Habibi é um conto visceral e iniciático escrito e desenhado por Craig Thompson. Este autor já tinha maravilhado o mundo da BD com o conto autobiográfico Blankets, num ambiente muito cristão, agora conta-no outra estória, linda de morrer, num ambiente islâmico.
Esta obra tem tantos pormenores que obriga a várias leituras para nos apercebermos da vastidão de pequenos e deliciosos contornos e requebros com que este autor nos brinda a cada página.
Quase que nos obriga a acreditar na maior parte do livro que este conto se passa num passado longínquo... mas não, é nos dias de hoje! Mas o ambiente está tão bem representado que não reparamos em pormenores que nos indicam a todo o momento que estamos no presente, ou passado muito recente... basta olhar para o lixo! Está lá tudo!
O Pedro Grilo dispôs-se a falar sobre Habibi, o que muito me agradou, pois sei o quanto este leitor gosta deste livro. O Pedro Grilo também tem um blogue de Banda Desenhada: Reféns da BD. Não é actualizado com grande frequência, mas o que lá está é muito bom! Convido-vos a dar lá uma "espreitadinha"...
Fiquem com as palavras do Pedro:
Habibi
Habibi, “meu amado”, na tradução literal. Publicado em 2011 pela Pantheon Books, escrito e desenhado pelo inegável virtuoso Craig Thompson, foi um dos livros sensação desse ano, senão mesmo O livro sensação. Este é a quarta novela gráfica publicada do autor e, havendo ainda poucas dúvidas, ficam agora completamente desfeitas, é o livro que o reafirma como um dos mais virtuosos autores de banda desenhada em actividade. É uma forte assunção, considerando o vastíssimo leque de autores existentes, mas é bem segura. Independentemente do seu vasto palmarés de nomeações e prémios no seu portefólio (ganhou 4 Harvey, 2 Eisner, 2 Ignatz e 1 Prix de la Critic), Craig Thompson é um autor que não desapontará qualquer amante da 9ª arte, e não só.
O Craig Thompson já passou por Portugal, em Beja no ano 2009, e eu tive o privilégio de lá ter estado e de o ver a autografar dois dos meus livros por ele escritos e desenhados, “Good-Bye, Chunky Rice” e “Blankets”. Possuidor de um desenho “fácil”, rápido, limpo e seguro, autografou-os e dedicou-os em pouquíssimos minutos. Observando-o, não é difícil acreditar que tenha desenvolvido uma tendinite, que o levou a abandonar o seu trabalho na Dark Horse. Tal facilidade no desenho não descura um aturado trabalho por ele dedicado às suas obras. Quando em 1999 termina a sua primeira e logo aclamada novela gráfica, “Good-Bye, Chunky Rice”, começa a trabalhar em “Blankets” apresentando-a ao público em 2003, também extremamente aclamada pela crítica, pelo público e pelos seus pares. Obras estas com forte teor autobiográfico: a primeira referindo a sua mudança para outra cidade, as etapas inexoráveis da vida, o rompimento e a continuidade, com reminiscências da sua infância aos cartoons, daí os personagens de “Good-Bye, Chunky Rice”; a segunda, “Blankets”, bastante mais introspectiva, analisando e repudiando, desencantado em tom de desabafo, uma infância e adolescência vivida no seio da sua família profundamente religiosa, Cristã.
Estes sucessos, segundo Craig Thompson, dever-se-ão antes de mais a um então protagonismo de um estilo de banda desenhada demasiado violenta, intempestiva e carregada de cinismo, mesmo na chamada banda desenhada alternativa, por tal foi sua intenção desmarcar-se desse estilo, tendo essa reacção nesse período caído bem no público e na crítica.
