O Recruta Zero foi uma personagem que me deixou saudades. Era divertida, imprevista e leitura obrigatória minha e dos meus irmãos quando éramos mais novos. Infelizmente a revista deixou de aparecer em Portugal. O Hugo Silva lembra-se destas pérolas e gosta de falar delas... então dá-se a palavra ao Hugo!
:)
Recruta Zero
Tenho saudades do tempo de ir a uma papelaria e poder escolher entre mais de 30 revistas de banda desenhada, que iam desde os Super-Heróis às personagens da Disney, passando por um sem número de personagens diferentes. Uma dessas personagens era o Recruta Zero, ele era também um dos meus favoritos e um dos alvos do meu árduo “troco do pão”.
Recruta Zero (Beetle Bailey) foi criado na década de 50, mais precisamente a 4 de Setembro de 1950, por Mort Walker e faz parte da elite de tiras de jornais que ainda hoje é produzida pelo seu criador original. A tira começou
por mostrar as aventuras de uma fraternidade de estudantes, mas quando se via que o interesse não era muito, Mort fez com que a personagem se alistasse no exército a 13 de Março de 1951. Aí conseguiu um universo maior com o qual podia trabalhar, baseando-se um pouco na sua própria experiência militar de quando esteve num quartel.
Com a Guerra da Coreia a decorrer, o interesse pela tira disparou e a mesma começou a ter bastante sucesso quer entre os militares, em especial os de baixa patente, quer entre o público em geral começando a ser publicada em mais de 100 jornais do País. Apesar do seu teor cómico, as altas patentes militares começaram a causar alguns problemas, e isto porque achavam que era um mau exemplo e uma afronta à organização militar. Isto só ajudou o criador a conceber mais histórias usando como base a burocracia e tacanhez da mente de alguns responsáveis militares, mas limitou-se sempre ao Quartel Swampy evitando assim qualquer comparação com eventos reais.
Na década de 60 a Rio Gráfica Editora começou a editar revistas com histórias da personagem, editando revistas de uma forma regular, e com o sucesso da personagem, começaram a publicar edições especiais, Almanaques e Superalmanaques que chegavam regularmente ao nosso País na década de 80.
Como na Disney, muitas das histórias eram produzidas por artistas Brasileiros apresentando um alto nível de qualidade com argumentos que não fugiam à essência da personagem. Uma das minhas edições especiais preferidas é a Roque Swampeiro, uma adaptação da novela Roque Santeiro onde todas as personagens imitam as personagens da novela. Uma das adaptações mais cómicas é a do Cozinheiro Cuca como Viúva Porcina ou a do Tenente Escovinha como Mocinha... Hilariante.
Os Superalmanaques por vezes tinham histórias originais que eram apresentadas em vários capítulos, intercalados por republicações de tiras. Um dos meus favoritos apresenta o Super Zero, em que ele, o Tainha e outros tinham sonhos onde eram super-heróis com consequências desastrosas. O mais engraçado é que os sonhos estavam todos interligados, apesar de serem pessoas diferentes a tê-los. Nas tiras, um dos meus gags preferidos era de quando o Sargento Tainha ficava agarrado a um ramo de árvore, que evitava com que ele caísse num precipício mas ficava assim à mercê dos soldados que apareciam e que o podiam ajudar.
O elenco de personagens foi crescendo com o tempo, e mostrando as evoluções das escolhas do Exército, e hoje em dia continua como uma das tiras com um dos maiores elencos de personagens e que quase todos têm algum destaque e são reconhecidos mundialmente. A personagem continuou a chegar a Portugal quando a Rio Gráfica virou Editora Globo e quando a Editora Abril pegou nas histórias da personagem, mas acabou por desaparecer do mapa apesar de continuar a ser editada no Brasil por editoras como a Mythos ou a Opera Graphica.
Vamos conhecer um pouco melhor o elenco do Quartel Swampy:
Zero ("Beetle Bailey"): Recruta preguiçoso e indolente, está sempre à procura de formas de fugir do trabalho. Está sempre com boné ou capacete cobrindo os olhos e em constante conflito com o Tainha. Uma das minhas tiras favoritas, e que o representa na perfeição, mostra uma discussão entre ele e o Sargento Tainha que o acusa de ser preguiçoso e acaba com ele deitado encostado a uma árvore mesmo nas barbas do sargento e continuando a discussão.
Sargento Tainha (Sgt. Orville Snorkel): Um brutamontes sem jeito com as mulheres, guloso e solitário, que age sempre de uma forma hostil com os seus soldados mas adora o seu cão Oto. Adorava como o retratavam com as mulheres, ficando completamente gagá.
Oto (Otto): É o cão do Sargento Tainha (Sgt. Orville Snorkel). Originalmente, Mort Walker retratou o cãozinho como um cachorro comum, para depois desenhá-lo com o mesmo uniforme de seu dono, além de ter a mesma cara.
Platão (Plato): É o intelectual da trupe. Sempre com citações de livros e fala sempre como se estivesse apresentando uma tese de doutorado.
