destes dois argentinos.
E para saberem o que eu escrevi sobre o excelente primeiro volume é só clicar aqui.

Enquanto que o primeiro volume foi um entrelaçado de pequenas histórias que foram formando um painel de vida dos 5 irmãos, este segundo volume é mais consistente narrativamente falando, isto apesar de também ele ser composto por algumas histórias. Mas agora já podemos vislumbrar mais da macro narrativa que deverá envolver os quatro volumes desta série.

Tenho de fazer a nota que as últimas pequenas histórias foram menos conseguidas, mas o todo não perdeu a coerência e isso é o mais importante.
A arte de Mandrafina continua num patamar bastante alto, é um preto & branco de excelência! A narrativa gráfica é perfeita, de fácil leitura e sem palha para atrapalhar. Dá apenas para arregalar os olhos e voltar a página para apreciar novo preto & branco perfeito. Mestre!

Trillo apresentou-nos a tal família no livro anterior, a família Centobucchi, e quem segue esta família garantidamente não fica entediado... um mafioso, um Padre, um polícia, uma actriz, e uma assassina a soldo! Para aumentar a temperatura, tudo isto nos anos 30 em plena Depressão.

Trillo, possuidor de um humor muito negro, leva-nos por caminhos bem escuros, com assassinatos, violações, espancamentos, sexo e enganos. Se não fosse o humor que polvilha esta narrativa isto seria muito mais perturbante do que já é. 
Mas a maneira como toda a sequência está formada é algo atraente de se ler. Os dramas familiares desta família, cheios de cinismo, estão bem construídos de modo a que toda aquela incómoda podridão onde eles caminham fique mais leve, e é aqui que entra aquele humor, umas vezes mordaz, outras negro e quase sempre cínico. É o retrato de uma sociedade em que foi muito complicada de se viver.

Outra coisa que tornou este livro muito atractivo foi a inclusão do filho de Carmela como agente condutor da maior parte da narrativa. Trillo apesar de usar o mínimo de texto é muito minucioso no desenvolvimento das suas personagens, e este rapaz não escapou a isto. Óptima personagem para intrincar a história, passeando pelas partes mais sujas, e o olhar dele perante tudo isso traz as dúvidas morais à tona num rapaz a crescer naquela família disfuncional. Faço certo? Faço o que devo? Faço o melhor? Ou faço o contrário disso tudo? :D

Um livro perturbador pela facilidade com que se entra na brutalidade e se salta para uma gargalhada. A ler e reler :)

Boas leituras



sexta-feira, 24 de junho de 2022

The Fourth Power - Integral



O LBD volta a visitar a Ficção-Científica e a revisitar este mundo criado por Juan Jimenez. A primeira análise é de Março de 2009, e focava sobre o primeiro volume de 1989, publicado em português pela ASA em 2002: O Quarto Poder

Se clicarem no link desse primeiro livro publicado em português terão uma primeira boa análise (eu penso que é) a este mundo. Foram publicados mais três livros que completam esta obra de Juan Jimenez, mas nunca em português. Assim, resolvi completar em inglês com um único volume que compila toda a obra. É disso que falamos neste post.

As quatro partes desta obra são (em inglês com o ano de publicação original em França):

  • The Fourth Power - 1989
  • Murders on Antiplona - 2004
  • Green Hell - 2006
  • Island D-7 - 2008

Juan Jimenez infelizmente já não se encontra entre nós, faleceu em 2020 devido a complicações provocadas pelo Covid-19, mas deixou-nos um acervo brutal ao nível artístico sobre o qual eu me irei debruçar brevemente, mas na rubrica certa: Autores
Por isso não irei falar muito da sua vida e obra, acho que merece algo mais profundo da minha parte visto que eu sou fã da sua arte.

