quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Comercial Vs. Alternativo

O Pedro Mota no fórum de BD do Portal Central Comics referiu um assunto sobre o qual eu há bastante tempo desejava fazer um post… a relação entre a Banda Desenhada consumida pelo comum dos mortais e a chamada Banda Desenhada alternativa.
Logo aqui temos uma relação maioria/minoria, e em que será saudável este espaço alternativo, porque a Banda Desenhada tem de ser acessível e apreciada por todos! Mas temos de partir da premissa de que o mercado de BD, dita comercial, é saudável senão o nicho alternativo fica sem espaço! E desenganem-se os radicalistas alternativos se pensam que esse tipo de BD tão respeitável como os outros, possa sobreviver sem aquela coisa horrível que é a Banda Desenhada consumida pelo grande público!
Eu já ouvi alarvidades (ao vivo) de radicalistas alternativos dizerem que a “merda da BD comercial devia ser banida da face da Terra”! Que a cura para o panorama nacional da BD passaria pelo desaparecimento dessa coisa horrível que é a BD comercial...
Já agora, e perante este ponto de vista radical, posso fazer o seguinte exercício… Se eu fizer desaparecer da face da Terra a BD comercial, a alternativa passa a ser comercial, pois será a única que é vendida e publicitada… entretanto alguns autores começavam a desenhar diferente da BD instituída, passariam estes a ser os alternativos! Estes apoiantes veementes da então alternativa passariam a consumir o alternativo como sendo comercial. Ora sendo comercial, o alternativo, então, seria uma merda. Confundidos? Eu também… :)
Só posso considerar isso de uma obtusidade a toda a prova, provavelmente de alguém com pouco jeito para o desenho, pois se fizer assim uns riscos e umas caras esquisitas já é considerado alternativo, e o que é alternativo é conotado com intelectual, e o que é intelectual está acima da crítica do comum dos mortais... assim tolera-se a falta de jeito.
Já li muito bons livros de BD alternativa, assim como BD comercial que era um verdadeiro asco.
O problema não é se é comercial ou alternativo... o problema são os lobbies formados, que de alguma maneira restringem a própria BD, para dar ênfase àquela que acham que é a verdadeira, a boa, aquela que deve ser noticiada e apoiada. É lógico que quando uma minoria (porque é uma minoria) toma conta de canais privilegiados de comunicação com o grande público e apenas deixa passar a sua mensagem, e propagandeia quase a 100% apenas o dito alternativo, o grande público, ou seja as pessoas que compram, desligam-se… pois Banda Desenhada não serve para vestir nem para comer, serve para dar prazer e conhecimento! O comum dos mortais não olha duas vezes para a maioria dos livros de BD alternativa, e não vale a pena chamá-lo de ignorante, porque poderá não ser verdade. Chama-se alternativa, porque deverá ser alternativa a uma determinada forma de fazer, editar e estar da BD tradicional! Mas isto é para uma minoria…
Tem de haver espaço para o alternativo, para o Fanzine e para o experimental, mas estes espaços só existem quando aquilo que é consumido pelo grande público é absorvido, ou seja vendido! Aí uma editora pode investir/apostar num autor que fez uns quantos Fanzines promissores, ou editar uma obra alternativa, mesmo dando prejuízo! Para isso terá de se acabar com o elitismo!
Já agora, os organizadores dos poucos grandes eventos de BD no nosso país, que repensem os cartazes de propaganda a estes mesmo eventos. Não estou a apontar facas aos artistas que os fizeram, mas sim à escolha dos mesmos (cartazes). É minha opinião que esses cartazes são tudo menos comerciais, mas deveriam, mesmo, ser comerciais! Pois a publicidade serve para chamar o possível público consumidor, e não para afastá-lo! Porque o vulgar cidadão, com pouco contacto com o mundo da BD, ao ver aqueles cartazes vai dizer que aquilo é só para aquelas coisas esquisitas… a publicidade tem de ser apelativa para o grande público, e não para uns quantos fãs, nos quais eu me incluo. E sim, estou a falar dos cartazes de Beja, e sim estou a falar dos cartazes da Amadora! Não estou a falar dos eventos propriamente ditos…
Não se esqueçam de uma coisa, a BD para ressurgir no nosso país tem de vender e aí poderão surgir os alternativos, experimentais e mais importante que tudo: autores nacionais!
O grande público é o objectivo, se o foi nos anos 80/90 também o pode ser agora, mas não é com BD alternativa que vamos lá. Se este panorama continuar, haveremos de andar a oferecer fanzines uns aos outros para o resto da vida, e comprar importados comerciais, claro…
Concluo com a esperança de não tenha sido um post muito confuso, e também, com a esperança, que quem tem o poder de publicitar e fazer reviver a Banda Desenhada o faça, independentemente dos seus gostos pessoais, maneiras de pensar e inimizades de estimação!
Como é que um meio tão pequeno como é a BD portuguesa pode provocar tanta confusão?