Seguindo esta orientação, nos finais de 2004 começa a trabalhar em “Habibi”. Onde em “Blankets” o tema de fundo era o Cristianismo, em “Habibi” é o Islamismo. Pessoalmente, atrevo-me a escrever que a religião exprimida nestas obras funciona como música de fundo, que se imprime no estado de espírito dos personagens que “vivem” a obra e, por demais, naqueles que a leem. Sendo intrínseca não é o mote, embora tenha um carácter pesado no autor e sejam despejadas sem pudor no leitor. O que faz estas obras serem tão aclamadas e apreciadas reside no factor humano e nas relações destes, e as do autor no seu ponto de vista indelével, autobiográfico quando se aplica.
“Habibi” é uma história repleta de humanismo, no seu mais alto e mais aclamado expoente: o Amor. Cego, doentio, doloroso, cumprindo os maiores dos sacrifícios, mas sem isso sentir, apenas a maior das gratificações, da felicidade absoluta, única, a maior das glórias. O encontro, a descoberta, a vivência, a perda, o pesar mais negro que o breu, o reencontro depois de nunca desistir perante as mais vis e ignóbeis provações, e a consumação final.
Ao estilo das “Mil e Uma Noites” contadas por Sheherazade, transpirando de exotismo que nos leva a tempos não há muito idos mas parecendo terem sido há séculos, o autor desenha com uma riqueza de pormenores inebriante uma história que vai contando também ao estilo e com o conteúdo do Velho Testamento e mais para além deste, de mitos pagãos e da Tora, ensinando-nos, ou não nos fazendo esquecer, da interligação intrínseca das religiões predominantes, qual iniciados no Corão e suas inalienáveis minudências. A escrita serve como veículo iniciático, abrindo o caminho para a luz, o entendimento e compreensão, quase uma magia. A caligrafia Árabe é fortemente explorada, a sua não compreensão aos olhos de um estrangeiro que não a entende, ou um analfabeto, não os deixa indiferentes à sua beleza. O autor, aos poucos, vai levantando o véu dos mistérios da escrita Árabe, ensinando-nos a sua beleza na forma e no estilo, para além do traço. No meio de uma história de amor sofrido, épico, o autor consegue criar espaço para a comédia, naturalmente, demonstrando a sua mestria narrativa.
“Habibi”, o conto de Dodola e Zam, é intemporal e sobremaneira absorvente tanto no texto como nos seus desenhos, por isso é que eu o aconselho fortemente. Fica também um apontamento positivo para a belíssima e luxuosa encadernação da edição Norte-Americana da Pantheon Books, pelo que não se podendo julgar um livro pela capa, se neste caso o fizéssemos, não estaríamos a ser injustos. Ainda na capa, um apontamento negativo, é escusada a inscrição “Author of Blankets” por debaixo do nome do autor. Tem aproximadamente 670 páginas e um preço de capa de US $35.
Convido-vos também a ler o meu post sobre a anterior obra de Craig Thompson, basta clicar no link em baixo:
Blankets
Podem ver a capa com as cores todas e em todo o seu esplendor no link em baixo. O meu scanner não consegue "apanhar" os dourados e prateados...
Capas: Habibi
Espero que vos tenha agradado!
Boas leituras
Li o artigo de crítica acerca da obra "Habibi" neste blogue "Leituras de BD", e fiquei finalmente a saber o nome do bloguista do "Reféns da BD", Pedro Veiga Grilo.
ResponderEliminarDevo dizer, desde já, que considero um texto de altíssima qualidade, levando-me a considerar o Pedro Veiga Grilo (que não tenho o prazer de conhecer) um dos melhores críticos de BD da nossa blogosfera, tanto pela qualidade literária como pela aguda percepção do conteúdo e intencionalidade da análise.
Há muito que conhecia o blogue "Reféns da BD". Tenho-o incluído numa rubrica do meu blogue http://divulgandobd.blogspot.com intitulada "Internet e Banda Desenhada - PORTUGAL - Blogues e Sites de BD - de A a Z".
Fiz lá uma referência ao citado blogue "Reféns da BD", indiquei o endereço http://refensdabd.blogspot.com, registei entre parênteses Lisboa, como origem, e escrevi a seguinte nota:
"Apenas desde Abril 08, mas já com um acervo de textos de altíssima qualidade e apurada selectividade. Um blogue que merece dilatado tempo de leitura."