Se leram a minha crítica ao primeiro volume que saiu em português, verificarão que eu digo que a narrativa melhora nos três livros subsequentes... só que nem por isso :D
Como disse no anterior post, a série era só para ser um one-shot, mas Jimenez viu que finalizou um pouco no ar e que teria potencial para mais algumas aventuras dentro daquele mundo de terráqueos vs Krommiuns. 

A história foge para Antiplona, um planetóide artificial, onde o ser de energia pura das quatro super mentes femininas se refugia dentro de uma outra mulher: Gal. Esta parte tem três plots distintos que se irão unir no fim, com alguns twists e algum sangue. Murders on Antiplona é essencialmente acção e coboiada espacial.

Gal e a QB4 continuam em fuga, agora no espaço e acabam por se esconder num pequeno planeta sanguinário, Green Hell, cheio de armadilhas vegetais e outras cenas não identificáveis. Para mim é o arco mais confuso de história

O quarto andamento, Island D-7, torna a narrativa para o planeta onde tudo começou. Alguns nós são desatados e onde o conflito armamentista volta ao de cima, em conjunto com muita acção, claro está. 

Resumindo, uma história pura de acção ambientado em FC impossível (para mim a melhor de todas), passada em vários pontos do Universo, com muitas naves espaciais, veículos terrestres extraordinários, paisagens brutais e bastante acção. A história é simples, mas nas mãos de um verdadeiro argumentista poderia dar algo de muito melhor. A narrativa gráfica atrapalha-se muitas vezes nos delírios visuais de Jimenez tornando a história confusa, onde Green Hell é o grande exemplo disto.

A arte de Jimenez é o forte deste livro, ou não fosse ele o desenhador de A Casta dos Metabarões. Muitas vezes estas aguarelas de Jimenez dão para fazer literalmente cair o queixo do leitor! A narrativa está confusa? Não interessa, deixa-me absorver estas páginas! Esta space-opera é deliciosa para os nossos olhos.

No aspecto filosófico, basicamente temos o instinto de destrutivo das raças terráqueas a ser levado a guerras interplanetárias, sempre em busca da melhor arma, do melhor negócio de armamento, sempre na busca de vantagem, com intriga ou sem ela. Mafiosos no espaço dão um brilhosinho especial à segunda aventura
A capacidade de manipulação do corpo humano e a ausência de limites deontológicos, aliadas a uma inteligência acima do normal criaram o ser QB4, felizmente não beligerante por natureza embora com o poder de tudo destruir. 

Uma excelente aquisição para quem gosta de FC e para quem gosta da arte de Jimenez. Quem não quiser ler em Língua estrangeira pode sempre obter a edição portuguesa, ainda se encontra com alguma facilidade nas feiras de livros e leilões online, visto que foi feito para ser apenas um volume. 

Para quem quiser o pacote completo, têm esta compilação dos quatro volumes da saga, que podem comprar facilmente em inglês ou francês.





Boas leituras

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Berserk vai retornar este ano com novos capítulos
- Anunciado no principio do mês de Junho


No resultado do post anterior acabei por ficar a saber esta notícia!

Depois de tudo levar a crer que o volume 41 iria ser o último, eis que a editora Hakusensha, através da sua revista bimensal Young Animal ヤングアニマル (Yangu Animaru), anuncia 6 novos capítulos após a morte do criador de Berserk: Kentaro Miura.

Os capítulos publicado após a morte de Miura, mas ainda com a mão deste criador deixaram a série num momento ambivalente, visto que o imediatamente a seguir até poderia deixar a história num bom momento de término, Guts parecia ter ficado em paz, o seguinte deixa a séria num cliffhanger... . 

Isto, e muitas outras coisas, pesaram num regresso para concluir a série através do conhecimento que o melhor amigo de Miura, Kouji Mori, tinha dos plots finais da série e também (claro) com o conhecimento que os artistas do Estúdio Gaga (o estúdio de Miura) tinham também de como Miura estava a levar a série para o seu final.

