sexta-feira, 22 de junho de 2012

A Palavra dos Outros: O Imortal por Aida Teixeira

A Aida Teixeira, depois de ter colaborado na rubrica Lugar aos Novos , veio fazer uma segunda crítica para o Leituras de BD. A primeira foi Armazém Central, esta última sobre um díptico editado pela Booktree uns anos atrás (2002): O Imortal

O Imortal

Quais de nós, reles mortais, nunca pensou que a imortalidade era algo que gostávamos de alcançar?
Quanto aprenderíamos? Quantas pessoas interessantes conheceríamos? Se calhar a lenda dos vampiros imortais vem daí, do nosso desejo de imortalidade (ok, ok há o problema da estaca, dos alhos, e das balas de prata, mas isso são pormenores), por outro lado… que imensa solidão sofreríamos.
Se me dessem a escolher um superpoder a “imortalidade” não seria o poder eleito, definitivamente não.
Leio pouca BD, não porque me faltem livros destes na caverna, mas pronto, não sou calhada para isto, sou mais de ler a metro calhamaços com 500 páginas, e os desenhos faço-os eu na minha cabeça. O diabbo-marido aka Nuno Amado recomendou-me a leitura de “O Imortal”, e eu, mulher submissa (ou então não, então não, ]:-) hihihihihi) leio.
Ora bem, esta história passa-se no séc. XIII (e se quiserem saber como é que cheguei a esta conclusão terão de ler o livro e procurar pistas), idade média portanto, onde tudo o que fugisse à sacro-santa-igreja era certinho que fosse parar à fogueira, não sem antes levar uns apertos pouco amistosos de gente parecida com o primo Torquemada.
Tudo gira em volta de um tesouro (chamemos-lhe assim) que concedia a imortalidade, nem que para o conseguir tivesse de se matar meio mundo, e por em guerra o outro meio.
A história é engraçada, não é nada surpreendente, e tem coisas que me deixaram um bocadinho… hummm como direi? A pensar “quem escreveu isto é parvo, ou faz-se?”
Logo na prancha 2 do 1º Volume (são 2 volumes), um chinês quase parte um braço a um europeu que está com ele dizendo esta pérola “não lhe peço que pronuncie bem o meu nome, mas proíbo-o de colocar a sua mão sobre mim. Não sou um “latino”. Parei logo aqui… por a mão, latino, querem lá ver que os latinos são gajos para andar a colocar as mãos uns nos outros coisa assim tipo bichice pegada?? Terá sido isto que quem escreveu isto quis dizer?
Depois há o uso de palavras e termos que, duvido muito, mesmo muito, fossem usados na idade média “abram os olhos irmãozinhos”, “campónios”; “retocar-lhe a fachada” (em português actual é igual a “partir-lhe a fronha toda”, mas “retocar-lhe a fachada” é mais chique, é verdade, mas… pode igualmente ser usado agora. Séx XXI).
Mas, quem escreveu quis dar ar que sim, que fez investigação, e na prancha 14, também do 1º volume, na última vinheta é usada a palavra “pai” seguida de um asterisco * ( pai*) asterisco esse que faz a chamada para o rodapé, onde esclarece: “forma literária da época, particularmente insultuosa”. Estão a gozar?? Forma “literária” usada por dois “grunhos” (vá um deles não era, mas parecia, mas quem usou a expressão era grunho) ?
Na prancha 28 (1º vol), última vinheta, há uma frase inacabada, fiquei sem saber a opinião do senhor que a proferiu, disse ele: “aha! Sob o ar de velho caduco, ele parece-me ainda muito” , muito quê? Fresquinho? Viçoso? Vigilante? Inteligente? Espertalhaço? Grunffff
E a balonagem??? Mário Miguel de Freitas eu acho que eras gajo para te espumares um bocadito. Eu não percebo um corno de balonagem, mas este livro é a prova em como a balonagem consegue estragar a arte (da qual até gostei bastante), balões redondos, enormes, muito brancos (o livro não é nada de cores claras), balões e mais balões a taparem meias vinhetas, que, no original devem ser lindas, tendo em conta os pormenores.
Mas a arte é bonita – a que se consegue ver, e escapou à sanha do balonador – (no meu ponto de vista, claro), a história é aceitável (já disse que é previsível?), lê-se bem, mas não é uma obra-prima, quando muito será uma obra-sobrinha, ou até uma obra-tia-afastada, mas isto sou eu, que gosto de viajar nos livros, sentir-me dentro da época que eles pretendem retratar, e não gosto de tropeçar no “papá”, e “mamã” de um marmanjo barbado, independente, lutador, que sabe o que quer, mas que a única coisa que não sabia era que lhe iam atribuir falas bacocas.
E pronto é assim. Não é a crítica tradicional a que estão habituados, é a minha, uma pessoa que vê a BD do lado de fora
Não vou dar pontuação, daria se não tivesse aqueles balões todos a tapar os desenhos, assim não dou.


