sábado, 7 de novembro de 2009
Mucha
Livro de terror editado durante o 20º Amadora BD, com textos de David Soares (A Última grande Sala de Cinema), lápis de Osvaldo Medina (A Fórmula da Felicidade) e arte final de Mário Freitas (Super Pig). É mais uma das edições lançadas durante este evento em que os portugueses estão em grande, decididamente!
Este é um género de registo que eu gosto muito em Banda Desenhada, mais que no cinema, e foi quase um reviver dos livros assinados por Ross Pynn (Roussado Pinto) da década de 70 com a revista Zakarella! Tenho bastantes livros do género, mas este é o primeiro com moscas gigantes (e nojentas também…)! Gostei na generalidade desta BD em modo “film noir”, sobretudo da expressão gráfica imposta a muitas das vinhetas, fazendo sobressair emoções derivadas do medo como repulsa e nojo. A própria protagonista, se é que se pode chamar assim, está numa situação de gravidez e isto gera também outro tipo de sentimentos que dão mais relevo ainda aos já referidos acima.
Gostei muito do trabalho de Osvaldo Medina, aqui num registo completamente diferente de “A Fórmula da Felicidade” (que não ganhou nenhum premio - ainda estou para perceber porquê) porque a estória de David Soares, e presumo que a planificação das vinhetas e pranchas seja também deste autor, necessitava de algo mais “sujo” e feio que o anterior trabalho deste talentoso artista. Aqui mostra que é bastante versátil. Quanto ao trabalho de arte finalista de Mário Freitas, acho que está bem feito. Numa Banda Desenhada a preto e branco o trabalho do arte finalista é muito importante, pois é ele que faz o trabalho final que irá ser impresso, e Mário Freitas não compromete, antes pelo contrário.
Quanto à estória propriamente dita acho que dava “pano para mangas” se os responsáveis pela edição do livro alargassem o número de páginas. A ideia é boa mas estória fica muito contida dentro daquelas 32 páginas. O trabalho de planificação da acção está bom, sobretudo se pensarmos que terá de ficar dentro das referidas 38 páginas. Penso que se o livro fosse um pouco mais alargado, permitia mais variações de velocidade e compreensão de algumas cenas… não sei se tal seria possível mas é a minha opinião. Em relação ao alemão falado no fim do livro, eu posso imaginar o que eles estão a dizer, mas nunca tenho a certeza… poderiam ter colocado a tradução numa página fora da “zona gráfica” (como aconteceu no volume 6 dos Passageiros do Vento).
Em relação à estória, bem, esta é mesmo para ser lida e absorvida por cada um. Acho que cada leitor terá uma opinião bem diferente dos outros, pois uma é estória muito aberta a interpretações pessoais por parte dos leitores.
Esta estória foi baseada na peça de teatro Rhinocéros do romeno Ionescu. Sem se perceber aparentemente porquê, os habitantes de uma aldeia vão-se transformando em gigantescas e ávidas moscas gigantes, excepto o carteiro e a aldeã Rusalka. O não perceber no imediato o que está a acontecer por parte do leitor, é o pormenor mais delicioso do livro.
Depois disto tudo, resta-me desejar…
Boas Leituras!
Softcover
Criado por: Osvaldo Medina, David Soares e Mário Freitas
Editado em 2009 por Kingpin Books
Nota : 7,5 em 10
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Antes curta e boa que longa e aborrecida.
ResponderEliminarEu gostei do ambiente e quando se usam insectos o terror está logo instalado.
O que me lembra que o filme "A Mosca" do Cronemberg vai passar no festival do estoril, é um clássico.
Abraço
Bem me parecia que isto me fazia lembrar algo do meu tempo de liceu!
ResponderEliminarIonescu e o seu "Rhinoceros"(rinoceronte em português). No entanto o facto de se tratar de moscas parece influenciado pela "Metamorfose" do Kafka em que o narrador acorda transformado em insecto.Um moscaceronte, talvez?
Abraço
Queria tambem dizer que o grafismo da capa tem algo de muito subtil já que lembra um artista checo do "Art nouveau" Alphonse MUCHA. Essa foi catita.
ResponderEliminarlooT
ResponderEliminarEu não falei em longa e aborrecida :P
Eu falei em expandir um pouco o tempo! (Teria de ter mais algumas pranchas para isso).
A parte do ambiente foi o que eu mais gostei!
E sim é inevitável a comparação com "A Mosca"
:)
Gio
Sim, acho que David Soares foi buscar inspiração para este conto a vários autores, e é bastante visível a influência de Kafka. Agora nunca teria pensado na "ponte" para o ilustrador Mucha (que fez belíssimas ilustrações/posters para os espéctáculos de Sarah Bernhardt). A capa está muito boa mas não sei se terá havido influência nela dos trabalhos de Alphonse Mucha (e até o nome...!).
:)
O Beethoven é que ia gostar de a papar!!!
ResponderEliminarGgrrrrrrrrrrrrrrrr...nojo!!
beijinhos
Enquanto autor da capa, ficava-me bem fazer um brilharete e dizer aqui que sim, que foi tudo pensado, e que era um grande fã do Alphonse Mucha. Mas não. Confesso nunca ter ouvido falar no senhor.
ResponderEliminarMas agradeço o elogio à qualidade da capa e ao interesse que o livro vos despertou.
Um abraço,
Confesso que este título não me atrai muito... não sou grande fã dos contos de terror, já me chega a vida real para isso :D.
ResponderEliminarGosto mais da arte do Osvaldo na A Fórmula da Felicidade, mas mesmo assim, fico super contente com mais uma edição em português. Espero que esta onda recente de edições continue por muito tempo...
Um abraço.
Gata
ResponderEliminarO Beethoven também come moscas??
Ca nojo...
:D
Mário Freitas
O livro despertou interesse sim! teve uma montanha de "hits" aqui no blog.
Quanto à capa está graficamente muito boa, parabéns!
:)
Luca
Também gosto muito deste "afã" de edições portuguesas deste ano.
Quanto ao Mucha, se não gostas deste género (terror) não irias gostar de certeza deste livro...
:D
Para quem gosta de terror aconselho o "From hell" de Alan Moore. Texto minimalista, desenho sóbrio, resultado arrepiante.
ResponderEliminarPorque raio é que o nome "David Soares" aparece em tamanho garrafal, e o dos ilustradores "Osvaldo Medina & Mário Freitas" aparece em tamanho garrafinha?
ResponderEliminarNão têm todos a mesma dignidade? Há um que é melhor que os outros dois? Qual o critério para escolher "o melhor" ?
enxofre
Saudações a todos!
ResponderEliminarDiabba, acho que o nome do David Soares aparece mais destacado para atrair mais gente porque ele é um escritor que já tem alguma fama.
Abraço.
Delano,
ResponderEliminarnão me parece nada justo!
Aliás ele mesmo devia dar uma lição de humildade (que pelos vistos não deve ter para dar) e exigir que todos tivessem "o mesmo tamanho".
Mas isto sou eu, que sou um nadita tinhosa.
enxofre
Pois Diabba, mas é o marketing. É uma estratégia para atrair mais compradores.
ResponderEliminarTenho que ver melhor.
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