9 comentários:

  1. Quando falas em consumir, é ler ou comer? É que eu sou um simples curioso, não olhes assim para mim, pá!

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  2. Foi um excelente post, de facto.

    Pessoalmente, encontro muito pouca atracção na BD dita "alternativa". Conto pelos dedos de uma mão BDs ou Comics "alternativos" que considero de qualidade. Nestes encontro, acima de tudo, um argumento de grande peso e, raríssimos casos, um traço que merece apreciação demorada e que cativa pelo "avantgardismo" do mesmo.

    Normalmente o que mais vejo são tipos (as) que não sabem desenhar e que vomitam uns gatafunhos, aos quais gostam de chamar de arte e que "estão acima de qualquer crítica" por serem demasiados intelectuais para um qualquer perceber a essência da sua mente soturna e perturbada (normalmente quem os percebe são os amigos e pares da gatafunhagem e outros que não enxergam para além do “tipo é muito cool…tem uma aura magnifica” – que eu também já ouvi dizer!). Quer dizer...eu adoro Jackson Pollock; não sei interpretar um Pollock, é verdade…mas gosto. Mas, o próprio Pollock, quando celebrados críticos de arte o interpretavam, dizia desses iluminados: “- São, na esmagadora maioria, uns idiotas”. O próprio Dali (que eu também gosto) gozava descaradamente da "elite" intelectual que o bajulava, dizendo que se cagasse num papel e o assinasse não faltariam intelectuais a chamá-lo de "o mais proeminente e alternativo dos pintores"; muito embora se considerasse como tal, mas não por uma qualquer javardice que pudesse fazer
    .
    A arte (da qual a BD indubitavelmente faz parte) terá quantas vertentes artísticas quanto a imaginação e inovação dos seus intervenientes. Eu sou completamente a favor da BD "alternativa", de experimentação. Sem esta não seria possível inovar e alcançar novos patamares de expressão artística dentro do género.
    Casos como Mignola, Templesmith, Druillet, Comés, Spielgman, J. C. Fernandes, não seriam hoje casos de sucesso comercial se, no seu tempo "alternativos" (e ainda hoje, verdade seja dita), não tivessem cativado o público. Dave Mckean é outro exemplo flagrante de arte "alternativa" que vingou.
    Será que o autor "alternativo" aspira a ser para sempre "alternativo" – na má ascensão do termo – e com isso viver e morrer pobrezinho, se só da sua arte quiser subsistir?! Exemplos na pintura, na música, na escultura e em todo o género de expressão artística, são mato. E só daqueles que hoje conhecemos e reconhecemos como "génios incompreendidos" no seu tempo. Não teriam eles gostado de ser amados pelo fruto do seu árduo trabalho, no seu tempo?!
    Hoje, “é moda”, "é bem", “é cool” ser um artista "alternativo". Dá um status que será inultrapassável num qualquer "gathering", ou numa qualquer escola secundária.

    Lembro-me de só gostar de música "alternativa" e abominar a corrente comercial, quando era adolescente: The Cure; The Clash; Exploited; Joy Division; Tones on Tales; Love & Rockets; Brian Eno; Sonic Youth, etc. Até quando apareceu a House Music (que eu adoro), nos anos 80, com reminiscências dos finais dos anos 70 (ex: Kraftwerk) e influências daquilo que eu até então abominava e era o mais comercial possível (Pet Shop Boys e Boy George, por exemplo). Hoje praticamente todos eles são comerciais, e, segundo eles, ainda bem que são. De outra maneira, como é que poderiam viver daquilo que mais gostam?!