Dentinho (Zero): O oposto do Platão. Dentinho é um personagem, digamos, limitado intelectualmente, e seu nome é uma ironia a dois de seus dentes crescidos. Adorava quando o Tainha o ordenava para algum trabalho já que a asneira era certa e garantida.
Cosme (Cosmo): Faz um comércio informal em seu "cantinho do Cosme", onde vende de tudo; este personagem foi quase esquecido nos anos 80. Era conhecido pelas suas jogatanas onde nunca perdia.
Roque (Rocky): O típico revoltado. Administra o jornal clandestino do quartel, e se mobiliza por qualquer causa atual.
Quindim (Killer): Faz as vezes de mulherengo e galanteador dentro do quartel Swampy. Nem sempre tem sucesso (em geral, uma em cada cinqüenta de suas cantadas dá certo), é o principal amigo de Zero.
Cuca (Cookie): É o cozinheiro do quartel Swampy, reputado por sua incrível capacidade de tirar o apetite de todos com as suas "iguarias". Inicialmente retratado com um quepe de caserna, ganhou um chapéu de mestre-cuca, para facilitar a identificação. Trabalha sempre com um cigarro na boca (em 1989, o personagem aboliu de vez o hábito de fumar).
Tenente Escovinha (Lieutenant Fuzz): trata-se de um oficial caprichoso e imaturo, sempre reclamando que nunca é promovido. Eterno puxa-saco do General Dureza, constantemente tem chiliques infantis e vive implicando com o jeito grosseirão do Sgto. Tainha. As minhas discussões preferidas envolviam o barulho que a cadeira do Taínha fazia.
Tenente Mironga (Lieutenant Flap): Embora não apareça com freqüência nas tiras, leva a honra de ser o primeiro personagem negro a ser retratado em quadrinhos norte-americanos, em 1970, e a sua marca registrada é o eterno cabelo black power.
Capitão Durindana (Captain Scabbard): É um sujeito tímido e de raros melindres, sempre disposto a ouvir as reclamações dos subordinados, em especial do Zero e de outros soldados rasos.
General Dureza (General Amos Halftrack): O típico mau líder. Pensa mais no golfe que na administração do quartel. Como se não bastasse, tem problemas de alcoolismo (toma muitos Martinis) e obedece cegamente à sua mulher, Martha. Vive com esperenças de receber uma carta do Pentágono, que sequer lembra-se da existência deste quartel.
Martha (Martha Halftrack): A esposa do General Dureza que o trata abaixo de cão e o mantém na linha com o tolo da massa.
Major Batalha ou Peroba (Major Greenbrass): companheiro inseparável do General Dureza no golfe e no Clube dos Oficiais, onde ambos batem ponto após o expediente para beber.
Srta. (ou Dona) Tetê (Miss Buxley): A típica secretária “boa”, sempre representada com um vestido preto. É o objecto de desejo de soldados e oficiais dentro do quartel, mas também é a típica "loura burra", bem menos competente que sua colega Blips.
Soldado Blips (Miss Blips): É a competente secretária militar do General Dureza, sempre desprezada por não ter os atributos físicos de Srta. Tetê.
Júlio (Julius): Chofer gordinho do General Dureza, conhecido como o "queridinho da mamãe".
Capelão (Chaplain Staneglass): Sempre com um bom conselho aos militares.
Cabo Ky (Corporal Yo): Introduzido em 1990, é o primeiro oriental desta tirinha.
Dr. Esculápio: Médico do quartel, meio amalucado.
Dr. Bonkus: O psicólogo do quartel.
Sargento Louise Lorota (Sgt. Louise Lugg): introduzida na tirinha em 1986, ela quer ser a namorada do Sargento Tainha.
Bella: a gata angorá de estimação da Louise.
Bunny: a namorada do Zero, raramente vista na tirinha.
A dada altura a Editora Abril lançava também a revista do recruta Biruta, que apesar de parecer cópia do Zero, na verdade precede o mesmo já que é de 1940. Não era fã desta revista que apresentava um tipo de humor mais reles.
A personagem chegou ainda a ter direito a um desenho animado, por cá também o pudemos ver apesar de não ser transmitido regularmente. Era um dos típicos tapa-buracos da RTP e por isso era transmitido de uma forma irregular. Tinha dobragem em Brasileiro o que ajudava a ter alguma piada, mesmo assim preferia de longe a Banda Desenhada.
Até hoje estimo os números que tenho, e sempre que possível vou comprando alguns livros antigos já que a qualidade dos mesmos continua em grande, mesmo para os padrões actuais.
Fica também uma pequena estória deste "Zero":
Esta pequena estória foi retirada do blogue Ouvir e Ver .
Espero que se tenham divertido!
:)
Boas leituras
Eu A-D-O-R-A-V-A o Recruta Zero.
ResponderEliminarMesmo.
Não se arranjarão umas revistas no Miau ou assim?
]:-D
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
EliminarÉ bem complicado :D mesmo no Wagner, e quando se arranja é a preço de ouro. É isso e Groo em Brasileiro
ResponderEliminarRecruta Zero é muito legal, as tirinhas são geniais.