A Aida tem razão! A balonagem é horrível, e cheira-me que a tradução e respectiva adaptação do original também não é boa. Apesar da arte ser boa na sua generalidade tem alguns problemas de anatomia e estruração de movimentos. Em relação ao posicionamento temporal houve pesquisa aturada da Aida Teixeira, que é uma pessoa que liga bastante a pequenos pormenores, e devido a um Ducado de Ouro Veneziano colocou a estória no século XIII, embora a sinopse diga que é século XVI... é que estes Ducados só existiram no século XIII! De quem é o erro? Do autor Eric Puech? Do tradutor/adaptador?
Não sei... realmente os edifícios, roupas e personagens são posteriores ao século XV, mas aquele Ducado logo no início põe tudo no século XIII.

Boas leituras

28 comentários:

  1. Obrigadinho por dizeres como é que cheguei à conclusão que era no séc. XIII... grrrrrr eu mandei ler o livro e que procurassem as pistas. grunffff
    És tãoooo querido.... grrrr
    Grunfff

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  2. LOL! Obrigado pela referência; é bom saber que sou tido com expert em qualquer coisa ;)

    E sim, a balonagem é medonha e totalmente amadoresca, com péssima definição, péssimo corpo e terrível posicionamento. resta saber de quem foi a culpa: se já vinha assim de raiz ou se foi da responsabilidade do talhante tarefeiro que tratou da legendagem da edição portuguesa.

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  3. Já agora, depois de ler essas páginas apresentadas, permitam-me acrescentar: isto é daqueles casos gritantes em que basta ler uma página (quanto mais três) para se perceber que o argumentista é HORRÍVEL! Mesmo dando de barato que o tradutor possa não ajudar, essas falas cabiam que nem uma luva na pior das novelas da TVI. Medonho.

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  4. Diabba
    Já retirei!
    :)

    Mário Freitas
    A balonagem é decididamente má! Tem margens enormes e balões básicos que até eu fazia na minha incipiência nesse trabalho...
    :D

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  5. Diabba
    Já está na 1ª forma outra vez!
    :P

    Mário Freitas
    É a desvantagem de saber desenhar, mas não saber fazer um guião de BD. Mais valia ter contratado um argumentistas... O Eric Puech, não é decididamente um guionista...
    :D

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  6. Comprei "A Pérola do Dragão, na FNAC por 1,50 € (o preço do editor era de 3 €). Sei que é uma 1ª edição - terá havido outras? - e é de Abril de 2002, "impresso na Europa" - acho um piadão ao impresso na Europa, como se esta fosse pequena e tivesse meia dúzia de gráficas!
    Gostaria de comparar com o original.
    Falta-me o outro número, que não vi... mesmo a outro preço.

