quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Nós também somos o Charlie



No dia 7 de Junho de manhã, um grupo armado invadiu a sede do jornal francês "Charlie Hebdo" e matou 12 pessoas. Entre as vítimas estavam os cartunistas Stéphane Charbonnier (Charb), Jean Cabut (Cabu), Philippe Honoré, Bernard Verlhac (Tignous) e Georges Wolinski. O semanário, de cariz esssencialmente satírico e humorista, já tinha sido atacado e ameaçado pelas suas constantes caricaturas do islão, do profeta Maomé e do grupo terrorista auto-denominado Estado Islâmico. Na verdade, o "Charlie" disparava para todo o lado e era também crítico de outros elementos voláteis, incluindo a extrema direita francesa, representada pela sua actual líder Marine Le Pen.

O cartoon político é o irmão mais velho da banda desenhada moderna. Pode por vezes parecer inócuo e superficial, uma mera piada de fácil leitura para aligeirar o dia, mas na verdade é um dos componentes mais importantes de qualquer jornal. É uma das secções mais lida, independentemente da qualidade da reportagem de investigação ou da quantidade de parangonas sobre jogadores de futebol. E é também a que deixa uma maior impressão junto do público. Um bom cartoon público é aquele que consegue resumir a parte mais importante de um evento e expor o ridículo por trás da situação.

Este ataque cobarde não deve esmorecer o trabalho do cartunista. Não pode haver matéria proibida, todas as ideias devem ser analisadas e discutidas, todos os eventos devem ser esmiuçados. Apesar da perda de vários membros dos seus quadros, incluindo o director Charb, o "Charlie Hebdo" não deve morrer. Deve voltar e continuar a oferecer ao mundo o seu humor contundente e mordaz. Deve continuar a servir de inspiração a todos os cartunistas da Europa, os defensores da liberdade de expressão numa era em que os jornais cortam custos e perdem a vontade de criticar ideias em nome do politicamente correcto e de expor males em nome da estabilidade financeira. Não é altura de parar, mas de fazer uma carga mais forte. A alternativa é o regresso da Idade das Trevas, e isso seria um desrespeito pelo sacrifício de pessoas que nunca tiveram medo de falar.


Paulo Manuel Costa
Jornalista - Carteira Profissional nº 5422





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