ResponderEliminarMe encantaba leer esta tira cómica. Hace años que no la veia, pero era divertidísima. El sargento siempre me daba un poco de pena. Y el recluta tenía cada ocurrencia.
ResponderEliminar@diabba
ResponderEliminaré complicado, mas encontras com muita facilidade nas feiras de antiguidades
Boa recordação, adorava ler isto. Ver se encontro as revistas lá em casa para matar saudades.
ResponderEliminarDiabba
ResponderEliminarEu também adorava!
Mas são difíceis de arranjar neste momento...
:\
Hugo Silva
De vez em quando aparecem nos leilões, mas não é frequente...
Guy Santos
Tens razão, algumas tiras são geniais!
:D
Arion
O Sargento era das personagens mais divertidas! E muitas vezes não se dava mal, quem se lixava mesmo era o Recruta Zero!
:)
Paulo Brito
Nessas feiras também é capaz de se encontrar alguma coisa, mas até agora não tenho visto por aí...
:\
Loot
Se tiveres revistas destas em casa... és um sortudo!
:D
Gizmo
ResponderEliminarO homem da demanda digital!
:D
En español se llamaba "Beto el recluta".
ResponderEliminarArion
ResponderEliminarehehehehe
Ainda não percebi porque é que os nomes variam tanto de país para país!
:D
hehe, o Recruta Zero é dos meus favoritos. Aliás, Mort Walker é um dos meus favoritos. Não só o seu ainda hoje publicado em mais de 1000 jornais (em papel e online) pelo mundo fora Beetle Bailey, como o adorável Hi&Lois (Turma da Zezé) e mesmo o desconhecido Boner's Arc (A Arca de Noé, no Brasil).
ResponderEliminarA RGE foi a pioneira na publicação do Recruta Zero em língua Portuguesa, mas, de facto, é à "Saber SA, Expansão Industrial e Comercial da Cultura" que se deve a expansão e grande volume de vendas no Brasil com um gibi em formato livro que dava pelo nome "Zé, O Soldado Raso". Ao contrário dos da RGE, só tinha material original, isto é, made by Mort Walker. Vendia entre 40 a 50 mil exemplares, enquanto os da RGE (actual Globo) "só" vendiam cerca de 12000.
Obtê-los hoje só no eBay Brasileiro, onde existem em grande quantidade, os do "Zé, O Soldado Raso" também. Em feiras ambulantes onde haja alfarrabistas é uma questão de (muita) sorte arranjá-los. O problema com o "Mercado Livre.br" é o método de pagamento. Ainda é pouco usual o uso de Paypal, e o método preferencial dos brasileiros normalmente é o Western Union, para pagamentos fora do Brasil. Isto encarece brutalmente o valor dos livros e torna muito pouco segura a transacção. Eu tive sempre muito bom relacionamento com todos os vendedores com quem me cruzei no Mercado Livre, não houve um único trapaceiro (Nem UM), todos, friso todos, impecáveis e de uma honestidade imaculada. Infelizmente o preço absurdo cobrado pela WU torna impraticável a pequena compra, isto é, um ou dois, mesmo que sejam 5 gibis.
Maravilhosa a lembrança dessa revista, minha tira preferida dos jornais de todos os tempos, quando era moleque! Por incrível que pareça e por ter aparecido bem menos, fora o zero, o Cosme era meu personagem preferido. Existe um desenho do Recruta zero??? Alei a matéria!!!
ResponderEliminarNunca fui muito fã do Recruta Zero... Sei lá, nunca vi qual que era a graça nas tirinhas dele :/
ResponderEliminarRefem
ResponderEliminarObrigado pela tua indicação de como comprar o Recruta Zero!
:)
Também era das minhas personagens preferidas quando eu era bastante mais novo. Depois desapareceu!
:(
Venerável Victor
O Cosme era espectacular!
ahahahha
Bem lembrado!
;D
Pedro Leal
Ora... não se pode agradar a todos!
Mas ainda bem que discordas. Isso mostra que não fazes favor!
Gosto!
;)
Autor fantástico e, claro, um personagem com um carisma inimitável. Calvin, Mafalda, Peanuts e Recruta Zero são os ícones das tiras de jornal.
ResponderEliminarAlex D'ates
ResponderEliminarehehehhehe
Foste logo buscar todos esses ícones das tiras! Comprei tempo atrás um livro do Quino com muitas tiras e páginas fora do universo da Mafalda e também está muito fixe!
;)
Que nostalgia!!!! O Recruta Zero era leitura garantida em minha infância...
ResponderEliminarTarcísio
ResponderEliminarAcho que o Recruta Zero era leitura garantida da infância de todos!
:D
Anónimo
ResponderEliminarEmbora o seu comentário não fosse ofensivo, antes pelo contrário, quebra uma regra de ouro: não estava assinado.
Como tal foi apagado, sorry. As regras de comentários deste blogue estão no topo do blogue, logo por baixo do banner!
:(