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  7. Santos Costa
    Existe às "resmas" nas livrarias, se não tiverem na prateleira pede que eles arranjam.
    Também comprei por um preço "amigo"...
    ;)

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  8. Ah, esqueceu-me...
    Concordo com a Aida. Os balões são grandes e tapam parte dos desenhos; isto porque se preferiu colocar ~um corpo de letra grande. Por exemplo, na prancha 2, a primeira vinheta tem 4 balões e na prancha 19 (não há números de página!), há dois corpos de letra diferenciados. Não se pode meter o Rossio na Rua da Betesga, a não ser que se reduza o Rossio... LOL

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  9. Há nºs de pág. sim, estão disfarçados, nem sp é na mesma vinheta, mas ao lado de uma assinatura (parece um risquinho) há um nº, é a página. Tb demorei a encontrar.

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  10. Ó Diabba
    Não é que eu, pitosga que sou, não encontro os n.os de página? Vejo, sim, a numeração das panchas ao lado de um EP desenhado (iniciais de Eric Puech) que, à primeira vista, parece um Q traçado ao meio.
    Como sabes, os números de página não correspondem aos números das pranchas porque, em álbum, a primeira prancha vai para a página 3 ou 5 ou 7, consoante.
    Quando apanhares o editor no mundo Infra, dá-lhe uma coça e chega-lhe fogo ao rabo.
    Gosto muito dos teus comentários.

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  11. Hummm (cofiando a barba, mode) e a numeração das pranchas não é o mesmo que a numeração das páginas??
    Bom se não for, no texto em vez de lerem "pág X" façam um favor a vocês mesmos (num estou precisada de favores por ora), leiam "prancha nº X".
    Beijo d'enxofre

    Nota: Eu avisei que não percebo nada de BD, só há pouco interiorizei o que é "prancha" e o que é "vinheta". ]:-D

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  12. Diabba e Santos Costa
    Já alterei no texto as páginas por pranchas!
    E Diabba... tu não podes dizer que não percebes nada de BD!
    Percebes mais do que a maioria dos portugueses, e normalmente acertas!
    :)

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  13. Esse é o problema entre um livro e uma BD...no livro, salvo alguns momentos em que o autor acha necessário descrever um prédio ou moeda da época, todo o contexto estético fica por conta de nossa imaginação (a melhor produtora do mundo!) e da cultura que temos sobre a época, já na DB o autor tinha por obrigação fazer um trabalho de pesquisa visual mais profissional ou deixar claro que por liberdade artística não ia se fixar a uma determinada fase arquitetônica ou detalhes como as moedas de uma época, não foi o caso. Me parece que houve a tentativa de impor realidade e aí, sem claro sucesso...essa BD apesar de linda,é falha. Aliás o que tem de linda as imagens têm de horrorosos esses balões, não deixem mais esse cara fazer isso na vida, gente!!! Aida! Parabéns pela resenha, senhora Diabba!!!

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  14. Sempre tive curiosidade sobre essa serie que via inúmeras vezes nas prateleiras Bertrands e Fnacs da vida,mas como sempre as via a 12 e picos e eram sempre 2 volumes ia deixando passar e ainda bem que o fiz.

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  15. Venerável Victor
    Realmente ele deu-se ao trabalho de fazer um Ducado de Ouro Veneziano com detalhe! ERRO! Está fora de época...
    Penso que se ele tivesse um argumentista a fazer o trabalho escrito a obra teria saído 5* (e um balonador em condições...). Claro que tudo isto também pode ter sido mal feito na transposição para português, só vendo o riginal mesmo.
    ;)

    Optimus
    Se o encontrares barato, aproveita. Por 12 EUR... méh...
    :D

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  16. Bom...
    Mas creio que têm de concordar que as maminhas do primeiro volume, têm o condão de atrair os compradores ;-)

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  17. pco69
    Tenho de concordar com isso... as maminhas devem ter vendido alguns livros!
    :D

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  18. Gustavo diz:

    Fui dar uma olhadela e, realmente, a legendagem é um bocadito má... mas as maminhas são razoáveis.

