quinta-feira, 19 de março de 2015
Foi assim a Guerra das Trincheiras
Saiu hoje nas tabacarias e quiosques uma obra visceral e poderosa.
Vou passar por cima da nota de imprensa da Levoir e das imagens disponibilizadas oficialmente, passando directamente para um artigo (review, crítica... o que lhe quiserem chamar) sobre este livro onde a raiva, o sofrimento e a injustiça, são retratados por este virtuoso artista francês.
Jacques Tardi é um grande autor, conhecido em Portugal sobretudo pela sempre inacabada série Adèle Blanc-Sec. Mas na realidade ele é um profícuo autor com muitos livros publicados, sente-se como um peixe na água dentro do "preto & branco", e odeia a guerra. Aliás, a guerra é o fulcro de muitos dos seus livros mais famosos como Adieu Brindavoine, Le trou d'obus e Putain de Guerre para além deste livro publicado agora pela Levoir (uma bela edição, diga-se).
Graduou-se nas escolas de arte École nationale des Beaux-Arts em Lyon e na École nationale supérieure des arts décoratifs de Paris, começando a dedicar-se à BD em 1969 na célebre revista Pilote. Trabalhou em várias adaptações para a BD nesta altura antes de se dedicar à ficção.
Mas é o seu trauma em relação à 1ª Grande Guerra que vai estar em foco aqui com este seu "Foi assim a Guerra das Trincheiras".
Qualquer guerra é horrível. Ponto. Mas esta guerra, chamada 1ª Guerra Mundial, foi das mais horrorosas, em parte devido a ainda ser em feita de acordo com cânones mais antigos, mas misturados com invenções modernas. Esta mistura de tácticas antigas e transição para armas e métodos experimentais contribuiu para que fosse considerada como uma das mais bárbaras e negras guerras que já existiu.
"Os Homens são como ovelhas, o que torna possível os exércitos e as guerras.
Morrem vítimas da sua docilidade"
Gabriel Chevalier
O que torna chocantes as páginas deste livro é a facilidade com que Tardi transmite graficamente o horror, as histórias macabras, a injustiça, o sentimento anestesiado e a falta de vontade para viver.
Quase todo o discurso neste livro é indirecto, são contos. São poucos os balões de fala.
Tardi convida-nos a segui-lo passeando através de horrores inimagináveis, que deveriam ser a excepção, mas aqui são o quotidiano de merda dos soldados que povoavam as trincheiras em território francês. Os contos são quase hipnóticos numa mistura de desespero e tragédia desumana. É impossível acabar de ler este livro e no final sentir indiferença. É um livro que puxa pelas emoções. É um verdadeiro romance gráfico de alta qualidade!
"O que interessa a Tardi, é mostrar o absurdo de um conflito e a confusão dos pobres coitados arrastados nesta máquina que os tritura sem perdão. Tardi fala da guerra, de todas as guerras. Com a angústia de a ver regressar um dia, em toda a sua loucura assassina."
- Gilbert Jacques
A sua mestria no preto e branco ainda aumenta mais a pressão emocional sobre o leitor, para mim Tardi tem aqui a sua "obra-prima". Gostaria que prestassem atenção aos segundos planos das vinhetas, são assombrosos de detalhe muitas vezes bastante mais detalhados que a figura humana de primeiro plano, quase sempre mostrada como um farrapo.
Obrigado à Levoir por publicar este livro em português. Um livro essencial para quem gosta desta arte: a BD!
Indispensável.
Esta obra venceu dois Prémios Eisner, como Melhor Obra inspirada na Realidade e Melhor Álbum Estrangeiro.Também foi galardoada com o Grande Prémio da Cidade de Angoulême, em 1985.
Hardcover
Criado por: Jacques Tardi
Editado em Março de 2015 pela Levoir
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Essa até tenho curiosidade.
ResponderEliminarTambém já o tenho. Imprescindível.
ResponderEliminarOptimus
ResponderEliminarSe tens curiosidade... força!
:D
H.
ResponderEliminarConcordo. Imprescindível!
;)