Um dos
mais antigos super-heróis franceses, e um dos maiores sucessos da
sua época, foi Fantax. Criado em 1946 pelo editor Pierre Mouchot,
Fantax era inspirado visualmente no Hourman da DC Comics, com um
uniforme preto e vermelho, com um F vermelho bordado na camisa, e
possuía inteligência, força e agilidade sobre-humanas. O seu
alter-ego era Horace Neighbour, um aristocrata inglês que trabalhava
como diplomata nos Estados Unidos. As suas primeiras histórias,
publicadas no jornal semanal Paris-Monde Illustré, foram escritas
por Marcel Navarro, usando o pseudónimo anglófono J.K. Melwyn-Nash,
com arte do próprio Pierre Mouchot, que assinava com o nome Chott.
As histórias tentavam evocar deliberadamente um estilo mais
americano que francês, e eram bastante inspiradas em pulps
americanos com algum nível de sordidez.
Mouchot
deu a Fantax a sua própria revista em petit format, em 1946, tendo
sido publicadas 39 edições até 1949, na sua maioria escritas por
Melwyn-Nash e desenhadas por Chott, mas também passaram pelo título
Robert Rocca como artista e o próprio Chott como escritor. A revista
foi cancelada pela lei francesa publicada em 16 de Julho de 1949, que
obrigava a BD a ser submetida a um painel censor para aprovação, e
que atacava directamente os petits formats a preto e branco e as
importações americanas, com as suas temáticas centradas em ficção
científica e combate ao crime. Mesmo assim, Fantax regressou no
mesmo ano numa novela ilustrada, escrita por J.F. Ronald-Wills,
pseudónimo de André Compère, escritor de livros policiais e de
ficção científica mais conhecido como Max-André Dezergues.
Em 1951,
Chott voltou à carga com o artista Rémy Bordelet, com uma série
contínua na revista Reportages Sensationelles, material que foi
republicado numa nova série de nove números editada em 1959. Pelo
caminho, Pierre Mouchot tentou aproveitar o conceito numa forma mais
ligeira, intitulada Black-Boy, que afirmava ser Horace Neighbour Jr.,
filho de Fantax, sem máscara, com moto, e com menos tortura e corpos
estropiados. Foram publicadas várias histórias nas revistas Rancho,
Special Rancho e Fantasia, entre 1957 e 1961, e com autoria de Chott,
Bordelet e Francis Péguet. Em 1961, Pierre Mouchot foi forçado a
fechar a sua editora, a S.E.R., e, debilitado pelos confrontos legais
com a censura, morreu cinco anos mais tarde. A primeira série de
Fantax foi editada em quatro Intégrales entre 2010 e 2013.
Um dos
heróis preferidos dos completistas, mas esquecido do público geral,
é Satanax. Um alquimista deu ao anónimo escrivão Arsène Satard
poderes que são activados em contacto com o fogo, incluindo força
extrema, invulnerabilidade e levitação. Satanax foi criado em 1948
pelo escritor Jean d'Alvignac e pelo artista Auguste Liquois, e teve
direito a 16 histórias publicadas em revista própria até 1949,
pela Éditions Mondiales. Com um nome algo ambíguo, Satanax apenas
foi reeditado em 1977 em três volumes.
Um
contemporâneo de Fantax e de Satanax era Tom X, mais um herói com a
letra X. Tom X foi criado por Robert Bagage, mais conhecido pelo seu
pseudónimo, Robba, que escreveu e desenhou as suas aventuras, com
ajuda de Louis Auger. Tom X não tinha poderes, mas era um daqueles
Da Vinci modernos tornados famosos pelos pulps e pelos penny
dreadfuls, neste caso um aviador, explorador e cientista. Robba
editou 24 histórias de Tom X em revista própria, pela sua própria
editora, a Éditions du Siècle, de 1946 a 1947. Estas histórias
nunca foram republicadas.
Robba
teve mais sucesso com Super Boy, que nada tem a ver com o Superhomem.
Super Boy, em duas palavras, começou por ser uma simples revista em
petit format, lançada em 1949, mas em 1958 finalmente lançou uma
personagem com este nome. Este Super Boy era filho de um cientista e
não tinha poderes próprios, mas o seu cinto permitia-lhe voar e a o
capacete com viseira transparente tinha um rádio embutido. O seu
uniforme era vermelho e amarelo, com as letras SB na camisa. Super
Boy foi publicado regularmente até 1970, primeiro com argumento de
Schwarz, aparentemente um pseudónimo da mulher de Robba, e arte de
Félix Molinari. Molinari continou a trabalhar até 1970, a partir
daí dando lugar a uma série de artistas espanhóis, incluindo o
consagrado José Ortíz, continuando a chegar às bancas até 1986,
altura em que os petits formats estavam em rápido declínio.
Mais
relacionado com ficção científica, Fulguros começou com um
uniforme com capa e máscara, mas rapidamente abandonou este visual
para se tornar um cientista aventureiro, com uma série de inimigos.
Fulguros foi publicado em 12 partes na revista Andax em 1946, e
reimpresso um ano depois na revista Pic-Nic. O seu criador, o artista
René Brantonne, contava com a ajuda do escritor de ficção
científica, Robert Colliard, mais conhecido como R. Lortac, para
escrever os argumentos, mas a falta de tempo, por ser ilustrador de
livros de ficção científica, só lhe permitiu regressar a Fulguros
em 1954, na revista feminina Sylvie, onde teve pouco sucesso numa
aventura em seis partes. Mais três histórias foram publicadas em
1959 na revista Audax, e as histórias foram reimpressas em 1967 na
revista Meteor.
Mister X
não tinha superpoderes, mas tinha um uniforme colante vermelho,
distinguindo-se facilmente pelo seu cachimbo. A lista dos seus vilões
contava com algumas personagens comunistas ou com fisionomia
asiática, ao estilo yellow peril, tornado popular por Fu Manchu.
Mister X foi criado por André Roger e André Bohan, e foi publicado
na sua própria revista, editada pela Elan, com 22 números entre
1949 e 1951. Uma segunda série de 10 números foi publicada em 1951.
Este material permanece esquecido.
Finalmente,
Jacques Flash também não tinha superpoderes, com excepção de um
soro de invisibilidade. Jacques Flash era um jornalista que recebeu
este soro do professor Folven. Apesar de ter surgido mais tarde que
quase todos os heróis apresentados até agora, era mais tradicional,
até porque foi publicado na revista Vaillant, e na sua sucessora, a
Pif. Foi criado pelo escritor Jean Ollivier e pelo artista Pierre Le
Guen, com três histórias publicadas entre 1957 e em 1959. Voltou
para uma série de histórias mais frequentes, que foram publicadas
de 1960 a 1973. Ollivier (conhecido por ter trabalhado com o artista
português Eduardo Teixeira Coelho em Ragnar Le Viking) escreveu três
histórias de Jacques Flash, desenhadas por Gerald Forton, mas
depois, por estar ocupado como editor da revista, deixou o lugar ao
escritor Pierre Castex. René Deynis e Max Lenvers desenharam a maior
parte das histórias, que contabilizam um total de 54. Foi reeditado
em seis volumes em 1977.
A temática dos super-heróis à francesa vai regressar ocasionalmente. A próxima edição vai dedicar-se em exclusivo ao
universo da Éditions Lug.
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