Chegamos à
conclusão da nossa passagem pelos anos 50 da Marvel, quando a empresa era
conhecida como Atlas Comics. Foi uma era com poucos super-heróis, mas em que
foram criadas várias personagens que foram depois reaproveitadas por fãs de
banda desenhada que se tornaram profissionais.
Algumas
destas personagens, mesmo não sendo super-heróis, foram introduzidos
posteriormente no Universo Marvel normal, contribuindo para a sua variedade.
Depois dos super-heróis, heróis do passado, do futuro e da selva, terminamos
com os aventureiros e os espiões, acrescentando ainda uma listagem de
personagens one-shot que achamos relevantes.
Aventureiros
Venus ainda começou no tempo da Timely, em Agosto de 1948, e
a revista Venus continuou a ser
publicada até Abril de 1952. As suas histórias começaram por misturar aventura
e romance, com a deusa greco-romana do amor a viajar para a Terra e a assumir a
identidade de Vikki Starr, editora de uma revista feminina, “Beauty”, enquanto
tentava manter uma relação com o babado proprietário da revista, Whitney P.
Hammond. No entanto, à medida que o tempo passava, a parte romântica foi
diminuindo e as histórias passaram a assumir contornos mais negros, entrando no
género de terror, com visitas frequentes dos outros deuses gregos. Venus foi
integrada no Universo Marvel nas histórias dos Campeões, e tal como Jimmy Woo e
Marvel Boy, fez parte da revista Agents of Atlas, onde foi revelado que
não era a verdadeira Vénus, mas sim uma sereia.
Antes de ser cancelada, a revista Man Comics tentou
introduzir uma nova série, Bob Brant e os Trouble-Shooters, um grupo de
adolescentes que decidiram que era boa ideia combater criminosos. Bob Brant e a
sua gangue de vigilantes precoces incluía uma série de estereótipos, já que Bob
era o líder tipicamente americano, Daffy era o desenrascado vindo das ruas,
Feathers era um nativo-americano intelectual, e Bomber um baixinho que gostava
de andar à porrada. As namoradas Carol e Bess também andavam com o grupo. Lance
Brant, irmão mais velho de Bob, aparecia na segunda história da revista, como
agente governamental sem agência específica, geralmente trabalhando para as Nações Unidas. Uma das histórias contou com a
presença de um mutante telepata, o amoral Roger Carstairs. Não voltaram a
aparecer, mas o nome Trouble-Shooters foi usado no Novo Universo, em 1986, uma
equipa traduzida pela Editora Abril como Os Torpedos.
Antes de pegar nos super-heróis, em 1953, a revista Young
Men tinha tentado lançar uma série de tiras diferentes, mas sem grande
sucesso: o piloto de corridas Flash Foster, um rebelde com coração de ouro que participa em
corridas de rua; o investigador do sobrenatural Rex Lane, recusado pela
polícia, que decide resolver casos do oculto por vontade própria; o lutador de boxe profissional Rocky Steele, que como era típico do
género era arrastado para problemas alheios que eram resolvidos com os seus potentes punhos; e o recruta Buzz Brand, herdeiro
de uma grande fortuna que conhece um novo mundo ao incorporar-se no exército
americano, onde a sua fortuna pessoal e conexões familiares não o podem ajudar. Nenhum deixou saudades, mas se não
fosse o regresso dos super-heróis no número seguinte, podiam ter durado mais
alguns números. Rex Lane tinha algum potencial,
especialmente se fosse combinado com o lado místico da Marvel.
Material de
leitura: Venus #1-19 e Marvel Mystery Comics #91; Man Comics
#26-28; Young Men #21-23.
Heróis de espionagem
Num caso raro para a época, o protagonista da revista Yellow
Claw não era o herói, mas sim o vilão. O Garra Amarela era uma cópia nada
subtil do mais famoso Fu Manchu, um megalomaníaco saudosista do império manchu
(dinastia Qing) da China, auxiliado pelo cientista alemão Fritz von Voltzmann.
O herói de Yellow Claw era na
verdade Jimmy Woo, agente do FBI, de origem chinesa, que destruía
constantemente os planos do Garra Amarela, com ajuda da 'sobrinha' do vilão,
Suwan. As histórias de Jimmy Woo foram publicadas de Outubro de 1956 a Abril de
1957, com arte de Joe Maneely e Jack Kirby. Todas as personagens foram
recuperadas por Jim Steranko nas histórias de Nick Fury, com Woo a tornar-se agente
da SHIELD, para anos mais tarde ser a peça central de Agents of Atlas,
assumindo o comando da Fundação Atlas e o posto do Garra Amarela.
Durante os anos 50, a Marvel experimentou lançar algumas
revistas de espionagem, aproveitando o sentimento anti-comunista que se
propagava pela sociedade americana. Clark Mason era o herói principal da
antologia Spy Fighters, começando com histórias convencionais de
espionagem, capturando espiões e sabotadores, ou ajudando a roubar material e
salvar pessoas do outro lado da Cortina de Ferro. A partir da sétima edição,
Clark, cuja agência nunca foi identificada, recebeu a patente militar de
capitão e foi enviado para a guerra na Coreia, onde permaneceu durante seis
edições, regressando ao formato convencional para os três números finais. Clark
Mason nunca foi reaproveitado no Universo Marvel.
