Astronauta: Magnetar

Como começar?
Uma grande BD de autores brasileiros?
Aliás, mais uma grande BD de autores brasileiros?
Sim, e por favor, não me digam os leitores brasileiros deste blogue que também ainda não conhecem Magnetar!

O autor desta boa HQ é Danilo Beyruth. Este desenhador tirou um curso por correspondência na escola de Joe Kubert , e começou a espalhar a sua arte em Necronauta e no excelente Bando de Dois. O ano passado chegou a notícia que iria ser o autor, e artista de serviço para uma nova linha de Graphic Novel de Maurício de Sousa!
A personagem que lhe foi atribuída foi o Astronauta!

E que Astronauta!
Beyruth conseguiu dar-lhe um perfil mais adulto, sem destruir o original que todos conhecem da Turma da Mónica. Tudo o que o Astronauta representa na Turma da Mónica está neste livro, mas muito mais desenvolvido.
Foi uma excelente abordagem a esta personagem. A solidão e a capacidade de sofrimento nos limites da loucura são narradas graficamente de forma irrepreensível!
Já muitas críticas e abordagens foram feitas a este livro, e eu não queria repetir tudo quanto já foi dito, por isso a pergunta inicial “Como começar?”.

No respeitante ao argumento Beyruth foi inteligente. Deu ao Astronauta uma família, criou laços entre este e o seu avô. E por intermédio deste ficamos a saber parte da sua história familiar. Isto dá logo mais corpo à personagem, dá-lhe uma história passada. No início do livro o Astronauta é simplesmente um jovem aprendendo a viver no campo, fazendo armadilhas e pescando com o seu avô! Avô este que era um homem culto nos saberes da vida, e uma referência futura para o Astronauta. Ou seja, o astronauta tornou-se verosímil, e afinal não era apenas de papel.

Beyruth salta daqui para o espaço profundo… o Avô do Astronauta apenas conhecia o mundo dos arredores da sua quinta, nunca tinha saído dali! O Astronauta vai onde nunca ninguém foi, quer ser sempre o primeiro! Neste afã de presenciar fenómenos celestes pela primeira vez cai na esparrela da arrogância, cometendo um erro descuidado…
Saiu-lhe caro. Fico preso num asteróide que orbitava uma estrela Magnetar.
A partir daqui é a luta de um homem contra a solidão, contra a loucura. Isto está bastante bem desenvolvido, a primeira parte do optimismo em que a racionalidade o prepara para o imediato… água e aquecimento. De seguida trabalhar para sair dali! Esta parte já não corre tão bem ao Astronauta… É aqui que a loucura começa a tomar conta dele, embora a solidão seja a companheira do Astronauta este tipo de solidão é muito mais perigosa... é uma solidão não prevista e não querida. Leva um homem aos seus limites!
Penso que o argumento foi muito bem conseguido, sobretudo porque Beyruth também o ia narrar graficamente!

E a narrativa gráfica é o ponto forte do livro. Beyruth tem sequências muito boas, dignas dos melhores! Infelizmente não consigo mostrar aqui algumas páginas graficamente muito boas porque quase todas são duplas, ou com vinhetas apanhar duas páginas.
Existe no livro uma sequência muito “simples” da rotina do Astronauta depois de ficar preso. Uma página com toda a sua rotina, a página seguinte igual à primeira mas sem balões. Depois a página é repetida quatro vezes na mesma página, e na seguinte é repetida até à exaustão com vinhetas minúsculas! Ok… não usou apenas a primeira página e foi repetindo... Ele desenhou mais duas versões menores, pois os detalhes da página grande avolumavam-se, provocando distorção do desenho na redução! Esta solução para representar a rotina daquele Robinson Crusoé espacial foi excelente!

Também quero salientar o trabalho da colorista Cris Peter, foi muito boa no seu trabalho e fez salientar o desenho de Beyruth; e do editor Sidney Gusman. Congratz!

E já agora, quero ver quem é o primeiro a descobrir os "easter-eggs" que Danilo Beyruth colocou na obra!
:D

Recomendo a quem tiver possibilidade a leitura deste livro, e recomendo aos brasileiros a terem orgulho nos seus autores, e livros. Não queiram inventar super-heróis brasileiros, não funciona… os super-heróis são “gringos” como vocês dizem. Usem o que têm de melhor no vosso País e garantidamente terão boas obras de HQ!

Boas leituras

Hardcover
Criado por: Danilo Beyruth (argumento e desenho) e Cris Peter (cor)
Editado em 2012 pela Panini Comics
Nota: 9 em 10