Claro que é pena datar de 4 Novembro 2011 o mais recente "post" daquele categorizado blogue.
Espero que, pelo menos, o Pedro Veiga Grilo faça "copy paste" do artigo publicado aqui no "Leituras de BD" do meu amigo Nuno Amado.
Saudações cordiais ao ilustre bloguista.
GL
Muito bom! Que bom que conheci através de vocês um pouco desse vituose: Craig Thompson! Lógico que vou agora nos links abaixo absorver um pouco mais de cultura. Aliás, ainda não tendo lido o livro...que arte linda desse cara, e os detalhes? Vi algo que me lembrou Moebius...
ResponderEliminarGeraldes Lino
ResponderEliminarO Pedro faz excelentes textos, facto!
Mas é uma pena que não me tenhas mandado também saudações cordiais, facto!
O Leituras de BD abriu esta rubrica precisamente para aumentar a variedade de opiniões e visões na BD em Portugal. Ninguém é obrigado a nada, agora acho foleiro que incentives ao "copy & past" dos textos que se publicam aqui. Como digo não é obrigatório para ninguém escrever aqui, mas podem-no fazer nos próprios blogues se assim o entenderem, e não mandar o texto para aqui.
Sinceramente não percebi a intenção das tuas palavras.
E na realidade é um texto de altíssima qualidade, como é hábito no Pedro, ao qual eu estou muito grato por ter feito esta crítica para o Leituras de BD.
Venerável Victor
Craig Thompson é um dos grandes valores da BD mundial actualmente. A sua expressividade gráfica aliada a uma qualidade inequívoca dos seus textos fazem dele único na maneira de contar estórias!
;)
Viva, começo por saudar o regresso do Pedro à blogosfera, porque o Refém é um senhor da BD. E chega de elogios senão o homem tira outras férias à conta e fica + uma temporada sem escrever :)
ResponderEliminarSobre o Habibi são múltiplas as vozes que o classificam como (outra) obra-prima do Thompson. E nada disso é exagerado porque o autor é um virtuoso tanto na narrativa e principalmente no desenho (as páginas que o Bongop mostra aqui são de uma beleza gráfica indescritivel) e O Pedro faz-lhe justiças nas palavras que lhe dedica. Tenho resistido a comprar a edição em inglês porque estou com fé que a Devir é editora para publicar isto em Portugal... mas confesso não saber se aguento muito mais tempo!
Abraço
Verbal
ResponderEliminarO Habibi é mesmo muito bom, já vou na 2ª leitura!
:)
Acho que o Pedro está muito sem tempo, infelizmente, para ser regular no Refens da BD. Tou com saudades dos "testamentos" dele no blog!
:D
De qualquer modo só tenho de "obrigadar" ao Pedro por ter feito a crítica ao Habibi. As usual, um bom texto do Pedro!
;)
Também gosto muito de ler e conversar com o Pedro com quem dá para falar de tudo. Infelizmente tanto uma coisa como outra, são raras :P
ResponderEliminarMesmo assim vou resistir a ler este texto, mantendo a minha regra de ler primeiro o livro em questão, coisa que ainda não fiz.
Abraço
Loot
ResponderEliminarPodes ler o texto à vontade, não tem spoilers!
:)
Mais uma coisa para ver se consigo ler... Crítica excelente, e se tem uma coisa que eu adoro,são obras de comentário social. Mais HQs assim, por favor editoras!
ResponderEliminarMesmo que não tivesse visto esse artigo, a capa me faria comprar o livro:) Sincerus Day On!
ResponderEliminarPedro Henrique
ResponderEliminarExcelente crítica para um excelente livro! Quem gosta de BD não pode passar por cima deste livro!
:)
Parece-me uma obra bastante interessante, cultural e humana.
ResponderEliminarGuy Santos
ResponderEliminarAcertaste em cheio!
