Nos últimos anos, o Pantera Negra tornou-se um dos membros mais importantes dos Vingadores, envolvido nas várias conspirações dos grupos Illuminati, um monarca de uma nação africana, impiedoso na sua determinação de salvaguardar o futuro do seu país, Wakanda. É considerado um dos super-heróis mais inteligentes e mais perigosos, amado pelo seu povo, no entanto… como rei, é um grande falhanço.
O passado de T’Challa tem sofrido algumas alterações nos
últimos anos, especialmente pela mão de Reginald Hudlin, cuja origem colocou o
Pantera Negra no Bendisverso. Mas esses implantes de cronologia têm permitido
explorar melhor como um país isolacionista conseguiu tornar-se tão evoluído
tecnologicamente. Sem trocas comerciais ou culturais, o destino normal de uma
nação ou etnia é a estagnação. No entanto, os wakandas parecem ser motivados
por paranóia, desenvolvendo novos conceitos com o intuito de praticar guerra à
distância, e conquistando as tribos circundantes, integrando-as no reino de
Wakanda, ostensivamente para servir de escudo humano.
Mesmo assim, há alguma batota por parte dos wakandas. Os
estrangeiros não são bem-vindos, mas uma família, os Khanata, foram
seleccionados pelo Pantera Negra para viverem isolados, acumulando conhecimento
sobre o resto do mundo, depois de um acordo feito com o líder da nação mais
poderosa da época, Genghis Khan. O herdeiro mais recente da família é Derek
Khanata, agente da SHIELD e embaixador do império do Garra Amarela, o que o
deixa numa excelente posição para obter acesso a informação vital para a
segurança da nação de Wakanda.
Já agora, um aparte para mencionar que Pantera Negra não é
um nome de super-herói, é o título dado ao chefe da tribo wakanda, e só depois
do novo chefe provar que o merece, derrotando os melhores guerreiros,
consumindo a erva-coração e estabelecendo uma ligação mística e psíquica com o
deus-pantera, que na verdade é a deusa egípcia Bast. Esta ligação cultural de
um país isolado com o antigo Egipto não deixa de ser irónica, principalmente se
levarmos em conta que Wakanda, que é uma nação fictícia, é geralmente colocada
nos mapas do Universo Marvel numa zona onde convergem quatro famílias
linguísticas africanas, bantu, niger-congolesa, afro-asiática e nilo-sariana.
Também penso que a tecnologia superior de Wakanda pode ter
origem noutra civilização, se quisermos introduzir conceitos do Universo Wold
Newton de Philip José Farmer. Uma coisa que Lin Carter, Robert E. Howard e
Edgar Rice Burroughs tinham em comum em algumas das suas histórias era o Grande
Cataclismo que acabou com a civilização atlante, e que a Atlântida tinha
estabelecido colónias no continente africano, que tinham ficado isoladas umas das
outras após o cataclismo, lentamente caindo na barbárie. A semi-deusa La, dos
livros de Tarzan, vem de uma dessas cidades.
Mas voltemos a T’Challa. O seu pai, T’Chaka, foi o primeiro
rei de Wakanda a ter um contacto mais profundo com os europeus, chegando a
considerar uma entrada nas Nações Unidas. Foi também ele que permitiu a
exportação do mineral vibranium (que apenas existe em Wakanda e na Terra
Selvagem, e que tem origens alienígenas, bem como propriedades mutagénicas),
razão porque este é encontrado no escudo do Capitão América. Mas T’Chaka sempre
desconfiou dos interesses ocidentais e queria manter o contacto com europeus e
americanos ao mínimo, acabando por demonstrar ter a razão do seu lado quando
foi assassinado pelo aventureiro belga Ulysses Klaw, que depois de tornou o
super-vilão Garra Sónica.
T’Challa, por seu lado, sempre esteve fascinado pelo que era
estrangeiro. Estudou em Oxford e resolveu transferir-se para Nova York para se
unir aos Vingadores, onde acabou por conhecer a sua primeira noiva (com quem
nunca se casou), a cantora Monica Lynne. Até permitiu que se construísse uma
pizzaria na capital de Wakanda (como foi visto na mini-série Panther’s Prey). E
foi durante estes períodos que permitiu o surgimento de algo raro no seu reino:
oposição política. Numa história dos Vingadores, publicada em Avengers nº 62, o
Pantera Negra levou a equipa com ele para se opor a M’Baku, o Homem-Gorila. Nas
histórias publicadas na antologia Jungle Action, escritas por Don McGregor, o
primeiro arco relatava o conflito com Erik Killmonger, o Terror Negro, um
exilado acompanhado por um exército de homens que sofreram mutações, como
Venomm e o Barão Macabro. Até a sua madrasta, Ramonda, teve que se infiltrar no
exército do Reverendo Achebe, na série escrita por Christopher Priest, para
impedir uma invasão externa. E até mesmo os apoiantes mais fiéis de T’Challa,
como o seu guarda-costas Zuri ou o seu chefe de segurança W’Kabi, sempre foram
bastante críticos deste interesse do seu rei em eventos no estrangeiro e da
evolução tecnológica rápida de que o seu povo foi alvo.