    Os conhecimentos numismáticos da Diabba são de invejar! Mas, pensado bem, mercadores de Veneza não devem faltar no inferno.

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  19. Gustavo
    LOL
    A Diabba presta muita atenção a pormenores... e o da moeda chamou-lhe à atenção!
    :D
    Realmente a balonagem e lettering são bastante fracos...
    :\

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  20. Ainda em relação a esta "obra-prima", permitam-me ainda discordar quanto à arte: é fraquíssima, cheia de poses rígidas e toscas e pseudo-disfarçada por cores flashy. As cores, aliás, começam a ser outro dos meus "pet-peeves", a juntar à legendagem. Abomino estas colorações plastificadas, cheias de brilhos inúteis, irreais e inestéticos, que mais não servem do que tornar a arte indefinida, lamacenta e sem uma ponta de contraste (essa ferramenta narrativa tão fundamental para guiar o olho para aquilo que é realmente fundamental).

    Das páginas mostradas, há uma em que parece que eles estão a lutar num sítio pejado de pirilampos, dados os brilhos horrendos que por lá pululam. Esta gente devia ser forçada a estar 1 mês seguido a olhar para as cores do Dave Stewart ou do Boucq, para perceberem o que são coloristas e constatarem que eles próprios não passam de (maus) técnicos de photoshop.

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  21. Mário,
    no dia do almoço do Leituras levo os livros para tu veres.
    Como sou um sere du male, quero ver-te a ter uma solipampa mesmo à minha frente. hihihihihi
    ]:-D
    ass: Diabba (a usar o perfil do diabbo-marido)

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  22. Joe Bennet já falou a respeito disso: sempre há um fã nerd para fazer a pesquisa sobre a cultura ou lugar presente na BD que você artista, por preguiça ou falta de tempo, não quis fazer.

    Sinceramente, achei a arte bem problemática. Não falo mal do artista como um todo (afinal, não conheço e não fiz pesquisa, heh), mas existe uma grande diferença entre quem ilustra ótimos pin ups e quem faz uma BD.

    :D

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  23. Sere Du Mal: não me azedes o repasto... -_-

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  24. Mário Freitas
    O Imortal foi pintado em cor directa, não é photoshop da maneira como dizes.
    :P
    Pode falhar por vezes a cor, sobretudo na luz apresentada! Também não gosto de desenhos plastificados, este não será bem assim como falas. Mostrarei ao vivo (e a cores) na próxima oportunidade!

    Quanto à rigidez e outros problemas de storytelling, estão lá!
    Descobrirás mais de certeza, sobretudo ao nível anatómico.
    :D

    Diabba
    Leva-lhe o livro, leva!
    ahahahhaha
    :D

    Alex D'ates
    Neste caso a Aida não é bem uma "fã nerd", mas é uma pessoa curiosa que gosta de saber as coisas!
    E sim, ele tem mais jeito para pin-ups do que para BD pura e dura...
    ;)

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  25. Bem, verdade seja dita que quando vêmos um filme de época, erros com este tipo de detalhes acontecem bastante, passam é tão rápido que nem nos apercebemos. Uma das belezas da Bd é o facto de podermos apreciar cada momento várias vezes antes de passarmos ao quadro seguinte.
    Quanto à arte e à balonagem, para mim o maior problema é mesmo a distracção constante que nos pode trazer e que nos arranca do mundo da história.

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  26. Luis Sanches
    Uma balonagem deficiente com um lettering irregular estraga quelquer livro de BD.
    Já confirmei e no original não está nada a ssim, inclusivamente a pessoa que me falou nisto disse que foi a nossa tradução que não foi feita como deve ser. O livro não tinha problemas a esse nível, o único que tinha era a inexperiência do desenhador que estava a iniciar-se na BD, portanto o storytelling não estava grande coisa...
    ;)

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  27. Guy Santos
    A Aida Teixeira ficará feliz com o teu comentário!
    ;)

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