    Todas as gerações têm os seus futuristas, e destes surgem a próxima geração de ícones que se afirmam no plano, os quais influenciam a próxima, e assim sucessivamente.
    Pedantes sempre existiram e sempre existirão.
    Ser-se “alternativo” não é sinónimo de não se ser “comercial”. Uma não implica a outra. O que implica é ter qualidade, ou não ter. Gatafunhar não é arte. Copiar os textos do Fernando Pessoa (ou outros menos proeminentes) e acrescentar uns gatafunhos, não é arte. Por muito que gostassem de ser artistas, ou pensam que são…de facto, não são. Ser “alternativo” e ser “comercial”, ao mesmo tempo, é muito possível e desejável. Também é verdade que existirão muitos artistas autores que serão no seu tempo incompreendidos pelas gerações suas contemporâneas. Provavelmente, como a História já provou, serão aclamados por gerações futuras como “génios miseravelmente descurados”. A esses peço as minhas desculpas sinceras, por não possuir a sensibilidade desejada, ou a visão para alcançar e deslumbrar o que afinal não são só “gatafunhos”. Mea culpa.

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  3. Caramba, o Refém deu-lhe com alma! E ambos (tu, marido, e o Refém) têm razão.

    Raramente o "alternativo" capta a atenção da maioria dos consumidores, e a partir do momento em que o alternativo capta a atenção da maioria, deixa de o ser e passa a comercial.

    Significa então, que para esse tal senhor que acha que a BD comercial devia ir toda pelo cano abaixo, que, se os riscos dele, de repente, se tranformassem num sucesso, deveriam, de imediato, ser queimados em praça pública??

    É que se me prometerem a queima eu ainda digo o nome da figurinha... hihihihihihi

    enxofre natalino

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  4. Sobre este assunto começo por dizer que acredito nas economias de mercado, o que significa que quando existe procura deve existir oferta e isto aplica-se para todos os produtos, incluindo a BD. Agora se o publico compra porque é bom, não sei, sei é que se compram é porque gostam e é esse talvez o factor mais importante a considerar na avaliação de qualquer projecto artístico seja ele “alternativo” ou “comercial”. Agora impor que tem de haver espaço para correntes alternativas não concordo, concordo é que o espaço exista se houver procura. Para mais "Brancas de Neve" já nos bastou (e custou) o César Monteiro. Se houver quem queira BD comercial, que se faça BD Comercial; se houver quem procure BD alternativa, que se venda BD alternativa. Tomando o meu gosto pessoal como exemplo, posso dizer que só compro quando gosto do desenho e da história. Gosto de histórias lógicas que façam sentido, não gosto de delírios utópicos, gosto de desenhos bem trabalhados, perceptíveis, não gosto de rabiscos e borrões. Mas são gostos e gostos, como se sabe, não se discutem!
    Agora toda a BD tem obrigatoriamente de ser “comercial” senão que outra forma haveria para se remunerar os respectivos autores? Ou andamos todos aqui atrás dos subsídios?

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  5. Pois, é como disse ...
    não tenho nada contra os alternativos, mas por aqui quem não é alternativo terá de ir trabalhar para o estrangeiro... que estranho!
    As nossas poucas instituições deveriam dar mais apoio e publicidade a novos autores portugueses não alternativos, porque enquanto só passar esta ideia de que a BD ou é para crianças ou para intelectualóides nunca, mas nunca há-de singrar comercialmente. São estes os dois pecados da mentalidade portuguesa actual em relação à BD. Um (o da infantilidade) foi criado por uma boa fatia do público que lia BD quando era criança e depois deixou de ler, e o outro provocado pelos próprios Bedéfilos.
    Esperava ter visto aqui mais opiniões! Mas, ou o assunto não interessa mesmo, ou é tão incómodo que o pessoal se prefere calar!

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  6. Eu não tenho interesse pela bd alternativa 100% das minhas compras de bds são bds comercias sempre foram.A BD portuguesa então nem comercial(isso existe????) nem alternativa.So gosto do Brk :)

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  7. BRK é um bom exemplo do que deve ser bem publicitado e apoiado! É agradável visualmente e tem uma estória decente para adolescentes (e é feita por portugueses)
    Agoro eu pergunto, quando a compilação do que saiu no BD Jornal sai? Há quanto tempo isso está para acontecer? Deus! Não me digam que BRK só sairá cá para fora com uma edição de autor!!!!

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  8. Mas o que foi publicado no Bdjornal não esta completo,mas o editor no BLOG Kuentro disse que is tomar uma posição sobre isso OU NÃO..

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  9. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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