Esta dispersão de interesses do T’Challa resultou na perda
do título de Pantera Negra para a sua irmã, Shuri, desencadeando uma série de
eventos que culminaram na destruição do monte de vibranium (que, no reinado de
T’Challa, tinha-se tornado a principal fonte de rendimento de Wakanda, através
da tecnologia patenteada pela empresa estatal, o Wakanda Design Group, cujos
produtos mais famosos incluem as asas do Falcão e os jactos dos Vingadores, e que
não podem ser duplicados sem este material) e depois na devastação de Wakanda
por Namor, seu aliado nos Illuminati. Infelizmente para T’Challa, todos os
medos do seu povo, da sua família e dos seus amigos acabaram por se
concretizar.
Visualmente... sempre achei este pantera negra um autêntico rip-off do Batman.
ResponderEliminarVisualmente, isso é irrelevante. Afinal, o Batman é um autêntico rip-off do Zorro. Não, não estou a gozar, estou a falar a sério.
ResponderEliminarComo personagem, o Batman é praticamente decalcado tanto do Sombra como do Zorro (visualmente, é mais parecido com o vigilante de um serial film chamado Black Bat), que por sua vez é praticamente uma cópia do Pimpinela Escarlate de 1905.
A criação do Pantera Negra por parte do Stan Lee e do Jack Kirby foi inspirada nos movimentos independentistas africanos, com nações como a Nigéria, por exemplo, a serem chamados "coal tigers" (tigres de bronze) pelas riquezas energéticas naturais, daí a criação em simultâneo do metal fictício vibranium. Aliás, o Pantera Negra esteve para se chamar Tigre de Bronze, até que algúem, felizmente, avisou Stan Lee que não haviam tigres em África.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarPaulo, felizmente alguém que conheça todo o Mundo dos pulp, para escrever estes belos artigos. Eu sou um admirador e leitor de tudo o que são pulps, desde o Shadow, Zorro, Doc Savage e tantos outros.
ResponderEliminarOs super-heróis têm muitos louros que não são deles - a Fortaleza da Solidão é na verdade uma ideia do Doc Savage.
Por favor escreve um post sobre isso.
Eu vi tudo o que havia destas personagens no cinema, posso dar uma ajuda, noutra perspectiva.
E é preciso não esquecer. Eu gosto de pulps de aventuras porque fui procurar as origens da minha personagem favorita: Indiana Jones, um decalque que ganhou vida própria por teve um actor genial.
Fernando Campos
ResponderEliminarFizeste o repto certo ao Paulo! lol
:D
Mas se quiseres também o podes fazer tu aqui no blogue. Aqui o pessoal agradece!
:)
Mas eu já falei disso há dois anos, Fernando. Está no segundo capítulo da História das Identidades Secretas. Certo que não é *sobre* os heróis pulp, mas eles são mencionados.
ResponderEliminarFernando Campos
ResponderEliminarProcura neste link, é onde estão todas as "Reflexões" do Paulo Costa:
http://bongop-leituras-bd.blogspot.pt/search/label/Cr%C3%B3nicas%20Tem%C3%A1ticas
;)
Para falar a verdade, eu não estou à vontade para fazer um post sobre heróis pulp, porque não só não li quase nada, como também não conheço a indústria da mesma maneira que a banda desenhada.
ResponderEliminarMas vi uma curta lista de personagens recorrentes que eles puseram na Wikipedia, e por acaso, para aí metade deles inspiraram directamente personagens de BD ou foram adaptados com sucesso. E depois temos as conexões dos criadores que trabalharam nestas duas indústrias paralelas (Edmond Hamilton, Dashiel Hammett ou Mickey Spillane, por exemplo).
Eu não falei de heróis pulp nas crónicas temáticas, foi especificamente no das Identidades Secretas (que não aparece no link das Crónicas Temáticas), está na parte 2 (ainda tenho vontade de expandir isto, fico sempre com a impressão que podia ter escrito muito mais):
http://bongop-leituras-bd.blogspot.pt/search/label/Identidade%20Secreta
Então lanço eu publicamente o repto ao Fernando Campos. Um post sobre "heróis pulp"!
ResponderEliminar:)