quarta-feira, 5 de agosto de 2015

O Árabe do Futuro
Ser Jovem no Médio-Oriente (1978-1984)



Mais um Romance Gráfico, e mais uma narrativa autobiográfica traduzida para português. E aqui temos logo um problema… Logo na primeira linha de texto do livro temos um erro que retira todo o efeito e força à frase! Vou colocar a frase no original em francês, e na tradução para inglês. Depois a tradução portuguesa:

“Je m’appelle Riad. En 1980, jávais 2 ans et j´étais un homme parfait.”
“My name is Riad. In 1980, I was two years old and I was perfect.”
“O meu nome é Riad. Em 1980 eu tinha 2 anos e era um homem feito.”



Podem chamar-me picuinhas, mas quando li esta primeira frase do livro achei que estava parva e não tinha a ver com a parte gráfica, assim resolvi ver como estava noutras traduções…
O tradutor provavelmente queria ter escrito “perfeito” e não “feito”, mas a gralha passou, e é aqui que eu quero bater. Onde está o revisor? Sim… mais ninguém lê o livro depois de traduzido??

Bom… passando este percalço (que eu espero que não tenha acontecido mais vezes no livro), a editora Teorema (grupo Leya) publica em Portugal um livro premiado este ano no festival de Angoulême para o Melhor Livro. Foi uma edição que passou um pouco despercebida na altura, infelizmente, mas espero que a qualidade desta obra do franco-sírio Riad Sattouf consiga desbravar esta falta de mediatismo da imprensa portuguesa.

O Árabe do Futuro concebido como uma trilogia, sendo este livro o primeiro tomo abarcando a primeira infância do pequeno Sattouf entre 1978 e 1984, com o subtítulo "Ser Jovem no Médio Oriente".
O segundo tomo saiu em Junho em França e abarca o período 1984/1985.

Falando um pouco de Sattouf, esta não foi a primeira vez que foi premiado em Angoulême. Em 2003 ganhou o prémio Renné Goscinny com Les Pauvres Aventures de Jérémy, e em 2010 ganhou o prémio Melhor Livro com o 3º volume da sua série Pascal Brutal. Estes dois importantes prémios também no festival de Angoulême.
Trabalhou durante 10 anos para o jornal satírico Charlie Hebdo (2004 a 2014), e para além disto tudo também é cineasta, ganhando também um prémio como realizador na Académie des Césars com o filme Les beaux gosses na categoria César du meilleur premier film.

Passando para o livro em questão neste post, O Árabe do Futuro, comecei a ler um pouco desconfiado o que em última análise (isto acontece-me alguma vezes) se demonstrou apenas ser preconceito meu. O livro lê-se muito bem e é muito interessante.
A minha desconfiança inicial adveio do traço cartunesco simples de Sattouf e de claramente ser uma autobiografia. Sou sempre desconfiado em relação ao género autobiográfico, não há volta a dar! Isto porquê? Porque para ser interessante, o autor tem de ter tido uma vida mesmo muito interessante, senão mais vale ficar quieto.
E sim, esta primeira infância (até aos 6 anos) do autor demonstrou-se muito interessante.

Sattouf é filho de um professor sírio e de mãe francesa. Não seria estranho se continuasse a viver na Europa, mas tal não aconteceu. O pai de Sattouf é um árabe orgulhoso (e com ideias de grandeza) que acredita piamente num mundo Árabe unido, e como pretexto para voltar ao mundo árabe serviu-se de uma gralha no nome dele numa carta de chamada como assistente em Oxford, candidatando-se ao invés, para ir leccionar para a Universidade de Tripoli na Líbia de Kadafi.

A família vai toda, arrastando a sua mulher e filho louros para um país completamente diferente em todos os aspectos. Abdel-Razak, o pai, era fervoroso adepto de uma liderança forte, e daí admirar Kadafi e a sua tentativa de unir o mundo árabe, mas a realidade é bastante diferente…
Podem seguir o périplo do jovem Sattouf que em seis anos de vida foi de França para a Líbia, volta a França, de seguida vai para a Síria (terra do seu pai), volta a França, e no final a caminho da Síria novamente.

O livro tem uma narrativa muito forte, quase sempre acompanhada de um humor ligeiro que quebra a profunda tristeza que está sempre presente como pano de fundo. Sattouf serve-se de variantes cromáticas ao longo do livro. Em França temos o azul como cor base, na Líbia o laranja e na Síria o rosa. Sigam esta viagem ao mundo árabe porque merece!
O Leituras de BD recomenda este Romance Gráfico.

Boas leituras


Softcover
Criado por Riad Sattouf
Editado pela Teorema em 2015

Sem comentários:

Enviar um comentário

Bongadas

Disqus Shortname

sigma-2

Comments system

[blogger][disqus][facebook]