A editora e o mangaka Kouji Mori prometeram um desenvolvimento completamente honesto desta conclusão, não fazendo nada que Miura não tivesse falado com o próprio Mori.

Espero que assim seja e que nada seja deturpado em favor de alguns cobres. Vou deixar uma transcrição das duas cartas (traduzidas para português) endereçadas aos milhares (ou milhões) de fãs de Berserk que a Young Animal e Kouji Mori deixaram, apresentando esta continuação para concluir a série de modo adequado, respeitado tanto o Kentaro Miura, como a obra e os fãs.


Aos nossos leitores 

Retomaremos a serialização de Berserk
Por favor, aceitem nossas desculpas pela longa espera antes que pudéssemos fazer este anúncio. Lemos o máximo de comentários possível sobre o “Dai Berserk-ten (The Great Berserk Exhibition)”, “Young Animal Memorial Issue (Young Animal 2021 No.18)” e “Berserk Volume 41”. 

Somos extremamente gratos por cada uma das vossas palavras e pelas vossas mensagens enviadas para nós através das redes sociais. Estamos realmente tocados pelo amor que todos vocês têm por Berserk e pela influência que isso teve nas vossas suas vidas. 
É realmente triste que o próprio Kentaro Miura não esteja aqui para ler os vossos comentários connosco. Antes de sua morte, Kentaro Miura conversou com seu amigo íntimo Kouji Mori sobre as histórias e episódios que ele tinha em mente para Berserk. Ele também teve conversas semelhantes com a sua equipa de estúdio e com o seu editor. Ele perguntava, todos ficariam surpresos se eu desenhasse algo assim? Que tal um personagem assim? Esse enredo seria interessante? As conversas não eram suas últimas palavras, mas faziam parte de seus dias comuns como artista de mangá. 

 Esses dias comuns continuaram por mais de um quarto de século. Nossas mentes e corações ainda estão cheios dos pensamentos que o Sr. Miura compartilhou connosco durante esse tempo. Também encontramos memorandos de ideias que ele escreveu e designs para personagens que ele desenhou e deixou para trás. 

Estávamos relutantes em terminar sua história sem compartilhar isto com os seus fãs. A nossa esperança é que todos leiam o último episódio que montamos, até à última vinheta. Ao retomar a série, a nossa equipa de produção decidiu uma política básica. “O Sr. Miura disse isso.” Isto é o que a equipa de produção mantêm em mente. Como ele não deixou rascunhos, é impossível para nós criar um manuscrito exactamente da maneira que ele pretendia. No entanto, escreveremos o mangá para não nos desviarmos das próprias palavras do Sr. Miura. 

Gostaríamos de levar o Kentaro Miura que conhecemos com tanto carinho através de nossas conversas e trabalhos e transmitir isso a todos vocês de forma sincera. Acreditamos que esta política, embora imperfeita, é a melhor maneira de entregar o Berserk que o Sr. Miura imaginou para todos da forma mais fiel possível. 

A partir da próxima edição, publicaremos o primeiro de seis capítulos até o final do arco “Fantasia / Ilha dos Elfos”. Depois disso, iniciaremos um novo arco. Os créditos após a retoma serão “Obra original de Kentaro Miura, mangá do Studio Gaga, Supervisionado por Kouji Mori”, e a numeração dos encadernados continuará na mesma ordem. Olhando para trás, o primeiro volume de Berserk foi publicado em 1990 com 28.000 cópias lançadas para a primeira edição. Não foi um sucesso imediato e apenas um pequeno grupo de pessoas sabia disso. Ainda assim, atraiu fãs ávidos e conseguiu manter seu interesse porque as pessoas podiam sentir o desejo de Miura de refinar seu ofício. 