:)
JJ Marreiro
ResponderEliminarA capa é linda e faz "apetecer" o livro. Mas a verdadeira beleza vem de dentro!
:)
Obrigado ao Nuno e a todos, pelas vossas muito gentis palavras. O tempo não tem estado do meu lado, de facto. Tenho pena, por achar ter tantos livros que gostaria de partilhar com todos vocês. A falta de tempo é notória neste texto que, não tendo sido feito à pressa, tem algumas redundâncias. De qualquer maneira, tentarei dar atenção ao meu blog(zeco) e presentear o pessoal com "testamentos", para terem leitura online para as férias ;)
ResponderEliminarUm agradecimento especial ao Geraldes, pelas suas palavras e consideração pessoal, que me honram.
Mais uma vez, o meu agradecimento ao Nuno, também especial, por me ter deixado aqui participar no seu Blog (foi o Leituras de BD que me inspirou a criar um Blog da minha autoria).
Forte abraço a todos.
Além de um autor incrível, sem par, Craig é um cara super, super atencioso. Tive o prazer de assistir sua fala e conversar rapidamente com ele no FIQ-2009. Além de, é claro, presentea-lo com DVD do Kaplan Project Comics. (network to the bones) :D
ResponderEliminarRefem
ResponderEliminarTás sempre "à vontadinha" para mandares um texto para aqui!
:D
O meu muito obrigado pela tua participação aqui no Leituras de BD!
;)
Alex D'ates
Também tive contacto com ele no Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, e é super simpático sim!
Sem "estrelismos", gostei!
;)
É sem dúvida um excelente livro.
ResponderEliminarE está a £11,60 na amazon.co.uk (cerca de €15,00) mais portes de correio - passe a publicidade...
Um preço bastante acessível considerando a qualidade do material que nos é oferecido...
Abraço
Ricardo Cabrita
Ricardo Cabrita
ResponderEliminarMandando vir de fora pelas lojas virtuais que toda a gente conhece fica mais barato. Mas não esquecer que também tem problemas como podes verificar na capa do meu livro... está nas fotos! Os cantos da capa ficaram amassados durante o caminho para minha casa... numa loja de BD portuguesa teria comprado um pouco mais caro, mas o livro estaria impecável com certeza.
:\
Bongop
ResponderEliminarO que eu quis dizer, quando aconselhei o Pedro "Refém da BD" Grilo a fazer "copy paste" do próprio texto dele foi, tão-somente, o de o convencer a mexer também no seu próprio blogue, mesmo incluindo lá um texto que fez para o blogue de outrém, no caso o teu.
Quanto a apenas ter elogiado o "post" e respectivo autor, foi porque a qualidade do texto era aquilo que eu pretendia pôr em destaque.
Mas não me custa nada acrescentar que acho uma boa ideia essa de teres colaboradores, no caso um colaborador com o nível do Pedro Veiga Grilo.
Cordialmente
GL
Post scriptum para o Pedro Veiga Grilo: agradeço as suas amáveis palavras.
Geraldes Lino
ResponderEliminarO Pedro escreveu para aqui porque, visto ele não ter tempo para alimentar o blog dele, eu achei que pelo menos um texto ele havia de fazer para a minha rubrica a Palavra dos Outros. Assim pelo menos "apareceu" outra vez!
Não seria um copy & past que o levaria a escrever para o blog dele!
Assim pelo menos tivemos o prazer de mais um excelente texto do RefemdaBD...
Fui apenas um pouco mais durinho contigo porque já que cumprimentaste o autor do texto, no mínimo podias ter cumprimentado também a pessoa que gere o espaço. Apenas isso. Não foi para elogiares, nem dizeres que foi uma boa ideia (porque isso eu sei que foi), ou para me alimentares o ego (não preciso disso). Foi apenas por uma questão de respeito quanto ao espaço. Fica bem cumprimentar as pessoas quando se entra no espaço delas, sobretudo se se "abraçar" efusivamente uma outra.
Não estou chateado, porque te conheço, mas isso não me inibe de te chamar à atenção se achar que devo.
:D