A revista Mon
Journal foi a primeira experiência editorial de Bernadette Ratier, a partir de
1946, onde se destaca o herói do futuro, Atomas, uma criação do artista Pellos,
pseudónimo de René Pellarin, com ajuda do escritor Robert Charroux. Foram
publicadas histórias do nº 70 ao 86, quando a revista foi cancelada. A editora
francesa, natural de Lyon (onde estavam a maior parte das editoras de petit
formats), voltou à carga 10 dias depois com um novo projeto, chamando à sua
empresa Aventures et Voyages, mas apesar do nome, foram as revistas de banda
desenhada de ficção que mais atenção tiveram.
A editora foi
mais conhecida por ter editado a versão francesa da revista italiana Akim (cuja
personagem principal era uma cópia de Tarzan), publicando 756 números entre
1958 e 1960, mas começou logo por publicar personagens próprias. O pirata
Diavolo, de J.K. Melwyn-Nash (Marcel Navarro) e Guy Lebron, teve direito a 14
números em revista própria, antes de continuar noutras antologias, mas o
primeiro grande sucesso foi Marco Polo. As aventuras altamente fantasiosas do
explorador e mercador veneziano (que viveu de 1254 a 1324) começaram na revista
Dakota mas logo passaram para título próprio, durando 213 edições, com
histórias feitas por Jean Ollivier (parceiro de E.T. Coelho em Ragnar Le
Viking) e Enzo Chiomenti.
Os heróis com
super-poderes começam a regressar nos anos 60, sendo que o primeiro é Rok,
L'Homme Invisible, criado pelo artista italiano Sandro Angiolini, e que surgiu
na revista Brik n.º 54, em 1962. Rok Pascal, um cientista, herda uma fórmula do
seu avô que lhe permite criar pílulas que o tornam invisível. Rok usa estas
pílulas para combater uma organização criminosa com a ajuda da sua secretária,
Brigitte Dubois, e do inspector Commun. Depois de uma ligeira interrupção de um
ano, Rok voltou pela pena de Guido Zamperoni no nº 126, ganhando um assistente
juvenil, Plito. As aventuras de Rok continuaram a ser publicados na revista
Brik até ao nº 157, em 1972.
A revista
Yataca começou com as aventuras de um grupo de crianças na selva amazónica,
capazes de falar com animais, mas depois o nome foi aplicado às histórias de um
clone de Tarzan britânico, “Saber, King of the Jungle”, de Denis McLoughlin.
Mas o mais importante é que foi nesta revista, em 1973, que surgiu o herói
aquático Antarès. Criado pelo espanhol Juan Escandell, Antarès foi publicado a
partir do nº 57, até ao 118. A partir daí, passou para revista própria, que
durou 129 números entre 1979 e 1989, mas raramente era tema de capa. Antarès
era um alienígena que se tinha despenhado na Terra, ganhando superforça e a
capacidade de viver no oceano, controlando formas de vida animais como peixes e
golfinhos (tal como Aquaman). As histórias tinham preocupações ecológicas.
Também foi
nesta revista que foi republicado Galax (um herói especial de Roger Lecureux e
Roland Garel, originalmente lançado em Marco Polo), mas a maior parte das
histórias de heróis espaciais eram importadas, como o espanhol Fantasia SA (de
Andreu Martín e Edmond Ripoll), os italianos Phann (de Frollo Leone) e
L'Immortel (de Paolo Ongaro, artista regular de capas para muitas revistas da
Aventures et Voyages), “O Eternauta”, do argentino Hector Oesterheld, e muitas
séries britânicas das editoras DC Thomson & Co ou da IPC, nomeadamente
“Spacehawk”, “Kelly's Eye” (renomeado L'Öeil de Zoltec), Harlem Heroes,
Starblazer e “The Leopard of Lime Street”. Muitos destes eram escritos por Tom
Tully, com Harlem Heroes desenhado pelo futuro artista de Watchmen, Dave
Gibbons.
Quase todas
as histórias de Tom Tully publicadas em França eram traduzidas dos originais da
editora DC Thompson, mas Houve um superherói que o escritor britânico criou
especificamente para a Aventures et Voyages, em título próprio, Sunny Sun. A
revista durou 54 números, de 1977 a 1986, mas as histórias do personagem
titular só duraram até ao nº 28, com arte de Zamperoni. Sunny Sun era um
alienígena do planeta Tzak, que se podia transformar em água, ar ou fogo, e que
usava esta habilidade para combater o crime e desastres naturais. “The Leopard
of Lime Street” também passou por esta revista, assim como a tira Reptil, com
um arquivilão que desejava dominar a Terra, transformando-se num réptil
humanóide, ou a série italiana Brigade OVNI, dos irmãos Ennio e Vladimiro Missaglia.
Houve outro
herói estangeiro que foi uma parte importante da linha de publicações da
Aventures et Voyages, Janus Stark, criado por Tom Tully e Francisco Solano
López, que foi publicado em 125 dos 135 números da revista, entre 1973 e 1990.
Janus Stark era um escapista, como Harry Houdini, mas com uma elasticidade
quase sobre-humano, ativo no Séc. XIX. A sua habilidade física e o seu domínio
da arte do ilusionismo permitem-lhe combater o crime de forma independente,
ainda que tenha algum apoio do inspetor Bryant da Scotland Yard. A revista
também contava histórias de Adam Eterno, outra criação de Tom Tully na DC
Thomson.
Janus Stark
foi a última revista com algum sucesso da Aventures et Voyages, mas a editora
já tinha sido vendida à Harlequin de Christian Chalmin em 1985. Mesmo assim,
este não conseguiu manter o sucesso original da casa de Bernadette Ratier e
vendeu a editora a um investidor de risco, que só durou mais um ano.
Fechamos o
ciclo dos super-heróis franceses com o herói Atome Kid. Uma criação da editora
Artima, foi lançada em 1956 pela divisão Arédit. Esta editora, que também
publicou o herói Fulguros (do qual falámos na primeira parte) centrou-se mais
na ficção científica durante os anos 50, mas Atome Kid tem mais características
de super-herói, contando com um uniforme colante e máscara. Mesmo assim, Atome
Kid, um cientista chamado Stuart, usava o seu equipamento, incluindo um jetpack
e uma pistola paralisante, para combater o crime. Contava com a ajuda da sua
esposa, Pamela, e do comissário Malone. Apesar de ter sido criado para a
editora francesa, os seus autores (não creditados) eram o espanhol Marino
Hispano (com o pseudónimo M. Bañolas) e Bayo (Braulio Rodríguez). Foram
publicadas 35 histórias até 1959, republicadas em Espanha pela agência Toray
(que representava os autores espanhóis junto da Artima). As histórias foram
republicadas pela Arédit, então sob nova gerência, em 1970, mas nessa fase a
maior parte das histórias de super-heróis da editora francesa eram da DC e da
Marvel (muitas vezes na mesma revista). A Arédit também editou um herói
espacial, mas mais ao estilo de Flash Gordon, chamado Ray Comet, na revista
Cosmos, de 1956 a 1961, da autoria de outro espanhol, Fernando Fernández. A
Arédit continuou a publicar até 1987.
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