segunda-feira, 28 de março de 2016

Super-heróis à francesa III: Dos mundos submarinos ao espaço sideral





A revista Mon Journal foi a primeira experiência editorial de Bernadette Ratier, a partir de 1946, onde se destaca o herói do futuro, Atomas, uma criação do artista Pellos, pseudónimo de René Pellarin, com ajuda do escritor Robert Charroux. Foram publicadas histórias do nº 70 ao 86, quando a revista foi cancelada. A editora francesa, natural de Lyon (onde estavam a maior parte das editoras de petit formats), voltou à carga 10 dias depois com um novo projeto, chamando à sua empresa Aventures et Voyages, mas apesar do nome, foram as revistas de banda desenhada de ficção que mais atenção tiveram.

A editora foi mais conhecida por ter editado a versão francesa da revista italiana Akim (cuja personagem principal era uma cópia de Tarzan), publicando 756 números entre 1958 e 1960, mas começou logo por publicar personagens próprias. O pirata Diavolo, de J.K. Melwyn-Nash (Marcel Navarro) e Guy Lebron, teve direito a 14 números em revista própria, antes de continuar noutras antologias, mas o primeiro grande sucesso foi Marco Polo. As aventuras altamente fantasiosas do explorador e mercador veneziano (que viveu de 1254 a 1324) começaram na revista Dakota mas logo passaram para título próprio, durando 213 edições, com histórias feitas por Jean Ollivier (parceiro de E.T. Coelho em Ragnar Le Viking) e Enzo Chiomenti.

Os heróis com super-poderes começam a regressar nos anos 60, sendo que o primeiro é Rok, L'Homme Invisible, criado pelo artista italiano Sandro Angiolini, e que surgiu na revista Brik n.º 54, em 1962. Rok Pascal, um cientista, herda uma fórmula do seu avô que lhe permite criar pílulas que o tornam invisível. Rok usa estas pílulas para combater uma organização criminosa com a ajuda da sua secretária, Brigitte Dubois, e do inspector Commun. Depois de uma ligeira interrupção de um ano, Rok voltou pela pena de Guido Zamperoni no nº 126, ganhando um assistente juvenil, Plito. As aventuras de Rok continuaram a ser publicados na revista Brik até ao nº 157, em 1972.

A revista Yataca começou com as aventuras de um grupo de crianças na selva amazónica, capazes de falar com animais, mas depois o nome foi aplicado às histórias de um clone de Tarzan britânico, “Saber, King of the Jungle”, de Denis McLoughlin. Mas o mais importante é que foi nesta revista, em 1973, que surgiu o herói aquático Antarès. Criado pelo espanhol Juan Escandell, Antarès foi publicado a partir do nº 57, até ao 118. A partir daí, passou para revista própria, que durou 129 números entre 1979 e 1989, mas raramente era tema de capa. Antarès era um alienígena que se tinha despenhado na Terra, ganhando superforça e a capacidade de viver no oceano, controlando formas de vida animais como peixes e golfinhos (tal como Aquaman). As histórias tinham preocupações ecológicas.

Também foi nesta revista que foi republicado Galax (um herói especial de Roger Lecureux e Roland Garel, originalmente lançado em Marco Polo), mas a maior parte das histórias de heróis espaciais eram importadas, como o espanhol Fantasia SA (de Andreu Martín e Edmond Ripoll), os italianos Phann (de Frollo Leone) e L'Immortel (de Paolo Ongaro, artista regular de capas para muitas revistas da Aventures et Voyages), “O Eternauta”, do argentino Hector Oesterheld, e muitas séries britânicas das editoras DC Thomson & Co ou da IPC, nomeadamente “Spacehawk”, “Kelly's Eye” (renomeado L'Öeil de Zoltec), Harlem Heroes, Starblazer e “The Leopard of Lime Street”. Muitos destes eram escritos por Tom Tully, com Harlem Heroes desenhado pelo futuro artista de Watchmen, Dave Gibbons.

Quase todas as histórias de Tom Tully publicadas em França eram traduzidas dos originais da editora DC Thompson, mas Houve um superherói que o escritor britânico criou especificamente para a Aventures et Voyages, em título próprio, Sunny Sun. A revista durou 54 números, de 1977 a 1986, mas as histórias do personagem titular só duraram até ao nº 28, com arte de Zamperoni. Sunny Sun era um alienígena do planeta Tzak, que se podia transformar em água, ar ou fogo, e que usava esta habilidade para combater o crime e desastres naturais. “The Leopard of Lime Street” também passou por esta revista, assim como a tira Reptil, com um arquivilão que desejava dominar a Terra, transformando-se num réptil humanóide, ou a série italiana Brigade OVNI, dos irmãos Ennio e Vladimiro Missaglia.

Houve outro herói estangeiro que foi uma parte importante da linha de publicações da Aventures et Voyages, Janus Stark, criado por Tom Tully e Francisco Solano López, que foi publicado em 125 dos 135 números da revista, entre 1973 e 1990. Janus Stark era um escapista, como Harry Houdini, mas com uma elasticidade quase sobre-humano, ativo no Séc. XIX. A sua habilidade física e o seu domínio da arte do ilusionismo permitem-lhe combater o crime de forma independente, ainda que tenha algum apoio do inspetor Bryant da Scotland Yard. A revista também contava histórias de Adam Eterno, outra criação de Tom Tully na DC Thomson.

Janus Stark foi a última revista com algum sucesso da Aventures et Voyages, mas a editora já tinha sido vendida à Harlequin de Christian Chalmin em 1985. Mesmo assim, este não conseguiu manter o sucesso original da casa de Bernadette Ratier e vendeu a editora a um investidor de risco, que só durou mais um ano.

Fechamos o ciclo dos super-heróis franceses com o herói Atome Kid. Uma criação da editora Artima, foi lançada em 1956 pela divisão Arédit. Esta editora, que também publicou o herói Fulguros (do qual falámos na primeira parte) centrou-se mais na ficção científica durante os anos 50, mas Atome Kid tem mais características de super-herói, contando com um uniforme colante e máscara. Mesmo assim, Atome Kid, um cientista chamado Stuart, usava o seu equipamento, incluindo um jetpack e uma pistola paralisante, para combater o crime. Contava com a ajuda da sua esposa, Pamela, e do comissário Malone. Apesar de ter sido criado para a editora francesa, os seus autores (não creditados) eram o espanhol Marino Hispano (com o pseudónimo M. Bañolas) e Bayo (Braulio Rodríguez). Foram publicadas 35 histórias até 1959, republicadas em Espanha pela agência Toray (que representava os autores espanhóis junto da Artima). As histórias foram republicadas pela Arédit, então sob nova gerência, em 1970, mas nessa fase a maior parte das histórias de super-heróis da editora francesa eram da DC e da Marvel (muitas vezes na mesma revista). A Arédit também editou um herói espacial, mas mais ao estilo de Flash Gordon, chamado Ray Comet, na revista Cosmos, de 1956 a 1961, da autoria de outro espanhol, Fernando Fernández. A Arédit continuou a publicar até 1987.












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