Outro espião profissional era Kent Blake, que tinha direito
à sua própria revista, Kent Blake of the Secret Service. Tal como Mason,
Blake começou por ser um espião convencional, com as histórias a serem
publicitadas como reais, mas saltando de contra-espionagem para ataques
terroristas ou missões de infiltração conforme as necessidades da história, o que seria improvável para um espião
real. De início, Blake trabalhava para o Departamento de Investigações
Especiais do Serviço Secreto mas, tal como Mason, passou por um período de seis
edições integrando o teatro de guerra na Coreia. Kent Blake foi introduzido no
Universo Marvel numa história do Homem-Aranha, em flashbacks referentes aos
pais deste, os espiões Richard e Mary Parker.
O próximo herói também espiava só que não era espião, mas
sim um detective privado. Rocky Jorden era a estrela principal da antologia Private
Eye e as suas histórias, que eram anunciadas na capa como sendo baseadas em
casos reais, eram típicas do género, sendo contratado essencialmente para
encontrar pessoas desaparecidas ou que estejam envolvidas no crime organizado.
Rocky Jorden era bastante atlético, com conhecimentos de ginástica e artes
marciais, e a história tinha personagens secundárias recorrentes, nomeadamente
a sua namorada e secretária, Lisa Brown. Era inspirado numa série de TV, Rocky
King, Inside Detective.
Doug Grant era mais um espião sem agência identificável,
aparecendo na antologia Spy Cases.
Apesar de lutar contra comunistas, comportava-se mais como um detective
privado, mas, tal como Mason e Blake, viajava por todo o mundo e também foi
incorporado nas forças armadas para passar pela Guerra da Coreia. Grant parecia
ser mais versátil, num papel ainda mais adaptativo que os outros espiões da Marvel da
época, sendo publicado durante mais tempo mas em menos páginas que Clark Mason
e Kent Blake. Durante as histórias de guerra, tentaram dar-lhe um assistente
humorístico, Alfie Brown.
Rick Davis, outro agente do Serviço Secreto (tal como Kent
Blake), não durou tanto tempo como os seus congéneres, uma vez que a antologia
onde era publicado, Spy Thrillers,
foi lançada fora da época das outras revistas e, sem público, acabou cancelada
mais rapidamente, não passando de quatro números. Mesmo assim, Rick Davis tinha
potencial, pois foi apresentado como um jovem prodígio quando ainda estava na
Academia e adaptou-se rapidamente ao seu trabalho, pelo que teria sido
interessante se alguém o tivesse ido buscar para a SHIELD.
Material de
leitura: Yellow Claw #1-4; Spy Fighters #1-15; Kent Blake of
the Secret Service #1-14; Private Eye #1-8 e Young Men #9-11;
Spy Cases #26 (1)-19; Spy Thrillers #1-4.
Menções honrosas
Os vários personagens que apareceram nas histórias seguintes
surgiram no período pré-Marvel, e alguns deles foram reciclados anos depois por
novos autores:
-
Simon Garth, um zombi, reaproveitado nos anos 70
na revista Tales of the Zombie (Menace #5)
-
Ken Hale, caçador transformado num gorila e o
Robot Humano, mudo mas inteligente, reaproveitados em Agents of Atlas
como Homem-Gorila e M-11 (Men's Adventures #26 e Menace #11)
-
Arthur Nagan, cuja cabeça foi transplantada para
o corpo de um gorila; Jerry Morgan, que fez uma cobaia de si próprio, reduzindo
os ossos mas não a pele; e Chondu, um místico, reutilizados por Steve Gerber
nos Cabeças como adversários dos Defensores (Mystery Tales #21, World
of Fantasy #11 e Tales of Suspense #9)
-
Kanu e Bala, um par de jovens da Atlântida,
semelhantes a Namor e Dorma, mas sem poderes (Adventure into Mystery #1)
-
Adam Clayton, um homem invisível, transformado
em Makkari dos Eternos por Roger Stern (Strange Tales #67)
-
Dr. Droom, um místico, que depois seria
transformado no Doutor Druida nos anos 70 e integrado no Universo Marvel em histórias do Hulk e dos Vingadores (Amazing Adventures #1-4 e 6)
-
Vários mutantes, incluindo os telepatas Peter
King e Henry Gray, o superinteligente Hugh Taylor, o teleportador Vincent Farnsworth,
o Poderoso Mento, e Tad Carter, que foi usado nos X-Men por John Byrne (Journey
into Unknown Worlds #37, Journey into Mystery #44, Spellbound
#33, Strange Tales #78 e Amazing Adult Fantasy #14).
Pode ler também a Parte 2 (Heróis do Espaço e da Selva) e a Parte 1 (Super-heróis e Heróis do Passado).
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