Depois de um tempo, Berserk se tornou um grande sucesso através dos esforços extraordinários do Sr. Miura, e alguma boa sorte. Hoje, o primeiro volume foi lido por 2 milhões de pessoas em todo o mundo. Acreditamos que Berserk tocou o coração de muitos fãs, e o Sr. Miura ficaria feliz em saber que seus pensamentos tiveram uma grande influência na vida e no trabalho de muitas pessoas. Esperamos que todos continuem a ter a mesma conexão com Berserk nos próximos capítulos. Também somos gratos aos muitos fãs que silenciosamente apoiaram o mangá através de seus pensamentos. Cada um de vocês será a fonte de nossa energia à medida que avançamos. 

Estamos verdadeiramente gratos a todos vocês. 

Junho de 2022. Departamento de Edição da Young Animal 




Quase 30 anos atrás, Miura ligou-me e disse: “Preciso falar contigo sobre como desenhar um rascunho”. Fui ao seu local de trabalho apenas para conversar como sempre fazemos, mas Miura parecia mais sério do que o habitual. “Preciso desenhar o Eclipse”, disse ele. Senti que seria um trabalho árduo, mas não acreditei quando fiquei preso dentro de casa dele por uma semana… Naquele exacto momento, o enredo de Berserk foi concluído, até o último capítulo. 

Estranhamente, a história de Berserk continuou exactamente como discutimos na época, quase sem mudanças. Continuei a conversar com Miura com frequência, sempre que havia um grande episódio. Fazíamos isso desde que éramos estudantes, consultando-nos uns aos outros enquanto trabalhávamos no mangá. Acho que as pessoas com boa intuição já percebem que eu conheço a história de Berserk até o fim. Ainda assim, não posso dizer que posso desenhá-la porque a conheço. Isso porque apenas o génio Kentaro Miura poderia escrever uma obra-prima como Berserk

No entanto, uma grande responsabilidade caiu sobre mim. Enquanto ele estava vivo, Miura disse: “Eu não contei a ninguém para além de ti, Mori, sobre a história toda”. E essa era a verdade. É uma responsabilidade muito grande. Eu pensei, devo falar com os fãs sobre isso através de uma entrevista? Ou devo publicar um artigo com algumas ilustrações? Mas isso não transmitiria as cenas que Miura descreveu para mim, ou as falas de Guts e Griffith… 

Justo quando eu estava a tentar decidir o que fazer, recebi uma mensagem. “A equipe está dizendo que terminará o último capítulo que foi deixado para trás, então você pode dar uma olhada?” 
As últimas páginas do capítulo estavam incompletas. Alguns nem tinham os personagens desenhadas neles. Dei uma olhada no manuscrito, sem esperar muito. O desespero pode levar as pessoas a criar milagres – Lá estava, o manuscrito completo de Berserk. “Senhor. Mori, você vai nos deixar fazer isso? Os aprendizes de Miura, dos quais Miura tanto se orgulhava enquanto estava vivo, fizeram-me a pergunta directamente. 

O director da empresa, Shimada, um mentor para mim e Miura, também disse: “Se você fizer isso, a empresa dará todo o apoio”. Eu pensei, se eu fugir agora, Miura diria: “Eu falei tanto contigo sobre isto, mas tu não o fizeste!!” Tudo bem. Vou fazê-lo até ao fim. 

Tenho uma mensagem e prometo a todos. Vou-me lembrar dos detalhes o máximo possível e contar a história. Além disso, só escreverei os episódios sobre os quais Miura falou comigo. Eu não vou criar. Não vou escrever episódios que não me lembro claramente. Só vou escrever as falas e histórias que Miura me descreveu. Claro que não será perfeito. Ainda assim, acho que quase posso contar a história que Miura queria contar. 

O talento dos aprendizes de Miura é real! São artistas brilhantes. Muitos de vocês podem não estar totalmente satisfeitos com o Berserk escrito sem Miura, mas esperamos que os pensamentos de todos estejam connosco. 

Pedimos seu apoio contínuo. 

Junho de 2022, Kouji Mori


Boas leituras

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